segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A vida de um Missionário - visão de 1958 (Ipsis litteris)

O REPÓRTER CRÚZIO
Escola apostólica Santa Odília
Campo Belo, Minas Gerais.
Ano I                                           Dezembro de 1958                                                                         No. 7
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A vida de um Missionário

   Vivia em Borken um casal muito piedoso. O homem chamava-se João Geraldo Neuhaus e a mulher chamava-se Cristina Haddick.
   Tiveram eles quatro filhos e, entre eles, havia um muito piedoso, Henrique, que queria ser sacerdote.
   Borken, a paróquia em que nasceu e se criou, é dos mais antigos distritos cristãos do lado direito do Reno. Banhada pelo Rio Aa e por muitos ribeiros, começou como antiga colônia germânica.
   Henrique não morava no centro da cidade, mas numa povoaçãozinha  que pertence a ela, chamava Grutholn. Esta povoação, que possui cêrca de 560 habitantes, é toda católica. Seus habitantes viviam da agricultura. A escola de Grutholn, até pouco tempo, só tinha um professor: o de Henrique. A viagem para os pequenos Neuhaus, da casa paterna à escola de Grutholn, era pequena: gastavam-se, no máximo, dez minutos; para percorrer a distância até a igreja matriz, porém, havia 3,7 quilômetros.
   Aos domingos o pai obrigava seus filhos a assistir à Missa e, quando chegavam em casa, tinham de contar o que o padre falara na pregação. Corria o ano de 1870, quando chegou a ocasião de o menino Henrique começar a estudar e, a cada passo, aumentava a sua vocação para o sacerdócio. Com treze anos fez a sua primeira Comunhão – naquela terra era costume fazer a primeira Comunhão com essa idade.
   Certo dia, depois da missa, Henrique foi falar ao padre que tinha um grande desejo de ser sacerdote e queria o mais breve possível entrar no seminário. Nesse tempo, já tinha feito o seu estudo do grupo e do ginásio. O padre vigário combinou com o pai dele e foi saber de seus professores a sua aplicação e seu comportamento. Informaram-no de que era um menino estudioso, aplicado em tudo e, finalmente, um santo. Levou-o para o seminário, onde os padres e os seminaristas simpatizaram com ele.
   Terminado o noviciado, recomeçaram-se os estudos em regra: a filosofia e teologia. Frei Rogério – assim passou a chamar-se – fêz os votos simples, isto é, para três anos, no dia 24 de maio de 1885; os votos solenes, para a vida tôda, em Bleyerheide, nas mãos de Frei Antônio.
   Frei Rogério continuou sempre feliz e obediente no seminário. Chegou finalmente o dia de realizar o seu grande ideal de ser ministro de Deus. Foi ordenado no dia 7 de agôsto de 1890, e recebeu aprovação para cura d’almas só em 21 de outubro do ano seguinte, quer dizer, poucos dias antes de sua viagem para o Brasil, sua nova pátria.
   Passava o Brasil nesse tempo por uma fase religiosa bem difícil.
   No ano seguinte à sua ordenação Frei Rogério e mais sete frades foram nomeados para o Brasil. Chegaram os oitos padres ao Brasil, em Santa Catarina, onde o superior mandou Frei Rogério para um dos arraiais do estado. Não sabendo falar direito o português, custou a se acostumar com o povo dêsse lugar. 
   Sendo um lugar sem recursos, nem caminho direito tinha o arraial para que se buscasse qualquer coisa na cidade; o caminho que lá havia, mal servia para carro de boi.
   Frei Rogério era vigário dêsse arraial. As vêzes o pobre frei passava noites inteiras e chuvosas, para ir à casa dos doentes. Num lugar daquele, que nunca viu padre, as pessoas mal eram batizadas. Essas pessoas viviam a pear e o pobre frei atrás da salvação de suas almas.
   Algumas estavam para morrer e não queriam receber a Extrema-unção. Já estavam nas mãos do demônio e começavam a chingar o frei, querendo até bater nêle.
   Muitas e muitas vêzes ia êle à casa de alguns paroquianos para benzê-la, porque tinha um filho atentado. Havia também nesse arraial muitos mações que viviam a brigar com o frei, querendo obriga-lo a fazer o entêrro de maçons que morriam.
   Um dia, num domingo à tarde, foi ele ao convento, em Santa Catarina, visitar o superior e lá ficou uns dias. Êste desconfiado de sua saúde pela magreza e por uma tosse esquisita, mandou que êle  fizesse uma consulta médica. Chegando ao hospital, os médicos descobriram que êle estava tuberculoso.
   Mais tarde morria o frei com essa doença, no mesmo hospital.
                                                                                                              Sebastião A. N. Pandeló
                                                                                                                             2ª. série

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