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sábado, 15 de janeiro de 2011

AS MISSÕES NO BRASIL (Ipsis litteris)

O REPÓRTER CRÚZIO
Escola Apostólica Santa Odília. Campo Belo. Minas Gerais
Ano I                                                             Outubro de 1958                                               No.    6
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                                            AS MISSÕES NO BRASIL                                           

   Sendo o mês de outubro um mês dedicado às Missões e principalmente hoje, terceiro domingo, quero aqui relembrar as fadigas que o missionário suporta em meio a tantos milhares de outros sacrifícios, e os bens que as Missões fazem e fizeram ao Brasil.
   O interior de nosso país, assim como o litoral, que hoje pertence à Religião Católica, foi inteiramente conquistado pelas Missões que ainda trabalham em Mato Grosso e Goiás, às voltas, ora com índios, ora com garimpeiros.
   São as Missões expedições organizadas pela mão de Deus, com o fim de ir à procura das ovelhas extraviadas do rebanho divino, sacrificando-se e sofrendo pelos infelizes filhos da selva, pela sua salvação. No Brasil destacam-se grandemente os trabalhos que elas têm prestado aos selvícolas, espiritual ou materialmente; ou à Santa Igreja, alargando cada vez mais o vasto Campo e rasgando novos horizontes, com seu suor e sangue, amparadas por Deus. O campo missionário no Brasil é tão vasto como a Suiça, Itália, Bélgica e Holanda unidas.
   Os componentes destas expedições fazem grandes sacrifícios, como: o abandono da pátria amada, do lar paterno, dos parentes e amigos, do bom redil, para conquistar o ignorante da verdadeira fé. As Missões sofrem muitos motejos por parte dos protestantes, mas não desistem do ambicionado ideal, de salvar almas.
   Os missionários devem ter espiritualmente muitos ofícios que são praticados corporalmente, como o exemplo: imunizar, como médico as almas, dos micróbios da corrupção; como mestres, privar os pupilos da ignorância; como agricultores, abrir o sulco e descansar o arado, para fertilizar as almas e semear o Pão da Vida; como engenheiros, fazer e fortificar com bases fortes as cidades de Deus.
   Às orlas de certos rios, como o Araguaia, o Das Mortes, índios chavantes e carajás, assim como os bororos, já cristãos em alguns lugares, sob a influência de satanás, ainda esperam quem por eles vele e peça junto a Jesus. Por estes, assim como pelos garimpeiros, muitos missionários estrangeiros e patrícios, deram para Cristo a vida, e juntaram ao do Senhor no cálice, seus sangue martirizados pelos índios que, incrédulos e ignorantes da finalidade dos catequizadores, preferiram continuar sua vida incasta e pecaminosa.
   Se nós, jovens, providos de um ardente amor às Missões e às almas dos aborígenes, por motivos de saúde, não podemos participar das missões, se rezarmos, se dermos esmolas e se nos sacrificarmos, tudo pelo amor e conquista das almas, embora de longe, seremos também apóstolos e missionários.  
   Para celebrizar ainda mais a vida missionária no Brasil, não poderia deixar de contar aqui o martírio de dois padres salesianos:
   Corria o ano de 1934. É o dia primeiro de novembro. Pe. Pedro Sacilotti e Pe. João Fuchs, assim chamados, martirizados às margens do Rio das Mortes foram avisados, por um explorador, de que a uns cinco quilômetros de Santa Teresinha, sítio onde moravam os missionários, nome este dado por ser ela a padroeira das Missões, estavam às margens do Rio das Mortes canoas Chavantes, usadas para atravessar o rio. Sabendo disso, os missionários, mais cinco companheiros, desceram o rio e, mais ou menos nas proximidades indicadas pelo explorador, encontraram as canoas. Pe. Sacilotti, ao ver as canoas, procurou avistar os índios, enxergando apenas dois junto a um alto barranco, pescando. Talvez fôssem eles armadilhas dos terríveis Chavantes  para matar os dois missionários já por eles perseguidos há muito tempo. Pulou da embarcação com um outro companheiro, o Pe. Sacilotti, e os índios, logo avistados, correram para junto de seus companheiros.
   Ao subir o barranco, nada mais avistaram senão pegadas dos chavantes, mas ao chegar à floresta, estas desapareciam. Trepou numa árvore o corajoso missionário brasileiro, e avistou debaixo de alguns arbustos uns cinquenta índios que lhe fizeram sinais que significavam não dever aproximar-se. Mas ele, chamando o resto dos companheiros, quis ir para o lugar onde estavam os indígenas. Mas, antes disso, preveniu-os dizendo: Eu e o Pe. João estamos prontos para morrer. Se tiverdes coragem ficai, se não, fugi, contanto que não façais uso de armas.
   O resto dos homens voltou para a embarcação, para buscar presentes, mas, ao subir o barranco, ouviram os Padres Sacilotti e Fuchs, ambos com um crucifixo e um rosário nas mãos, gritar: “Os chavantes atacam!” Todos os outros correram para a lancha. Um Holandês correu a buscar sua winchester automática e encheu os bolsos de balas e subiu o barranco, permanecendo ali duas horas seguidas e gritando de quando em quando: “Pe. Pedro, Pe. João!” O eco respondia, mas eles não.
   Na manhã seguinte, a uns quinhentos metros da ribanceira, encontram os dois corpos dos valorosos missionários estirados ao chão. Pe. Fuchs tinha o crânio fraturado; Pe. Pedro tinha os dentes e um braço quebrados, assim como uma ferida na testa. No chão não se encontravam cacetes, nem lanças. Repousaram os cadáveres num buraco feito às margens do Rio das Mortes, no barranco, com ambas as cabeças viradas para a correnteza do Rio, parecendo querer ouvir por mais uma vez o murmúrio do caudaloso rio. Eis a história de dois grandes missionários, que contei para ilustrar estas palavras de louvor às missões. A eles e a todos os missionários, rendamos a nossa admiração e peçamos a Deus nas nossas orações, que por eles vele, que os proteja e que, enfim, dê mais homens para abraçar a espinhosa, mas bela tarefa das Missões.
(discurso no Domingo das Missões)
Marcos Antônio Rocha 2ª. Série.