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sábado, 15 de janeiro de 2011

Crônicas: estão de férias os seminaristas (Ipsis litteris)

      O REPÓRTER CRÚZIO
Escola Apostólica Santa Odília. Campo Belo,
Minas Gerais
Ano I              Agosto de 1958                                                                  No. 4
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CRÔNICAS
       Estão de férias os seminaristas da Escola Apostólica Santa Odília.
       Mas o nosso seminário é diferente dos outros, porque durante estas férias (meio do ano) os seminaristas em geral estão em casa e o seminário permanece num verdadeiro silêncio e em completa escuridão. Enquanto o nosso vive um tempo feliz, todo cheio de alegria, porque continuamos nele, ansiosos, com as orelhas “bem em pé”, para ver se ouvimos falar em algum passeio às fazendas, para chupar laranjas, ou passar alguns dias em outra cidade.
       O mais interessante durante as férias são aquêles montinhos de seminaristas, sentados no chão ou em frente da sala de recreio, conversando sobre diversos assuntos. Se a agente quiser que passe ligeiro o tempo, é só fazer êsses montinhos. É aí que se ouve um Português falado de diversas maneiras. Durante esse tempo, pode-se fazer um dicionário de muitas e muitas páginas, mas em que cada palavras só há um significado, e, empregado ainda no sentido figurativo. E olhe lá! Para interpretá-la, precisa-se pensar bastante. Uma vez, falando um padre de poços artesianos, que estavam cavando na cidade, um da turminha dos que estavam sentados, perguntou onde estavam êsses poços “salesianos”. Outra vez, falando-se de escrever à máquina de datilografar, disse que queria aprender “tocar” máquina. Isto é até muito bom, para a gente rir e descansar um pouco a cabeça dos estudos.
— Zé, o que aconteceu naquela fazenda aonde fomos chupar laranjas?
— Houve um caso muito interessante.
— Qual foi?
— Ora, mané, vou contar-te.
       Havia nessa fazenda um pé de laranjas muito boas, que a Dona Maria nos proibiu de chupar. Então, o Pe. que foi conosco, que gosta muito de brincar, disse-nos que não mexêssemos na árvore proibida, senão iríamos “expulsos do paraíso”. O chico, que “não é sopa”, tirou uma laranja da árvore proibida e o Pe. começou a correr atrás dele, para tomar a laranja e expulsa-lo, mas o “Adão” correu muito e o Pe. não o alcançou. Isto foi uma farra no paraíso.
— O que houve mais de importante?
— Dona Maria nos disse que havia um lago, lá para trás da casa, no qual ela achava que a gente podia nadar. Juntamo-nos todos, cada um com o seu saco de laranjas, e fomos ver se ele era bom para a gente nadar. Ninguém viu o fundo do lago, porque era muito sujo, mas, assim mesmo, uns três ainda nadaram. Muitos outros não nadaram porque não levaram calção. Só alguns pequeninos, viciados em futebol, que já andavam de calção.  
       Quinze dias de férias em Santana: de onze a vinte e cinco de julho. Que dias felizes! Êstes foram vividos e sentidos por nós. Não desperdiçamos um só minuto. Êstes nos deixaram mais novos, com mais disposição e com mais coragem para enfrentarmos as aulas e para continuarmos a caminhar nesta estrada tão longa e tão difícil, em busca do ideal, maior e o mais sublime: o sacerdócio. Mas, depois que alcançarmos esse ideal, seremos os heróis do mundo.
       Só houve uma coisa que não preocupou as nossas empregadas em Santana: arranjar água para bebermos, porque não passávamos nem meia hora sem chupar laranja, e, assim, não tínhamos sêde.
       Estas férias em Santana até nos deram o gôsto pelo voleibol, que ainda não tinha brotado no nosso meio. Jogamos muito lá e foi o primeiro esporte que praticamos quando voltamos.
       Se alguém nos perguntar quais foram os passeios de que mais gostamos, é claro que responderemos logo, e sem receio de errar: foram aquêles nas fazendas em que fomos almoçar ou jantar. Olhe bem: tomamos vinho e até conhaque nessas refeições. Só faltava pinga. Quem não gostaria? Acho que ninguém ficou tonto, graças a Deus. Isso seria muito feio. Ficou-se mais alegre; quem estava com frio ficou um pouquinho de calor, sòmente.
       O povo de Santana admiradíssimo ficou conosco. Ora, tinha razão. Preste bem atenção: íamos a umas fazendas de oito até nove quilômetros de distância da cidade, para chupar laranjas. Chegando lá, chupávamos até a barriga esticar o mais que podia, e ainda cada um voltava com quase meio saco de laranjas. Pensando bem, meditando bem no assunto, somos, deveras, corajosos. O dono de uma fazenda nos reservou vinte litros de leite. Mas, ainda que cada um tomasse três ou quatro copos, não houve jeito de darmos cabo do leite. Na verdade, nossas barrigas são bem grandes mas havia muito leite; Também havia biscoito e muito. Biscoito é o que mais sobra na roça. Pode faltar tudo, mas o biscoito não falta.
       Até ao cinema fomos em Santana. Mas houve um grande perigo: numa das vezes, começou o filme e olhávamos atenciosamente para a tela, quando se nota um alvoroço dentro do cinema. Foi a força elétrica que aumento e a fita pegou fogo. Na carreira em que fomos saindo do cinema, quebraram-se muitas cadeiras; uns quebraram a perna, outros saíram machucados e um seminarista fêz um “galo” na cabeça. Para quem estava fora, foi bonito o espetáculo. O povo mergulhava da porta à estrada, como quem mergulha num rio qualquer.
       É de admirar: os queridos times de Santana não nos convidaram para jogar com eles. Acho que ficaram com muita vergonha no princípio do ano e tiveram mêdo de apanhar novamente. O time do seminário é o segundo “Galo” da cidade.
       Voltamos em paz das férias e com as graças de Deus estamos novamente estudando.
       Antes de começar as aulas, fizemos um retiro de três dias, fazendo um exame de consciência de todo o passado: se realizamos o que devíamos realizar. Três dias de recolhimento, falando só com Deus. Todo e qualquer homem precisa de silêncio.
       O retiro foi pregado pelo Revmo. Pe. Artur de Haan. Neste retiro, ele nos falou sobre as principais virtudes; algumas delas são a humildade e a caridade. Começamos o retiro com o “Veni Creator, pedindo  que o Espírito Santo nos iluminasse para fazermos um bom retiro. Terminamos recebendo a Benção Papal, dada pelo Pe. Artur. Todos nós gostamos muito do retiro, pois até pedimos que ele mesmo pregasse o próximo. O bom retiro depende de nós, pela parte espiritual, mas as pregações serão bem aproveitadas conforme o pregador.
                                 Antônio Araújo Bessa
                                      3ª. Série
Na aula
Prof:  — Qual é o  feminino de cão?
Aluno distraído: — Baroneza.
Porf:   — Qual o ato muito importante de  D. João  quando chegou no Brasil?
Aluno:  — Ato de pirataria.
Um aluno chegando em casa:
— Nossa escola não vale nada. Os professores não sabem nada. Eles perguntam tudo aos alunos.