segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ENTREVISTA COM EDGARD MIRANDA ALFENAS

Parte 1 
Entrevistador: Seoldo


  
                      
 
O entrevistador ver contexto
1 Seoldo: Edgard, a editoria do blog dos Encontros dos Easistas o escolheu para ser o próximo entrevistado. Todos sabem da situação atual de sua saúde. Você optou pela luta... Nada de entrega. Testemunhamos isso. Então, gostaríamos de ter conhecimento de sua biografia, desde bebezinho/moleque até o atual senhor de terceira idade, barbudinho e fogoso, com esta voz estridente, ao interpretar "Cancione Per Te" e "La Malagueña", que muito nos encanta.

Edgard: Fico muito feliz em ter sido escolhido para ser entrevistado por você, o membro internacional do nosso Encontro. Além de um baita amigo, é uma pessoa sincera e joga limpo. Você e a Judite sempre nos emocionaram. A Cátia e eu nos tornamos grandes amigos de vocês, e o grande fator que permitiu esta aproximação foi a sinceridade que está constantemente desenhada em seus rostos.
Edgard rodeado de amigos, á direita
 o casal Judith e Geraldo Seoldo, à
 esquerda,  Maria José e Cátia.
Cátia e Bianca, foto dos

anos 1980
No que diz respeito à minha saúde, decidi por não deixar nada velado, pois a verdade não tem medo da luz. Claro que não seria necessária tanta divulgação, mas o interessante é que isto só me veio acrescentar inúmeros benefícios, ao receber ajuda das pessoas que amo. Omitirei nomes, com receio de esquecer alguém, pois isto seria um desastre. É o caso dos parentes em Senhora de Oliveira, que se desvelaram em todos os sentidos, desde o tratamento médico alopático, até o alternativo, natural, chás etc. Destacando o campeão, o chá de pariri, esse é o nome popular. Sucumbir jamais, nem mesmo eu sabia da coragem que permanecia, até então, adormecida, esperando para ser desafiada. Hoje, a Cátia e ela são minhas companheiras diletas, sem mencionar a grande fé em Deus. Neste caso, o medo seria um enorme contraditório.

Fazenda da Vargem, onde Edgard 
nasceu e viveu até 1954
Quanto à minha trajetória de vida, desde bebezinho, conforme sua indagação, não há muita coisa a contar: uma criança pobre, nascida numa modesta casa da roça, onde a dificuldade convivia conosco.
Edgard, no canto superior à esquer-
da, no tempo em que mal conhecia
 a luz elétrica
Éramos oito irmãos: sete pessoas maravilhosas e eu, que era o caçula. Infelizmente, os dois primeiros já faleceram. Conheci luz elétrica somente aos sete anos de idade. Rádio, nem pensar, nossa casa era iluminada com lamparina, aquela que deixa o nariz preto de fumaça e a casa cheia de monóxido de carbono! 







Depois que mudamos para a “cidade”, onde havia na época dois mil habitantes, nossa vida teve um progresso considerável.Tínhamos energia elétrica, privada com descarga, etc. Um fato curioso: minha irmã mais velha puxou a corda da descarga e tomou o maior susto; nunca vira antes aquele aguaceiro. Meu irmão, ao se deparar com aquele interruptor de parede que ficava pendurado, 
Cadeira de engraxate
penso que nem existe mais, ficou por mais de dez minutos, ligando e desligando a lâmpada. Sua admiração nos contagiava, afinal tudo era novidade para nós. Éramos roceiros com R maiúsculo, embora filhos do prefeito da cidade. Meu irmão, Lulu, e eu trabalhamos de engraxate, mas a caixa não era nossa. Havia uma espécie de concessão ou parceria, de maneira que tínhamos de dividir o lucro com o patrão, o dono da caixa.
Rosado, o segundo burro que prestou
 serviços para a prefeitura, mas
 não o último.
Nossos pais eram agricultores. Mais tarde, meu pai ingressou na carreira política, porém sem nenhuma remuneração. O caminhão da prefeitura era uma carroça puxada por um burro chamado Penacho. Como o desenvolvimento não para, anos depois no segundo mandato, ele adquiriu mais uma carroça e outro burro, agora já com mudanças significativas, o nome do burro não era Penacho, mas sim Rosado. Deixando de lado nosso jeito matuto de viver, diga-se de passagem, éramos felizes e não sabíamos.

Edgard. camisa vermelha, e Lulu, camisa branca,  anos 1970
Seguindo em frente com a resposta: aos sete anos me matriculei na escola, idade certa daquele tempo, Lulu já estava bem mais adiantado, portanto nunca tive a satisfação de ser seu colega de sala na escola primária. Aliás, tal não aconteceu em nenhuma escola, a não ser na escola da vida, onde aprendi  muito com seus ensinamentos. Logo ele foi para o Seminário, deixando-me com muita saudade. . Assim que terminei o primário, tratei logo de agir. Quando vi o Padre Marino recrutando crianças por aquelas bandas com o nobre objetivo de levá-las para estudar no Seminário, eu mesmo tomei a iniciativa de falar a minha mãe que queria ir para lá, tão somente para ficar perto do Lulu. Porém aquela direção espiritual do Padre Humberto pouco a pouco me foi envolvendo, no bom sentido, é claro. Cheguei a pensar que queria ser padre a qualquer custo, em caráter irrevogável. Este desejo, na verdade, durou muito pouco, pois a vida, como sempre, apresenta surpresas e mais surpresas.
Lulu resolveu deixar o Seminário e até me avisou antes, porém fiquei numa enrascada terrível: se iria ficar, mesmo sem o Lulu, ou se sairia também. Nós sempre fomos inseparáveis, como vocês podem perceber até hoje. Eu jamais abriria mão dessa amizade literalmente fraterna. E, agora, não falo somente da amizade dele, mas também a da Maria José e a de seus filhos, como a de todos os meus irmãos com seus filhos, pois devoto a todos um especial afeto.

Fui amadurecendo a ideia por alguns meses e acabei por decidir pela saída. Não que o Lulu tenha me influenciado de alguma forma; muito pelo contrário, ele até queria que eu ficasse. Enfim decidi sair.
Edgard em
1962, EASO
ver contexto 


A partir daí, começaram as erratas da vida, acho que desenhei andorinha e saiu morcego... Fui para o Rio de Janeiro morar com minha irmã mais velha, que era como se fosse nossa mãe, para continuar o ginásio.  Porém meu pai, sem mais nem menos, numa das férias em que fui a Senhora de Oliveira, segurou-me por lá querendo que eu completasse o curso  ginasial lá. Mesmo ainda novo, compreendi meu pai. Ele era o fundador do ginásio, quando prefeito, pois antes não havia.
Edgard Alfenas, o pai, e 
Rita Henriques de Miran-
da, a mãe. Foto de 1960
Só que eu não queria ficar lá, insisti muito com ele, com muito respeito, até conseguir voltar para o Rio. Parece que meu pai pensava que, no Rio, eu andava em más companhias. Na cabeça de pai é natural este tipo de preocupação, apesar de na  maioria das vezes estarem enganados. É prova disso que o pai do outro pensa da mesma forma. Neste desencanto atribulado, fiquei envolvido em muitas idas e vindas, o que quase acabou por completo a minha vontade de estudar. A idade não esperava, seguia em frente e com velocidade. Neste interregno fui morar em Belo Horizonte, parei de estudar, trabalhei em uma empresa de transporte - a TRANSFARMA. Fiquei lá durante um ano ou dois. Interessante, esta é uma das coisas de que tenho poucas recordações.


"Fui trabalhar num escri-
tório de contabilidade".
Diante dessas circunstâncias fiquei um bom tempo sem estudar. Se não me falha a memória, até por volta do ano de 1965, pois foi quando saí para trabalhar. Não era minha vontade parar de estudar, difícil seria provar isso. Parecia que o universo conspirava contra mim. Pessoas, até de fora da família, costumavam dizer: “ele não quer estudar”.

Então, fui trabalhar num escritório de contabilidade, nestas alturas já no Rio, mas o emprego não durou muito. Circulei por diversos empregos e por algumas vezes cheguei a voltar para Belo Horizonte. Ah! Isso eu já disse. Acabei por ir tentar trabalho em São Paulo, como vendedor de livros, isso foi entre1969 e 1970. Em um mês vendi  apenas uma coleção, que foi devolvida pelo cliente 15 dias depois. Enfim, rodei muito.  Esta peregrinação durou até 1971, quando voltei para Senhora de Oliveira e por lá acabei me casando. Abri uma farmácia, com a qual só fiquei três anos, até 1974, quando passei a loja para outro. Foi nesta farmácia que o nosso amigo Alfredo apareceu como vendedor e quando ele se identificou: sou Alfredo, o bom de bola do Seminário. Num impulso involuntário olhei seus pés para ver o sapato que ele usava no Seminário, quase dez centímetros maior que seus pés. Piada velha, não é?, depois de doze anos. Mas foi verdade.  A esta altura o Alfredo sabia que a farmácia era de alguém que fora seminarista em Campo Belo. Adivinhar não vale.

Advogado por vocação e esforço
Daí, eu fui morar, de novo, em São João de Meriti, cidade da Baixada Fluminense onde estou até hoje. Continuei casado até 1980, quando por razões diversas me separei. A partir daí, sofri bastante em relação a querer estudar, fui trabalhar, agora não mais em escritório de contabilidade, mas numa empresa que mudava sempre os horários de trabalho. Às vezes, em pleno ano letivo, eu começava estudar à noite, meu horário de trabalho mudava também para a noite e vice-versa, atrapalhando-me a frequência ao colégio. Podia até ser coincidência, mas parecia que algo conspirava para que eu não estudasse. Lutei contra tudo e contra todos, no sentido figurado, é claro, e encarava essas atribulações com naturalidade, a mesma com que hoje encaro  a minha doença, o que talvez não seja tão simples. Diante desta situação determinei: não comunicaria mais quando estivesse estudando, e não é que a estratégia deu certo?... Pouco a pouco consegui trilhar um bom trecho do caminho. Faço parte de uma empresa séria e extremamente solidária em todos os sentidos.
Em 2012, foi candidato a vice-prefeito e por isso sua presença
no Encontro de nova união se fez pela foto na traseira de um

jeep. Na foto, amigos easistas desejando-lhe boa sorte nas elei-

ções. 
Em 1988, ingressei na política e, além de ser um dos fundadores do Partido Social Cristão (PSC) em São João de Meriti, fui candidato a vereador, sendo o mais votado do partido, porém não consegui ser eleito, pois não fizemos legenda. Como outros políticos brasileiros, resolvi mudar de partido, indo para o Partido Liberal (PL) e novamente me candidatando a vereador. Desta vez (1992), pensava que seria eleito, pois o PL já havia conseguido eleger dois vereadores. Outra vez tive votação expressiva, mas de novo não obtivemos a terrível legenda. Em suma: não consegui eleger-me em nenhuma das duas vezes em que fui candidato em São João de Meriti.  Então, resolvi fazer uma mudança maior, em 2012 fui me candidatar a vice-prefeito na cidade de Senhora de Oliveira,  desta vez pelo Partido Progressista (PP). Fui apresentado como candidato pelo presidente do partido, seria condição sine qua non. Para ele continuar no partido, aceitei a candidatura, pois tratava-se de um amigo  confiabilíssimo. O que se sucedeu é de pasmar a qualquer um: este presidente me deixou à deriva e as más línguas diziam até que ele iria votar no candidato adversário, que era, inclusive, adversário dele mesmo. Durma-se com um barulho deste! Isto me fez ver, também com resignação, que a política não é o meu forte.  O pior foi: perdemos a eleição com diferença de 1,5%. Depois disso, desisti de vez. E ainda continuo amigo do presidente do PP, apesar de contrariar muita gente.

Nadja e Nara, filhas
"Em 1982 encontrei o grande
amor de minha vida, a Cátia".
Em 1982, encontrei o grande amor da minha vida, a Cátia, que manda um grande abraço para você, a Judite e seus filhos, que ainda não conhecemos e esperamos fazê-lo brevemente. Temos uma família linda, embora pesarosos por ter perdido o nosso filho Marco Aurélio,
Marco Aurélio, uma
grande perda
restando-nos o prazer de curtir os netos e as cinco filhas, apesar de todas já terem suas vidas independentes. Os netos são: o Chicão, que antes era Chiquinho, hoje com 18 anos e 1,82 m de altura; o Caleb, com dois aninhos
Tatiane, filha
apenas. Ah!  O primeiro casamento que mencionei acima foi com a Maria Stela, com quem tenho lindas filhas, sou amigo dela até hoje e a respeito imensamente. Hoje ela reside na casa da minha primeira filha, onde é bem tratada e bem cuidada. O Chicão é filho desta minha filha. Um lembrete: as três filhas que menciono já estão inseridas no contexto onde disse cinco filhas, ou melhor, três do primeiro casamento e duas do segundo.
Núbia, filha
Francisco Cardoso, neto
Voltando à vaca fria, consegui terminar o segundo grau, depois de muita batalha e muito suor, já com certa idade. Já casado com a Cátia, que muito me incentivou, consegui me formar em Direito e fui advogado até o mês de julho do corrente ano. Fui nomeado para o cargo de Delegado de Prerrogativa da 19ª Subseção do Estado do Rio de Janeiro, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no período de 1º de junho de 2004 a 31 de dezembro de 2006. Também fui membro do Conselho do Meio Ambiente de 2007 a 2009 e participei do II Simpósio sobre Modificações e Consequências no Novo Código Civil, no período de 11 a 14 de março de 2003.
Caleb, neto, e Bianca, filha.
Escrevi dois livros. Um sobre Direito: "Contrato de Adesão"; outro de contos: "Reflexos do que vi", ambos publicados pela Editora Veloso. Como ficcionista participei também da Antologia Veloso de 2011, com o conto A casa do Xaquearão. Na Antologia Veloso de 2012, em companhia de vários autores brasileiros, publiquei "Cantiga Inacabada", tudo pela mesma editora, sob a coordenação de Eliosmar Veloso. Pretendo escrever outro, cujo título, tenho em mente: "O Romance e o Câncer".

Por hora, sou um gira-mundo, sem rumo, sempre em companhia da Cátia, é claro, pois ela é meu anjo da guarda. Quando Deus quiser me chamar, estarei à disposição.

A questão do barbudinho com voz estridente cantando no jantar oferecido pelo Comandante Nonato, em Belém, fica por conta do seu julgamento, sou consciente: não sou cantor, nem de longe. Esta expressão “fogoso” tem vários sentidos, pelo menos aqui no Brasil, cada um tem sua visão. Agora: como suas perguntas são um tanto quanto extensivas, as respostas são consequência delas e eu gosto assim, porém, só quem gosta muito de ler é que terá paciência em apreciá-las.
2.  Seoldo: Com a carga vivencial nas suas costas até agora, adquirindo experiências, conhecimentos, relacionamentos, visões... Como você descreve o mundo atual que vai se desabrochando como deve ao redor de você e diante de seus olhos?
 Edgard: Eu diria que em minhas costas nunca existiu grande carga vivencial, apesar de ter exercido advocacia etc. No meu trabalho, por exemplo, o nível cognitivo nunca foi exigência primordial. Não que deveria ser assim, mas não era da minha alçada. Nunca trabalhamos com nenhum intercâmbio ou coisa do gênero. As transformações do mercado também não me diziam respeito. Afinal, como todos sabem, sou sócio minoritário de uma empresa, no ramo frigorífico. É claro e notório que ocorrem constantes transformações no mundo do trabalho, porém atualmente não passo de um simples analisador de contratos e de um viajante sem rumo.
Em relação aos familiares, num passo, às vezes frenéticos, por se tratar de juventude, não me abstenho de citar o pensador Carl Gustav Jung: “Tenciono agora fazer o jogo da vida, ser receptivo a tudo que me chegar, bom e mau, sol e sombra alternando-se eternamente; e, desta forma, aceitar também minha própria natureza, com seus aspectos positivos e negativos...”. Porém, faço o jogo da vida com resignação, e só me tem chegado o bom, com seus aspectos positivos.
 
"Tenciono... aceitar também minha própria natureza, 
com seus aspectos positivos e negativos"
A ciência não é um complicador. Pelo contrário, ela tem por objetivo fazer descobertas, assim se tornando vulnerável a fatores culturais, sociais e econômicos. Lembre-se da lamparina, da descarga da privada e do interruptor de parede. Dela se espera a resposta, sempre correndo atrás do porquê das coisas, dos fenômenos que ocorrem, etc. Não me agrada muito a linguagem diferente daquela do dia a dia, porém necessário se faz cultivá-la. O conhecimento científico vai muito além de uma visão que se apoia em experiência comprovada ou em coisa vivida, separando-nos em mundos diferentes.
Na minha concepção, sempre afirmo que o homem é perverso por natureza. Justamente aí que o famigerado capitalismo, mesmo com seus altos e baixos, é infelizmente considerado como o melhor sistema econômico para a sociedade como um todo. Esse capitalismo, de certa forma, é o grande vilão, o grande protagonista, gerador de miséria e violência no mundo todo. Uns enriquecendo em detrimento de outros, ou seja, uns se dando bem, outros se dando mal. Homem explorando homem, prevalecendo-se sobre a miséria do outro. Nunca tive dúvidas de que o mundo é mau e não tem a menor piedade.

3.  Seoldo: Voltando para a época do menino Edgard, seminarista da EASO... Conte algumas coisas que lhe marcaram ou mesmo ajudaram sua caminhada.

 Edgard: Na verdade, tudo no Seminário, apesar do pouco tempo em que lá fiquei, ajudou-me demais. Aprendi a disciplina que mal ou bem pratico até hoje, o respeito às pessoas e o mais importante, ser honesto em relação à vida. Lembre-se de que, quando cometíamos uma falta jogando futebol, a gente mesmo tinha que se acusar. Onde se vê isso fora de um ambiente igual àquele? E inúmeros outros fatores me ajudaram e muito em minha caminhada pela vida afora.

4.  Seoldo: Você e a Cátia caminharam bastante a pé em Belém, às vezes, em direção à Basílica de Nazaré. Como você explica e descreve sua religiosidade atual?

"Sou católico apostólico romano".  Na foto, em frente ao altar
da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, Belém do Pará
Edgard: Quanto à caminhada que a Cátia e eu fazíamos em direção à Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, nem sempre era para ir à casa de Deus, mas em muitas delas íamos assistir à Santa Missa. Penso que respondi tudo, mas a minha religiosidade é simples, sou católico apostólico romano. Existem autores afirmando que a religiosidade difere da religião e propõem uma maneira de viver também diferente. Em sua maneira de entender, são dispensáveis inclusive os vários instrumentos usados na liturgia católica, como as oficinas de orações, os folhetos nas missas, os livros doutrinários etc. Para eles, não dependemos de religião para percorrer o caminho do amor, da caridade, da piedade, etc. Porém discordo inteiramente deles, pois precisamos de fé com raízes profundas para não morrer de sede e ter sempre alimento espiritual  para nossas almas, através daquilo que está escrito, daquilo que praticamos em comunidade. Também não concordo muito com o sincretismo religioso, para não misturar a fé católica com algo que não entendemos. Isto me assusta, pois são crenças incongruentes.
Neste momento estou ouvindo, na TV Aparecida, a consagração a Nossa Senhora. É ouvindo mesmo, porque estou voltado para o computador para responder suas embaraçosas perguntas. Porém, gostei muito desta.

5.  Seoldo: Sua corajosa revelação no ônibus sobre seu problema pessoal de saúde abriu muitas portas... Fique à vontade em descrever sua atitude, sobretudo a decisão de não se entregar.
 
"Uma decisão velada emerge e a gente a revela".
Edgard: Entregar é palavra fora do meu vocabulário em se tratando de questões como  essa. Não considero que minha revelação foi corajosa, é algo que a gente só sabe quando o fato acontece; uma decisão velada emerge e a gente a revela. Não sei se é todo mundo assim, creio que não. Quanto às portas se abrirem para mim, foi muito mais do que eu esperava, tanto com meus familiares até com pessoas antes estranhas e hoje conhecidas; a solidariedade tem sido incomensurável.






Parte 2 
Entrevistador: Siovani

Siovani:  seu conto aguçou-me a curiosidade; se não infringir direitos autorais, poderia ser publicado no blog? Ou onde encontrar o livro?

Capa do livro Reflexos Do Que Vi
Edgard: peço desculpas, pois fui ao jantar na intenção de falar sobre o livro e só não o levei, por um único motivo. Li suas indagações quando já estava em Belo Horizonte, entretanto, abordamos outros assuntos, diga-se de passagem, bem agradáveis, o que fez cair o tema do livro no esquecimento.
Vou lhe mandar o livro com maior prazer, mas não vá pensando que seja grande coisa. É um livrinho modesto, falo quase tão somente de Senhora de Oliveira, talvez por bairrismo ou por falta de criatividade. Não domino esta qualidade que você esbanja. Trata-se de um livro de quem ainda é um aprendiz apesar dos 66 anos, publicado numa editora cuja modéstia é sem comentários. Entretanto, não quero transferir a culpa se algo não saiu bem, acredite.  Por outro lado, presentear um escritor de seu quilate com um livro é algo muito sério, mas o farei com carinho. Vale citar Luiz Fernando Veríssimo: "Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é aquela que não tem medo do ridículo".

Siovani: em certo encontro você disse que gostava da comida do Seminário. Por talvez ter sido a única vez em que ouvi tal afirmação, gostaria de que falasse sobre isso, tal como naquela conversa.

Mexido à mineira
Edgard: gostar da comida do Seminário pode ter sido atribuído ao fato de a comida da minha casa ser talvez inferior, o que possivelmente não aconteceu com você, suponho. Naquele tempo o rango lá em casa era bem fraquinho. Penso que o mesmo não aconteceu com o Lulu, pois ele saiu bem mais cedo de casa. Diziam que a sopa do Seminário era quase água pura e o interessante é assim que gosto até hoje, talvez pela força do hábito. Agora neste nosso bate-papo penso também que pode ser uma questão de época. Você foi para o Seminário anos depois de eu ter saído. Baseado no comentário do Padre Agostinho no primeiro encontro, pode ser que a comida sofreu perda em sua qualidade, na ocasião em que você permaneceu lá. Ele disse que atravessaram uma fase crítica. Embora gosto seja uma questão subjetiva: “De gustibus  non est disputandum”. Este provérbio medieval foi o Lulu quem me ensinou. Se estiver incorreto, é com ele. Trata-se de briga de branco.

Lembre-se do primeiro encontro quando, na apresentação, eu disse: “O Seminário de Campo Belo foi um dos lugares em que eu fui mais feliz em toda minha vida”.  

Siovani: sei pelas nossas conversas que o assunto não é tabu: morrer pode ser uma chance de fazermos algo inusitado na vida, algo que nunca antes pôde ter sido experimentado, principalmente para os que sabem sobre a outra vida, como o mestre Jung sabia, jamais por crença. Fale-nos um pouco sobre o que o aguarda.

Edgard: devo salientar que ousei citar, com todo respeito, o mestre Carl Gustav Jung, de forma circunstancial, mas dentro do contexto que o relato mereceu. Naquela fase da minha vida que se transformava, penso que prevalecerá a ideia dentro do ponto de vista da aceitação.
Abordar a morte jamais será tabu, pelo menos para mim. A meu ver, é apenas uma passagem. Quero dar uma pincelada, no que diz respeito ao mestre Jung, com sutileza e com muito respeito. Friso apenas fatos pertinentes à pergunta como, por exemplo, da experiência da quase morte descrita no livro Memórias sonhos e reflexões, no capítulo intitulado Visões.  A abordagem pode impressionar, sim, por ser numa época bem diferente da nossa. Em 1944, o Dr. Jung fala com riquezas de detalhes de suas experiências como, por exemplo, quando se viu flutuando fora do corpo e estando a 1.500 km de altura. Pessoas que vivenciam algo próximo da morte se referem nada mais, nada menos que a experiência de transcender o mundo físico e normalmente isso causa mudanças diversas, principalmente espirituais. A discussão é muito mais abrangente. Alguns clínicos andam preocupados com esta situação, pois são conhecimentos adquiridos não pela via normal de percepção.
Enfim, a maioria destas experiências de quase morte é relatada por pessoas normais e sérias. São verdadeiras, por  isso não modifica minha convicção, pelo contrário, reforça-a.
O que me aguarda pode se afirmar com a verdade impregnada em mim desde o ventre de minha mãe:  DEUS = SANTÍSSIMA TRINDADE, MARIA, MÃE/FILHA, e todos os santos, parentes, amigos e conhecidos... Imploro a DEUS,incansavelmente, que todos tenhamos este privilégio. E teremos! Quanto à beleza é inimaginável.
Quando JESUS disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, Ele não cometia um discurso vazio. Esta é a chance de conhecer algo completamente afastado das normas gerais, algo nunca vivido nem visto antes. Não se trata de crença, porém da verdade que inadmite o contraditório. Vinda de DEUS.  Ela é única. Somos todos pecadores. Mas filhos de DEUS. Ai de nós, não fosse a sua infinita misericórdia. Daí se explica o fato de não ter medo da morte.
Na minha jornada tenho a certeza de que DEUS está presente. Embora tenha uma longa estrada pela frente. Devo melhorar e muito minha vida cotidiana em todos os aspectos. A palavra tem poder de colocar-nos dentro de um contexto, zelo pela salvação da minha vida, porém não confio em mim mesmo, mas sim em DEUS. Pensem o que melhor lhes aprouver, sou valorizado por ELE mais que mereço. Sei que sou um pecador. Vivo num contexto de doação com limites, tento privar o outro de ser contrariado, mas nem sempre o consigo. O outro necessita às vezes de um pouco de aborrecimento...  Não me aventuro a viver uma existência que não é a minha. Sei que estou salvo em JESUS.  Procuro fazer tudo para agradar ao SENHOR em todas as áreas da vida. Vivo em constante exercício de conversão, porque somos cruéis e pecadores.  O mundo é mau, porém nem todos os homens o são.
Sei que estou, como todos, entre a vida e a morte, a salvação a gente escolhe hoje, agora! Sinto-me um privilegiado.
Agradeço a Deus por ter me colocado de novo no caminho regrado, de onde nunca deveria ter saído. Neste sentido, a canção do Padre Zezinho se encaixa como uma luva, ao dizer: “Embora eu me afastasse e andasse desligado, Meu coração cansado resolveu voltar! Eu não me acostumei nas terras onde andei”.
Só para ilustrar: “Ó Pai, Senhor do céu e da terra! Louvo a ti, pois ocultaste estas verdades dos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos” (Lucas 10-21). 

Tenho grandes amigos espíritas, são pessoas despidas de vaidade que me fascinam. São defensores da caridade, enfim praticantes do bem etc. Fui presenteado por um amigo, comum, entre nós, com o livro: O livro dos espíritos(Allan Kardec). Aproveito o ensejo para agradecer-lhe. Há divergência ao dizer: Jesus é apenas um dos muitos filhos de Deus, ou, um espírito iluminado como muitos outros. Para mim Jesus é filho de DEUS sim, mas, é DEUS. Aliás, se o mistério, Santíssima Trindade, fosse simples, não seria mistério. Contudo, adoro ler sobre o espiritismo. Não se trata de sincretismo religioso, não pratico nenhuma outra religião, senão o catolicismo.

O trecho acima parece ter-se desviado do objetivo, mas não: aproveitei meu próprio gancho para agradecer ao amigo pelo livro. Ao mesmo tempo falar da significativa ajuda do Dr. Jung, mesmo sendo filho de pastor protestante, com o objetivo de difundir fenômenos mediúnicos, filho de Emilie, filha também de pastor, mas aberta a questões do gênero, enfim... Não devo me aprofundar, além de não entender o suficiente, seria fugir do foco. Abriríamos um leque interminável.  Tornar-nos-íamos cansativos aos leitores, ficando cada vez mais minguados. Como vem acontecendo.

Evidências bíblicas
"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz"  (Isaías 9-6).
“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” (Mateus 1-23).
"Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros" (Êxodo 3-14).
"Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU" (João 8-58).
"Por isso, eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados" (João 8-24).

Não sei se respondi a contento, mas o fiz com carinho e cautela, para não pisar em falso. Um forte abraço a todos os easistas espalhados por este mundo a fora. Deus abençoe a todos e os guarde hoje e sempre, que o Espírito Santo não se afaste de nós e, sobretudo, cumpra sua vontade sobre nossas vidas. Isso é para o mundo inteiro. Perdoe-me se não consegui alcançar todos os objetivos das perguntas.






47 comentários:

  1. Perguntas enviadas por Siovani25 de novembro de 2014 às 07:52

    Queria fazer três perguntas para o Edgard:

    - Aguçou-me a curiosidade o seu conto; se não infringir direitos autorais, poderia ser publicado no blog? Ou onde encontrar o livro?

    - Em certo encontro você disse que gostava da comida do seminário. Por talvez ter sido a única vez em que ouvi tal afirmação, gostaria que falasse sobre isso, tal como naquela conversa.

    - Sei pelas nossas conversas que o assunto não é tabu: morrer pode ser uma chance de fazermos algo inusitado na vida, algo que nunca antes pôde ter sido experimentado, principalmente para os que sabem sobre a outra vida, como o Mestre Jung sabia, jamais por crença. Fale-nos um pouco sobre o que o aguarda.

    Abraços,

    Siovani

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    1. O Editor informa que as respostas às perguntas do Sivani foram incluídas na postagem principal já que não cabiam como comentários (há um limite de palavras).

      Vide acima, Parte 2 da entrevista.

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  2. Muito bem, conterrâneo. Gostei de ler esta entrevista por ter conhecido seu caminho pós nosso convívio em Oliveira, por ter sentido que você está bem e também de ter relembrado um pouco a história da nossa terra que se mistura com a sua.

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    1. Meu caro Coelhão,
      Sinto saudade do nosso tempo em Senhora de Oliveira, embora tenha sido por um curto espaço de tempo, diante de uma vida inteira. Mesmo assim foram momentos suficientes para a construção de uma amizade saudável e verdadeira.
      Obrigado pelas gentis palavras.
      Um fraternal abraço.
      Edgard

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  3. Impressionou-me muitíssimo a filosofia do nosso amigo Edgard. Contrapôs com seus fundamentos às perguntas filosóficas do entrevistador Seoldo. Como autodidata, pois segundo consta, ele não fez nenhum curso nesta área, o Edgard vive a sua filosofia. Da mesma forma que mostra segurança em seus conceitos, segue os ditames de sua consciência, iluminando àqueles que o rodeiam.
    Também como o Siovani, gostaria muito de ler os seus livros.

    Um abraço,

    Santana

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    1. Caro amigo Santana,
      Suas palavras são sempre agradáveis. Atribuo a distinção à sua generosidade com as pessoas de nosso ciclo de amizade. Os gentis comentários a nosso respeito não deixam dúvidas: você continua aquele mesmo garoto do Seminário, de finíssimo comportamento e sempre atencioso e simpático com os colegas. Ah! Mandar-lhe-ei o livro, com prazer. Envie seu endereço por e-mail. Trata-se de um livro simples de quem está apenas engatinhando no ramo da Literatura.
      Muitíssimo obrigado, meu amigo.
      Um fraternal abraço.
      Edgard

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  4. É difícil falar da própria infância e das relações familiares mais profundas sem parecer piegas. Com relação ao Edgard, o que posso dizer: quem viu o irmão mais novo dormindo aos pés dos pais, com toda a extensão da inocência trazida para a superfície do ser e revelada em sua fisionomia calma e pura , tem todos os motivos do mundo para amá-lo; mas, na nossa história de vida, esse sentimento reveste-se de outras razões que vão além dos laços familiares: Edgard tem valores de caráter e uma incrível energia emocional capaz de atrair simpatias; em outras palavras: é fácil admirá-lo. Nosso pai era assim, e Edgard herdou dele o nome e a capacidade de transformar relações simples em grandes amizades; e, relações profundas em espaço sagrado de convivência. Em ambos, noto a mesma preferência pelas coisas e pessoas mais simples, como é comum aos grande homens, embora nem sempre a simplificação tenha batido em suas portas — O mundo costuma ser um lugar para enfrentamentos complicados.

    Embora sejamos de uma família um pouco careta, quando se trata de mostrar emoções mais requintadas e de maior peso emocional, Edgard superou essa idiossincrasia (desculpem o insubstituível palavrão) e projeta seus sentimentos de forma que poderiam ser vistos como um exagero, mas que para mim se fundam em bondade natural ao seu temperamento.

    E assim, com essa tentativa de explicação, quero agradecer ao Edgard as palavras elogiosas com que se refere a mim, à minha mulher e aos meus filhos e, dizer, com certeza máxima, a reciproca é verdadeira, talvez mais intensa, todos aqui em casa têm por ele grande respeito, admiração e amor.

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    1. Meu querido irmão,
      Suas palavras têm o dom de me enternecer e emocionar ao mesmo tempo. Sou mesmo eternamente grato pela alegria de pertencer a esta família de secarrões, conforme nossa mãe falava. Não sei se você se lembra, mas são reminiscências que difíceis de cair no esquecimento, pois se constituem a essência do seio familiar. Como disse, a cada dia aprendo um pouco mais com você. As qualidades que você atribui a mim deixam claro e notório que são suas. Delas consegui absorver um pouquinho, por conta da nossa convivência fraterna cada dia mais próxima, mesmo estando longe. Os momentos de maior alegria de minha vida são aqueles em que você e os seus estão aqui compartilhando-os comigo e, como ocorre na maioria das vezes, estou aí em sua casa de Belo Horizonte ou no sítio de Senhora de Oliveira. São lugares que me deixam repassado de intensa paz espiritual.
      Um fraternal abraço a você e à família.

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    2. Meu amigo Edgard: venho acompanhando as perguntas e suas respostas. Não há porque se desculpar. Suas respostas são sempre muito esclarecedoras. Mas vou "cutucar a onça com vara curta": você disse " adoro ler sobre o espiritismo. Não se trata de de sincretismo religioso. Não pratico outra religião senão o catolicismo." .Embora eu não pretenda questionar sua última afirmação existe ai, , uma contradição ?

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  5. Olá meu amigo Benone,
    Sempre fique à vontade para expor sua opinião. Claro que não existe contradição alguma com relação à minha religiosidade. Porém reafirmo ler sobre quaisquer questões e, às vezes, concordar com alguns posicionamentos até contraditórios com determinadas linhas de pensamento. Isto não significa pertencer ou pretender se alinhar àquele segmento filosófico. Tal posição vale para tudo na vida. No Direito, por exemplo, não se pode contestar algo sem antes ler a inicial da parte autora. Contestar o quê? Se não sei do que se trata... Porém, se houver a leitura e o entendimento prévio, será possível trabalhar. Devo ter entendimento pleno, na medida do possível, para poder conquistar um resultado satisfatório. Não sei se todos podem fazê-lo.
    Lendo sobre quaisquer áreas que não sejam apenas aquelas com que estejamos mais familiarizados, vamos encontrar textos esclarecedores. Isso nos ajuda a não criar a terrível ideia preconcebida sem nunca ter lido um livro, ou conversar com alguém esclarecido que entenda de verdade de determinado assunto. Tal como conversei com você. Acredito que somos todos irmãos, cada um professando sua fé e seu entendimento. Continuarei lendo. Creio ter esclarecido seu oportuno comentário.
    Um abraço, meu irmãozinho.

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  6. Caro Edgard,
    o melhor de tudo acho que foi a oportunidade que você usou para se desnudar e nos mostrar a rica pessoa que você foi no passado e na ainda mais rica que está sendo agora. É muito gratificante poder contar com sua amizade e de todos os demais Easistas. O jantar que pudemos compartilhar na semana passada, ao lado do Lulu e das nossas esposas, foi um grande momento de descontração que espero podermos repetir.
    Abraços, Siovani

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    1. Caro Siovane,
      Nunca as palavras são suficientes para agradecê-lo. Você é um grande amigo, como o são também todos os Easistas. A prova inequívoca de sua simpatia é a gentileza com que nos trata em todas as oportunidades. Com sua recordação, você acaba de lembrar, implícita e sutilmente, que me esqueci de mencionar o nome de nossas esposas e do Lulu, durante o jantar. Reconheço a grave falha e tentarei ser mais cortês com todos no próximo jantar, o que faremos ainda por muitas e muitas vezes.
      Um abraço carinhoso a você e a Rose.

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  7. Amigo Edgard :
    Li e reli sua história de vida, eh linda, mas, o que me cativa eh sua espiritualidade, sinto sinceridade, aliás Eh o que está faltando em muitos dos nossos padres, passar sua fé, sua certeza para o próximo. Gosto dos textos do Seoldo e, como entrevistador ele se revelou. Quanto a comida do seminário lá em casa, naquela época, o rango também não era bom, mas a comida do seminário conseguia ser pior. O arroz com feijão da minha mãe superava em muito a comida do seminário. A comida de lá no entanto, não era impecilho para eu gostar muito e muito da vida do seminário. Voltando ao Edgard, meu amigo que reconheceu minha voz ao telefone após tantos anos de separação, quero deixar expresso minha admiração por você. VOCÊ EH O CARA. Abs. Rafael

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    1. Amigo Rafael,
      Suas palavras são cativantes, ou melhor, sempre foram. Quanto aos padres, concordo com você em gênero, número e grau. Antigo isso, não?... Sobre a comida do Seminário, pode ser que meu comentário seja fruto de alguma perda de memória, porque estou perdendo esta partida por três a um: você, Siovane e Lulu. Já pude perceber que estou sozinho na defesa. Alguém mais se manifeste, por favor!...
      Pelo menos concordamos em alguma coisa: gostávamos muito do Seminário.
      Minha admiração por você e demais colegas Easistas, espalhados por este mundão de Deus.
      Um abraço a você e a toda a família.
      Edgard

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  8. Vou continuar te cutucando Edgard: o dito mistério da Santíssima Trindade, não seria, apenas, uma criação do catolicismo ? Porque você se agarra com tanta força a esta idéia ? O Pai é o Deus Todo Poderoso. O Filho é Jesus, nosso Irmão Superior. E O espírito Santo o que é ? Respeitosamente, uma grande abraço.

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  9. Falar de papai é muito fácil, até porque minha convivência com ele é de longa jornada. Sua sincera amizade por mim e pelos outros me encanta.
    A simplicidade com que encara a vida e os problemas, sempre me trouxe uma paz interior. Sua proteção incondicional pelos que ama, também o faz um super herói.
    Papai é insubstituível não apenas por ser meu pai, mas pela sua amizade, proteção e paciência. A disponibilidade em ouvir e seus excelentes conselhos fazem dele o único.

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    1. Minha querida filha,
      Suas palavras me encantam desde quando você escrevia seus bilhetinhos cheios de amor. Mesmo pequenininha, você já tinha a capacidade de escrever sem errar os textos lindos que até hoje mantenho comigo. Você já sabia desta minha devoção? Às vezes uma lembrança me apanha distraído, uma saudade dilacerante me emociona. Sinto saudades: onde estão as minhas criancinhas? Onde foram? Em que nuvens se esconderam? Uma lágrima teimosa me desliza na face, como acontece agora. Tenho de parar... Aquele foi o pai herói. Hoje sou apenas eu: o pai emotivo ao extremo.
      Um beijo com a imensidão do meu amor.

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  10. Papai,li e reli também a sua história...
    Me ameciono porque tudo isso me fez lembrar da minha vozinha querida e de Aguimar,
    duas pessoas maravilhosas que Deus colocou em minha vida,graças ao senhor.
    Que cuidaram de mim com seus amores incondicionais,puros e verdadeiros.
    A nossa convivência,não foi de longa jornada,mas esse tempo foi o suficiente para que eu o ame verdadeiramente como pai!
    As histórias contatas por minha irmã Nara,também me fazem ver,como o senhor sempre teve um amor incondicional dentro de si.
    Uma certa vez,me disse a seguinte frase:"Nunca deixe de estudar,não importa o que aconteça e não importa a idade que tenha,
    mas nunca deixe de estudar." Nunca me esquecerei disso,e essa frase me deu forças para nunca desistir dos meus sonhos.
    Obrigada por tudo papai ! Te amo! :)

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  11. Eu também relembro todos os dias de papai, mamãe e Guimar, pois foram os anjos que Deus indicou para guiar minha vida. Sinto imensas saudades dos meus irmãos mais velhos que também partiram para melhor e do nosso querido Marco Aurélio que infelizmente partiu tão cedo. Quanto a você, minha flor, temos pouca convivência, como você mesma disse, por motivos alheios à nossa vontade. Porém, o distanciamento nunca fez a menor diferença no afeto que lhe dedico, com todo meu coração de pai. Amo todos os meus filhos, na integralidade do amor sem divisão, todos têm de minha parte a mesma admiração incondicional.

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  12. Parabéns pela família Edgard, só gente bonita. Isto é motivo de muito orgulho, meu amigo ! Abração

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  13. Esta entrevista com o Edgard faz lembrar os tempos de criança e as peraltices. Naquele tempo, no mês de outubro chovia, mas mesmo assim saímos a passeio, como sempre fazíamos. Eu ia à frente porque sendo mais velho tinha que vigiar o trilho e evitar cobras, e como já havia pisado numa de duas cabeças — depois fiquei sabendo que aquilo nem cobra é; e sim, lagarto de pernas atrofiadas — tinha experiência e a obrigação de identificá-las e matar as venenosas caso as encontrasse pelas estradas. Pois bem, naquele dia, há 60 anos, fomos à casa do tio Chico e tia Maria Augusta. Andamos pouco, coisa de meio quilômetro da porteira de nosso curral até a casa deles. Sempre chegávamos pela porta da cozinha, sem cerimônia e sem rapapés; éramos de casa, dos que entram sem convite e se sentam no descanso do fogão. Mas naquele dia as coisas saíram diferentes: Edgard embirrou e parou na minha frente, perto de um açude, um pouco antes de passar por uma pinguela de coqueiro, um tronco de seis metros que o tio havia estendido por sobre o leito do ribeirão que banha as partes baixas do Clemente e da Vargem. Essas águas vêm serpenteando desde o lugar chamado Casinha, passam pela Vargem e descem em zique-zaque, por mais quatro quilômetros, levando seus peixes e fertilidade para os que habitam o arraial de Piraguara, hoje a cidade de Senhora de Oliveira. Pois então, na margem do ribeirão, o Edgard empacou como um alazão manhoso, não queria prosseguir. Nosso primo Antônio, criança ladina como nós, viu aquilo da janela de sua casa, que se erguia um pouco acima de onde estávamos, e veio conferir, pois nunca vira a gente a teimar ali perto do açude. Nem precisou reparar muito para perceber que se tratava de uma esquisitice fora de todo propósito e perguntou: "Uai Digar, tá com medo de cair da pinguela? Água fria não mata. A gente sabe de sua valentia. Por que isso agora?” Edgard respondeu com a cara mais deslavada que eu já vi: "Hoje não posso entrar, é meu aniversário". Antônio correu morro acima para contar à mãe o que acontecia lá embaixo. Tia Augusta nem quis saber por que no dia do aniversário a gente não pode entrar na casa dos outros, tratou foi de arrumar dois ovos e os embrulhou num jornal velho e mandou para o Edgard, mas antes recomendou com bom humor: "Diga ao Digar que é um presente de boas vindas para quem não veio".

    Mais tarde, já em casa, eu pedi explicações: "Mamãe, por que a senhora não me falou que hoje era aniversário do Digar?". Ela achou graça daquela pergunta fora de propósito e disse: "Deixa de ser caipira, menino, Digar faz aniversário no dia 21 de dezembro, nós ainda estamos em outubro"

    Assim aconteceu sem tirar nem por. Um fato tão simples e tão sem graça, mas que na época foi contado e recontado e nos fez rir por meses. Ríamos muito, tornando-nos cada vez mais caipiras e preparando-nos para a vida. Todos achavam que aquilo tinha sido uma prova da esperteza do Edgard, inventara o aniversário só para ganhar um presente temporão; eu não achei isso. Até hoje penso que o Edgard estava mesmo é com vergonha de entrar na casa da Tia com os pés sujos de barro e inventou uma desculpa esfarrapada. Aquele, certamente, foi o presente mais inesperado que o Edgard já ganhou, não podia resultar de um ardil; aceitá-lo, sim, pode ter sido por esperteza ou dificuldades de negar a mentira inicial. Como disse Onassis: “ Não ser descoberto numa mentira é o mesmo que dizer a verdade”.

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    1. Lulu :
      Histórias de crianças são lições de vida. è muito legal. Pergunto : Digar, lembra-se desse fato ou ele ainda era muito pequeno ?
      Gostei do Onassis : " Não ser descoberto numa mentira é o mesmo que dizer uma verdade."

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    2. Caros colegas e leitores de todas as partes,

      O relato do Lulu sobre o ocorrido há 60 anos é a pura expressão da verdade. Ele diz que anda muito esquecido, imaginem se não andasse. Tive ataque de risos ao ler o comentário, pois esperava tudo menos isso, porém me lembro, perfeitamente desse episódio. Só não me recordo de terem sido apenas dois ovos, pelo que me consta foi meia dúzia. Isto foi descoberto depois e ficaram me tachando de esperto. Não sei quem são eles, mas pensaram que fiz de propósito, para ganhar presente. Acho que menti por qualquer coisa que nem posso imaginar, ou talvez por nada. Naquela época havia qualquer crendice de que, no dia do aniversário, a gente não entraria na casa de ninguém a não ser a nossa. Mas a verdade é que eu não quis entrar e não entrei. Porém só nós sabíamos dessa crendice. Claro que era uma crença da nossa própria convivência familiar, matuta.
      Um abraço a todos os easistas e a todos que estão lendo este comentário infantil.
      Um feliz Natal e um Ano Novo cheio de realizações. Que Deus abençoe a todos.
      Edgard

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  14. "Quanto maior a mentira, maior a possibilidade de ser aceita como verdade" (Hitler). Edgard teve sorte de ganhar DOIS OVOS... pelo menos ele podia come-los!!! Eu ganhava era BARRA DE SABAO caseiro !!! Muito bem descrita a situacao do "fogoso' Edgard pelo seu irmao responsavel Lulu. Aposto que ha muito mais travessuras ainda... Vao contando tudo para a gente! Abracos Seoldo.

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  15. De fato, "De gustibus et coloribus non disputandum est". Mas esse papa dos inestimáveis irmãos e ex-colegas está muito culto pra mim... Vcs estão tão "profundos", poéticos que acabo me contentando em apenas continuar me deliciando com a leitura e reflexão. Parabéns a todos.
    Abraços fraternais e minhas saudades.
    JHS

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  16. Que o "papa" me perdoe. Ainda bem que, para quem sabe ler, um pingo é pingo (não letra), não é? É PAPO mesmo. Vc sempre tem razão. Nada mais certo: a pressa é inimiga da perfeição...
    JHS

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  17. A sempre uma boa história de vida atraz de um grande homem, parabéns por ser um ótimo exemplo em nossas vidas amigo Edigard. Somos gratos!

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  18. Esta crendice de que no aniversário não se entra na casa dos outros, é nova pra mim. Com outra Edgard ! Gostei da história !

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  19. Feliz aniversário e tudo que há de melhor.bjos!

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  20. Somos os enfeites de Natal quando nossas virtudes e nossos atos são cores que adornam. Somos os sinos do Natal quando chamamos, congregamos e procuramos unir. Somos luzes do Natal quando simplificamos e damos soluções. Somos presépios do Natal quando nos tomamos pobres para enriquecer a todos. Somos os anjos do Natal quando cantamos ao mundo o amor e a alegria. Somos os pastores de Natal quando enchemos nossos corações vazios com aquele que tudo tem. Somos estrelas do Natal quando conduzimos alguém ao senhor. Somos os reis magos quando damos o que temos de melhor, não importando a quem. Somos as velas do Natal quando distribuímos harmonia por onde passamos. Somos Papai Noel quando criamos lindos sonhos nas mentes infantis. É sempre tempo de contemplar aquele menino pobre, que nasceu numa manjedoura, para nos fazer entender que o ser humano vale por aquilo que é e faz, e nunca por aquilo que possui. Noite cristã, em que a alegria invade nossos corações trazendo a paz e a harmonia. Um feliz aniversário, tudo de bom que você merece um feliz Natal e mais um ano que está chegando trazendo alegria em nossos corações, paz para nossos dias e tudo que há de melhor para que possamos seguir juntos nessa caminhada que não é fácil mais que com a graça de deus iremos vencer. bjossss!!!!!

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    1. O Natal é mesmo essa época mágica, em que as pessoas se voltam para reconhecer em seus semelhantes as melhores virtudes ensinadas por Jesus. Agradeço os votos de feliz aniversário e de boas festas. Que a paz manifestada nestas ocasiões com o advento do Menino Deus perdure para sempre em nossos corações.
      Beijos!!!

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  21. Não é muito fácil para mim escrever sobre o Ô ( forma carinhosa que eu o chamava quando era pequeno). Aos que observam o nosso relacionamento de superficialmente, tenho certeza que fica a impressão de que somos distantes. Isso se deve a minha implacável timidez e ao meu jeito "seco" de ser. Contudo, diante dos meus olhos, ele é um exemplo e tem um lugar cativo em meu coração. Sua serenidade impressiona e torna qualquer problema muito simples de ser resolvido. Os conselhos dados e as marcantes frases de efeito nunca sairão da minha memória. Saiba que apesar do tempo de convívio não ser nosso aliado, gosto muito de você e o admiro. Neste dia agradeço a Deus por ter lhe concedido mais um ano de vida e tenho certeza que muitos mais estão por vir! Parabéns e feliz aniversário!
    Francisco Cardoso

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    1. Chiquinho, meu querido neto, obrigado pela congratulação, meu aniversário. Não se preocupe com a impressão alheia. Este jeito seco de ser é coisa nossa. E o amor que sinto por você é inimaginável. Quanto à timidez, mencionada no seu lindo texto, é a base sólida da cautela e do cuidado, com zelo, para não pisar em falso. Continue sempre assim. Feliz Natal e um 2015 cheio de realizações. Beijos do Ô!

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  22. Há sempre uma boa história de vida atrás de um grande homem, parabéns por ser um ótimo exemplo em nossas vidas amigo Edgard. Somos gratos!

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    1. Caro amigo Leandro,
      Apreciei muito suas palavras carinhosas. São elogios que me deixam envaidecido, mas estão acima do que mereço. Ainda assim, fico muitíssimo grato por sua gentileza.
      Por outro lado, peço-lhe perdão por não estar conseguindo identificar quem é este Leandro tão gentil, pois existem vários conhecidos com este nome. Por favor, mande alguma informação que facilite a lembrança, embora desconfie que você é o filho do José Maria e da Cesinha. Sendo ou não, ofereça alguns detalhes para lhe dar uma resposta melhor embasada.
      Um abraço.
      Edgard

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  23. “É aí que a cerdosa suína faz girar, sobre si mesmo, o prolongamento de seu apêndice caudal”. Quem nunca ouviu alguém dizer essa frase e a atribuir a Rui Barbosa ou a Machado de Assis e logo em seguida a traduzir para uma linguagem menos pedante: “é aí que a porca torce o rabo”? Sempre achei esses ditos pretensamente eruditos muito engraçados.

    E isso me lembra uma travessura dos anos 1950. Era véspera de Natal e chovia pingos finos e distanciados. As crianças, nessa situação, ficam encurraladas no espaço doméstico e inventam alguma coisa para fazer dentro de casa ou no quintal. E, naquele dia, achamos um excelente passatempo: Digar e eu decidimos colocar em prática um "conhecimento" adquirido de tanto ver o pai a aplicar ventosa. Ele fazia isso sempre que um “amigo” chegava se queixando de dores por dentro — algo que nunca entendi muito bem; haveria alguma dor por fora? —. Como nem todos conhecem esse tratamento, hoje em desuso, eu explico: coloca-se um pequeno chumaço de algodão embebido em álcool no fundo de um copo de vidro, ateia-se fogo no algodão e aplica-se sobre a região afetada, à medida que a chama queima o oxigênio do interior do recipiente, cria-se um vácuo que faz a pele e o tecido da região pressionada serem sugados para dentro do copo e, assim, o sangue ruim e as carnes podres que poderiam estar causando o mal concentram-se na pele ou pelo menos mais na superfície do corpo. Se curava pela fé ou pelo principio médico, não sei, mas todo paciente saía desse procedimento com cara boa e muito agradecido. Pois bem, é isso, um tratamento antigo que meu pai aprendeu com os médicos e práticos do interior e que aplicava sem medo e sem pena. Agora que o leitor sabe o que é ventosa, vamos ao que pretendo contar:

    Naquele tempo, nossa casa da Rua, ou melhor, da recém-emancipada Senhora de Oliveira, tinha um quintal bem grande e íngreme. Na parte mais alta, havia algumas árvores frutíferas e, um pouco abaixo, um pequeno chiqueiro, onde nosso pai criava leitões. Naquele dia, uma leitoa bem redondinha havia escapado do chiqueiro e circulava perto da porta da cozinha, fuçando o barro e as cinzas que ali se depositaram. Não me lembro de quem foi a ideia, mas os procedimentos ainda estão muito vivos em minha memória: preparamos meio copo de álcool, jogamos nele um pouquinho de algodão, riscamos o fósforo e ateamos fogo; em seguida viramos o copo de boca para baixo e rapidamente o grudamos nas costas da leitoa. A expectativa minha e do Digar era que o copo se enchesse com a pele e a banha da cerdosa suína, mas ela escapou de nossas mãos enquanto o álcool espalhava-se pelas suas costas. A carne chiava, e a leitoa esgoelava-se enquanto corria por todo o quintal, derramando álcool em chamas aqui e acolá; só não ocorreu um incêndio de proporções porque o mato estava molhado, mas aqueles gritos feriram os brios de uma marrã e fizeram com que ela pulasse a cerca do chiqueiro e viesse em socorro da irmã caçula. Por mais que roçasse sua pele úmida contra a dela, na tentativa de apagar o fogo, nada conseguiu, as costas da pobrezinha “pururucava”. O final da história é que nosso pai teve que sacrificar a infeliz. Prejuízo não deu, pois o destino dela já era o de enfeitar a mesa da consoada com uma maçã na boca, mas como não havia geladeira em nossa casa, foi frita em pequenos pedaços e guardada em lata de banha e, por sinal, a carne ficou muito melhor do que se assada fosse. Estranho eu não me lembrar dos castigos, mas me lembro de nossa mãe dizendo: – O que estes meninos foram cheirar no quintal com uma chuva dessas? Só me inventam bobagens! Será que umidade amolece os miolos? Que Deus proteja estes Alfenas!

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    1. Toda esta história floreada pelo meu irmão Lulu, apesar de revestida de algum exagero, tem um fundo de verdade, pois está fundamentada em realidade. Posso garantir que a intenção do narrador foi a melhor possível, embora eu não esteja me lembrando nitidamente de alguns detalhes descritos em seu comentário.
      Houve realmente o dissabor de tentar curar uma dor imaginável na leitoa, próximo à porta da cozinha lá de casa, com a utilização de uma ventosa: “frasco de vidro aplicado à pele, para produzir uma revulsão local, pela rarefação do ar”. Mas a experiência jamais daria certo. Aquele toucinho duro do porco não teria a menor possibilidade de se deixar adentrar por um copo de vidro. Assim, o tratamento se revelaria ineficaz.
      Mesmo bem pequeno, com meus seis ou sete anos, fiquei muito triste e arrependido. O arrependimento foi justamente quando nós colocamos o copo com álcool e fogo nas costas do pobre animal e o retiramos antes de terminar de queimar. O álcool se derramou e o fogo se espalhou nas costas da porca. Acho que, por medo de nosso pai, tentamos abreviar o trabalho e deu no que deu.
      Tempos depois passei a prestar a atenção no meu pai e pude constatar o procedimento certo: ele colocava o álcool no copo, rodava e o jogava fora, pondo fogo apenas no restinho que ficara no fundo e o aplicando em seguida nas costas ou em qualquer parte que fosse a dor da pessoa. Interessante é que, agindo desta maneira, a dor passava mesmo. Não era para utilizar meio copo como fizemos. Acho que pagamos um preço alto pelo aprendizado: só não me lembro qual foi o castigo, mas nosso pai não costumava deixar barato, quando fazíamos nossas artes...

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  24. Quando o Lulu e eu nos casamos, fui abençoada, ganhando uma família maravilhosa: a família de Sodiga e Sadita. É assim que me sinto na família Alfenas: sou parte dela. Convivi muito com Sodiga , Sadita e Aguimar....Eu os amei intensa e incondicionalmente...Tenho certeza de que também fui amada por eles.
    Edgard, logo que o conheci, sabedora da sua importância na vida do Lulu, procurei aproximar-me de você e de sua família. Amo suas filhas: a Narinha, que conheci com 4 aninhos, uma doçura de criança; a Núbia e a Nadja, pela convivência estreita na casa de Sadita durante nossas férias (Não esqueço os longos papos e papinhos carinhosos que eu tinha com elas).
    Quando a Cátia chegou, nossa amizade foi se estreitando e se transformando em amor fraternal. Uma tragédia familiar nos uniu e aproximou mais ainda...Agradeço a Deus e a você por tê-la colocado em nossas vidas. Ela hoje é para mim uma irmã que veio para me alegrar e dar mais leveza em meus dias. Uma amiga sincera com quem posso sempre contar, e ela sabe que pode sempre contar sempre comigo também. Com a Cátia chegou também o Marco Aurélio e a Bianca aos quais aprendi a amar como sobrinhos. A Tati, que conheci com mais ou menos 8 anos, chegou com doçura e foi muito fácil amá-la imediatamente...Tenho pelo Chiquinho uma grande simpatia,apesar da pouquíssima convivência, e o Caleb é doce e carinhoso. Adoro estar com eles.
    Você Edgard, hoje é para mim como um irmão muito querido. Que Deus o proteja sempre e dê-lhe muitas alegrias, curtindo o que há de melhor na vida, sempre ao nosso lado.

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    1. Prezada Maria José,
      Todas estas qualidades atribuídas à nossa família são também resultado da convivência com você, que tem forte significado em tudo isso. Mamãe, papai e Guimar, o trio imbatível no quesito amor, sem dúvida a amavam muito. A alegria jorrava em seus semblantes, quando vocês chegavam lá em casa. Tive a oportunidade de ver isso algumas vezes, pois nem sempre coincidia as nossas idas a Senhora de Oliveira nesta época. Mas hoje em dia a gente faz questão de que as visitas coincidam, pois nos dão oportunidade desta convivência maravilhosa com vocês.
      Entretanto, eu sempre soube de tudo que se passava. Guimar sempre foi minha grande confidente. Tanto você quanto o Lulu foram os grandes guardiões e esteios daquele trio inesquecível. Embora não morassem lá, vocês estavam sempre antenados. O apoio incondicional de vocês ao nosso pai e as nossas duas mães, como gosto de dizer, era singular. Minhas filhas também cultivam um sincero afeto por você, mas não vejo nisso nenhuma vantagem: afinal de contas, quem não gosta de você?
      Olhe só! Você não é filha de Senhora de Oliveira, mas é como tivesse nascido lá. Vira e mexe, encontro com pessoas que, apesar de eu ser de lá, não as conheço tão bem e elas perguntam por você e sempre a elogiam. Tanto você quanto o Lulu e seus filhos, principalmente os frequentadores do sítio.
      Uma verdade se afirma a cada acontecimento vivenciado: diante de todo mal sempre existe um bem compensador. A Cátia adora a todos vocês, inclusive seus pais e seu irmão. Ela considera você muito mais que uma irmã. Cá pra nós: quando a gente chega a Senhora de Oliveira, a primeira coisa que faz é ligar para ver se vocês estão no sítio. Caso não estejam, percebo claramente uma mudança em seu semblante, parecendo expressar: leve-me de volta para casa! Aliás, agora é ela mesma que me leva e traz...
      Quanto aos meus netinhos concordo com você, são dóceis e carinhosos.
      Minha opinião sobre você, querida cunhada, tão estimada como se fosse irmã, não cabe apenas em palavras, pois está envolvida no mais profundo afeto e gratidão por tê-la participando de nossa família.
      Desejo que Deus proteja sempre você, Lulu, seus pais, seu irmão e seus filhos: os grandes mestres da cozinha japonesa, sempre dispostos a agradar o tio. Obrigado por tudo.
      Um fraternal abraço.


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  25. Além de ser a razão de minha existência, você tem um significado muito especial para mim. Eu te amo tanto, mas tanto, que não sei se consigo expressar meu sentimento apenas com palavras. Tenho orgulho de ser sua filha, de ser seu “zoião”... Sua história de vida é meu espelho. Deus me presenteou com sua divina graça quando me destinou ser sua filha. Parece que Ele adivinhou, porque se eu tivesse condição de escolher, não hesitaria: queria você para ser meu PAI!
    Você representa para nossa família um exemplo de pai, marido e pessoa. Sempre falei e continuo dizendo: quando me casar, quero ter um marido exemplar, semelhante ao que você é para minha mãe.
    Agradeço tudo que fez e tem feito por mim, sempre revestido de muito carinho, sabedoria e amor.
    Obrigada por saber e honrar dignamente a missão de ser PAI.
    Beijos de sua filha querida.

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  26. Minha querida filha,
    Desculpe-me a demora em responder sua carinhosa mensagem. Fiquei tão emocionado que me custou encontrar palavras que pudessem expressar tão bem meu sentimento quanto as suas. Entretanto, seu gesto, apesar de belo, não me surpreendeu, pois a conheço bem e sei ser própria de sua índole esta manifestação de amor filial.
    Gestos como o seu me renovam a cada dia, me proporcionando forças para continuar vivendo cercado de positividade. Eu, sim, tenho muito orgulho de ser seu pai. Não canso de agradecer a Deus, por ter sido presenteado com esta filha linda, carinhosa e inteligente, que é e eternamente será o meu Zoião. Você não imagina a minha alegria ao ouvi-la dizer: “Se tivesse de escolher, não hesitaria: queria você para ser meu pai!”
    Tenho consciência de não ser tudo isso que você me atribui. É sua condição de filha afetuosa que a faz me ver com estas virtudes. Por outro lado, sinto que não faço o mínimo do mínimo de tudo que você merece, minha filhinha. Ademais, não é para qualquer pai ter uma filha do seu quilate.
    Um beijo carinhoso do seu pai, que muito a ama.

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  27. Falar de você, Edgard, é muito prazeroso, pois é e sempre foi a base sólida da minha vida. Você representa meu sustentáculo nos momentos em que sou acometida de eventuais fraquezas, dando-me forças para continuar no caminho, na resolução dos problemas oferecidos pelas intempéries da vida. Muito o agradeço por cuidar de mim e da família, por estar sempre ao meu lado, compartilhando alegrias e enxugando minhas lágrimas. Obrigada por me amar.
    Meus sentimentos por você são os mais sinceros e verdadeiros. Para mim você é uma dádiva de Deus e, como dizia meu, saudoso, pai, “um achado”... Minha, saudosa, mãe o amava como um filho... Nosso querido filho, Marco Aurélio, (que Deus o tenha), desnecessário dizer o quanto ele o amava... Desejo sempre o fazer feliz e ser feliz a seu lado. O amor que lhe dedico é infinito. Não sei bem o que o futuro nos reserva, mas penso sempre em momentos agradáveis, pois independentemente do que vier estarei sempre ao seu lado. Nossa vida comum trouxe uma sintonia fantástica, que parece haver transmissão de pensamentos entre você e mim.
    Há mais de 30 anos estamos formando nossa família num lar povoado de felicidade. Somos uma orquestra regida por você, um maestro cuja competência vem sempre revestida de muito amor e carinho. Às vezes não sou tão dócil em minhas colocações, mas quero que saiba que até nas discordâncias também existe amor e carinho, muitas vezes baseados em princípios inexplicáveis. Mas a compreensão logo retorna, superando as diferenças, a ponto de nos fazer cair em boas gargalhadas. Daí a existência se transforma numa constante brincadeira; é uma maneira muito saudável de manter nosso bom relacionamento.
    Edgard, quando conheci você minha intuição me mostrou que algo de muito bom iria acontecer em minha vida. Depositei em você uma confiança imensurável, pois percebi que se tratava de um homem de bem. E eu estava certíssima. Somos e seremos para sempre unidos em nosso ideal. Você nasceu para vencer e tem demonstrado isso nas vitórias conquistadas ao longo da vida. Agora, por motivos que estão além do nosso entendimento, o destino decidiu lhe desafiar com mais uma provação. Tenho certeza de que vai vencer mais este desafio.
    Quem não o conhece como eu jamais terá a dimensão completa da sua bondade, tanto com relação à nossa família como para pessoas até mesmo estranhas. E como filhos e filhas de Deus, todos na família confiam nisso: seremos vencedores!
    Meu marido, meu companheiro, meu amigo, minha vida e meu grande amor.
    Daquela que o ama e sempre o amará de maneira incondicional.
    Cátia a sua Catinha, ou melhor, sua eterna Tinha.

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    1. Edgard Miranda Alfenas25 de janeiro de 2015 às 09:07

      Querida Cátia,
      Você diz ser prazeroso falar de mim. Entretanto, falar de você se torna muito complexo, pois não há palavras suficientes no nosso idioma para expressar o que você significa para mim, a não ser que se reinvente a língua portuguesa com palavras que só existam no dicionário do amor.
      Muito mais que tocar na reciprocidade dos meus sentimentos por você, revelo uma incomensurável gratidão por embasar nossa vida com amor e respeito. Conseguimos construir uma vida conjugal sui generis, no ineditismo de uma harmonia em que muitas vezes transformamos ameaças de briga em brincadeira de bom gosto, como você mesma disse, terminando em gostosas gargalhadas. A seu lado, nunca deixamos o sol se pôr, sem que nos reconciliássemos de alguma discordância e pedirmos desculpas diante de algum mal-entendido. Sua simplicidade é o fator preponderante para consolidar toda esta harmonia.
      Não consigo me imaginar sem você nestes trinta e poucos anos de alegria e felicidade que parecem ter se iniciado ontem. Somos um só corpo, um só espírito. Aonde vai a corda, vai a caçamba. Meu amor, você possui todas aquelas qualidades que me atribuiu e muito mais. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que a conheci, pois, desde o primeiro olhar, a intensidade do encantamento perdura até hoje. Trocamos duas ou três palavras, mas aquele diálogo monossilábico foi suficiente para você nunca mais sair do meu pensamento.
      Dias depois a procurei de novo e gastei todo meu português oliveirense, pois precisava impressioná-la. Deu certo, pois ficamos amigos e mais tarde voltei a encontrá-la. Desta vez senti o balanceado da canoa, pois me convidou para ir a sua casa, não hesitei em aceitar e fui com o coração transbordando de alegria. Lá conversamos um bom tempo naquela varandinha da cozinha, lembra? Mineiro bobo, meias conversas, timidez aflorando... Mas fiz o meu papel, até acho que esta timidez foi a chave mágica de tudo. Depois começamos a amiudar os encontros, aí o amor eclodiu de maneira tão intensa que permanece até hoje e creio que perdurará para sempre.
      Lembra-se da carta que eu escrevi a você? Nela a convidava para ser minha secretária e você topou. Naquele momento percebi a felicidade batendo a minha porta. Esta felicidade continua até hoje. Quero dizer, Cátia, que você é absolutamente tudo na minha vida. A secretária que foi um dia acabou por se apropriar do meu coração. Você se considera indócil às vezes. Não é bem assim, nós é que somos enjoados. Independente de qualquer situação, você é meu porto seguro. Quanto a seu comentário sobre a provação, que eu chamaria de morte, pode estar certa de que ela não vai me roubar agora a suprema felicidade de conviver com você, de forma alguma. A famigerada morte não me amedronta, mas ficaria triste em ter de partir no momento em que você é a essência da parte mais venturosa da minha vida.
      Como se deduz, a palavra amor é pouco expressiva para dizer tudo que sinto por você.
      Beijos do seu eterno amado.

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  28. Prezados easistas,
    Antes de tudo, desejo me apresentar: sou a Bianca, filha do Edgard e da Cátia, esposa do Bruno, a mãe do Caleb, sobrinha do Tio Lulu e da Tia Maria José. Creio ser importante citar as relações familiares, pois considero possuir os melhores pais do mundo. Na verdade, não sou filha biológica deles, mas me vejo bem mais do que esta condição: tive o grande privilégio de ser escolhida por eles e agradeço a Deus todos os dias por esta abençoada iniciativa.
    Existia uma história de que minha mãe biológica havia falecido. Meu pai é tão maravilhoso que sempre falou não acreditar nesta possibilidade. Fez uma investigação e descobriu que minha mãe biológica estava viva. Daí, me perguntou, com toda sutileza, se eu gostaria de conhecê-la. Eu aceitei e lá fomos nós. Ah, isso aconteceu logo no primeiro dia em que ele ficou sabendo desta notícia. Não é que ele estava certo?
    Localizamos minha mãe biológica, mas meu pai biológico havia falecido. Naquele momento, passei pela emoção que qualquer ser humano sentiria: depois de 25 anos, ficar frente a frente com uma mãe que você sequer sabia existir... Pois é, meu pai me deixou bem à vontade para conversar com ela. Porém, o encontro não mudou em nada o amor pelo meu pai e minha mãe. Ou melhor: mudou sim, cresceu ainda mais, pois ele me levou ao encontro da minha mãe biológica com uma imensa naturalidade, como é seu estilo.
    Hoje mantenho contato constante com ela, fiquei sabendo que tenho uma irmã e sobrinhos. Ele me levou para conhecê-los e mantenho relacionamento com todos. Ao contrário de muitos casos que já vi, isso não me gerou o menor conflito interno, o que a maioria diz acontecer. Meu pai sempre me aconselha a fazer contato com eles e seus conselhos são imensamente relevantes. Sua habilidade, para mim, é inigualável, em todos os sentidos, eu não saberia imaginar sem meu pai e minha mãe do coração. Quem os conhece superficialmente não tem a menor ideia da humanidade dos meus pais. Eu tinha dois meses quando renasci para os meus verdadeiros pais, dando-me a melhor educação que se pode ofertar a uma filha, nunca me faltou nada. No quesito amor, são insuperáveis.
    Além de todos os fatos mencionados, de carinho e amor dedicados à mim, não posso deixar de expressar o quanto sou feliz e grata por ter você meu pai e minha mãe em minha vida, e por tudo o que representam em minha existência. Tenho em vocês meu porto seguro, meu refúgio, minha referência de sabedoria, pois tudo o que sei e sou é graças à vocês.
    Papai !!! Essa palavra lhe foi dita poucas vezes, mas é o que realmente significa em minha vida, te agradeço por tudo que fez e faz por mim, você é e sempre será MEU QUERIDO PAI, meu anjo da guarda, meu escudo protetor.
    Sua inteligência, bondade e dedicação em tornar seus filhos grandes seres humanos definem essa pessoa maravilhosa que você é!!
    Amo você, em todos os sentidos que essa palavra possa expressar!!
    Este é um depoimento que queria dar há muito tempo e agora agradeço, emocionada, a oportunidade de fazê-lo.
    Um forte abraço a todos.

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  29. Lindo depoimento, Bianca ! É de se emocionar !
    Acredito que a adoção seja um ato de amor tão grandioso que só pessoas de espírito elevado conseguem fazê-lo.
    Parabéns Edgard, parabéns Cátia !
    É, para mim, um grande privilégio poder usufruir da convivência com vocês, inda que remotamente. Abraços fraternos - Benone

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  30. Minha querida filha,
    Para nós você é e sempre será a filha que todos os pais desejariam ter. Quem a conhece sabe da sua beleza interior e exterior também. Você só nos traz alegria e felicidade. Durante todos estes anos de convivência, nosso amor por você, nascido desde o primeiro momento em que a vimos, cresceu ainda mais.
    Quando você chegou a nossa casa, um anjinho de dois meses, mais parecia uma graciosa e pequenina joia polida por Deus. Só o coração de pai ou de mãe reconhece o valor de uma filha do seu quilate. Talvez não merecêssemos ter uma criatura tão afetuosa ao nosso lado, mas Deus quis nos agraciar com sua presença.
    Filhinha, talvez você não demonstre sempre seu afeto, mas estas são experiências de que falo tanto. Para nós, na maioria das vezes, não é necessário dizer nada, nem demonstrar nada, pois coração de pai não se engana: consegue fazer a mais transparente leitura nos olhos do filho. A garra demonstrada por você ao longo de nossa convivência testemunha sua coragem e isso bastaria para sabermos da índole de uma filha maravilhosa. Hoje é casada com o Bruno, um grande homem e também guerreiro, de quem temos orgulho de ser nosso querido genro. Ambos souberam cultivar, com sabedoria, uma vida comum, têm casa própria, fruto dos esforços de vocês. Com imensa felicidade, festejamos no seu lar abençoado o Dia das Mães deste ano, juntamente com o nosso netinho Caleb.
    A respeito dos elogios a nós atribuídos, consideramos serem reflexo de sua bondade. Fique sabendo de sermos nós que jamais poderíamos nos imaginar sem você. Um exemplo do seu carinho está no fato de, sabedora das minhas limitações alimentares, ou seja, de minha dieta, preparou-me uma comida diferenciada das demais. Suas qualidades são incontáveis: mediante muito empenho, estudou e tornou-se ótima fisioterapeuta. Ficaria um século para enumerar seus atributos, mas vou me ater a apenas um: você brilha sempre no quadro dos melhores funcionários de uma expressiva empresa em nível estadual, da qual omito o nome por questão legal.
    Sua dedicação é incondicional e sempre se preocupou imensamente com seu pai, com aquela discrição que lhe caracteriza, consciente de que hoje me encontro já desgastado pelo tempo e pela a enfermidade. Reconheço ter sido, às vezes, áspero com todas as filhas, mas fique certa de que tudo foi para o bem de vocês.
    O mais amado Homem que passou pela Terra também foi filho de pai adotivo. Trata-se nada mais, nada menos de Jesus Cristo, o nosso Salvador. Entretanto, para mim você é muito mais que filha adotiva, mesmo se assim quisesse se considerar. E nada no mundo faz com que o Caleb não seja nosso legítimo netinho, do mesmo modo que você é nossa filha legítima.
    Do seu pai que lhe dedica eterno amor.
    Meu caro amigo Benone,
    Obrigado pelas carinhosas palavras, nós é que nos sentimos privilegiados pelo convívio com a família EASO, embora nossa reunião seja uma vez por ano, ainda assim, é quase o suficiente para matar a saudade, do colegas, das brincadeiras, piadas, poesias, cantorias e muito mais...
    Um abraço fraterno.



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  31. Que bom poder saber um pouco mais das vivências do Tio Edgard, na infância, das descobertas de menino do interior, com seus irmãos, e de que tudo isto sempre gera mais curiosidades trazendo mais conhecimentos. Feliz a citação de Jung. Parabéns pela entrevista.

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