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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Os 60 anos do Lua

Por Siovani

A manhã parecia abrir um belo sorriso para nós, ainda que encharcada com as marcas da chuva da noite, quando chegamos ao hotel onde nos esperavam Rafael e o Nonato. Um tímido sol procurava espaço entre as nuvens, mas coloria o ambiente cansado de chuva de Belo Horizonte. Era sábado, nove horas do sétimo dia deste janeiro de água. Estacionamos, a Rose me acompanhava. Abraços de reencontro prazeroso, Rafael, Nonato, Nazaré. Abraços de apresentação dos filhos de Nonato e Nazaré, Artur e Adriano. Logo em seguida, o Eustáquio também estacionava acompanhado da Cida, mais abraços e muito prazer.

Seguimos em dois carros para Nova União pela BR-381 que nos forçava a seguir com calma por causa dos buracos e pela longa fila de carros que se formou. Lá procuramos pelo nosso Lua, que ninguém conhecia, mas, o Waltinho, até o asfalto nos dizia: siga-me até que eu acabe. E lá chegamos, um casarão estilo sede de fazenda colonial que espantou os nossos olhos.E o Waltinho apareceu, segurando a surpresa para não verter lágrimas ao ver que o Nonato saiu mesmo lá de Belém para abraçá-lo em seu aniversário e, ainda, com um séquito que não temia a ameaça da chuva.Foi mais ou menos assim que, mais tarde, durante a festa, uma funcionária dele relatou para a Rose e a Nazaré sobre o seu estado emocional.
A partir da esquerda: Siovani, Walter, Rafael, Nonato e Eustáquio.

Tivemos que interromper a azáfama da Shirley, esposa do Walter, que coordenava a arrumação para a festa, e foi com muito carinho e alegria que ela e seus funcionários nos receberam. Fomos conhecer o casarão. O Rafael comentou que ele devia ter mais de cem anos e foi surpreendido pela resposta de que tinha apenas três. Ele foi, e ainda está sendo, construído com material de demolição de casas antigas e está destinado a uma futura pousada. As surpresas sucediam-se, as camas...! Os pés das camas eram feitos quase que de toras. Coitadas das camareiras, pois o Lua dizia que iria jogar pedaços de papel debaixo das camas para testar a boa limpeza. Tomara que existam por lá mulheres bem fortes.

Subimos o morro para conhecer a capela. Que charme! Um ambiente impregnado com o espírito sacro da mãe do Walter, que ele venera como santa. E ele nos contou, então, a história da pedra que erige o altar: quando o local foi trabalhado para a construção, deparou-se com a pedra ali enterrada e pronta como uma mesa, e, no mesmo local e posição, foi erguido o altar, torcendo um tanto a capela para preservar a pedra do jeito em que foi encontrada. Descemos o morro e voltamos ao casarão, e para ninguém dizer que conto mentiras, o Rafael fotografou o Walter com um copo de água. Quem disse que o homem não sabia mais para que serve esse líquido é mesmo intrigante!



Pegamos os carros e fomos para a fazenda Germana, onde se fabrica a tão famosa cachaça, quase escrevi “marvada”, mas isto seria um sacrilégio, pois ela não é para o
Vista da fazenda Germana
Cida e Eustáquio em frente à sede
bico de qualquer pinguço, para poder sustentá-la o pinguço tem que ser de muito nobre linhagem. E como disse a Rose, descrevendo a fazenda para minha filha: “Lá tem muita cachaça”! São seis rótulos diferentes, com diferentes envelhecimentos. Tem a Germana, a Brasil, a Caetanos, a Pracaip, e... ufa! Os vapores me pegaram, não consegui lembrar-me das outras duas.



O Waltinho nos presenteou com uma estupenda aula sobre o processo de fabricação, entremeada sempre com a sua histriônica maneira de ser e de falar, desde a moagem do fubá, que é utilizado para fermentar a garapa, até o processo de embalagem e expedição para o Brasil e o mundo. O galpão de envelhecimento foi o que mais atraiu a atenção de todos,o cheiro de carvalho e umidade nos deu já um certo entorpecimento e a sessão de degustação coroou a visita. O Waltinho nos ensinou a apreciar a cachaça: o odor tomando ação no paladar, o leve roçar dos lábios no líquido, o formigamento da língua anestesiada, e o espanto das mulheres que nunca haviam provado ao reconhecer que era até gostosa. Fiquei com receio de estar levando para casa mais um problema, por isto na lojinha da fazenda nem pensei em adquirir alguma garrafa. O Nonato, bombeiro que é, surpreendeu-se um tanto com a escassez de equipamento de combate ao fogo, o profissional não desgruda do amigo.



Acho que os apetites foram exacerbados pelo aperitivo e a hora era tardia quando voltamos para a casa do Waltinho, onde nos esperava uma galinhada bem ao estilo mineiro, com tempero perfeito. Lá conhecemos um pouco mais da alegre família do Walter, especialmente o filhinho caçula, com cerca de cinco anos que segue escarrado, como diz bem o mineiro, os traços do pai. Ele tem um sobrinho um pouco mais novo, e, quando este chegou, teve que cumprir o beija-mão do pedido de benção. Eu vi!... Engraçado foi também perceber que o pai cruzeirense só criou filhos atleticanos. Mineirice pura, esperteza velhaca que não quis correr risco, é melhor não arriscar em matéria de macheza! O menino ganhou do Eustáquio um cofre-bola do Atlético, que quando ganha uma moeda ainda toca o hino do Galo. Acho que o cofrinho vai ficar meio vazio porque o pai não vai querer comprar o hino. E para terminar bem o almoço, doce de leite e queijo, produtos de lavra própria, impossível de serem apreciados longe daquela família, servidos em pires de queijo para preservar os pratos limpos: uma boa fatia de queijo, uma colherada do doce e toma! Inigualáveis os dois!



Papo cheio, as mulheres foram repousar, e o Eustáquio também. Ficamos por lá na pousada conversando sobre o país, consertando os erros impossíveis, fazendo hora e aguardando a festa. E a chuva não deu trégua, fez um concerto extra para a festa dos sessenta anos do Walter, caiu durante toda a noite. E, além da chuva, uma dupla de cantantes animou o rega-bofe que fez a alegria do Eustáquio, que parecia movido a pilha. Antes dos parabéns, o Waltinho nos chamou, aos seus queridos amigos de infância, e apresentou-nos a todos, fazendo questão de chamar a atenção pela distância percorrida pelo Nonato e, não tanto quanto, pelos demais. Depois dos parabéns ele cismou de cantar, alertando que para parar exigia quinhentos reais. Bem que eu tentei, mas ele não aceitava cheque.



O filho do Walter nos vendeu pedras como lembranças, um real por pedra, mas se não tivesse o real, levava a pedra assim mesmo. Para mim, ele vendeu também um churrasco, assim:

-- Você quer comprar um churrasco? Um real.

-- Quero.

-- De que país?

-- Anh... Da Argentina.

-- Ih! Eu trouxe um brasileiro, espera aí que eu vou buscar um da Argentina.

Ele lá foi, e pouco depois retornou com um punhado de papel torcido:

-- Toma, da Argentina. Um real.

E fiquei eu a apreciar o meu belo churrasco de chorizo.



E a noite foi se aprofundando e cinderelas calçadas tiveram que molhar os pés para atravessar a enxurrada que não parava de correr na rua. Meia-noite e meia fomos descansar, deixando para trás os filhos do Nonato que ficaram tentando tocar um berrante de belotorneado, mas não fiquei sabendo se conseguiram.


Domingo de manhã. Debaixo de chuva retornamos a Belo Horizonte. Deixamos o Nonato e família no hotel, o Rafael na rodoviária. O Eustáquio seguiu para Campo Belo e voltamos para casa. A chuva fazia acentuar a saudade que já sentíamos dos momentos alegres que passáramos. Que alegria podermos contar com uma família como esta nossa dos ex-seminaristas.



Aguardaremos setembro esperando contar com uma grande presença em nosso próximo encontro. Nova União com certeza fará um encontro brilhante.

Homenagem prestada à mãe do Walter

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Entrevista com Eustáquio

Entrevistado: Eustáquio de Azevedo Silva (67)
Formação: Filosófo, teológo e pedagogo
Diretor do Colégio Dom Cabral de Campo Belo, Minas Gerais
Participante do Pro - Alto (Grupo de apoio para assessoria aos dirigentes das Associações do Alto do Morro).
Criou a COMTUR  para o desenvolvimento do potencial turístico em Campo Belo, Minas Gerais, com atuação destacada no distrito de Porto dos Mendes.


Apresentação:
O Blog dos Encontristas da EASO, através de sucessivas trocas de e-mails, foi ao Encontro do diretor do Colégio Dom Cabral de Campo Belo, Eustáquio Azevedo da Silva, para saber um pouco mais de sua vida e obra. Eustáquio é o incansável e prestativo colega que tem contribuído na organização e realização dos Encontros: em 2008,  fez a conexão dos coordenadores do I Encontro, José Rafael Cabra, Raimundo Nonato Costa e Antônio José Ferreira com os padres Crúzios na busca de espaços físicos para as reuniões, refeições e cultos. Naquele ano, foram utilizadas as salas de aulas e o refeitório do mesmo prédio onde os Encontristas haviam estudado nas décadas 1950/1960; em 2010, no II Encontro, já como diretor do Colégio Dom Cabral,  tornou-se anfitrião, cedeu aos Encontristas algumas salas para reuniões e refeições, ajudou-os na escolha e reserva de hotéis e restaurantes na cidade de Campo Belo e colocou os pés de valsa num animado baile da “melhor idade”, e, por fim, levou-os ao distrito de Porto dos Mendes para um passeio de balsa na Lagoa de Furnas. Ao inteirar-se de sua trajetória, fica claro que o que ele faz por seus colegas, nos encontros, é uma pequena amostra do que vem fazendo, há tempos, em favor das pessoas mais humilhes de Campo Belo, Minas Gerais. Sua presença nas obras sociais se concretiza junto às comunidades do Alto do Morro, local muito conhecido na cidade, e no distrito de Porto dos Mendes, na Lagoa de Furnas, na organização de pescadores e na instalação de equipamentos de lazer e esportes em praças públicas.  Desde os tempos de Santa Tereza, depois de uma crise existencial, já ensaiara, na periferia daquele  bairro de Belo Horizonte, os passos que o levariam a uma catequese baseada na valorização do homem e, por consequência, às obras que viria a desenvolver em Campo Belo.

1 Perfil do entrevistado
Período em que esteve no seminário: por convite do padre José Maria da paróquia de Santa Tereza, vim para o Seminário em 1963, para aprofundar nos estudos religiosos, enquanto terminava o Ensino Básico, fiquei até 1966.
 Formação acadêmica: Filosofia, Teologia e Pedagogia (Teologia foi, para mim, o melhor   curso)
 
Pedro Henrique (neto), Érick (filho)
Cida (esposa) e Eustáquio (o entrevi-
tado)
Família: Eu e Cidinha comemoramos 39 anos de casamento, temos quatro filhos (dois casais), todos formados, dois em BH, um em Lavras e outro aqui em Campo Belo. Temos um neto. Vim de uma família muito católica tradicional. Na família temos padres, bispos, arcebispos. Meu tataravô foi padre casado e vigário em Carmópolis de Minas. (Acho que é DNA).
Juliana (filha), Cida (esposa) Pedro (neto) e Eustáquio (de pé)
Daniela (a filha caçula) e seu filho  Pedro

Érick (filho) e sua esposa Rita









 *** Clique nas fotos para ampliá-las***


Entretenimento e lazer/ hobby/músicas/ filmes: esportes (praticar, assistir não muito), principalmente natação. Dança (dizem que sou pé de valsa). Sou muito eclético com relação à música, aprecio todos os estilos. Filmes, os de ação e/ou  ficção científica, e documentários.
Passeios: viagens para lugares com significado histórico e naturais. Gosto muito de Salvador.

Filosofia: política, religiosa, pessoas que inspiram você; leitura de preferência: valorização da pessoa, incentivo à participação, respeito às diferenças, respeito à vontade da maioria (democracia), respeito aos direitos humanos. Sou muito crítico e observador dos acontecimentos, tirando deles lições para o dia-a-dia. Não tenho dificuldades em aceitar mudanças. Atualmente tenho lido mais livros técnicos. São inúmeras as pessoas que me inspiram: amigos, colegas, mestres, pessoas com as quais tenho interagido no caminhar dos dias, e muitos não contemporâneos pelos seus exemplos de vida.

Citações que assinaria debaixo: são inúmeras, vamos citar uma: “No torvelinho das posições importa não perder a questão fundamental e manter a suficiente serenidade para ver claro”. Leonardo Boff.


   Igreja de Santa Tereza na
   Praça Duque de Caixas, Santa
   Tereza, BH (o início de uma ca-
   tequese diferente)
 Vida profissional (formação e prática); (Fique a vontade para destacar tudo que você acha de importante na sua vida): minha vida profissional está ligada a uma questão familiar. Fui educado numa catequese que provocou em mim uma crise existencial e uma conseqüente revolta contra a Igreja. Perturbei os padres, os Congregados Marianos, as Filhas de Maria de Santa Tereza, fazendo com que turmas da praça os infernizassem. Quando estava no primeiro ano do ginásio (hoje sexto ano), resolvi atacar a Igreja de maneira diferente. Comecei a ler os Evangelhos buscando fundamentos para atacar. Percebi que o que buscava estava ali, o que não condizia com o que me foi passado. Criei por minha conta, na periferia de Santa Tereza, uma equipe de catequese diferente daquela em que fui educado. A catequese era libertadora, voltada para o reconhecimento do valor da pessoa humana, isso foi em 1960. Padre José Maria me apoiava, era o meu “diretor espiritual”, penava com minhas colocações. Vim parar na EASO. Chegando ao seminário, percebi que não era bem aquilo que esperava. Somente os que estavam nos últimos anos podiam sair para as paróquias nos fins de semana. Para amenizar os dias, criamos de 15 em 15 dias o “Cateretê”. Alguém se lembra? Fizemos teatro, dublagens, coral, quadros do tipo “Balança, mas não cai”, aulas de violão, corte de cabelos... Eu ficava muito preocupado com os menores que às vezes sofriam nas mãos dos “maiores”.
Saindo de Campo Belo, não fui para o convento. Fiz os estudos filosóficos e teológicos como leigo, atuei na Paróquia de N.S. Mãe dos Homens onde os vigários, eram consecutivamente: Padre Guilherme, Thiago, João Maria, Honório e Leonardo. Terminado os estudos teológicos fiquei atuando (já casado) em tempo integral, graças ao apoio e incentivo do padre Thiago, que achava que eu poderia me dedicar integralmente ao trabalho de pastoral, por quatro anos foi ótimo. Pedi demissão ao Dom Serafim, que aceitou sem questionar. Percebi ao longo do trabalho que a Igreja (pelos seus sacerdotes) tinha dificuldades em aceitar um “leigo” atuando diretamente como “pastor”. Aceitam bem o leigo, como ajudante. Como havia estudado Pedagogia com intenção pastoral para catequese e juventude, passei a atuar em escolas. Não abandonei a pastoral, continuei no trabalho de desenvolvimento de liderança comunitária voltada para a evangelização, catequese, pastoral familiar. Aos poucos, fui restringindo o trabalho, só me restou os fins de semana, a família não podia ficar relegada. Antes de atuar em tempo integral na pastoral , eu era professor do Estado. Voltei a trabalhar como professor e orientador educacional. Frequentemente, vinha a Campo Belo para visitar o grupo de catequistas, que continuavam a dar o catecismo na chácara das irmãs (Alto do Morro). Era um catecismo alegre, muitas músicas, representações elaboradas pelos catequistas e crianças. O catecismo durou muito tempo ainda, sem interferências. Cidinha, minha esposa, foi uma das catequistas. No trabalho de pastoral, viso à comunidade para que ela continue a trabalhar por si própria. Este é o meu trabalho e minha maneira de ser. A Teologia da Libertação faz parte da minha vida, (da minha história de vida). Preocupo-me com a Igreja, fico triste com muitas coisas, principalmente aqui em Campo Belo (Diocese de Oliveira).

2- Perguntas gerais


Blog dos Encontristas da EASO:   fazendo uma retrospectiva da sua vida e do ser humano que você é atualmente, o que a EASO- Escola Apostólica Santa Odília significou neste contexto? Qual a importância para você, suas lembranças mais marcantes? 
Padres Lucas, Justino e Humberto, visões
marcantes.
Eustáquio: Não fui para a Escola Apostólica Santa Odília, como a maioria, com 11 anos de idade (sempre achei isto um absurdo) Procurei me adaptar. Quando cheguei a Campo Belo gostei da maneira como os padres, principalmente Justino, Humberto davam aulas. Não havia aquele “magister dixit”. Padre Justino com sua visão ecológica voltada para a Pessoa como responsável pelo meio ambiente e agricultura sustentável (bem a frente do seu tempo). Padre Humberto que tinha uma visão diferente nas suas aulas de História Sagrada, mais tarde se revelou no trabalho catequético (sua especialidade), com sua dinâmica a partir de fatos da vida real. Hoje fico pensando o quanto ele sofreu na função de diretor do seminário e quantos seminaristas com ele. A EASO foi muito importante para mim, foram períodos de muita reflexão, muitos amigos, muitas lembranças agradáveis. Meu sofrimento foi com o latim, somente decorei para as provas. Saudades do Padre Lucas com seu charuto: “corta que, sujeito no acusativo, verbo no infinitivo”.  Às vezes ficava vermelho de raiva, percebia que eu não entendia nada. O que sei de Latim? O exemplo de vida dos padres e a visão deles me marcaram muito.

Blog dos Encontristas da EASO:  Para você o que é ser bem sucedido na vida?
Eustáquio: Não vejo como algo que deva ser alcançado ou que já tenha atingido. É viver o momento, procurando ser coerente com os ideais, maneira de ser, estando atento para novos rumos, adequando conforme as necessidades, vivendo.

Blog dos Encontristas da EASO: Como é um dia típico do diretor do Dom Cabral? (rotina diária)?
Eustáquio: No fim de ano, dezembro e janeiro é um sufoco, durante o ano é mais tranquilo. Um dia é diferente do outro. Nada acontece do mesmo modo. Conversa com alunos, professores, atendimentos aos pais, verificando se tudo está bem (aqui um pouco de síndico), “despachando” com a coordenação, secretaria, tesouraria. Atendendo telefone, cumprindo agenda do dia. Assinando documentos. Planejando. Lendo o que acontece no país sobre a educação... .  Cada dia é uma preparação para o ano seguinte.

3 Perguntas específicas

      Blog dos Encontristas da EASO: Quantos alunos o Colégio Dom Cabral tem atualmente?
Eustáquio: 615 alunos.


Teatro do Colégio Dom Cabral
Blog dos Encontristas da EASO:  O que significa, em termos pedagógicos, a parceria do Colégio com o sistema “COC”?  
Eustáquio: O Colégio tinha parceria, no Ensino Fundamental, com o sistema Pitágoras, e no Ensino Médio com o COC. Hoje somente com o COC. Qualquer sistema de ensino é melhor que nenhum (várias pesquisas comprovam). Todos os sistemas fazem a integração entre os diversos conteúdos. Há uma sequência, uma interdisciplinaridade. Uns são melhores que outros. O COC é disparado o melhor e mais avançado sistema, do infantil ao básico. O COC está sempre pesquisando e inovando. O sistema COC permite 30% das aulas para atender as especificações da turma e do colégio. Veja no Lin sistema COC o que ele oferece ao aluno e ao professor. Veja no site link Colégio Dom Cabral, mais informações.

Blog dos Encontristas da EASO: Que pedagogias vocês usam para promover maior integração entre os alunos no compartilhamento e desenvolvimento do aprendizado? Há como medir os resultados em relação a anos anteriores?
Eustáquio: Procuramos seguir os princípios da pedagogia de Freinet: “EDUCAR É CONSTRUIR JUNTOS”.
A pedagogia de Freinet se alicerça em quatro eixos fundamentais: Cooperação (como forma de construção social do conhecimento; Comunicação (como forma de integrar esse conhecimento); Documentação (registro da história que se constrói diariamente); Afetividade (elo entre as pessoas e o objeto de conhecimento). E as Invariantes Pedagógicas de Freinet. Muitos de nossos mestres ainda não estão afinados com esta pedagogia. Na prática é a que nos orienta. O colégio não tem uma proposta política pedagógica pronta, a que temos é a que a maioria dos colégios tem (só para cumprir a legislação). Com toda a comunidade escolar estamos preparando a nossa. Bimestralmente, temos o simulado para todos os níveis de ensino. É feito um comparativo do aluno em relação a si, em relação a turma e comparativo da turma por disciplina. No boletim do aluno, os pais e o aluno recebem um gráfico de rendimento comparativo. No Ensino Médio, temos  ainda o simulado ENEM. No ano passado, a aprovação dos concluintes do Médio, nos vestibulares,  foi de 71%, neste ano foi de 83%..

Quadro Digital "Touch screen"
     Blog dos Encontristas da EASO: Como é a sala de aula mais moderna do Colégio Dom Cabral (que usa a tecnologia “Touch screen”?
Eustáuio: Todas as 15 salas de aula do colégio possuem o quadro digital “touch screen”, conectados à internet. Os quadros digitais oferecem agilidade na interação com os conteúdos. O professor ganha mais tempo para explicações, levando para as salas as inúmeras possibilidades do Portal COC, do Livro Eletrônico e das Aulas Digitais. Através do quadro o professor faz a chamada que é enviada imediatamente para a secretaria, registrada no diário eletrônico do professor e  imediatamente os pais tem acesso a essa chamada. O professor tem ainda uma ferramenta tecnologica: o ClassBuilder, com a qual ele pode construir e personalizar os conteúdos apresentados aos alunos. O Sistema COC produz aulas com a tecnologia 3D, com temas relacionados aos conteúdos estudados.

Blog dos Encontristas da EASO:   Como tem sido a utilização efetiva dos netbooks na sala de aula (outros tipos de computadores) e para acessar os livros eletrônicos disponibilizados pelo colégio aos alunos?
Eustáquio: Quando utilizamos os netbooks a Internet ficou lenta. Estamos providenciando uma capacidade maior de Banda Larga. Os nets estão sendo usados pelos professores para uso pessoal, enquanto não temos mais acesso à BL. São usados pelos alunos na biblioteca. O Livro Eletrônico está disponível para o aluno em CD-ROM ou on-line, no Portal COC. O Livro Eletrônico oferece ao aluno recursos como: hipertexto, animações, palavras explicadas, gráficos, mapas, ilustrações e atividades lúdicas. O Livro Eletrônico é mais que e-books. Para alunos carentes o colégio tem dado, gratuitamente, todo o material: apostilas e computadores, com recursos doados por terceiros e pelo colégio.

     Blog dos Encontristas da EASO: Como os professores, alunos e pais têm reagido à modernização do Colégio?
Eustáquio: Os professores, os pais e os alunos ainda não conseguem aproveitar tudo o que a tecnologia oferece. A cada dia descobrem mais essa ferramenta auxiliar do ensino-aprendizagem. Ficam maravilhados. Houve um acréscimo do número de alunos para 2011. Fomos forçados a retirar descontos nas mensalidades e a resposta foi o aumento das matrículas, graças à modernização do Colégio.  O Colégio, através do Portal COC Educação, faz parte de um pool de escolas de diversas regiões do país, que oferecem plantão On-line a partir do 6º ano do Ensino Fundamental, os alunos podem ter contato com professores dessas escolas para esclarecer dúvidas em tempo real, em casa, no momento da dificuldade. Nós disponibilizamos professores para atender essas escolas. Os alunos têm usado este recurso com sucesso.

Laboratório de ciências - tradicional
qualidade do Colégio Dom Cabral
     Blog dos Encontristas da EASO:  O Colégio Dom Cabral sempre teve um excelente laboratório, e essa tecnologia também beneficiou o laboratório? Como?
Eustáquio: Desde a época do padre Justino, o colégio tem um ótimo laboratório para executar aulas práticas na área de ciências. A tecnologia complementa, facilitou o entendimento ao aluno, proporcionando-lhe a visualização das aulas teóricas dentro das mais atualizadas descobertas, debates e estudos científicos.

     Blog dos Encontristas da EASO: O que você vê de bom e de ruim no ENEM como meio de inclusão social? Você teria alguma proposta?
Eustáquio: O ENEM veio tirar do Ensino Médio a preocupação do professor de ensinar “macetes’ e “decorebas” provocados pelo vestibular. O ENEM privilegia a compreensão, o raciocínio, há mais leitura. As avaliações, simulados seguem a mesma linha de raciocínio e compreensão. O ENEM muda o perfil do bom professor. Não vejo o ENEM como inclusão ou exclusão social, não é essa a finalidade do ENEM. Inclusão social é dar mais recursos (condições) para um ensino de qualidade para todos. Reservar 10, 20, 40 ou 50% do ENEM por qualquer motivo, como inclusão para acesso à faculdade é provocar futuro desajuste no ensino superior. Pessoas carentes ficam fora das federais por não poderem pagar boas escolas ou preparatórios. É uma injustiça social. Quem pode pagar, estuda gratuitamente. É complexo, há controvérsias, acho que deveria cobrar um valor justo de quem pode pagar. É no Ensino Básico que está o problema. Soluções paliativas de forma alguma é solução, não resolvem.

      Blog dos Encontristas da EASO:  O que você pensa do ensino formal como meio de inclusão social? Quais os desafios?
Eustáquio: Inclusão social fora do ensino é esperar que uma fada com sua varinha mude tudo. Recurso humano é tudo que precisamos para o desenvolvimento de nosso país. Como conseguir isto sem a Educação formal de qualidade, diversificada, que possa atender às necessidades, orientada para o trabalho, como determina nossa Constituição? O grande problema está com nossos políticos não compromissados. São três os recursos necessários ao desenvolvimento: Humanos. Naturais e financeiros, qual nos falta?

      Blog dos Encontristas da EASO: Que recomendações, a partir de sua experiência, você daria aos educadores a respeito de questões melindrosas como: bullyng, homofobia e preconceito em geral?

Eustáquio: Bullyng, homofobia e preconceitos, são resultados da falta de respeito à pessoa humana, prepotência, injustiça. Agir e repudiar, imediatamente tais atitudes. Muitos já sofreram irreparavelmente, alguns seminaristas da nossa época sofreram com isso e já aconteceu de alguns abandonarem por este motivo.  Muitas vezes isto parte também de professores, não apenas de alunos. Ficar bem atento às atitudes agressivas, injustas.  É necessário o respeito incondicional à pessoa humana. Para reconhecer que ninguém é mais que outro, e que quem se valoriza, valoriza o outro e que na desvalorização do outro está a desvalorização de si próprio, somente com educação.
      Blog dos Encontristas da EASO: Obras sociais: fale-nos do que você tem feito em Campo Belo e em sua redondeza (exemplo, Porto dos Mendes):


Tanques-rede para criação de peixes num braço da Lagoa
 de Furnas em Porto dos Mendes, Minas Gerais
     Eustáquio:  Quando vim para Campo Belo pensei em trabalhar com grupos de pastoral. Encontrei uma situação tal, que achei melhor ficar fora. Decidi trabalhar com Associações Comunitárias. No Alto do Morro: Pro - Alto (Grupo de apoio para assessoria aos dirigentes das Associações do Alto do Morro). O Pro - Alto ajudou a integrar as ações em benefício da região. Foram várias benfeitorias, dentre elas a construção de um salão comunitário para a comunidade usar para encontros, festas, reuniões, teatros,... O motivo da construção do salão foi a proibição pelo pároco do uso do salão paroquial para movimentos “de igreja” e não “da igreja”. São mentalidades deste tipo que me fazem ficar fora. Campo Belo é uma magnífica cidade com muitas atrações turísticas no seu município. Procurei incentivar a administração pública. Criamos o COMTUR. Porto dos Mendes é a principal atração turística, está agora preparada para ser uma área de lazer para as famílias campobelenses. No Porto a associação está procurando criar meios de trabalho para os moradores como: cooperativas de doces, de artesanato, de pescadores para a criação de peixes, e frigorífico de peixes. Já está em funcionamento um restaurante, um bar junto à balsa. Estamos restaurando o muro do cemitério e a igreja. Já está quase pronta a avenida que margeia a represa. O campo de futebol receberá alambrado, arquibancada, iluminação. Está sendo construído um alojamento para a Polícia Militar, uma biblioteca distrital para funcionamento nos fins de semana e feriados, um pesqueiro flutuante, uma área de camping e outra para pousadas. Meu trabalho é provocar e despertar a comunidade.

Parque infantil na praça de Porto de Mendes, Campo Belo, Minas Gerais.


Durante o II Encontro, Setembro de 2010, o Padre João Maria
e o Eustáquio guiaram os Encontristas da EASO na escalada   
            para o Cruzeiro de Porto dos Mendes.                                            
Eustáquio inseriu este Post scriptum:
PS – Fiquei sabendo hoje,no Conselho Municipal de Educação, que todo o ensino municipal de Campo Belo terá a tecnologia em suas salas de aula. Na secretaria de Educação será implantada uma telessala. O sistema será implantado já em Agosto no Ensino Infantil e em Fevereiro em todo Ensino fundamental do município. O sistema será o Positivo. É o Dom Cabral incentivando melhoria no ensino.