domingo, 10 de março de 2013

Entrevista com Benone




Perfíl

Nome: Benone Fernandes Bilheiros
Nascimento:05/03/1945
Período do Seminário: 1958/1959
Formação: Engenheiro

Auto-apresentação

O menino é preguiçoso!
A formatura do curso primário, em 1957, em Guarará, com direito  a solenidade na Igreja Matriz, tendo o Padre Adil como paraninfo, foi com "pompa", presente e tudo. 
O primeiro certificado!
A "jardineira" veio sacolejando pela estrada poeirenta e parou.
Desceu o Padre
Martinho.
Subiram o Padre e o menino de guarda-pó.
Ficou o pai.
E foram.
Campo Belo era longe, muito longe.
"O menino é preguiçoso", exclamou o Padre Marino, sorriso maroto, ao ver os sapatos do tipo sem cadarço, usado pelo menino. Uma forma de se aproximar, deixar o menino mais à vontade. O menino, pele muito clara,
enrubesceu. Tinha acabado de chegar. Era tudo muito diferente. A cidade, o prédio, o quarto imenso e com muitas camas. E aquele padre.

Fiquei 2 anos no Seminário: 1958 e 1959. Foi um período  de extrema importância para a minha formação. As noções de disciplina, organização, a convivência com pessoas de hábitos diferentes, educação diferente, cultura diferente como, por exemplo, nossos amigos nortistas,
contribuíram de forma importante para a formação da minha personalidade e  meu caráter. Eu estava com 13 anos. Início da adolescência. O espírito de camaradagem, disputar as "peladas" no campo de terra, as partidas "oficiais" de futebol com camisa, chuteira e tudo; ver o Marquinhos disputar com o Renato as "tatiquinhas" com a bola feita de pano; o Raimundo, que encontrou um ovo naquele morro atrás do refeitório e o quebrou na minha testa (só não entendi, até hoje, como aquele ovo foi parar naquele lugar, já que não havia nenhuma casa por perto que pudesse estar criando galinhas); o campeonato de botões, com a final entre mim e o Geraldo, com o dito indo para a disputa com um beque mais alto que o goleiro (barbaridade, o meu time era melhor, mas aquele beque desequilibrou!); as horas na sala de recreio com ping-pong, música clássica, música popular... Quem se lembra de " o gato da madame, era perfumado, laço no pescoço, todo alinhado..."; do Bessa que era o "tio" de todos, do Moacir (Borges Beleza) que era professor no curso de Admissão e jogava um bolão; do Seoldo, que naquela época já era um gozador; do Carraro, o brigão do grupo. Cada um, afinal, a seu modo, contribuiu para a minha formação. Assistir aos jogos no campo do Comercial, era o máximo! Quem se lembra do goleirão Plauto e do grande centro-avante Zé Pinto? As férias em Santana do Jacaré; nadar no rio. Aliás, sobre isto o Marquinho fez uma observação em sua biografia e eu gostaria de me alongar: ficávamos soltos, absolutamente soltos, numa grande região do rio, muitos dos meninos ainda pequenos e sem saber nadar e nunca aconteceu nada com ninguém. Coisas dos nossos anjos da guarda. 


Foto de 1959  com Benone em destaque

Sai do seminário em dezembro e, já em janeiro,  comecei a trabalhar numa fábrica de calçados. Fiquei um tempo, alguns meses, e fui para a Papelaria Zappa, a maior de Juiz de Fora. Lá, tive a oportunidade de atender ao Padre Marino e ao Zé Maria, que naquela época estava no Seminário Maior em uma cidade próxima, Leopoldina. Lá fiquei até os meus 18 anos, quando então, dei uma guinada de 180 graus e fui para Ipatinga, trabalhar na Usiminas. Era um período especial para os empregados da usina. Havia ainda, no ar, resquícios dos atos da  violência perpetrada pela polícia, quando dezenas de operários foram metralhados e mortos. Sub-produto da ditadura militar. O assunto ganhou repercurssão na imprensa do País. Tínhamos um belo salário, mas as condições de trabalho eram complicadas, especialmente os horários. Trabalhávamos em 3 turnos semanais: das 8 às 16, das 16 às 24 e das 24 às 8 horas. É claro que o organismo não aceitava tais mudanças de horário e então, o sono e a alimentação não eram ideais.Tínhamos, basicamente, 3 categorias de servidores: os peões, que era o meu caso, os técnicos e o pessoal de nível superior, especialmente engenheiros. Cada categoria tinha seu próprio meio de transporte. Os peões usavam um caminhão Scania, adaptado com uma grande carroceria coberta, sem  poltronas; íamos todos de pé. Já os técnicos e o pessoal de nível superior tinham ônibus do tipo convencional. Meu setor de trabalho era a escarfagem. Recebíamos as placas (chapas de aço) vindas do alto forno já resfriadas (nem tanto!). Eram blocos de ferro de várias toneladas de peso e que eram depositadas no pátio do nosso galpão. Eram duas as equipes de trabalho. A minha equipe tinha como função marcar com giz os pontos com fissuras existentes na superfície das placas e numerá-las (as placas) com tinta a óleo.Vinha, então, a outra equipe com grandes maçaricos e, a fogo, retiravam as fissuras. O processo espalhava fagulhas de ferro incandescentes para todo lado. Como o trabalho era feito simultaneamente pelas duas equipes e em muitas placas, pode-se imaginar o efeito que isto provocava. Por isto, o setor era chamado de "sucursal do inferno". Certa vez, estava um membro de minha equipe fazendo seu trabalho, quando, de repente, " choveu " ferro em brasa sobre ele. O "cara" do maçarico não se preocupou em olhar para frente e mandou bala. Meu colega se enfureceu e jogou a lata de tinta sobre ele. O cara partiu para cima com o maçarico ligado, se pega....! Como se pode ver, era um ambiente de trabalho pesado.
Lembro-me de um acontecimento especialmente marcante e que teve reflexos importantes na minha vida: estávamos, eu e um colega de trabalho, sentados na beira da calçada, esperando nosso papa-filas, quando passou um ônibus de técnicos quase vazio; então, comentei com o meu colega: "estamos aqui, cansados, querendo chegar em casa, passa este ônibus e não nos leva." Ao que ele respondeu: " não adianta reclamar; seja um também!"
Decidi, então, que era hora de voltar para Juiz de Fora e, em 1966, comecei a trabalhar na Universidade, na área administrativa. Em 1972 fui nomeado Administrador de Restaurantes; eram dois  os restaurantes, um no centro da cidade, que servia almoço e jantar, e outro no "campus" da Universidade. Éramos, também, responsáveis pela alimentação do Hospital Universitário. Servíamos, no pico, 4.000 refeições diárias. Foi um período especialmente difícil,  pois os estudantes usavam os restaurantes como o centro de manifestações contra a ditadura militar, inclusive com invasões. 
Quando me formei em Engenharia, fui transferido para o quadro de Engenheiros da Prefeitura da Cidade Universitária. Anos depois, fui nomeado vice-prefeito. Este cargo, ao contrário das Prefeituras convencionais, tinha funções bem definidas. Tínhamos um quadro de servidores numeroso, composto de
engenheiros, técnicos, pessoal de campo e pessoal administrativo. Nossa Preitura tinha, guardadas  as proporções devidas, as mesmas características das demais Prefeituras, já que no Campus  "moravam" todos os dias, cerca de 10.000 pessoas, entre alunos, professores e pessoal administrativo. Paralelamente, fui convidado a dar aulas no Curso Técnico Universitário - CTU. A cadeira era "O Orçamento das Edificações". Fui então convidado pelo Magníco Reitor, Professor José Passini, para chefiar seu Gabinete. Um convite que muito me honrou. Minha nomeação para o Gabinete coincidiu com um momento de grande importância para a cidade, a chegada, à Presidência da República, de um juizforano, Itamar Franco. Então, o contato do Gabinete do Reitor com o Gabinete da Presidência foi intenso. Buscávamos verbas para a Universidade. 
Finalmente, em 1993, aos 48 anos, ainda na Chefia de Gabinete, me aposentei. Criei, então, a Pé de Moleque, uma loja de calçados infantis, onde estou até hoje. E para os senhores que já são vovôs, a loja está à disposição, com os melhores produtos e melhores preços. Aproveitem!


André, o primogênito 
(foto recente)
 
Fabrícia, a do meio (foto recente)
 Andréa (foto recente)
N
Adriana, a caçulinha (foto recente)
o plano pessoal, tive 2 casamentos. O primeiro, em 1969, com a Milma Luiza,
com quem tive 3 filhos: o primogênito, Alexandro, é comerciante; a Andréa, Turismóloga, é funcionária do Banco do Brasil e a Fabrícia, Engenheira de Telecomunicaçoes, também do Banco do Brasil. No  segundo, em 1987,  com a Márcia, Engenheira e minha colega de turma, nasceu a Adriana, minha raspinha do tacho, que estuda Bioquímica na Universidade Federal de São João Del Rei - Campus Divinópolis. 
 


Perguntas Gerais

  1. Blog - Quais as lembranças que você tem da EASO e das pessoas com as quais conviveu lá que são as mais marcantes e significativas para você?
: Tive a oportunidade de me  referir às lembranças que levo da EASO no início deste depoimento, bem como às pessoas com as quais tive mais afinidades e que foram mais marcantes para a minha vida. As lembranças e as pessoas foram de grande importância e me ajudaram a compor o mosaico da minha personalidade. 

    1. Blog – Para você, o que é ser bem sucedido na vida? 
    Benone: ser bem sucedido na vida é estar feliz consigo mesmo, é estar feliz com o que se tenha realizado, independentemente do quanto e do quê. Pode ser muito ou nem tanto. Não adianta ser um milionário e se sentir frustado por ter perdido a oportunidade de ser um bi.
    Perguntas específicas

    Perguntas do Blog


    1. Por causa de um cadarço mal amarrado, o Padre Marino afirmou: "O menino é preguiçoso". Era mesmo? Em que isso o ajudou depois?

    Benone
    : na verdade não era um cadarço mal amarrado e sim sapatos do tipo que dispensa cadarços. Se teve alguma influência na minha vida,  foi de forma subjetiva. Aquele foi o meu primeiro contato com o mundo real do Seminário e me impressionou,  pois ainda posso me lembrar da expressão do padre Marino.
               
    Foto de 2008.  Benone, à esquerda, 
    participou de todos os Encontros 
    da EASO

    1. Que força é essa que tem feito você participar dos Encontros e ser um entusiasmado Easista? 
    Benone, pessoa inserida no contexto
    em foto de 2011, ao lado de Medina,
    Alfredo e Rafael
    : o Seminário é parte importante da minha história, da minha vida. Encontrar todos vocês é realmente prazeroso. É como voltar no tempo, se isto fosse possível. É a oportunidade de falar de coisas que aconteceram há mais de 50 anos. Nos encontros se ouve a cada momento alguém dizendo para alguém : você se lembra...?

    1. O Nonato quebrou um ovo em sua testa, em 1959. Quanto tempo durou o galo psicológico dessa afronta?
    Benone: na verdade, não houve um galo psicológico. Eu o creditei às peraltices próprias da idade. Aliás, o Raimundo era o meu parceiro. Chegamos no mesmo ano no seminário. Nos surpreendemos, ele e eu, quando descobrimos, no nosso reencontro, que ele é 2 anos mais velho que eu. Naquela fase de nossas vidas,  isto fazia  diferença. Entretanto, nunca sentimos isto. Era como se fôssemos da mesma idade. 
    1. Você, que já trabalhou na sucursal do inferno, chegou a trabalhar em algum lugar que seria a sucursal do céu?
    Benone: o trabalho sempre foi algo natural na minha vida. As minhas mudanças se deveram, principalmente, a uma visão de longo prazo. Teria eu alguma possibilidade de ascenção no futuro?   Eu estava qualificado para almejar esta ascenção? Então, na Universidade Federal de Juiz de  Fora, senti que tinha alguma possibilidade de  ascender profissionalmente, desde que me qualificasse. Então, dentro dessa ótica, posso dizer que a UFJF foi o meu céu.


    Pergunta enviada pelo Santana


    1. Benone, lendo sua biografia, percebe-se que você é uma pessoa lutadora, que traça objetivos e segue em frente. Com essa característica, que é própria dos vencedores, você obteve grande sucesso profissional, galgando sempre postos mais elevados até atingir o cargo de Chefe de Gabinete do Reitor da UFJF, que é um cargo de grande confiança e que requer muita competência de quem o ocupa. Com toda essa experiência de vida, conhecimento e a sua facilidade de escrever e transmitir ideias, você nunca pensou em escrever um livro? Transmitir suas experiências e conhecimentos que poderão servir de inspiração para muitos jovens? Fica aqui a sugestão.
    Benone: nunca havia pensado nisso, meu amigo Santana. Considero-me,  apenas,  uma pessoa inserida no contexto. Se considerarmos que somos, nós, os ex-seminaristas da EASO, em sua maioria, oriundos de extratos sociais modestos e verificarmos que temos, hoje, homens, muitos, bem sucedidos profissionalmente, sinto que posso me colocar, modestamente e com muita honra, entre esses, na profissão que escolhí. Isso pode ser verificado nas biografias já editadas.

    Perguntas enviadas pelo Marcos Rocha:


    1. Qual a origem do seu nome e também do sobrenome, ambos muito inusitados?  Você, por exemplo, não deve ter tido nenhum problema de confusão com homônimos ao longo da vida, não é? (rs rs rs) 
    Benone:  realmente, nunca tive dificuldades com homônimos. O problema sempre foi o telefone, já que tenho que repetir várias vezes para o interlocutar entender. Infelizmente, não sei sua origem nem significado. Quanto aos sobrenomes, o Fernandes, da minha mãe, Dona Marianna, é de origem portuguesa, com certeza. Já o Bilheiro, do meu pai José Montano Bilheiro, é um  autêntico italiano.
    9.  Depois de ter tido uma longa carreira como funcionário público, ocupando cargos de confiança na UFJF, hoje você está na iniciativa privada, como comerciante. Compare estas duas fases da sua carreira. Em qual das duas atividades você se sente mais realizado?  Ser um pequeno ou médio comerciante nos dias atuais, com tantos impostos e uma legislação trabalhista totalmente ultrapassada e onerosa, ainda vale o esforço? 

    Loja de sapatos do entrevistado.
    Benone : entrei na iniciativa privada, por acaso. Não foi algo planejado. Havia comprado uma loja em um Shopping em construção na cidade, e, seu término coincidiu com minha aposentadoria. Então, para não ficar parado, tomei a decisão, mas, realmente, não é uma atividade que me realize. De  fato, a carga de impostos é pesada, a concorrência é grande e Juiz de Fora, apesar de ser uma cidade com mais de 500.000 habitantes, tem uma renda “per capita” baixa, não circula dinheiro e  a legislação trabalhista é complicada. Tomei, recentemente, a decisão de  rescindir o contrato de uma funcionária com 1 ano de trabalho na loja. Esta rescisão custou à empresa, entre salários e direitos trabalhistas, 4.000 reais. Uma quantia importante para uma pequena empresa e por tão pouco tempo de trabalho.  Então, respondendo à pergunta, digo que meu trabalho na UFJF tinha mais a ver comigo.
    10. Vários dos nossos colegas easistas têm levado suas esposas/companheiras  e, alguns, até os filhos e netos para participar dos nossos Encontros; outros, não. Por que você ainda não nos deu o prazer de nos apresentar à Márcia? Ou foi opção dela ainda não ter aparecido na nossa confraria easista?

    Benone:  eu e a Márcia somos  bons amigos. Nos separamos há cerca de 3 anos. Ela, agora, mora em Barbacena, onde tem uma empresa comercial ligada ao artesanato, sua antiga paixão. Nos vemos com regularidade, já que ela vem à Juiz de Fora uma vez por mês tratar de assuntos pessoais, ocasião em que nos encontramos e almoçamos juntos, invariavelmente. Ocasionalmente, vou à Barbacena para vê-la. 

    Pergunta enviada por José Tito Gonçalves


    11. Como você compara o que viveu dentro da Usiminas com o que aprendeu no seminário? Acha que pode ter alguma coisa a ver com o Padre Marino?

    Benone: tive a oportunidade de falar sobre a importância que o Seminário teve em minha vida e o padre Marino foi, na minha avaliação, a essência do Seminário. Fosse outro, o Diretor, provavelmente as coisas seriam diferentes. Então, ele teve, sim, direta ou indiretamente, importância na minha vida. 
    Perguntas enviadas pelo Siovani

    12. Os paulistas gozam muito os mineiros por dizerem que compramos os bondes (ultrapassados) que eles não queriam mais, ou melhor dizendo, porque Juiz de Fora comprou os bondes, o que você tem a dizer sobre essa gozação face às cidades que até hoje usam os bondes como São Francisco, Lisboa, etc.?

    Benone: os bondes são, nestas cidades, uma tradição. Não servem, com qualidade, como meio de transporte, e tradição é para ser cultivada. Quanto às gozações... também precisamos responder.
    13. A mídia ridicularizou muito o ex-presidente Itamar Franco quando de sua passagem pela Presidência, em sua experiência de trabalho e de vida, o que significou esse governo para Juiz de Fora? E para o Brasil?

    Benone:  para Juiz de Fora, muito pouco, até porque, qualquer feito do governo federal na cidade era motivo para os jornais paulistas, especialmente O Estado São Paulo, caírem de pau. Para o Brasil, é importante que lembremos, o país vinha de um  processo de hiperinflação, com a economia toda desorganizada, foi ótimo. Foi o governo do Presidente Itamar que acabou com a inflação e iniciou o processo de estabilização e organização da economia. Isto em dois anos. Os meios de comunicação nunca, repito, nunca creditam a ele o mérito pela estabilização. Recordo-me, agora, de uma frase dita por um general famoso, da história antiga: "ninguem sabe quem foi o responsável pela vitória na batalha... mas todos saberiam se fosse uma derrota".
    A mídia tentou, de todas as formas, ridicularizar o Presidente Itamar, mas nunca o rotulou de corrupto. Afinal, ele foi um homem digno. Uma raridade em nosso tempo. Sobre esse assunto, vou me reportar à excelente reportagem escrita pelo jornalista Antônio Luiz Costa, na revista Carta Capital, a propósito do recente escândalo nos meios de comunicação britânico: "Hoje, uma fatia desproporcional dos jornais, emissoras de tevê e sites pertencem às mesmas empresas e sua receita depende da publicidade de um punhado de grupos econômicos de porte equivalente ou maior, com a mesma identidade política e ideológica. Hostis a tudo que não sejam os interesses da ultraelite, apegam-se a pensamento único e fecham-se a alternativas, mesmo quando provêm dos círculos científicos e intelectuais mais respeitáveis. Abusam, cada vez mais, de seu monopólio e de suas conexões com o poder político e financeiro para RIDICULARIZAR (a ênfase é minha) idéias contrárias, chantagear e perseguir desafetos, transformar minorias oprimidas em bodes expiatórios e violar a privacidade, as liberdades de cidadãos que o liberalismo propõe garantir".
     
    E "pra não dizer que não  falei de flores", já que o assunto ficou pesado e em homenagem ao meu amigo Marquinhos, nosso jornalista, vou me referir a um dos mais antigos meios de comunicação, o telégrafo, em que cada palavra escrita custava um bom dinheiro, por isto, tínhamos que ser sucintos. O melhor de todos, foi, provavelmente, aquele escrito por Lord
     Home, Ministro das Relações Exteriores britânico a alguém que o aborreceu terrivelmente: "VÁ PARA O INFERNO. SEGUE CARTA COM INSULTOS". Dois titãs da réplica se sobrepujaram quando
    Bernard Shaw convidou Winston Churchill (e os dois nunca foram amigos)  para a estréia de sua nova peça: "ESTOU RESERVANDO PARA VOCÊ DUAS ENTRADAS PARA A MINHA PREMIÈRE. VENHA E TRAGA UM AMIGO - SE VOCÊ TIVER UM". A resposta de Churchill: " IMPOSSÍVEL COMPARECER À PRIMEIRA APRESENTAÇÃO. ASSISTIREI À SEGUNDA - SE HOUVER".

    14. Por que a escolha dos sapatos infantis para abrir uma loja, teria sido por uma espécie de complexo de Peter Pan?  

    Benone: A opção pelos calçados infantís foi puramente comercial. Em uma pesquisa rápida no Shopping, percebí que havia pouca oferta desse produto; então, não foi dificil decidir.


    Benone fotos de presença


    
    Benone e José Geraldo na Capela do Colégio Dom Cabral,
    em 2008
    




    Alfredo, Raimundo Célio, Benone, Francisco,
     Ney e Cutias, em 2008














    Quadrado, Benone e Edgard, em 2010















      Benone, o segundo da primeira fila, em 2011
      Benone, o primeiro à esquerda, em 2012




      Do álbum de família


      Benone: "Luana, a neta preferida"



      As filhas ruivas,  a partir da esquerda, Andréa e Fabrícia
      em 1977
      Andréa e Fabrícia na primeira comunhão,
      em 1984


      Benone com 17 anos


      
      Benone e seu filho Alexandro , ao lado
       do lobo, em 1980





      
      Benone: "As quatro mulheres da minha vida". A partir da esquerda, Luana, Fabrícia, Adriana e Andréa,
      foto de 1998


      segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

      Aqui estão as 12 fotos que ganharam o Concurso "As Melhores Fotos do IV Encontro EASO":

      (Atenção: as fotos ganhadoras estão postadas de duas em duas).

      - 1º. lugar: com 78 pontos e votada por 9 dos 23 eleitores que deram os seus votos nesta segunda e última etapa -- sendo que 5 a colocaram em primeiro lugar (valendo 10 pontos), 2 em segundo (8 pontos) e 2 em terceiro (6 pontos) --,  a foto 37, de autoria da Maria de Fátima, esposa do Santana (Antônio José Ferreira) 
      e 
      - 2º. lugar: com 72 pontos e votada também por 9 eleitores -- sendo que 2  a colocaram em primeiro lugar,  5 em segundo e 2 em terceiro --,  a foto 30, de autoria da Maria José (esposa do Luiz Alfenas - Lulu):


      * * * * * * *
      - 3º. lugar: com 56 pontos e votada por 6 eleitores -- sendo que 4 a colocaram em primeiro lugar e 2 em segundo -, a foto 42, de autoria do Júnior (Antônio José Ferreira Júnior, filho do Santana);  
      - 4º. lugar: com 46 pontos e votada também por 6 eleitores -- sendo que 2 a colocaram em primeiro lugar, 1 em segundo e 3 em terceiro --,  a foto 15, de autoria do Marquinhos que, por mera casualidade, sou eu (juro que não houve marmelada, os votos estão aqui na Comissão Organizadora/Julgadora e na caixa postal do concursodefotosdaeaso@gmail.com para quem quiser conferir -- rs rs rs):


      * * * * * * 
       - 5º. lugar: com 40 pontos e votada por 5 eleitores -- sendo que 2 a colocaram em primeiro lugar, 1 em segundo e 2 em terceiro --, a foto 29, outra de autoria da Maria José, esposa do Luiz Alfenas (Detalhe curioso: nesta foto, o Tupy não aparece, ele se atrasou na formação para a foto e por isso dançou, ao contrário da classificada em primeiro lugar)e
       - 9º. lugar: com 18 pontos -- sendo 1 primeiro lugar e 1 segundo --, a foto 65, de autoria da Maíce (Maria Alice Penteado Figueira de Melo - esposa do Max Ordonez) [detalhe curioso: é praticamente a mesma pose da foto 29, que ficou em segundo lugar apenas com um corte mais aproximado]:

      * * * * * * *
      - 6º. lugar: empatadas com 36 pontos -- sendo que a primeira delas recebeu 3 primeiros lugares e 1 terceiro e a segunda foto 3 votos em segundo lugar e 2 em terceiro -- as fotos 01 (esta de autoria do Luiz Alfenas)  e a 14 (de autoria do Marquinhos) -- parece marmelada, mas os votos estão aqui na Comissão Organizadora/Julgadora e também na caixa postal concursodefotosdaeaso@gmail.com para quem quiser conferir -- + rs rs rs):
       * * * * * * *


      - 8º. lugar: (o sétimo não existe, porque houve empate na sexta posição), com 28 pontos -- sendo que 1 eleitor a colocou em  primeiro lugar e 3 a posicionaram  em terceiro --,  a foto 13, a primeira abaixo, de autoria também do abaixo assinado MR 
       e em
      - 10º. lugar: empatadas com 14 pontos -- sendo que as 3 receberam 1 voto para segundo lugar e 1 para terceiro --, as fotos 03 (de autoria do Luiz Alfenas), 28 (batida pelo Tupinambá Pedro Paraguassu Amorim da Silva - Tupy) e 34 (mais uma de autoria da Maria de Fátima) --  as três estão publicadas abaixo na sequência numeral crescente:

      Esta primeira (acima) é a nº 3 e as duas de baixo são as de nºs. 28 e 34, sendo que as três ocupam a décima posição:
        

              Ao final deste post, e na condição de presidente da Comissão Organizadora/Julgadora, quero agradecer a participação de todos os que prestigiaram nosso Concurso (é verdade que foi um número menor de participantes do que imaginávamos),   seja inscrevendo suas fotos,
      seja votando.
             Aos principais vencedores -- de modo especial à Maria de Fátima,  à Maria José e ao Júnior -- os nossos melhores cumprimentos. Aos demais classificados entre o quarto e o décimo lugares (na verdade são 12 as fotos ganhadoras, por causa dos empates),  as congratulações da
      nossa Comissão Organizadora/Julgadora a todos.

             Aproveitamos a oportunidade, estando às vésperas do Natal,  para deixar aqui um forte e caloroso abraço, juntamente com nossos votos de Boas Festas, Excelentes Comemorações de Virada de Ano e, sobretudo,  Muita Fraternidade, União, Paz, Saúde, Prosperidade e Felicidades em 2013 e sempre,  para cada easista e para seus familiares.
             Informamos ainda aos vencedores que conquistaram as 3 (três) primeiras colocações, que seus prêmios, troféus e brindes estão sendo devidamente providenciados.  No caso da assinatura válida por um ano da revista Imprensa ou de uma publicação especializada em fotografia, opção à escolha da ganhadora Maria de Fátima, os exemplares começarão a ser enviados para o seu endereço residencial a partir da edição de fevereiro/2013. Quanto aos outros prêmios e troféus, conforme estabelecido no regulamento, eles serão entregues formalmente durante o V Encontro, previsto para setembro/2013. 

             Outra informação importante: estas 12 fotos serão expostas em papel (tamanho 20 x 25 cm) em painel especialmente montado para a ocasião do V Encontro.
           Obrigado a todos e até a próxima.
          Marcos Rocha
          Presidente da Comissão Organizadora/Julgadora


          24/12/2012 - 16:30


      quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

      ENTREVISTA COM O TUPY



      Entrevistado: Tupinambá Pedro Paraguassú Amorim da Silva (68 anos)
      Período no seminário: 1963-1964 (EASO – Campo Belo); 1965 – 1971 (Seminário Maior – BH).
      Formação acadêmica: Filosofia – História - Teologia - Administração de Empresas – Ecologia e Educação Ambiental.


      APRESENTAÇÃO

      Tupy, nome reduzido pelo qual é mais conhecido, é esse homem de fé, irmão, camarada. Descendente de índio misturado com europeu, herança que lhe deu essa mescla genuína na tez e no porte físico.
      Filho comportado, acatou a decisão da mãe e seguiu seu desejo: entrou no seminário menor disposto a ser padre. Todavia, concepções divergentes no trabalho apostólico, já no diaconato, levaram-no a deixar a vida religiosa.
      Será que a Marina teve algo a ver com essa decisão? Isso ele não disse nem lhe foi perguntado. Uma coisa é certa: casaram-se dois anos depois dessa decisão, em 1973, formando uma bela família, que foi abençoada com dois filhos e dois netos, por enquanto. Mesmo depois de aposentados, o casal ainda comunga muitos sonhos e projetos de vida!
      Homem simples, mas também corajoso. Não se submete à injustiça e enfrenta os poderosos nos seus tronos, assim como fez, enfrentando a polícia na década de 1970, dando assistência aos presos políticos e perseguidos da (in)justiça.
      O seu testemunho de fé é um exemplo para todos nós: como ele não se envergonha do Mestre, com certeza, o Mestre também não se envergonhará dele no último dia.
      Este é o nosso amigo Tupy, que, diferente da maioria de nós outros, chegou já grande no Seminário da Escola Apostólica “Santa Odília” (EASO).
      Prezado leitor, conheça melhor a grandeza desse homem na entrevista a seguir e preste atenção às suas mensagens que nos fazem refletir.

      I – PERFIL

      Família: casado com Marina Terezinha Rigotto da Silva, Assistente Social aposentada, natural de Belo Horizonte. O casamento realizou-se em Sabará no dia 14/07/73, na Capela de São Pedro Damião.
      Dessa feliz união foram gerados dois filhos: o mais velho, de nome Lucas Tadeu Rigotto da Silva, casado com a paulista Carla, que tiveram como fruto desse casamento o neto Lucas. O outro é o Matheus José Rigotto da Silva, casado com a mineira Simone, que geraram o neto Matheusinho.

      II - DEPOIMENTO DO ENTREVISTADO

       Ainda me chamo Tupinambá Pedro Paraguassú (com dois ‘ss' e acento agudo no ‘u’) Amorim da Silva. Sou natural da antiga “Cidade das Mangueiras”, Belém do Pará, nascido aos 28 dias do mês de junho do ano de 1944. Fui criado no Bairro da Pedreira, “Bairro do Samba e do amor”, cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Fui batizado na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.
      Meu pai, Sebastião José da Silva, de origem escrava e indígena, é proveniente da Ilha do Mosqueiro. Minha mãe, Carmem Amorim da Silva, de origem portuguesa e francesa. Dessa mistura toda vim ao mundo, belo, sadio e sacudido. Oficialmente consta que tive mais sete irmãos, ao todo, seis homens e duas mulheres. Eu sou o penúltimo da prole. Meus pais, como também outros quatro irmãos, já estão no andar de cima. Hoje somos apenas duas irmãs e dois irmãos. Exceto eu, todos vivem com suas famílias em Belém do Pará e na ilha do Mosqueiro.
      Minha ligação com os “Crúzios” não difere tanto da de nossos companheiros de seminário. Aos sete anos, recebi o Sacramento da Eucaristia (nem sabia o que era bem isso!). Dado ao meu espírito moleque, brincalhão, porém muito sério, logo fui ser coroinha e entrar para a “Cruzada Eucarística” (CE). Imagine, fui “cruzadinho” e depois presidente da CE. Na minha paróquia fui escoteiro, legionário, do Grupo de Jovens e etc e tal. Não sabia que estava sendo observado. Padre Henrique Plag, padre Hilário de Yong, padre Tiago Boets, padre Andrezinho (“Driske”), padre Guilherme Lokkant e Padre Gilberto van de Ven foram os meus preceptores na Ordem de Santa Cruz (OSC). Padre Arnaldo van Kuyk, superior da Ordem no Brasil, um dia, em visita canônica, esteve em Belém e apresentaram-me a ele.  Perguntou-me se gostaria de conhecer o Seminário de Campo Belo.  Não soube responder.  “Que conversassem com a mamãe!”. Foi um rolo. Estava já terminando a 8ª série do 1º grau no Ginásio “Visconde de Sousa Franco”. Papai nem quis ouvir. Mamãe mandou pensar. E pensando, os padres me colocaram para estudar com os Maristas no Colégio Nazaré. Lá, em 1962, cursei a primeira série do 2º grau. Após muita relutância de papai, minha mãe deu o veredicto: “pode ir! Vá com Deus!"

      Em pé, a partir da esquerda, Avimar, Tupy, Carraro, 
      Nonato, Edmar. Júlio Martins (primeiro agachado, à esquerda
      Foto cedida por Rodolfo Rodarte
      No dia 13 de fevereiro de 1963, saí de Belém em um avião da Panair do Brasil, junto com o Raimundinho (por onde ele andará?). No dia 14 de fevereiro, cheguei a Campo Belo. Dessa “Cidade Montesa”, saí no final de 1964 para dar continuidade à formação eclesiástica no Noviciado. Deixei a OSC em 1971.

      Onde trabalhei?
      Antes mesmo de deixar a OSC, eu já trabalhava em uma escola da periferia de Belo Horizonte, no bairro Boa Vista, lá pelos idos do ano de 1966: Colégio Normal “Frederico Ozanam”, mantido pela Associação de Negros “Henrique Dias”, fundada para dar suporte aos negros e filhos de negros, já discriminados naquela época. Fui professor de Filosofia-Sociologia-Psicologia da Educação; professor da área de Estudos Sociais (História Geral, História do Brasil, Educação Moral e Cívica, OSPB). A princípio minha atividade maior era acompanhar e dar assistência aos jovens e às futuras professoras. Dado à insuficiência de técnicos educacionais e pelo meu destaque no trato com alunos, pais de alunos, professores e comunidade, logo fui assumindo as funções de Diretor Técnico, Orientador Pedagógico, Orientador Educacional e Relações Públicas, pois muitos dos diretores eram semianalfabetos. Foi uma experiência maravilhosa. Ali pude ver o quanto uma pessoa cheia de boa vontade pode fazer por seus semelhantes.  Nesse Colégio implantamos os cursos de Secretariado, Técnico em Administração de Empresas, Contabilidade, e Enfermagem. O Eustáquio pode dar testemunho dessa fase. Por questões de ordem pessoal e de futuro de lá saí em 1976.
      Atuei também como professor, Diretor e Coordenador Pedagógico no Colégio “Claudovino de Carvalho”, depois denominado “Santa Inês” e agora conhecido como “Colégio Maximus”. Praticamente fizemos um trabalho semelhante ao anterior.
      Não deixei de estudar e, nesse intervalo de tempo, completei meus estudos filosóficos em São João d’El Rei. Formei-me em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências Gerenciais da UNA (FCG/UNA). Como sempre só pensando na docência, mas lá fui eu, logo depois de formado, devido às experiências anteriores, assumir a Coordenação Geral de Ensino da UNA, depois a Secretaria Geral, depois a Vice-diretoria, depois a Coordenação do Vestibular; tempos depois colaborar na implantação dos cursos de Comércio Exterior, Processamento de Dados. Isto tudo, mais uma vez digo, por causa do meu espírito alegre, amigo de todos, cumpridor de meus deveres, firme nas decisões e sem “puxar saco” de quem quer fosse.
      Não satisfeito com o que já sabia, em Lavras fiz o curso de “Ecologia e Educação Ambiental”. Foi mais uma porta aberta para o magistério. Assim, lá fui eu para Itabira colaborar na oficialização do curso de Turismo e dar aulas de Recursos Humanos, Ética Profissional (Deontologia). Foi uma loucura, mas deu certo.
      Hoje sou um aposentado feliz e quase realizado profissionalmente.

      O que realizei fora do emprego?
      Ainda achava tempo para ajudar nas paróquias na formação e coordenação da Catequese e na formação de Associações de Bairros. Eram comunidades emergentes, não havia saneamento básico; faltavam escolas; condução precária; inexistiam Postos Médicos, etc, etc.

      
      Tupy servindo a sopa, em destaque, à esquerda,
      Nonato e Carraro (de óculos) - Foto cedida
      por Nonato
      O que fiz no mundo?
      Ora, no mundo, a vida consta de uma sucessão de fatos e estes fizeram parte na minha vida.
      No espaço de tempo de 1966 a 1970, participei de manifestações estudantis e confronto com as Polícias Militar e Exército, apanhei de cassetete, as bombas de gás lacrimogêneo me faziam chorar e correr. Fui por algumas vezes levado no “camburão” junto com outros estudantes e solto após levar algumas lambadas nas costas (‘solta eles, mas dá umas porretadas neles, pra aprender’); estava no “meio da multidão”. Ainda como Crúzio e vestido de Crúzio, visitava presos políticos no DOPS e nas Delegacias de Polícia. Parece que eu “acendia uma vela pra Deus e outra pro Diabo”. Assim fiz até que foram descobrindo minhas atividades. Aqui também começou a minha divergência com a direção da OSC: queriam um Crúzio conventual e eu estava mais fora do que dentro do convento. Era o vigor da juventude brasileira, a força intrínseca do nacionalismo, contra o tradicionalismo europeu de formação; quiseram mandar-me para a Alemanha ou Roma, mas não aceitei. Na oportunidade, achava que não podia deixar o nosso povo. Mesmo assim, cheguei ao Diaconato. Assim batizava crianças, celebrava casamentos, visitava doentes em suas casas e nos hospitais, ia a velórios, participava de cultos ecumênicos, ia aos terreiros e ainda celebrava cultos na ausência de padres, tanto em nossas paróquias quanto na periferia, etc., etc. O mais importante e gostoso era contribuir para levar nosso povo a ter uma melhor condição de vida tanto espiritual como social, pessoal e comunitária.  Por um tempo fui Conselheiro do Conselho Regional de Administração (CRA/MG) e um dos autores do Código de Ética do Administrador. Hoje, como aposentado, continuo fazendo tudo isso e muito mais. Junto com a Marina, esposa querida, somos membros do Conselho Municipal do Idoso de Sabará (imagina que cheguei a ser presidente deste Conselho); coordenamos o Grupo da Melhor Idade “Alegria da Abranês” da nossa comunidade; participamos do Encontro de Casais com Cristo; fazemos parte do Conselho Pastoral da comunidade; somos membros do Apostolado da Oração, da SSVP, Conferência “Santa Helena” e outras coisas mais.

      Hobby?
      Quando podemos, viajar: Belém; São Paulo para ver o netinho Bruno, o filhão e a nora querida; Campo Belo, Leopoldina, Juiz de Fora para ver os amigos; algumas vezes ao Nordeste. Leitura diária de jornais, revistas. Livros técnicos na área de Relações Humanas e religiosos, romances, poesia e contos. Tudo pela metade, não dá tempo para ler tudo. Gosto de ver futebol pela TV, principalmente do meu GALO e do meu querido REMO. Estou sempre ligado às notícias vindas por meio do rádio. As novelas que apresentam um razoável enredo me agradam.

      O que penso dos dias atuais? 
      Vejo grandes vertentes: a grande preocupação com a qualidade de vida do planeta Terra e das pessoas que nele habitam. Em face disso, congratulo-me com as políticas internacionais em favor da ecologia sem que com isso diminua o processo de desenvolvimento industrial, a preocupação com a valorização do ser humano dentro desse processo todo ainda seria ínfimo, mas que está aí.

      Por outro lado, a ganância, o desejo de ser mais, de manter posições estratégicas no rol das nações, leva muitos países a não ver, não querer que a visão anterior se realize e assim vêm as consequências nefastas como as guerras fratricidas, as guerras religiosas, a devastação das riquezas naturais; a fabricação e vendas de armas bélicas com efeitos altamente destruidores. No campo social a luta para a legalização do aborto em todas as situações; a desvalorização e desagregação da família; a relação estável e oficial de pessoas do mesmo sexo; a luta pela dessacralização, pelo descrédito às instituições religiosas e à cultura religiosa em geral. E os efeitos nefastos da globalização no que tange às culturas nacionais, o folclore, as festas tradicionais, os festejos religiosos, as serestas, as brincadeiras e cantos infantis, o amor aos símbolos nacionais. Nossa, é muita coisa. Mas, nada está perdido. O mundo está vendo, está sofrendo e está se revoltando contra este estado de coisas.


      O que pretendo do futuro?
      Como bom cristão, afirmo: “O futuro a Deus pertence”. O passado é a fonte da experiência. O presente é para ser vivido. Vivido de forma integral de corpo e alma. Lutando para que a condição melhor de vida se torne uma regra e não uma exceção. “Eu vim para que todos tenham vida e todos tenham vida plenamente”.  A parusia começa no momento de nossa existência e se prolonga sempre (há quem acredite que começa após a morte apenas). Eternidade, acredito, não tem início nem fim. Ela é no aqui e no agora (no hic et nunc). Como daqui a cinquenta anos não deverei estar mais aqui e sim em outra esfera, fico com a promessa daquele Senhor que ontem, como hoje nos promete: “Não se perturbem os vossos corações. Creiam em mim, creiam no Evangelho!”, assim vou vivendo, pois sei que “Na casa de meu Pai há muitas moradas!”, assumi a Palavra e lutarei até o fim para que uma delas seja a minha. E, quem sabe, de lá poder, se me for permitido, ver a concretização desse “mundo de amor e paz”, que só Ele pode dar!
      É o que penso, mesmo contrariando uns e outros.

      Acredito que a trajetória de minha vida tem muito a ver com a presença dos Crúzios na minha vida. Presença esta que vem desde a minha meninice, adolescência e parte da juventude vivida na Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, lá na minha querida Belém do Pará, no saudoso bairro da Pedreira; no tempo vivido na Escola Apostólica Santa Odília, no Convento São José em Leopoldina e no Convento de Belo Horizonte em Santa Tereza. Todos os Padres Crúzios, bem como todos os companheiros de seminário, com certeza, não só influenciaram a minha vida como me fizeram ser o homem que sou.

      III – PERGUNTAS GERAIS

      Blog – Fazendo uma retrospectiva da vida e do ser humano que você é atualmente, o que a Escola Apostólica Santa Odília significou neste contexto? Qual a importância ela teve para você?

      Tupy – O sentido de poder viver na unidade dentro de uma diversidade de pessoas provindas de regiões diversas; idades diferentes: crianças, adolescentes, jovens; com intelectuais como os Padres Crúzios, professores do Colégio “Dom Cabral”. Todos esses aspectos contribuíram para moldar meus pensamentos, atitudes de vida, adaptabilidade, o espírito de disciplina, aprofundamento da cultura, da ciência e da espiritualidade.

      Blog - Quais as lembranças que você tem da EASO e das pessoas com as quais conviveu lá que são as mais marcantes e significativas para você?
      Tupy (à direita) ao lado do Carraro e dois
      alunos externos do  "D. Cabral" (agachados)
      Foto cedida por Júlio Martins
      Tupy – Lembranças todas, desde a chegada até a saída. Os bons momentos e os menos bons. Todos ficaram gravados, nem a névoa do tempo conseguiu extinguir tais lembranças. Quanto às pessoas, recordo-me do Raimundinho ao Antônio de Ázara, ou seja do menor ao mais antigo, contudo as figuras do Carraro, do Raimundo Nonato, do Eustáquio, do Rafael, do Tião Rocha, do Ildeu, do Ivair, do José Engrácio, do Canhão, do Quadrado, do Cabrita, do Picolé e do Canguru sempre me vêm à mente. A figura impoluta do Padre Lucas; a presença constante do Padre Humberto; as inconstâncias do Padre Agostinho; a sisudez e vaidade cultural do Padre Luiz; a invejável cultura dos Padres Justino e Clemente; a altivez, bondade e “berros” do Padre Cornélio; a laboriosidade do Padre Jerônimo; a rigidez do Padre João e a fanfarronice do Padre Pedro, o “pidão”. Cada uma dessas lembranças deixaram indeléveis marcas na minha formação.



      Blog – Para você, o que é ser bem sucedido na vida?


      Tupy - Filosoficamente: buscar constantemente o sentido da vida em cada fase da existência. Como criança, pensava como criança e o mesmo fiz na juventude e na fase adulta, pensando, respectivamente, como jovem e adulto. E agora, na fase madura da vida, olhar para trás e ver se o que fiz me responderá “para onde vou”.
      Racionalmente: “Lutar, lutar, vencer, este é o nosso ideal”. O sucesso depende de como você vê a vida, como você a enfrenta e o que você faz para conviver com a diversidade, sem perder a sua individualidade e a sua dignidade como ser humano.
      Espiritualmente:– “Eu creio na vida eterna e na feliz ressurreição!”. “Eu creio num mundo novo, pois Cristo ressuscitou! Eu vejo sua luz no povo, por isso alegre estou! Eu creio nos homens que estão unidos com outros, partindo o pão. Nos fracos fortalecidos, eu vejo a ressurreição! Na fé dos que estão sofrendo, no riso do meu irmão, na hora em que está morrendo, eu vejo a ressurreição”.

      IV – PERGUNTAS ESPECÍFICAS

      Blog – Qual a origem de seu nome? E por que você foi batizado na Basílica Nossa Senhora de Nazaré e não na paróquia do Bairro da Pedreira, onde nasceu?

      Tupy – Tupinambá Paraguassu. Meu pai, católico daqueles muito ecléticos, acreditava muito em Deus, mas buscava ajuda espiritual onde lhe fosse mais convincente. Estava eu para nascer, mamãe passando muito mal, então, recomendaram-lhe uma visita a um Centro Espírita. Lá foi ele, pois o amor para com mamãe levava-o a buscar todo tipo de ajuda. Gente, “baixou um caboclo”. Seu nome? Tupinambá Paraguassú. Este recomendou umas garrafadas naturais. Se mamãe tomasse, ficaria bem e o filho nasceria bem e sem problemas. Não deu outra, mamãe tomou. Coincidência ou não, mamãe não teve mais nada e eu vim a este mundo, sadio, lindo e maravilhoso, como sou até hoje (um pouco melhor, é claro). Papai foi agradecer. Sabem qual o pagamento? Dar ao filho nascido o nome do índio: Tupinambá Paraguassú. Papai nem pestanejou.
      Era comum batizar primeiro (ou seja, logo). Na Pedreira o padre não aceitou batizar o “beleza aqui” só com nome de índio. Na Basílica de Nazaré o padre foi mais acessível e argumentou com papai que, uma vez que eu nascera nas vésperas de São Pedro, que eu fosse batizado com um nome que fosse cristão. Beleza. Tudo em paz! Na Basílica recebi o sal, tomei banho na pia batismal e ainda colocaram uma vela acessa na minha mão e com um novo nome: Pedro Tupinambá Paraguassú Amorim (da mamãe, descendente de francês com português) e da Silva (da parte de papai). 

      Tupinambá Pedro Paraguassú Amorim da Silva um pouco mais atual
      (I Encontro - 2008) - foto extraída do Google Drive do Luiz Alfenas 


      No Cartório: não se sabe se foi gosto do papai, gosto ou erro do escrivão. Recebi outro nome: Tupinambá Pedro Paraguassú Amorim da Silva. Este sou eu. Acredite quem quiser!

      Blog (sugerida por Luiz Alfenas) – Tupy, por que você diz que os negros e filhos de negros já eram discriminados em 1966, como se no passado mais remoto não houvesse tal discriminação. Não seria o caso de se dizer: ainda eram discriminados naquela época?

      Tupy: Correto. A história se mantém até hoje. Veja o caso da discriminação em empregos, cargos políticos, vagas em Universidades, etc... Acontece que, na periferia onde eu trabalhava como “agente pastoral”, o êxodo rural era uma constante. A maioria dos retirantes era descendente de negros e nas escolas a preferência era para os filhos de brancos. Pouca vaga sobrava para os filhos dos negros e dos marginalizados. A minha fala refere-se ao contexto em que estava situado. Desculpe-me a falta de informação.

      Blog (sugerida por Luiz Alfenas) – Na descrição de sua participação em manifestações estudantis e nas atividades de apoio aos presos políticos, no período de 1966 a 1970, você diz que “acendia uma vela para Deus e outra pro Diabo”, quem era o Diabo no contexto descrito?

      Tupy – Como religioso e envergando a “farda crúzia” eu entrava nas Delegacias e visitava os presos. No meio das manifestações eu era o civil engajado. A frase descrita foi apenas uma forma de expressão.

      Blog (sugerida por Luiz Alfenas) – Em seu depoimento, você se considera um aposentado feliz e quase realizado profissionalmente. O que você quer dizer com quase realizado profissionalmente, o que lhe falta?

      Tupy – O ser humano nunca se encontra totalmente realizado. Acredito que enquanto na ativa jamais deixei de cumprir um só ato que desabonasse a conduta profissional. Talvez tenha me expressado mal. O desejo de ser, mais a ânsia de querer saber mais, e a observância de nossas limitações de agora, levam-me a ver que “sei que nada sei”. Por isso, procuro aprender sempre mais e mais e, assim, vou me realizando.

      Blog (sugerida por José Tito) - Você acha que a inserção social de ex-internos de colégios católicos, hoje, está mais fácil com o tipo de formação que tivemos?

      Tupy – Não tenho informações suficientes para responder a essa pergunta. Posso apenas concluir que as dificuldades são as mesmas para cada um que procura “seu lugar no mundo”. Quando a formação é integral e a instituição bem reconhecida, isso torna-se um facilitador. Tudo depende de cada um, veja nosso caso: quantas dificuldades tivemos. Sobrevivemos e hoje estamos aí.

      A seguir, quatro perguntas sugeridas pelo José Rafael:

      Blog - Sua atuação no meio social é clara, você se dedica muito ao próximo, faz parte de sua vida o trabalho comunitário. Sendo assim, explorando um pouco mais, perguntamos: como você vê o trabalho atual da "Igreja", no tocante às mudanças sociais que necessitam ser realizadas, nos aspectos político, social e familiar?


      Tupy – A Igreja Católica Apostólica Romana, a nossa Igreja, está situada dentro de um extenso mundo: em todos os rincões da terra. Em cada parte uma realidade diferente. A mensagem evangélica é a mesma em todo e qualquer lugar. O trabalho, a missão da Igreja é colaborar para que todos vivam sob a égide da justiça e da paz acentuando que o desenvolvimento é o novo nome da paz. Paz e desenvolvimento no sentido político, econômico, social familiar e religioso. Toda e qualquer ação missionária neste sentido fatalmente conduz à mudança. Isso é notório nas comunidades. O que diferencia, em nosso caso, é que o Brasil é um “gigante pela própria natureza”, com condições diferentes de vida e de problemas de todas as ordens. Isso dificulta uma ação plenamente conjunta. Veja o caso da ação no Norte e no Nordeste, como difere da ação da Igreja presente no Sul e no Sudeste. Considero que a Igreja Católica e algumas evangélicas estão fazendo um trabalho de evangelização que busca uma renovação na política como um todo. Face a isso, muitos de nossos missionários são perseguidos e mortos junto com tantos outros agentes pastorais.

      Blog - A fé é algo muito pessoal, no entanto, recebemos influências externas que podem solidificá-la em cada um de nós. Perguntamos: até quando os crúzios tiveram influência na sua fé? Há um fato específico?

      Tupy - A fé é algo pessoal porque se trata de uma adesão a alguém, a uma ideia ou a determinado grupo para onde convergem pensamentos e ações semelhantes. No nosso aspecto religioso, a fé está centrada na pessoa de Jesus Cristo, nos seus ensinamentos e em suas ações. Não no Jesus Cristo Histórico, que viveu e fez assim e assim, mas no Jesus Cristo concreto que vive e está no meio de nós. De forma que, por não sermos perfeitos nem donos da verdade, sempre estaremos recebendo influências externas, as quais servirão para solidificar a crença naquilo que professamos. Assim foi com nossos queridos Padres Crúzios. A vida monástica deles e suas ações pastorais, podem ter certeza, influenciaram e continuam influenciando na minha vida, especialmente os “crúzios idosos” que vivem reclusos em determinados conventos e não se queixam do modo como vivem hoje. Venham visitá-los em Santa Teresa, Belo Horizonte.

      Blog - Você e o Eustáquio são dois educadores. A O.S.C. acertadamente chamou Eustáquio para dirigir o Colégio “Dom Cabral”. Pelo seu currículo, você também poderia dar uma grande contribuição para a obra. Se lhe fosse solicitado, como você poderia colaborar com o nosso querido colégio?

      Tupy – Meu ciclo de vida como educador profissional encerrou-se quando da minha aposentadoria definitiva. Nossa contribuição chama-se presença. Estou constantemente presente e trocando ideias com nosso Eustáquio. Não me passa mais pela cabeça assumir posto algum de direção em nenhum estabelecimento de ensino.

      Blog - O que você tem a dizer sobre os nossos "encontros" (EASO)? Você tem alguma sugestão a fazer para melhorar este movimento?

      Tupy e Marina em visita ao casal Rafael e Leida, em Juiz
      de Fora
      Tupy – Gosto de dissertar sobre isso. Foi a melhor das ideias que um ou mais dos antigos internos da Escola Apostólica “Santa Odília” puderam ter. Pensar, sempre pensei. Buscar, nunca busquei.  Daí, desde cedo assumi a proposta. Coloquei-me ao lado do Rafael, do Raimundo e da turma de Juiz de Fora, de Belo Horizonte e dos demais idealizadores para colocar a idéia para frente. Assim foi. Hoje é uma realidade. Uma grande realidade. Uma santa realidade. É maravilhoso reencontrar amigos, ver as esposas se conhecendo, conversando animadamente como se já conhecessem pessoalmente. Filhos e netos, quem diria que um dia pudessem saber mais de perto como foi a formação de seus pais e avós.

      Sugestão? Uma só: NÃO DEIXAR QUE ESSE MOMENTO MARAVILHOSO SE PERCA.
                     TUDO FAZER PARA QUE MUITOS E MUITOS ENCONTROS SE REALIZEM!

      Blog – Qual mensagem você gostaria de deixar para os leitores do nosso Blog?

      Tupy – Não esperar ser convidado. Participar do Blog: ler, enviar fotos, crônicas. Contar um pouco de sua vida. Fazer-se presente nos Encontros. Divulgar impressões.
      “Um abraço de paz. Um abraço de irmão. Um abraço que vá alegrar seu coração. Paz para você, paz para nós. Paz para o mundo!”. Pelo que somos, onde haja dor, tristeza ou melancolia, que possamos levar a paz!


      Tupy e Marina – Sabará – tupypedro@yahoo.com.br

      quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

      Senhora Dona Menina


      Na Torre da Igreja

      Por Siovani

      - Boa noite, Dona Menina!

      - Boa noite! Que bons ventos lhe trazem, Dona Filinha, ou foi algum bicho que lhe apoquentou em casa pra expulsar você pras bandas de cá?

      - Nem lhe conto, Dona Menina, até que num aparece mesmo que fui desentranhada lá de casa por um bando esconjurado de formiga? Tô de tudo desinquieta e aperreada, aprecisando mesmo de prosear com a Senhora Dona Menina pra modo de um desmemoriamento.

      - Mas o que que houve, dona, que agonia mais despropositada lhe tomou?

      - Um trem de coisicas perrengues, Dona Menina, mas sabe como é, né? Um tico daqui, um apertinho ali, mais a precisão que num é pouca, e quando uma alma se dá conta quer inté deixar o desinfeliz vivente e pegar um pé de vento para ir falar lá com o Mestre Nosso Senhor.

      - Num se apoquente tanto, Dona Filinha, a cada dia o pão que o Senhor Jesus Cristinho nos permite, para melhor servir na sua seara.

      - A Senhora Dona Menina é própria um refrigério, e foi mesmo ansim mesmo que eu vim dar tento pras suas parolices e ensinanças, prum assossego do meu atarefamento.

      - E a meninada, Dona Filinha, tanto tempo não lhe vejo que nem sei, a quantos anda a tropa?

      - Pois num é, Dona Menina, ano que vai, ano que entra, as regra num vem e os guri num falha. Tudo adicionado e arredondado, completou treze: nove moleque e quatro guria. Fico em ponto de amalucar.

      - E a senhora ainda num tá assegurada que a natureza precisa de um adjutório?

      - Eu aprezo muito os conselho da Senhora Dona Menina, mas nesse propósito num posso apraticar, né? O Zé num deixa a mim nem um tico de brecha de falar o arrazoamento.

      - Eta santa ignorância!

      - A Senhora sabe como é, né? Ele inté que vai lá levar pro Padre Joaquim as preocupação que o pão pode ser minguado pra umas tantas boca, mas o vigário entinta a fala de tanto vermelho do coisa ruim lá de baixo, que o pobre dá uma viravolta avexado.

      - Minha Virgem Santíssima, proteja o roto de pedir conselho ao estropiado!  

      - E a senhora sabe, né? O vigário ajunta bem assublinhado que só a abestinência num é pecado, mas sabe como é, né? Num há modo de assuceder a tal abestinência, vai dia, menos dia, o cabresto da besta se arrebenta.

      - E aí a farra corre solta, né Dona Filhinha? Com o cabresto arrebentado sobram uns meses bens elásticos para o parque de diversão funcionar bem azeitado.

      - Pois num é, Dona Menina? Às vez a gente consegue inté umas boa compensação. Mas a Senhora Dona Menina falando dessas coisa me avexa e me avermelha.

      - Deixa estar, Dona Filinha, que o pecado mora é na cabeça que o vê. Me conta das proezas dos meninos.

      - Proezas, que mané de proezas, eu cá me viro e coço e os disgramado me arrelia com traquinices. As criação lá do terreiro é que sabe bem no direito o que é bom pra tosse. Me dá uma gastura ver os desprotegido aturar as maldade daquelas peste.

      - São coisas de meninos sadios, Dona Filinha, melhor na lide das traquinices que dando aperreio em cima de uma cama.

      - Eu tento não me destrambelhar, Dona Menina, mas às vez tem hora que não dá, e o tamanco tem que chorar pra modo de dar uma chegança naqueles modo dos inferno.

      - Pra que isso, Dona Filinha, fecha um olho e toma um chazinho de camomila. Toma aqui, leva esta imagem da Virgem Aparecida para ajudar a apaziguar. Coloque ela reinando em sua casa e ela ficará à coca, espreitando pela sua paz.

      - Que a Virgem lhe dê ouvido, Dona Menina! Vou de certo fazer um arreglo com ela pra me fazer uma modorra.

      - E o Dadinho, Dona Filinha, quem te viu, quem te vê, a senhora deve de estar muito orgulhosa dele. Domingo na missa ele estava apurado ajudando o vigário, todo garboso naquela batina vermelha.

      - Sei não, Dona Menina, às vez fico no orgulho, às vez às avessa.

      - Eh, Dona Filinha, a senhora tá muito embrulhada, põe pé no mundo, mulher! Nem tanto ao léu, nem tanto ao créu.

      - Sabe o que é, Dona Menina, é que antonte mesmo o Padre Joaquim foi lá na chácra me fazer um reclame, deu um pito danado em eu mais o Zé.

      - E que foi que aquele dromedário foi reclamar?

      - Pois antão, ele disse que queria desautorizar o Dadinho do adjutório na missa, e ansim tal que o moleque não tinha mesmo jeito de civilizar.

      - Mas que foi que o menino fez, Dona Filinha?

      - Bão, a senhora sabe como é, né? Toda tarde a igreja fica cerrada e só abre pra noite por causa das ladainhas, né? No entretanto daquele dia de tarde teve as prédicas para um morto defunto e a igreja havera de ser aberta. Ultimada as exéquia do falecido, que nem mesmo fiquei de conhecimento do quem, o padre refechou a porta e foi tirar uma pestana.

      - Até agora não vejo assunto pra nenhum pandemônio.

      - O budum é que o Dadinho mais o primo dele, o Teté, coroinha que nem ele, enquanto o defunto restava em duro pra modo o padre desvelar suas bênção, os dois excomungado em sorrateio treparam pelo escadório da torre no conluio de chegar inté os sino. Pois foi aí que a maiada da porca torceu o rabo, pois tanto a porta da torre foi fechada como devera de ser também a da igreja.

      - Virgem! Os dois ficaram bem presos na torre!

      - Sem a mais reles via de escapatória!

      - Coitados dos meninos! E como foi que deram a escapadela de lá?
      Igreja Matriz de Miracema, RJ, foto da década de 1950,
      cedida  por  Nilo Marins

      - Os dois ficou que nem mosca na pega da teia de aranha quando se assuntaram que não tinha fugida. Galgaram em outra vez o escadório lá pelas grimpa da torre, que era só a janela que ficou pro mundo, e se tocaiaram por embaixo do sino para vislumbrar se alguma alma atalhava lá por abaixo na entrada da igreja. Pra minha mitigação da injúria, os dois gambá ficaram uma pareia de tempo vislumbrando só o vazio. O sol ardido não deixava vazão pra criatura nenhuma se aventurar pelo chão fervido de pedra.

      - Mas Dona Filinha, que aflição dos coitadinhos! Que pena que me dá.

      - Que pena que nada, Dona Menina, lá em casa pena quem tem é galinha.

      - Mas e aí, Dona Filinha, conta o resto que estou em aflição pelos pobres meninos.

      - É que o tempo tarda mas finda por desempareiar no buraco da âmbula e um desinfeliz acabou por em aparecer. Os dois maroto se esgoelavam lá de cima enquanto o pobre aparvalhado procurava esclarecer se alguma andorinha dera a falar, até que avistou uma cabecinha debaixo do sino.

      - E aí?

      - Ademorou um tanto pro moço por antena que os dois tava preso lá e as pestes pediram pra chamar o padre.  Emburrado por modo de ser alevantado do sono e de ter que se abatinar, lá foi o coitado abrir a porta da torre e nem viu que os desavergonhado chisparam, cada qual num lado da perna dele, no instante mesmo que mal se arreganhou a porta e se escafederam no rumo da sacristia que sabiam ficar aberta.

      - Ave Maria! Fico feliz que os malandrinhos não foram apanhados.

      - Mas, Senhora Dona Menina, a senhora num acha que o Dadinho merecia uma esfrega das boas?

      - Mas por quê, Dona Filinha?

      - Por azucrinar o padre vigário.

      - Que nada, Dona Filinha, merecem mais é uma paga. Mula velha só funciona com umas boas lambadas. Manda os dois passar aqui que tenho uns caraminguás pra eles.  

      - Senhora Dona Menina!

      - Ah, pois, ha, ha, ha...