sábado, 22 de janeiro de 2011

Crônica: a vida no seminário (Ipsis litteris)


CRÔNICAS
(Janeiro e fevereiro de 1960)

   Como o tempo e a oportunidade me permitem, começarei narrando um acontecimento muito digno de menção, principalmente para nós, os seminaristas: o nosso regresso dos queridos lares, cujo carinho nunca podemos esquecer, para um outro lar onde todos os jovens sonham com o grande ideal de pertencerem um dia à comunidade dos sacerdotes, serão bem recebidos.
   Nesse inesquecível dia de regresso, houve uma cena  tão sentimental e comovente como nenhuma outra realizada entre aquêles pais e respectivos filhos que viram as costas a um ambiente tão carinhoso e confortável e se dirigem para o seminário para aí cultivar em si a árvore da ciência e se preparar para mais tarde despertar do êrro aquêles que vivem mergulhados sempre no sono da ignorância e instruir os cegos de  espírito.
    Imaginemos aquêle espaço de tempo em que pais, filhos e demais parentes se abraçavam longamente, já na hora da partida. Então, depois dêsses instantes, tão prazerosos, um grande silêncio vem esmagar e sepultar aquêles gozos e todos voltam para casa com o coração carregado de saudades e tristezas.
   Estamos no seminário há mais de um mês. È incrível que  ainda nos restem vestígios da saudade de casa. Ainda não pudemos esquecê-la de todo. Para isso são necesários mais alguns mêses.
   Muitos perguntarão a si mesmo: "que será que êstes meninos fazem no seminário durante êsses dois mêses de férias?
   Meus amigos, leiam a minha resposta e  ficarão sabendo o que aqui fazemos, o que lhes será uma surprêsa. Durante êstes dois mêses não ficamos atôa um instante sequer. Fazemos  passeios pelos campos, que parecem um pouco com piqueniques, mas não são bem isto.  Nesses passeios deixamos o mato completamente limpo de frutas. Somos iguais a um bando de catitú quando entra numa lavoura de mandioca. Já provamos de todas as frutas que existem nesses matos daqui.
   Fomos algumas vêzes a uma tal "Usina Velha" para nadar e voltamos com um sortimento de frutas que durou muitos dias. Fomos também a "Vila Vicentina" de Campo Belo,  onde há muitos doentes inocentes, com os quais nos divertimos bastante. Não nos devemos esquecer do Pe. Alberto que dedica tôda sua vida aos doentes.
   Certa vez, quando voltávamos de um dêsses passeios, aconteceu um caso muito gozado comigo. Foi o seguinte: estava o sol Campobelense recolhendo seus últimos raios. Íamos andando por uma das belas ruas da cidade deliciando-nos com o frescor do crepúsculo quando deparamos com uma "furreca", cujo motorista estava preocupadíssimo e não sabia o que fazer. Lamentava-se de que sua "furreca" tinha afogado ao subir o morro.. Como já lidei alguns  anos com um motor de luz, posso assim dizer que tenho alguma experiência sôbre êste assunto. Convidei-o para queimar as velas que talvez houvesse jeito. Parece-me que êle não sabia o que eram velas. Pedi-lhe, então, uma chave para arrancá-las, mas êle respondeu que não havia. Resolvemos então empurrar a furreca, mas não houve jeito. Já estávamos quase deixando o pobre homem no mesmo  estado, quando chegou, por acaso, um caminhão com dois mecânicos. Um dêles examinou o carro e logo verificou que não havia gasolina. O dono disse  que havia pôsto gasolina havia poucos instantes. Mas em vez de tê-la colocado no tanque apropriado, êle a tinha pôsto no tanque de reserva.
   Dia 2 de fevereiro houve uma grande festa na Ordem da Santa Cruz, quando o primeiro seminarista crúzio brasileiro, José Maria, natural de Belo Horizonte, fêz a sua profissão religiosa. Essa profissão consta dos votos de pobreza, obediência e castidade. Isto aconteceu em Leopoldina onde está o nosso seminário maior.
   Os novatos (8) chegaram dia 28, chegada essa que muito nos preocupava, pois estávamos esperando desde o dia 24, mas só chegaram no dia 28 às seis da manhã, por trem. Quando saímos da capela depois da meditação e fomos ao dormitório para arrumar as camas, encontramos-nos com êles sentados nas malas, cansados e com muito sono, pois tinham viajado durante a noite inteira.
   Foi nomeado diretor do ginásio o Pe. Justino, pois o antigo Pe. Humberto, foi para Belo Horizonte a fim de restabelecer-se da doença que  o prostou no ano passado. Agora já está tudo arrumado e desde poucos dias começamos a fazer fôrça com os estudos, cada vez mais pesados.
                                                               Antônio Araújo Bessa, 1o. Cláss.


Carraro: Ah! ah....
Seoldo: Por que ris tanto?
Carraro; É porque Vicentão disse-me que andou 10 Km. à cavalo, e no fim estava morto de cansaço e suava mais do que o animal.
Seoldo: Puxa! O sol devia estar bastante quente.
Carraro: Ah! Ah! Não; é porque o cavalo dêle era de pau, ah, ah!
Vicente: Ô sô bobo; isto foi um sonho que tive, ontem no estudo.










Marquinho
Você acredita que os homens chegarão  a ver os astros de perto?
J. Geraldo: Pois se eu ontem na rua, com o dia claro, sem querer vi muitas estrêlas e        ainda um galo que cantava bem ao norte da lua, quando esbarrei com um poste!!

Miscelânia (Ipsis litteris)



 











ANO LETIVO DE 1960
   Iniciou-se êste ano com 29 semina-
ristas, distribuidos sôbre as seguintes
séries
1o. ano clássico ----- 1
4a. sérei ginasial----  4
3a.   ,,         ,,    -----  5 
2a.   ,,         ,,    -----  3
1a.   ,,         ,,    -----  5
Admissão----------   11

MISCELÂNIA

Advinhações:

        I   Há muito que tu me olhas.
             não sei o que queres ver:
            o que tu és, eu já fui,
            o que eu sou, tu vais ser.

       II   Seis mortos espichados,
             cinco vivos passeando;
             enquanto os vivos passeiam;
             os mortos estão cantando.
      III   
         1) Qual a diferença entre o ma-
             quinista e o alfaiate?
         2) Que faz a galinha quando se a-
              poia numa perna só?
          3) Que é que tem cinco dedos, mas
               sem carne e sem osso?
         ___________________







  A residência de Beethoven não prima-
va sempre pela limpeza. Certo dia,   um
amigo, não o encontrando em casa, espe-
rou por algum tempo no quarto onde Beet
hoven costumava trabalhar. Ao sair,    pas
sando pelo piano de cauda, por sinal, co-
berto de pó, fêz a brincadeira de,        no
móvel, traçar a palavra "porco".
   No dia seguinte, renovou a visita,
- "Estive ontem aqui, e não o encontrei"
- "Eu sei, respondeu Beethoven, achei o
     seu  cartão de visita no piano"

                $$$$$$$$$$$$

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Crônicas de 1959 (Ipsis litteris)


CRÔNICAS     
    
   Correm os mêses de setembro e outubro com o céu nas mais das vêzes todo neblinado, dando-nos um aspecto chuvoso e a esperança de ver cair em breve a utilíssima chuva.
   No dia 13 de setembro foram recebidos em Campo Belo os Srs. Aloísio e Dermindo Pimental, ambos pertencentes à Universidade Católica de Minas Gerais, convidados pelo diretor do ginásio Dom Cabral para conferenciar aos alunos desta escola sôbre o ensino e a educação. Aproveitando desta oportunidade, um dêles foi também convidado pelo diretor do Seminário para falar aos seminaristas. Êle fêz duas conferências: na primeira, falou a todos os seminaristas sôbre a vocação; na segunda, explicou sòmente aos maiores o motivo porque um padre não pode formar família como outrora.
   Inaugurou-se no dia  20, na querida Campo Belo, uma livraria, fundada graças aos esforços do Revmo. Pe. Geraldo, e que possuiu aproximadamente 3000 volumes. Por motivo de doença ausentou-se por alguns tempos o diretor do ginásio, para descansar. Assim, precisou arranjar outros professores para as diversas matérias lecionadas por êle.
   No dia 27 fomos à cidade assistir ao encontro das imagens de Nossa Senhora de tôdas as capelas de Campo Belo como encerramento do mês catequético. Nesta noite, discursou o Pe. Geraldo, havendo logo após um pequeno discurso proferido pelo Vigário da paróquia em agradecimento ao padre que antes discursara.
   Dia 28 festejou-se o 80º. aniversário desta cidade. Neste dia fomos até a cidade para assistirmos ao grande desfile do qual gostamos imensamente. Em primeiro lugar houve o hasteamento dos pavilhões nacional e mineiro, depois do qual houve alguns discursos, seguidos do desfile. À frente dêste ia o Colégio Nossa Senhora Aparecida de Lavras, que se destacou por sua famosa bateria; vieram em seguida o Ginásio Dom Cabral, o Tiro de Guerra 75, o  Colégio São José, os grupos escolares e os representantes dos diversos clubes da cidade. Á tarde dirigimo-nos ao estádio do Comercial para assistirmos à empolgante partida de futebol entre o Comercial  e o Democrata de Belo Horizonte, na qual depois de muito trabalho a equipe visitante conseguiu vencer por 4 X 3.
   No dia seguinte, todos os alunos do ginásio vieram às aulas. Mas uma agradável surpresa os esperava: o diretor concedeu a êles um dia de descanso, por causa do cansaço  do dia anterior.
   Dia 2 de outubro passamos a frequentar novamente a piscina que há muito tempo não continha água e não era frequentada pelos seminaristas.
   Dia 4 de outubro, à tarde, os seminaristas apresentaram um teatro no clube de Campo Belo como encerramento do concurso das bonecas, feito em benefício do nosso seminário. A vencedora obteve 18 mil votos, e a renda dêste concurso foi de 80 mil cruzeiros.
   No dia seguinte levantamos com uma enorme ventania e à noite foi com imenso prazer que vimos descer do céu uma chuva que há muito tempo esperávamos.
    No dia 10 chegou de Belo Horizonte o seminarista Tadeu, que por motivo de doença no olho partira para lá, a fim de medicar-se, mas, pouco tempo depois de sua chegada, sentiu uma saudade tão grande que fugiu para um hotel da cidade, no qual se hospedara antes, a fim de ir para sua casa novamente. Um dos padres, porém, foi informado disto e o buscou no hotel. No dia seguinte partiu para casa.
   Dia 15, dia das missões, houve uma reunião da nossa congregação na qual o congregado Reginaldo discursou sôbre o "Catolicismo no Brasil".  Neste mesmo dia na hora do almoço, saboreamos um gostoso guaraná por ser dia de São Lucas.
Na manhã do dia 20 recebemos uma notícia desanimadora: o jornal do ginásio Dom Cabral, quando completava exatamente dois mêses de fundação, foi proibido de circular mais uma vez, pois ao invés de fazer propaganda em favor do ginásio, criticava-o de um modo não conveniente.
   Após 53 dias de "descanso”, no dia 24 à noite, os seminaristas insubordinados receberam novamente a permissão para jogar futebol. (Coitados! Tanto tempo sem bola! Red.)
                                                 Lýdio Costa Reis Filho 3a. Série

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O reboliço da cidade (Ipsis litteris)


O REBOLIÇO DA CIDADE
   Os veículos se cruzam nas ruas, cheios de passageiros; as locomotivas vomitam fumaças obtendo pressão capaz de as pôr em movimento para realizarem seus cursos; somos incapazes de dormir uma noite inteira sossegadamente, na cidade.
   Na madrugada êsses barulhos picantes e aborrecíveis, começam a bater de novo em nossos ouvidos, fazendo um zum-zum como dum enxame de abelhas.
   Os veículos quase voam; os homens andam às carreiras em busca daquilo que não lhes dá a vida (espiritualmente falando): o luxo, o orgulho que é uma consequência do primeiro e sempre mais preocupações.
   Alí, uma pessoa é atropelada; lá, uma casa arde em chamas; mais adiante, dois carros entrechocam-se. Assim dão-se acidentes a cada instante.
   O andar desenfreado dos carros, os silvos das sirenes, o vozerio dos ruídos das fábricas, fazem um barulho ensurdecedor.
   Agora falo com o silêncio. Oh silêncio, onde estás?  Por que foges da sociedade, que deves implantar-te? É devida à tua falta que os erros estão enraizando-se nos cérebos humanos. Bem sei que não és tu que foges! Não tens vidas, nem corpo, nem qualquer outro dom. És inanimado! És impercebível! Os homens é que  te abandonam; não crêem em ti; não querem "perder tempo" contigo. Coitados dêles! Não sabem que sem  ti não há paz na sociedade, não há vida espiritual, que é a mais importante para todos nós. Por isso, os homens sempre andarão errantes porque  só em ti encontram a paz que deverá existir no lar, na sociedade em todo o orbe. Esta paz é o Cristo que está sendo esquecido pelos homens, por quem deveria ser muito mais amado, pois êstes são as principais figuras dêste mundo. Sem Cristo nada podemos levar à frente. Não se constrói um edifício sem o alicerce, nem o alicerce sem o tijolo, nem o tijolo sem o barro e nem se tería  o barro se Cristo não tivesse formado os elementos de que é composto. Cristo é a cabeça  e nós os membros.
    Um braço desligado do corpo nada fará, assim como um galho separado da árvore secará por falta de alimento que lhe vinha do chão por meio da árvore.
   O funcionário chega em casa já de noite, cansado, ofegante, com a roupa úmida de suor e com o corpo quente, porque suas veias e músculos estão muito excitados, e cospe palavrões maldizendo a árdua vida; verbera o patrão de ladrão de seu tempo, e chega a blasfemar até contra Deus. Em seguida êle janta, ouve alguns programas de rádio, e vai estirar-se na cama, fechando as pálpebras para gozar das delícias de um sono.
   Mas, eis que a aurora já vem acordando tudo, abrindo-lhe os olhos e pondo-lhe em movimento. E o sol nem bem deitou seus infindos raios sôbre as cumeeiras das casas, quando o homem já anda em busca do pão de cada dia.
   Assim é hoje em dia a vida agitada do homem,  esquecendo-se que em Deus sòmente se encontrará a verdadeira paz, e de que só se encontrará Deus no silêncio.
                                                       Antônio Araújo Bessa
                                                                4ª. serie

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Crônicas: as boas férias e as boas aulas (Ipsis litteris)

CRÔNICAS                                                                     
   1º de Março!!! Acabaram-se as tão boas férias para darem lugar as tão boas aulas!
   Com o início das aulas nós passamos a frequentar menos vêzes a sala de recreio, e em consequência, passamos a frequentar mais vêzes a sala de estudos. Mas, aos poucos, fomos nos acostumando ao novo regime, dividido em oração, estudo e recreio.
   Dia 4 de março chegam mais dois novatos, perfazendo um total de 34 seminaristas, dos quais 32 estão no seminário menor e 2 no noviciado.
   Dia 15, o seminário completou o seu 6ª. ano de fundação. Êste fato foi comemorado alegremente, havendo até guaraná na hora do almoço.
   No dia seguinte houve outro motivo de alegria: o nosso Diretor completou seu 13º. ano de sacerdócio, dos quais êle passou 6 anos em nosso seminário.
   Como março é o nosso primeiro mês de aula, parece-nos que passa mais depressa que os outros. Assim, chegamos rapidamente à época das provas, que foram mais cêdo, porque a última semana do mês era a Semana Santa. Nesta época todos estudam animadamente, mas, passada esta, todos voltam ao seu antigo "amor" aos estudos.
   Com o dia 22, Domingo de Ramos, iniciou-se a Semana Santa. Pela manhã fomos à cidade, para assistir à Missa e à bênção dos Ramos. À tarde houve uma reunião da nossa Congregação Mariana, havendo nessa ocasião, um discurso pronunciado pelo congregado Lydio.
   Quarta feira à noite, descemos à cidade; para ouvir o Sermão do Encontro, pregado por um frei dominicano.
   Quinta feira Santa assistimos à Missa In Coena Domini, realizada em comemoração da instituição da Santíssima Eucaristia.
   Sexta feira à tarde fomos assistir às cerimônias da Paixão de Jesus Cristo, e à noite ouvimos o Sermão do Descimento da Cruz.
   Sábado, `s 10,30 hs. da noite, voltamos à cidade a fim de assistir à Missa da meia-noite.
   Domingo de manhã, quando chegamos no seminário, esperava-nos uma ótima ceia, composta de chocolate, dôces e ovos. Quando acabamos de ceiar, eram quase 3 hs. Fomos deitar para levantar sòmente às 9 horas.
   Segunda feira após a Semana Santa não houve aula, porque os padres ainda não haviam regressado de suas pregações em outras cidades.
   Na terça feira, após uma semana de férias, voltamos às saudosas aulas com novo ânimo.
   Dia 31, saiu o primeiro número do nosso tão querido "O Repórter Crúzio", de 1959, que, tendo pouco mais de um ano de fundação, continua e continuará sempre, se Deus quizer, a sua jornada, tão brilhantemente iniciada.
   Dia 6 de abril inaugurou-se um quadrangular, disputado pelo seminário, 2ª. 3ª.. e 4ª. séries do ginásio. Assim  após longo tempo, o seminário voltou a jogar.
   Nessa época houve uma falta de luz na cidade. A maior parte de nós ficou alegre com isto, pois não haveria estudo à noite. Só alguns estudiosos reclamaram.
   No dia 21, dia consagrado ao grande mártir da Independência, Tiradentes, não houve aulas, mas houve estudo por estarmos em época de provas.
   Dia 3 de maio, tôda a Igreja, e principalmente a Ordem da Santa Cruz, comemorou a Invenção da Santa Cruz, levada a efeito por Santa Helena, mãe do Imperador Constantino.
   4 de Maio: o seminário consagrou-se campeão do quadrangular, e, em virtude dêsse feito, o Pe. Diretor concedeu-nos uma data de feriado no dia seguinte.
                  Max J. O. F. de Souza.     3ª. série.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A vida num seminário (Ipsis litteris)


A VIDA NUM SEMINÁRIO
   A vida, num seminário é completamente diferente do que julgam os que estão fora. Muitos pensam que os seminaristas vivem só rezando e que são SANTINHOS!?  Não, absolutamente; os que assim julgam estão errados. É natural que os seminaristas se dedicam com mais ferver às orações do que os fiéis em geral. Pois,  para ser um dia mais tarde sacerdote, é preciso saber rezar muito bem e com fé. Mas o sacerdote não só precisa saber orar bem, como também ser um homem culto que sabe resolver quaisquer questões defíceis na sua vida como na dos fiéis, e justamente por isso também temos muitos estudos num seminário.
   É necessário que o padre seja um homem forte de espírito e de corpo. Forte de corpo, isto é de boa saúde, porque depois de ordenado vai encontrar muita responsabilidade pela frente. Sendo um padre de paróquia ou um padre que dá aula, vai deparar com serviços pesados e responsabilidades absolutas.
   Um sacerdote que toma conta de um paróquia, é um padre que muitas vêzes nem tem tempo de comer e dormir verbi gratia (!): um paroquiano chega tarde da noite à casa paroquial, chamando o padre para dar  o sacramento da Extrema Unção a um doente lá na roça, em uma fazenda qualquer. O pobre vigário larga seu leito quente, e com sono vai, às pressas, atender o doente, passando por caminhos onde é difícil para um cavalo passar.
   Quase a mesma coisa acontece com o padre que dá aula num estabelecimento . Levanta às cinco horas, celebra a Santa Missa e vai dar as aulas que lhe compete. Chegando dentro da sala, começa a ouvir os gritos estridentes e as pintações enjoadas dos meninos, mesmo assim o padre professor vai ensinando com tôda calma e bondade! (?), mas quando terminam as aulas, o professor está com forte dor de cabeça!
   Às vêzes deita muito tarde, pois passa a noite corrigindo os exercícios, e assim vai o ano todo. Acontece até que um padre fica esgotado do serviço por algum tempo. É justamente por isso que um padre precisa de uma boa saúde para poder aquentar êstes pesados serviços.
   E forte de espírito para poder suportar tôdas estas coisas, sem fazer de má vontade, mas com boa vontade, entusiasmo e alegria.
   Para um dia ser padre é que existem primeiramente  os ensinos especiais nos seminários, com horários e regulamentos. Eis aqui, em geral , o horário do nosso seminário: levantamo-nos a cinco e quarenta, e assistimos à Santa Missa; tomamos café aos vinte minutos para oito; das oito às onze e meia temos quatro aulas; em seguida almoçamos. Depois do almoço temos uma hora de recreio; após êste, se fôr segunda-feira ou quinta temos ainda duas aulas, porém se fôr terça-feira temos uma hora e meia de estudo e em seguida tomamos café e vamos ao campo jogar futebol; às quartas e sextas vamos à piscina; aos sábados temos só uma aula à tarde. Às cinco e quarenta jantamos,  depois vamos à capela rezar o terço; aos quinze minutos para as sete temos um estudo que vai às oito e quinze; às oito e meia rezamos  as orações da noite e vamos dormir sossegadamente.
   Aos domingos não há aulas, mas sòmente uma hora de "estudo duro" e uma hora de "estudo livre". Rezamos o ofício da Imaculada Conceição e assistimos a uma missa Cantada. O resto do dia passamos ouvindo rádio e divertindo-nos.
   Assim nós, seminaristas, cumprimos os regulamentos e horários, cada dever no seu tempo, nada de menos nem de mais, para assim sermos  mais tarde verdadeiros ministros de Deus, fortes de espírito e de corpo
                                 Sebastião A. N. Pandeló
                                             3a. série



A maior paróquia do  mundo
    A maior paróquia do mundo encontra-se na Groenlância. Ela tem uma superfície de 85.000 quilômetros quadrados e conta ....150 católicos.
Bispos cismáticos.
   O govêrno comunista da China continua nomeando e mandando consagrar bispos que o govêrno escolha, e que de maneira alguma foram nomeados pela Santa Sé. O número dêstes "bispos" já é ao menos 32.
Provérbios.
   O rico em todo lugar se deleita, o probre em todo lugar se deita.

A ordem de Santa Cruz (Ipsis litteris)



A ORDEM DE SANTA CRUZ
NA HISTÓRIA.
______________________
(Continuação)
III
SANTA ODÍLIA

    No ano de 1287 vivia no convento dos Crúzios, em Paris, um irmão leigo, João de Eppa, simples e inculto, mas profundamente religioso. Numa  noite apareceu-lhe uma virgem em esplendores de luz, que lhe deu a missão de ir a Colônia na Alemanha para desenterrar os seus ossos. Em consulta com o superior da casa, o irmão fêz tudo para afastar o perigo de ilusão; a aparição, porém, continuava e se apresentou como sendo Santa Odília - uma das virgens que em companhia de Santa Úrsula foram martirizadas em Colônia no tempo do rei Átila, pela fé e pela pureza. Os ossos dela estariam debaixo duma pereira, no hôrto dum certo Arnulfo. Só depois de muita resistência, o superior deixou alguns padres saírem com João de Eppa, e de fato descobriram no lugar indicado os ossos com um pergaminho, inscrito com o nome de Santa Odília, conforme os avisos da Santa, as suas relíquias foram levadas em procissão à casa-mãe da Ordem da Santa Cruz em Huy, onde Santa Odília seria a padroeira da Ordem.
   Seja qual fôr a historicidade de todos êstes acontecimentos, certo é, que o oficial do bispado de Colônia fêz uma ata da exumação dos ossos, reconhecida como verdadeira por históricos. Como a casa-mãe de Huy não existe mais, foi no ano de 1946 uma grande parte das relíquias trasnferida ao atual convento de Diest na Bélgica.
   O culto de Santa Odília é aprovado pela Igreja e, onde há igrejas dos Crúzios, há também a veneração de Santa Odília. Ela é especialmente venerada como protetora contra doenças dos olhos. A festa de Santa Odília  é no dia 18 de julho.´

IV
"STAT CRUZ, DUM VOLVITUR ORBIS"
(A Cruz está firme, enquanto o globo gira)
      A história duma ordem religiosa pode-se resumir numa luta pela sobrevivência do seu verdadeiro espírito. Gira a orbe do mundo pelos séculos, sempre apresentando novos aspectos do seu espírito. Assim a Ordem da Santa Cruz traça seu caminho pela história, inspirando-se no Cristo Crucificado. Ela procura enriquecer o corpo místico de Cristo com novas manisfetações de amor. E contra o espírito do mundo às vêzes vence, as vêzes sucumbe.
   1. A reforma dentro da ordem de 1410
   Com surpreendente vitalidade a ordem se espalhou no século treze sobre a França e a Inglaterra. Porém, as cruzadas terminaram e parece, que a falta de ideal no ministério externo causou o assombreamento do amor ao Cristo pelo amor ao mundo. Dentro dos conventos notava-se um relaxamento do  espírito genuíno dos primórdios da ordem.
   Uma nova inspiração veio dos conventos novos, fundados na região do rio Rheno e na Holanda, no século quatorze. Destacou-se entre êles o convento de Santa Ágatha. Inspirou êstes conventos da parte da Ordem o mestre-geral Pinchar, que no seu livrinho: " A Veste Nupcial" nos deixou o ideal de "seguir despido o Cristo despido". 
   Inspirou-os também, o movimento espiritual contemporâneo da Devoção Moderna, que em seus internatos propagavam uma reforma interna da Igreja. O espírito desta devoção moderna do século quatorze achou sua expressão no livrinho: " A Imitação de Cristo". Por seus valores positivos duma grande intimidade com Cristo, êsse livrinho inspirou grandes atos e dos mais ativos. Para nós, Cristãos do século vinte, que julgamos ser bastante fortes em Cristo para poder entrar no mundo, a Imitação parece às vêzes  um pouco pessimista. Aos Crúzios do século quatorze, porém, parecia um reflexo do espírito genuíno da Ordem. De outro lado mandavam os mestres exigentes da escola "moderna"   os seus alunos mais estimados aos conventos dos Crúzios. De acôrdo com êles, os Crúzios da Holanda e da região do Rheno viviam mais uma vida devota na intimidade de seus conventos. Os mais habilitados se ocupavam com o trabalho  de copiar e ilustrar livros devotos. O antigo convento de Santa Ághata ainda guarda na sua biblioteca verdadeiras obras-primas dêsse tempo.
   Quando então aconteceu, que na casa-mãe de Huy se perdeu de tal modo o bom espírito, que um mestre-geral conseguiu ser eleito por dinheiro e bons amigos, saiu a reforma da Ordem dêsses conventos novos do norte. No capítulo geral de 1410 retirou-se o indigno, voltaram os estatutos a antiga redação de 1248 e entrou um novo mestre-geral na pessoa do superior de Santa Ághata. Daqui em diante o espírito novo da intimidade com Cristo entrou também na casa-mãe de Huy e penetrou assim na vida da Ordem inteira. Até o século dezenove, porém, os Crúzios ficaram sempre com certo receio de aceitar um ministério fora da clausura dos seus conventos.
   2. O humanismo Cristão
   Uma leve mitigação de espírito de Pinchar e da Devoção Moderna encontramos no tempo do grande mestre-geral Nicolau van Haarlem (1473 - 1482). Enquanto aquêles temiam o estudo das ciências humanas, reconheceu Nicolau van Haarlem  o valor dum humanismo cristão. Os primeiros livros impressos apareciam nas livrarias dos conventos com novas idéias dum renascimento na literatura e na arte. E os religiosos mais habilitados estudavam nas universidades da Franca e da Bélgica.
                                                (continua no próximo número)
                                                 Pe. Humberto Nienhuis, OSC
                                                 oooooooooooooooooooooooo