quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Entrevista com José Orlando Baliza

Perfil:
           Nome: José Orlando Baliza (68)
           Família: casado com Maria José Aparecida Baliza com quem tem  2 filhos e 4 netos.
           Formação: Técnico em Contabilidade
Realização profissional: alfaiate, 1958/61; auxiliar de  contabilidade de 1962/63;  escritório da cerâmica São Judas Tadeu Ltda (1964/76); Sócio da empresa Trasavante Ltda (1974/76); representante comercial da Coreminas (1977/78);  Lajes Improcil Ltda de Santo Antônio do Monte (1979/82); Lajes CBL Ltda de Campo Belo (1983/2000);Proprietário de ponto de Táxi em Campo Belo desde 1990.
Foto de 1972 - 1º caminhão - José Orlando Baliza e Antonio Marcos
Filantropia: Tesoureiro da Vila Vicentina de Campo Belo (2005/07); Presidente da Vila Vicentina de Campo Belo (2007/11).
Apresentação       
Ele é da turma de 1954, chegou ao seminário um ano após a sua fundação completando uma turma de uma dúzia. O pouco tempo que ali permaneceu foi suficiente para marcar sua existência a ponto de afirmar: "a EASO - Escola Apostólica Santa Odília foi tudo na minha vida". Esse técnico de contabilidade soube valorizar e multiplicar os talentos recebidos do Criador: fez-se sobre os alicerces da família, do trabalho e de obras sociais. Muitos de nós já sabiam que ele construiu uma bela família, pois fala dela com indisfarçável orgulho, outros que é artesão, motorista de taxis dede 1990, mas poucos, que fora alfaiate, empresário, caminhoneiro e comerciante no ramo de cerâmica e, para aprender a defender suas metas, goleiro do São Luiz Futebol Clube.

Em nossos encontros, sempre traz algum artesanato para nos presentear nos sorteios de sábado à noite: terços de arame a nos instigarem para a oração; e, para nos vender a preço de banana, uma pinga envolta em símbolos da história que compartilhamos nos anos de seminário, gravados por jatos de areia: a vida laica engarrafada pelas lembranças do tempo da inocência, da aplicação nos estudos, dos prazerosos recreios, dos passeios nas redondezas, do futebol diário, do comedimento e da meditação religiosa. Parece sacrilégio beber uma cachaça tão barata protegida por lembranças tão caras e pela cruz dos Crúzios, muitos a têm, ninguém dá notícia de seu gosto, germanamo-nos sob os efeitos de outros líquidos.

Apenas um de seus colegas de turma tem frequentado nossos encontros periódicos, o Janjão, mas Baliza goza da amizade dos ex-seminaristas Crúzios de todos os tempos e turmas: é que os encontros fazem surgir novos elos de camaradagem que vão se construindo, naturalmente, sob o elmo de memórias, valores e princípios comuns. No caso particular dele, agrada-nos sua presença tranquila (quase tímida) e participativa em todas as ocasiões importantes. Nas mensagens trocadas para compor esta entrevista, ele revela alguns traços de seu jeito mineiro arrematado de falar: frases curtas, algumas concisas, outras nem tanto. Isso é notório em suas respostas ao questionário da entrevista e nos memorandos, num deles, para afirmar que gosta de estar conosco, ele diz : "no próximo encontro, em Nova União, estarei presente". Essa predileção por estar junto com os amigos já se revelara muito antes dos encontros dos ex-seminaristas da EASO: é assíduo às romarias que partem de sua terra, poderíamos medir sua fé pelo tanto de sola de sapato que já gastou indo a pé de Campo Belo a Aparecida do Norte.

Baliza tem feito pela Vila Vicentina o que muitos de nós gostariam de fazer por aquela instituição de caridade ou por outras semelhantes em nossas comunidades. Não há como ficar insensível à sua participação nessa obra social incrível que se destaca, há anos, como modelo para outras cidades. Paira um sentimento de esperança e conforto espiritual na atmosfera suave daquelas ruas frequentadas pelos humildes, necessitados e assistidos, e por almas generosas que os amparam e lhes dão a vida digna que merecem. Aquele chão que, ainda jovens, pisamos tantas vezes e que sabemos testemunhar, de um lado, a mais triste carência e, do outro, o melhor que há nos seres humanos: o amor incondicional ao próximo, pois é nesse chão que se assentam as razões por sermos gratos ao nosso entrevistado e a todos aqueles que ali aplicaram parte importante de suas energias e de suas vidas. 

 Aspectos da vida esportiva:
Colagem de fotos comemorativas de campeonatos do São Luiz Futebol Clube de Campo Belo. Na foto da esquerda (1970), Baliza é o goleiro (segundo em pé da direita para a esquerda). Na foto da direita (1976), Baliza com seus filhos Lisley e Wesley.


Perguntas gerais
Blog: fazendo uma retrospectiva da sua vida e do ser humano que você é atualmente, o que a EASO - Escola Apostólica Santa Odília significou nesse contexto? Qual a importância que ela teve para você?
Baliza: a EASO foi tudo na minha vida, foi a única escola que frequentei, de 1953 a 1954, quando tinha cerca de 10 anos, educando-me de forma que sobrevivo até hoje baseando-me na religiosidade, respeito mútuo e honestidade como estilo de vida.

Blog: quais as lembranças que você tem da EASO e das pessoas com as quais conviveu lá que são as mais marcantes e significativas para você?
Turma de 1954 - José Orlando Baliza em destaque
Baliza: do João Moreira de Campo Belo; do Adelino de Melo Freire de Santana do Jacaré; do Edson de Recreio; e do José Maria Carvalho Coelho de Belo Horizonte. Como éramos poucos, todos me marcaram de uma forma ou outra.
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Blog : para você, o que é ser bem-sucedido na vida?
Baliza: ter conseguido atingir meus objetivos e formar minha família.
Blog: por que você entrou no seminário e por que você saiu?
Baliza: entrei pela oportunidade de estudar e saí porque não encontrei ali a realização do objetivo de tornar-me sacerdote.
Perguntas enviadas pelo Antônio José Ferreira, o Santana.

Blog (Santana): durante que período você passou no seminário, quais foram seus contemporâneos e que lembranças você tem desses colegas ou que fatos pitorescos você pode nos contar daquela época?
Baliza: lembro-me de todos porque nossa turma era pequena. No quarto dia de seminário, fomos nadar no ribeirão São João, nos fundos da Vila Vicentina. Na euforia de sair, passear, pois não estávamos acostumados com aquele regime, em frente à cadeia, na rua João Pinheiro, tropecei e foi aquele tombo. Padre Marino me deu a primeira lição com as seguintes palavras: "Abra o olho meu filho".

Blog (Santana): você se lembra de algum caso interessante do Padre João Batista de quem você foi coroinha em Santana do Jacaré?
Padre João, força incomum.
Baliza: Sim, de muitos. O mais interessante foi que ele comprou um Chevrolet ramona verde para ir celebrar nas comunidades. Certo dia, com chuva, ele caiu num mata-burro, como nós estávamos sós, ele me mandou dirigir e levantou o car-ro. Tiramos o carro do buraco e continuamos a viagem.
Perguntas enviadas pelo José Gonçalves Tito:

Blog (Tito): qual a sua comparação entre a vida de "seminário" e a sua primeira profissão?
Baliza: Nenhuma. Quando saí do seminário fui trabalhar de alfaiate.
Blog (Tito): Qual a sua perspectiva para o atendimento social no Brasil, no contexto atual do governo?
Baliza: vejo que vem melhorando e precisa mais e mais.
Perguntas enviadas pelo José Rafael Cabral:

Blog (Rafael): quantos filhos você tem? Fale um pouco deles.
Foto de 1974 - Aniversário dos filhos
O casal Maria José Aparecida e José
Orlando Baliza com os filhos Wesley
e Listey. No canto direito, alguns
amiguinhos.
Baliza: tenho dois filhos e quatro netos. Lisley (45), que é professora graduada em Letras e pós-graduada em Educação e Análise Ambiental, exerce a profissão de professora há 25 anos, sendo os 10 últimos no Colégio Dom Cabral e demais segmentos do Estado e do Município. É casada, tem uma filha com 18 anos, Rafaela, que cursa Agronomia na UFLA, em Lavras.
Wesley é Técnico de Contabilidade e exerce a profissão de Representante Comercial. É casado, tem três filhos: Bruno, com 24 anos, que é formando de Engenharia Elétrica na UFSJ em São João Del Rey; Karolinne, 21 anos, cursa Fisioterapia em São Paulo, onde reside; e Matheus, 15 anos, que iniciará o Ensino Médio neste ano.
Blog (Rafael): vejo que você, Baliza, é um homem trabalhador e batalhador, uma vida de trabalho, sendo assim, pergunto:  o que mais o realizou e por quê?
Baliza: trabalhei em diversas empresas e em diversas funções. Minha realização profissional advém da minha capacidade de me entregar à função que desempenho naquele momento, portanto, todas foram importantes.
Blog (Rafael): como você vê as chances de trabalho para os nossos jovens nos dias atuais? Antigamente era mais fácil encontrar emprego? O país está no caminho certo?
Baliza: A oferta de emprego é grande, mas é necessário que o jovem se encontre bem preparado. Antigamente era mais fácil. Começava-se a trabalhar ainda crian-ça, adquiria-se experiência antes mesmo da escola. Minha fé diz que o país está no caminho certo.
Blog (Rafael): você já participou várias vezes de uma romaria a pé, que a cidade de Campo Belo faz anualmente à Aparecida do Norte. Fale um pouco dessa expe-riência.
Foto de 1978, caminhada a
Aparecida do Norte.
Baliza: em 1978 fomos a pé à Aparecida do Norte pela primeira vez. Ataíde da Silva, Anézio Ribeiro Rosa e eu. Foi a melhor caminhada. Nos anos de 1979, 1980 e 1981, tornei a fazer a mesma caminhada com outros companheiros, no máximo seis. Foi muito bom também. Em 2006 tive a experiência de ir na Romaria com aproximadamente 200 pessoas e retornei nos anos de 2007 e 2008. É muito bom, embora seja difícil de organizar.
Perguntas de Luiz Alfenas, o Lulu:

Blog (Lulu): depois de tantos empregos e tanta experiência, o que você diria para a juventude atual?
Baliza: que estudem para ter capacidade e diploma, perseverança, confiança no que fazem, humildade, fé, esperança e caridade.
Blog (Lulu): o que tem alicerçado sua vida e a tornado tão útil para sua família e para o próximo?
Baliza: a escola EASO ensinou-me os princípios básicos para a minha formação como cidadão: respeito, integridade, fé, caridade.
Blog (Lulu): o taxista encontra muita gente em seu dia a dia, escuta muitos casos e histórias diversas. Qual o caso mais engraçado que você já ouviu dentro do seu táxi? Baliza: o taxista às vezes é um confidente. O mais engraçado são as piadas, espe-cialmente a do português que comprou um táxi em sociedade e passeava o dia todo, pois o táxi era de graça.
Blog (Lulu): em que consiste o seu trabalho na Vila Vicentina e como você conse-gue conciliar tantas atividades?
Baliza: consiste em ajudar aos que lá residem, pois já fizeram muito por alguém, cada um tem sua história. Dedicando toda capacidade ao que faço em cada momento.
Blog (Lulu): você se considera um homem caridoso?
Baliza: sim, considero-me caridoso.
No Encontro de 2011, os ex-seminaristas foram recebidos, na Vila Vicentina,
pelo então presidente José Orlando Baliza. Foto em frente da Igreja local.
Blog (Lulu): para você o que é amar ao próximo?
Baliza: amar ao próximo é amar a todos num só momento não discriminando. Evidente. Para mim sem amor e caridade não existe vida.





5 comentários:

  1. Lulu,

    Você deu um toque de mestre à entrevista com o Baliza!
    Durante a apresentação, fomos presenteados com informações muito interessantes sobre os ex-colegas do Seminário, o que veio enriquecer ainda mais o acervo de conhecimentos dos nossos agora colegas para sempre.
    Quanto ao José Orlando Baliza, não tive a feliz oportunidade de conhecê-lo antes. Isso só foi acontecer durante o primeiro encontro, quando comprovou sua alta estima pela turma, ao oferecer alguns terços artesanais feitos por ele próprio. O presente foi sorteado entre os colegas no marcante churrasco de despedida realizado no último dia do encontro, na casa da irmã do João Henrique.
    Até então, não tínhamos certeza de que os encontros continuariam, inclusive com o sucesso atual. É o caso semelhante deste blog que, se não me falha a memória, surgiu por ideia sua. Trata-se de iniciativa que veio somar principalmente no que diz respeito aos encontros vindouros, mostrando com clareza fotos e comentários sobre aonde iremos no próximo ano. Sem contar com o registro de cada encontro, providência indispensável para manter vivas as recordações, já que somos sessentões, os mais jovens, cinquentões, quarentões e por aí vai...
    Desde aquela ocasião, o que soubemos sobre o Baliza foi suficiente para balizar toda a qualidade de sua conduta. É um homem dedicado a uma comunidade carente, sem nenhum interesse, motivado tão somente por amor ao próximo; artesão que exprime sua arte em confeccionar terço, para não perder as características do Seminário; um taxista que deixa suas corridas profissionais para correr conosco pelos arredores durante os três dias de encontro. Isso seria o suficiente para termos sua dimensão humana. Agora você traz à tona seu passado simples, porém honroso, antes velado, mas agora revelado, mostrando que ele já foi: alfaiate, empresário, caminhoneiro, comerciante no ramo de cerâmica e até jogador de futebol.
    Nada mais resta do que parabenizar o Baliza e você pela bela entrevista. Apesar de estruturada com respostas curtas, revelando timidez, como você menciona, o conteúdo é verdadeiro e expressa a solidez do caráter de um homem digno.
    Com este exemplo de peregrinação e de fé, indo a pé de Campo Belo a Aparecida do Norte, o nosso filantrópico José Orlando Baliza dispensa qualquer comentário sobre sua consolidada religiosidade. Este só poderia ser o Coordenador da Vila Vicentina, obra caridosa que tem feito tão bem a dezenas de pessoas.

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  2. Transfiro para o Baliza que dá conteúdo à sua entrevista e aos meus colegas do Conselho Editorial, que sempre nos apoiam na revisão dos textos, os elogios feitos pelo Edgard. No caso específico desta entrevista, recebi muitas sugestões de Siovani, de Marcos Rocha e do Santana, eles ajudaram a compor melhor a apresentação e a tornarem as ideias nela colocadas mais precisas.

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  3. Prezados Edgard e Lulu:

    Endosso amplamente as palavras do Edgard,que é um excelente analista e observador deste blog, quanto ao conteúdo da entrevista. E deixo claro que a nossa participação - do Santana, do Siovani e minha -- foi mínima, restringiu-se a pequenos detalhes de errinhos de digitação e de revisão ortográfica. O mérito maior desta entrevista que nos revela um ser humano da melhor qualidade é, mesmo, do nosso editor principal, o Luiz Alfenas, que, com a sua dedicação ao blog Encontristas, é um grande aglutinador e integrador dessa nossa comunidade crúzia (ou deveria dizer ex-crúzia? Não sei responder, pois, no meu caso, o que sou hoje é, em grande parte, resultado da formação e dosprincípios éticos que os crúzios incutiram em mim).

    Saudações a todos.

    MR
    12/2 - 17:15

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  4. Publicamos abaixo mensagem recebida da filha do Baliza:

    "É com grande prazer que leio a entrevista realizada com papai no blog de vcs. Parabéns pela iiniciativa e pelo bom gosto em conduzir a entrevista de forma tão clara e precisa. Espero poder conhecê-los no próximo encontro, pois é sempre um prazer conhecer pessoas que tratam com carinho aqueles que nos são caros. Pode apostar o papai é pra mim e meu irmão o melhor pai do mundo. É paizão, amigo é tudo de bom. Obrigada a vocês e contem sempre comigo para o que precisarem.
    Um abraço,
    Lisley Balisa".

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  5. Publicamos, na íntegra, a mensagem abaixo enviada a este Blog pelo nosso amigo, colega e muito participante, Seoldo:
    "Saudações a todos! Primeiro gostaria de que Edgard acrescentasse no seu comentário (muito objetivo, por sinal) a palavra SETENTÕES antes de "sessentões".... Mais respeito, uai!!! Segundo, envio meus cumprimentos ao Baliza, Maria José, Lisley, Wesley, netos (as) e demais familiares. Baliza, embora não o conheça pessoalmente, sua fama correu vagamente por algum tempo... Cheguei a ouvir comentários de que muitos estragos nas instalações velhas da EASO foram causados por você, pois só queria jogar bola, nada de estudar... Chegou a um ponto que Pe. Marino precisou contratar um "vigia especial" (Foto 157 do Blog) para estar de olho em você e, às vezes, também no Janjão... (Aliás, em todos os campobelenses daquela época). Mas deixando as fofocas de lado, sua trajetória de vida é admirável. Você também com certeza é um jogador do time que "NÃO PODEMOS RESOLVER OS PROBLEMAS DE CADA UM, MAS SIM, PODEMOS ABRACAR CADA UM COM PROBLEMAS". Imagino que você tenha carregado no seu táxi muitos PBP (pinguços(as), beijoqueiros(as) e preguiçosos(as)). Você poderia mencionar 6 passageiros(as) que lhe deixaram alguma marca positiva/negativa? (Não vale o português). Você se lembra ainda do taxista do seu casamento? Da marca do taxi? Baliza, você não é mentiroso não!!! O Pe. João Batista era um MONSTRO!!! Eu o vi levantar um Jeep enquanto um outro padre trocava o pneu..., tentei ajudá-lo... Ele quase me deu um tapa com a outra mão!!! Mas, colega Baliza, espero surpreendê-lo um dia...ou no ponto de taxi, ou rezando terço na matriz, ou sorrindo na Vila Vicentina, ou, quem sabe, chutando bola na velha EASO. PAZ! PAZ! PAZ! Seoldo".

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