sábado, 11 de outubro de 2014

VI Encontro na Pai d'Égua Belém

 Por Siovani

Sexta-feira, 19 de setembro de 2014.

Um fato histórico de elevada grandeza foi registrado nesse dia nos anais paraenses:
"Descida da cauda da estrela do Pará, conforme fora anunciado há um ano pelos oráculos de Campo Belo, tomou de assalto o aeroporto de Belém uma legião de mineiros encanecidos,travestida de alegria, que convulsionou o saguão do lugar com abraços de efusivos reencontros.Os mineiros desembarcados foram recebidos no local pelos amigos paraenses que propiciaram a alegre recepção. No meio do burburinho acalorado ouviu-se em alta voz um surpreso espectador, talvez versado em latim, exclamar:

- Um verdadeiro Val-de-Cans!

Pela importância do fato e pela apropriada imagem que retratava as muitas cãs em alvoroço, deu-se ao aeroporto e ao bairro o nome de Val-de-Cans, que resistiu pela história dos últimos 300 anos da capital do estado." (Notícia transcrita do popularíssimo jornal Diário de Nazaré, edição de 14 de outubro de 1708.)

Sob os auspícios dessa curiosa notícia propagada pela internet, esta moderníssima mídia de elevada credibilidade, que trazia um misterioso hiato no espaço-tempo, começou o nosso VI Encontro em Belém. Mas as peripécias do tempo não se limitaram ao narrado, com efeito, uma bolha de um ano, carregada de mazelas políticas e outros achincalhes, foi criada ligando o término do Encontro anterior a este. Como o agora é uma simples imagem atrasada do passado,ilusão dos nossos olhos que só enxergam o que já não mais existe, suprimida a bolha, no contínuo do espaço-tempo permanecemos no mundo onde a amizade é rainha e condutora suprema.

Findos os abraços, fomos todos os mineiros para o mesmo hotel, Grão Pará, em frente à Praça da República, já com a obrigação de estarmos às dezessete horas prontos para iniciar os compromissos com Belém. Um pouco de tumulto houve para conseguirmos estar prontos à tal hora, mas com certo atraso, que nada prejudicou, seguimos para a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, onde assistiríamos à missa das dezoito horas. Grata surpresa já nos esperava no ônibus quando se nos apresentou o guia da Valeverde Turismo que nos acompanharia por todos os eventos na cidade, Guilherme Martins. Muito mais que um guia, ele logo nos revelou seus dons de cantor entoando uma canção em homenagem à Senhora de Nazaré.

                                                   (Fafá de Belém cantando Vós Sois O Lírio Mimoso)

E ali mesmo no ônibus começou nossa imersão na cultura paraense pela história da imagem
de Nossa Senhora de Nazaré. O pequeno ícone foi achado em 1700 pelo caboclo Plácido no local onde hoje se ergue a Basílica. Conta-se que o caboclo levou a imagem para sua casa e no dia seguinte ela havia desaparecido. Voltando ao lugar onde a encontrara, lá estava a imagem. Recolhida novamente em sua casa tornou a desaparecer e a reaparecer no local original, repetindo-se o fato por diversas vezes até que foi ali construída uma capela. Posteriormente a capela deu lugar a uma igreja que,por sua vez, foi substituída no início do século 20 pela atual basílica.

Fomos ainda apresentados à história do Círio de Nazaré e da corda que puxa a Berlinda que carrega a imagem: durante a procissão de 1855 o carro ficou atolado devido a uma forte chuva; arranjou-se uma grande corda e os fiéis puxaram a Berlinda; posteriormente a corda foi
incorporada às festividades como um elo entre os fiéis e Nossa Senhora de Nazaré.

Neste ano a corda confeccionada em Santa Catarina chegou em Belém no dia 24 de setembro. Confeccionada de sisal, ela tem oitocentos metros e um diâmetro de cinco centímetros, e será dividida em dois pedaços de quatrocentos metros:um deles será usado na Trasladação e a outra metade na grande romaria do domingo, dia 12 de outubro. A festa ocorre no segundo domingo de outubro, que neste ano coincide com a outra grande festa católica de Nossa Senhora Aparecida.
Tour virtual pela basílica
(Atenção: para entrar na basílica e
posteriormente para entrar em
 qualquer área, clique no Sn)
E quando entramos na belíssima Basílica a luz do sol ainda invadia os vitrais franceses que circundam a parte alta do templo colorindo todo o recinto com aquele ar místico que envolve os fiéis em profunda imersão, e pouco a pouco foi se apagando, e já assistimos à missa à luz das lâmpadas, que não menos embelezava nossos olhos de admiração. Mais uma vez comprovando a"importância do nosso Encontro para o povo paraense", a missa foi transmitida pela TV Nazaré. Por televisores postados ao longo da igreja podíamos acompanhar as imagens que eram levadas aos fiéis distantes. Antes do início do rito uma senhora leu uma interminável lista de nomes e dedicações daquela missa, entre eles o nosso grupo easista, atestando a enorme dedicação do povo paraense a sua Virgem de Nazaré. 


Finda a missa dirigimo-nos ao Alfajor Buffet, local onde os anfitriões paraenses nos brindaram com um coquetel e um jantar. Como está se tornando costume, que conclamamos mister seja definitivamente abolido, o grupo de Juiz de Fora faltou a esse evento de abertura, com a ilustre exceção do Alfredo e esposa, Marina. De inusitado, a atitude do Edgard quando nos vimos na necessidade de atravessar uma rua sem sinal e faixa para pedestres: ele postou-se à frente de um ônibus, parando-o, e atravessamos a rua à frente dos carros espantados.

E a noite correu ligeira e agradável embalada pela música do Geraldo Braga, amigo do Nonato, ou seria melhor dizer, Geraldo Braga e Seus Teclados, que dedilhava e cantava músicas que nos faziam recordar momentos passados, e sem faltar a presença de artistas do nosso grupo como a Dita e o Chicão, casal de anfitriões paraenses que nos encantou: ela com sua bela voz, ele com a irreverência autêntica de exímio repentista com uma burlesca paródia da música Chico Mariê, satirizando a nossa seleção de futebol:

Desabafo de um Torcedor
                         F Sales (Chicão)
(Refrão)
Não sei o que dizer        
Não sei o que pensar
Mas essa copa do mundo
Dessa vez foi de amargar
Mas essa copa do mundo
Dessa vez foi de amargar

Eu não sei se tenho pena
Ou raiva do Felipão
Mas eu sei que o time dele
É um monte de bundão

Não se faz uma omelete
Sem ter os ovos na mão
E com um grupo de vedetes
Não se faz a seleção

Faltou raça faltou peito
Faltou garra faltou jeito
Lá na p...onte que partiu

Até pra bater os pênaltis
Foi aquela confusão
Tinha nêgo que chorava e dizia
Eu sou um ...bobão

Eu só gostei do goleiro
Que teve boa conduta
Mas teve por companheiro
Um bando de filhos da ...fruta

Sete a um pra Alemanha
Que não teve nem trabalho
Vão ser ruim desta maneira
Lá na casa do ... Barbalho

Se ferrou (com) a Holanda
Não ficou nem em terceiro
Três a zero e mais um baile
E um chute no traseiro.





E o jantar foi uma perfeita introdução à gastronomia paraense: camarão ao creme de pupunha, peixe ao tucupi, filé ao molho,mousse de bacuri, nuvem de cupuaçu.

O cansaço venceu-nos e fomos em busca dos lençóis, mas alguns ainda ouviram o Edgard entoar "Canzone Per Te", música italiana de Sérgio Endrigo que nos anos 60 venceu o festival de San Remo com interpretação de Roberto Carlos. Ele, o Edgard, ainda não revelara ao grupo os seus males, mas alguns que deles sabiam pensaram que ele o fazia como sua canção do cisne, mas como ele mesmo o negou,quero usar os versos abaixo da canção como uma promessa de estarmos juntos outras vezes:

"Perché giurare che sarà l'ultima volta
Il cuore non ti crederà"

(em tradução livre)
Porque se jurar que será a última vez
O coração não acreditará.)


Sábado, 20 de setembro.

O café-da-manhã já nos trouxe o atrasado grupo de Juiz de Fora ao nosso meio, além da presença do saudoso Marquinhos estampada no sorriso de etérea simpatia da Liana. Às dez horas, na verdade nem tão pontualmente assim, subimos novamente no ônibus que nos levaria para as docas, onde embarcaríamos para um passeio à ilha de Serituba. Também chegaram,vindos de Fortaleza, raios de juventude a fazerem mais resplandecentes as cãs, um filho do Alfredo e Marina. Neste encontro um bom número de novos amigos foram incorporados ao grupo, enriquecendo a diversão e a amizade.

Descemos nas docas, um belíssimo espaço onde antigos armazéns foram transformados em lojas e restaurantes,e com a excelente cervejaria Amazon Beer, que produz sua cerveja ali mesmo no local. Mas tudo isto só desfrutaríamos posteriormente, naquele momento tivemos que fazer, sob o sol do equador,que não se preocupou em mostrar gentilezas aos seus ilustres visitantes, uma fila para entrarmos no barco.

Mas eis-nos dentro do barco, finalmente à sombra, deslizando pelas águas da Baía do Guajará, vendo Belém se afastar vagarosamente.

Belém, vista a partir da Baía do Guajará

Por aquelas águas, durante as comemorações do Círio, centenas de embarcações acompanham o barco que conduz Nossa Senhora de Nazaré até o porto de Belém, em um percurso de aproximadamente cinco horas. Para informação aos incautos que queiram participar, os bilhetes para a procissão fluvial, embora ao preço de duzentos e sessenta reais, há muito já estão esgotados.


Mas fiquemos com o nosso grupo que faz uma romaria pela cultura paraense sob a regência da guia Ana Cristina, uma genuína viúva negra, em confissão dela própria, que enterrou cinco maridos. Só não entendi como conseguiu amarrar o sexto sob tal ameaça segura de morte. E o barco ia correndo pelas águas tranquilas da baía enquanto assistíamos a um show de músicas e danças paraenses apresentado pelo grupo Tribo dos Kayapós. Os ricos e sensuais ritmos do Norte, Carimbó, Lundu Marajoara, Marujadas de Bragança, entre outros, balançavam o barco nos pés do casal de bailarinos, que se apresentavam com vestimentas típicas.

Houve um momento em que o guia do nosso grupo, o Guilherme, contou a todos os turistas marinheiros de água-doce, sobre nossa história, desde o momento inicial em que o Rafael e o Nonato se puseram a nos caçar pelo mundo. E falou de tal maneira simpática e cativante, falando da amizade que nos une, e que muito além da amizade era uma fidedigna questão de amor, que olhando-se ao redor via-se diversos rostos transfigurados em emoção, as lágrimas correndo soltas. Ao meu lado, a Liana derretia-se.

  E fomos ainda apresentados a algumas das 39 ilhas que vivem sua exuberância amazônica entre as águas da baía, com nomes indígenas e curiosos: Jutuba, Cotijuba, Paquetá-Açu, Arapiranga... Ilhas cobertas de árvores, entrecortadas pelas casas dos caboclos, que do açaí abundante fazem sua principal fonte de energia, consumindo-o misturado à farinha de mandioca, sem açúcar, pois este dizem estragá-lo, acompanhado de peixe. E navegando pela baía podíamos apreciar diversos ribeirinhos com suas canoas, até mesmo crianças pequenas, que nos saudavam, sozinhas em suas pirogas naquelas águas imensas.

Apesar dos momentos em que foi necessário chamar a atenção dos afoitos turistas que acorriam precipitadamente para o mesmo lado do barco, levando perigo para seu equilíbrio, chegamos ao píer onde desembarcamos. Uma caminhada pelas margens do rio e da floresta levou-nos até a praia de Sirituba, não sem alguns danos, pois nossa amiga Cibele, esposa do Tião Coelho, sofreu uma queda e machucou o pé, o que lhe deu como companheiras duas muletas pelo resto do Encontro. Poucos se aventuraram pelo rio, pois a fome era mais importante a cuidar. Almoçamos de maneira despojada e a cerveja correu ligeira pelas mesas para amenizar o calor.

Voltamos ao barco, a maré havia baixado, o que deu às mulheres uma nova oportunidade para experimentarem uma nova aventura: enfrentar a tosca escada para descer a bordo, que felizmente todas venceram com espírito esportivo. O barco retornou a Belém já não com o mesmo brilho da ida, mas com muita música, até demais para alguns mais sensíveis ao som muito alto.

À noite pudemos apreciar a Estação das Docas. Na Amazon Beer provamos a cerveja Stout Açaí, cerveja escura de alto teor alcoólico, vencedora do Festival Brasileiro da Cerveja deste ano como a melhor cerveja artesanal do Brasil, bem como a Forest Bacuri, mais leve, grande preferida do público feminino. Fizemos ainda uma viagem gastronômica no Spazzio Verdi onde o Pato a Tucupi estava delicioso. E por fim não pode faltar o sorvete de frutas típicas.

O cansaço era o nosso fiel companheiro na volta ao hotel para uma noite de sono, pois o dia seguinte também prometia muitas descobertas.


Domingo, 21 de setembro.

O atraso no embarque do dia começou agitado, pois um casal do grupo ficou preso no elevador do hotel. Após alguns minutos de ansiedade foram resgatados sem nenhum dano aparente.
Saímos novamente de Belém em direção à terra de Antônio Araújo Bessa, o Padre Bessa, o único exemplar dos easistas que se ordenou. Grande amigo do Seoldo, este fez questão de ir conhecer o lugar onde o Bessa nasceu,a Vila de São Jorge, naqueles tempos conhecida como Dezoito (neste blog existe um texto do Seoldo homenageando o amigo, ver em http://encontristasdaeaso.blogspot.com.br/search?q=bessa).

Uma vila pequena no interior do Pará: para nós, vindos de tão longe, uma quase surpresa em encontrar gente morando perdida em tais paragens. Conhecemos a igreja onde o Padre Bessa foi vigário, a casa paroquial e um seu sobrinho. Ali na igreja foram feitas as homenagens ao amigo que se foi tão cedo, menos de dois anos após sua ordenação.


Em frente à casa paroquial um pé de jambo nos atraía como antigamente aos antigos seminaristas famintos de novidades, principalmente as gustativas, mas no atual peso das barrigas nenhum se aventurou a subir nos galhos atrás das suculentas, apenas foram feitas algumas tentativas de catar as frutas puxando os galhos. E voltamos ao ônibus para seguir para o sítio do Nonato, que não ficava muito distante, no município de Santa Maria do Pará.

Maravilha! Chegamos no sítio onde nos sentimos os noivos de uma bela noiva toda de branco. As árvores com seus troncos caiados transpiravam harmonia com o verde fresco das folhas. Relaxante! Acolhedor! Gostoso! Ouvia-se!

  Tapioca! Cuscuz! Sucos! A água fresca também virou iguaria! Linguiça boa apimentada na brasa e coxinha de frango!

Descemos para o que chamam por lá de igarapé, um riacho, onde a corrente foi represada formando uma piscina natural. O sol por entre as folhas das árvores coloria aqueles barrigudos que se juntaram em roda dentro da água para contar piadas. Agora, sem a presença dos coices vigilantes do Pe.Humberto, as piadas já não eram mais tão inocentes.

E tome cerveja! E baciada de caranguejo! E baciada de camarão! Melhor assim, sem falar muito, só interjeições de contentamento! E ainda houve almoço!

E o papo se espalhou em volta das mesas que tomavam a varanda da casa. Um grupo começou a contar as histórias das formações dos casais que lá estavam: como se conheceram, o namoro, o casamento. Confidências que nos fazem cada vez mais amigos ao penetrarmos mais fundo nas intimidades uns dos outros. Depois apareceram redes onde alguns se desligaram de vez, deixando os roncos competirem com a algazarra das conversas. No campeonato em que reservadamente inscrevemosos distintos dorminhocos, o Santana levou a taça com distinção.

Mas chegou a hora de partirmos e voltarmos a Belém. Ainda ganhei como recordação uns beijos de amor de umas lava-pés que deixaram meus pés em fogo.

Neste momento é bom abrir um parêntese para agradecer a acolhida que os paraenses nos deram, em especial ao Nonato e à Nazaré, que nada economizaram para nos propiciarem um Encontro onde a alegria fosse a única lembrança. E não houve economia nem de tempo, nem de lar, nem financeira, nem de gentilezas e carinhos. À Dita e ao Chicão temos a agradecer a alegria, a versatilidade e competência de grandes artistas que são e que nos propiciaram muitos divertidos momentos. Ao Tupi e a Marina pela presença de conhecedores de Belém e pela ajuda que sempre estiveram dispostos a prestar. Muitíssimo obrigado!!!


Segunda-feira, 22 de setembro.

A segunda-feira nos levou a Icoaraci, local de onde partem os barcos na procissão fluvial do Círio e maior centro de produção de cerâmicas das culturas marajoaras, tapajônicas e Maracá. Mas da agitação de tantos barcos que tumultuam a baía naquela data nada se via, somente a placidez das leves ondinhas que corriam pelas águas iluminadas pelo sol dos trópicos, aliás, o nome Icoaraci alguns pretendem que significa "de frente para o sol", enquanto também se ouve dizer "mãe de todas as águas", de qualquer maneira, muita água e muito sol.

Antes de irmos admirar a paisagem da orla fluvial estivemos na olaria do Sr. José Anísio e fomos surpreendidos pela beleza das peças que lá se encontravam em exposição. Os olhos aturdidos por tamanhas belezas ainda ficaram mais estupefatos quando pudemos acompanhar as mãos habilidosas do oleiro a moldar um vaso: daquela massa informe de argila socada e amassada, pouco a pouco tomando forma, ora parecendo que tudo se desmoronava para retomar de imediato uma forma ainda mais elaborada, girando continuamente no mesmo ritmo pela ação dos pés, transformando o giro da roda em anéis que desenhavam a curvilínea forma do vaso, girando... girando...

Enquanto moldava o vaso o oleiro nos contava detalhes de sua vida, sem se descuidar da sua obra, e sabedor da sua valia comentava que na sua terra não lhe davam valor, e se estivesse no hemisfério norte decerto estaria rico. Falou-nos de alguém que tendo plantado em um vaso de plástico reclamou que a planta murchara, e completou com ironia: o que poderia querer de outro se a planta e a terra não podiam respirar como num vaso de barro. E falando de modo tão simples, sem esconder uma sabedoria inata, despertou em todos simpatia e admiração.

Feitas as compras, reencontrada a Fátima, que o Santana perdera e não dava notícia do seu destino, seguimos para a orla do rio que nos aguardava com uma feirinha de mais cerâmicas e outros artefatos, onde ainda se gastou um pouco mais, mas chega de compras. Seguimos pela orla para onde barracas nos espreitavam com os cocos afogados no gelo esperando com avidez. Sentados à sombra, o rio sacudindo levemente as águas e os nossos olhares bamboleantes, a paisagem entrecortada pelas ilhas ao longe, e com o sol desenhando caprichosamente sobre as águas com um pincel feito das sombras das nuvens... ah! que bambeza...

O guia lembrou-se de nos acordar para nos levar para o almoço no restaurante Espaço Verdi, não nas docas, como já havíamos provado, mas na casa matriz, muito maior, onde a variedade de pratos aturdia o desejo de provar tantas belezas que prometiam. O prato para o serviço era enorme, o que já podia causar enganos à capacidade da fome, mas o Seoldo não se fez de cuidados, parava em cada iguaria e acomodava mais um pedaço no prato. Peixes, carnes, camarão, bacalhau, como deixar de provar algum? Resultado: a balança quase não acreditou que tinha de registrar um quilo e meio. Só espero que ele não saia divulgando para os seus amigos americanos que a comida no Brasil é muito cara!



Terça-feira, 23 de setembro.

A terça-feira nos prometera um city-tour por Belém. Saímos novamente no ônibus, conduzido pelo Cláudio como em todos os dias, novamente em direção às docas. Dali, um pouco à frente, fomos ao mercado Ver-o-peso, a maior feira ao ar livre da América Latina.

De um antigo posto de fiscalização, denominado Casa de Haver o Peso, originou-se o nome do mercado, que aliás são muitos: o Mercado de Ferro, o Mercado de Carne, o Mercado de Peixe. Ambiente perfeito para conhecer a diversidade dos produtos que fazem parte da mesa paraense: as frutas pouco conhecidas no sul, tais como o cupuaçu, abricó-do-pará, taperebá, bacuri estão presentes in natura, em sucos e em doces; plantas medicinais para curar do lumbago a um simples mal de amor; camarões de todos os tamanhos e peixes; artesanato e roupas.

Seguimos a orla em direção à Cidade Velha, bairro antigo de Belém, onde a cidade nasceu. Ali visitamos a Catedral da Sé, que apresenta um dos interiores dos mais bonitos que já pude contemplar, onde a arquitetura se harmoniza com as diversas obras de arte e as luzes. Ainda tivemos a alegria de ouvir o enorme e antigo órgão soar uma música.


Tour pela Catedral
Siga às setas para entrar na Catedral e em suas diversas
áreas.
Ali ao lado da catedral visitamos o Forte do Castelo do Senhor Santo Cristo do Presépio de Belém, ou Forte do Presépio, onde se descortina uma maravilhosa vista da baía, tendo em primeiro plano o Mercado de Ferro do Ver-o-Peso.

Mas o nosso tempo com a Valeverde Turismo acabou e fomos levados de volta ao hotel.

Ao cair da tarde dirigimo-nos, eu e a Rose, junto com o Santana e a Fátima, à casa do Nonato, pois, como deixaríamos Belém no dia seguinte, o amabilíssimo casal anfitrião convidou-nos para conhecer sua morada. Lá tivemos a oportunidade de conhecer os seus netos, bem como o filho, também coronel-bombeiro, que ainda não conhecêramos. Trocamos ao redor de uma mesa de lanche as conversas corriqueiras. No caminho de volta ao hotel, o Santana e o Nonato agarraram uma discussão política, onde cada um jogava na ponta extrema, e da qual me abstive, um tanto por não escutar direito por estar no banco de trás, outro tanto por não gostar de assuntos de atiçar marimbondos.

Despedimo-nos, então, do casal que nos propiciou tão agradáveis momentos, agradecendo por todas as gentilezas que nos cumularam durante a nossa estadia. No dia seguinte, enquanto a corda do Círio chegava a Belém, deixamos os amigos e o Val-de-Cans.

E aqui entrego a pena ao Seoldo para continuar a narrativa do VI Encontro.
















 [LA1]Ficou muito bema inserção  do link para o tour virtual pela Catedral

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Programação do VI Encontro da EASO - Belém do Pará


Realização:  19 a 26 de setembro de 2014

Programação do VI Encontro :

Dia 19/09 – Sexta- feira :

- 18:00 horas- Missa - Local, Basílica Santuário NOSSA SENHORA DE NAZARÉ
- 20:00 horas – Apresentação - Local ALFAJOR Buffet (Rua Ferreira Cantão, 451 Bairro da
Campina, em Belém )
- 20:30 horas- Recepção com pequeno coquetel de confraternização, seguido de atividades com
oportunidade para performances individuais e grupais e o que ocorrer ( declamação de poesias,
danças, cantorias, contos de causos e piadas, etc. ).
- 22:00 horas – Jantar ( pratos quentes especiais ).

Dia 20/09 – Sábado :

- 09 as 14 horas – Ilhas e Trilhas.- Passeio pelo exuberante mundo das águas dos furos e florestas
com parada para o almoço (incluso), na Praia de Siritiba.
- O resto do dia livre. Sugerimos o jantar na Estação das Docas, mas antes, a partir das 17:00 horas, um
passeio com um fim de tarde deslumbrante ( Orla ao entardecer)

Dia 21/09 – Domingo:

- 7:00 horas, saída de Belém - Visita à terra do Pe. Bessa, (Vila São Jorge Município de Igarapé-
Açu, PA.)
- 10:00 às 16:00 horas – Recreação e almoço no Sitio “Espírito Santo”, (Município de Santa Maria
de Pará).

Dia 22/09 – Segunda-feira:

- 09:00 ás 14: 00 horas - Visita ao Distrito de Icoarací, maior centro de produção de cerâmica das
culturas Marajoaras, Tapajônicas, e Maracá
- O resto do dia livre.

Dia 23/09 – Terça-feira :

- 09:00 às 13:00 horas - City Tour Cultural, oportunidade de conhecer a cultura, a história, e a arte
de Belém. Passeio com visita aos principais patrimônios históricos-culturais de Belém.
- O resto do dia livre

Dia 24/09 – Quarta-feira :

- 8:30 às 15:30 horas Passeio a Ilha de Mosqueiro, com oportunidade para deliciar-se nas Praias e
tomar banho nas águas da foz do Amazonas com o Mar.

Dia 25/09 Quinta-faira :

- Dia livre. ( Você faz a programação )
- 19:30 horas – Jantar de despedida com a reunião de encerramento – Local a ser determinado

Dia 26/09 : Sexta-feira :

- Despedidas e regresso a seus lares....... Boa viagem !


B- Informações Complementares :
1 - Cada evento terá um custo que será repassado a cada participante :2 - Recepção com jantar : R$ 60,00 por pessoa.
3 - Os passeios com o aluguel de ônibus para Igarapé Açu e Santa Maria e os traslados serão
executados, pela Empresa Valeverde Turismo que fez um pacote ao custo de R$ 11.696,00 ( onze
mil ceis centos e noventa e seis reais) para uma média de 40 participantes, que sai a razão de R$
292,00 por pessoa, por todos os passeios durante a semana. Para os participantes que ficarem
somente por três dias o custo será de R$ 157,00 por pessoa. Estes valores ( Item 2 e 3 )deverão ser
recolhidos no início do evento de sexta-feira no '' ALFAJOR'' bufette.
4 – O local e os custos do Jantar de despedidas ainda não foram definidos o que será informado
oprotunamente.
Outras informações :
Hospedagem :
 1 - Com o propósito de manter todos reunidos em um só lugar, para facilitar os deslocamentos, já
fizemos reservas no Hotel “ Grão Pará”, na Praça da República, local central de Belém, com preço
bem acessível ( R$ 121,50 a diaria de Casal e R$ 101,50 a de Solteiro ), está só na dependência de
cada participante fazer sua confirmação, mas cada participante ficará livre para escolher um hotel
de sua preferência.
2- Aqueles que ainda não confirmaram suas presenças poderão fazer sua reservas diretamente com
o Hotel Grão Pará através do fone : 91 3321-2121 ( Roberta Goulart – Enc. das Reservas ) ou
através de e-mail : www.hotelgraopara.com.br
3 – Para os psseios dos dias : 21, domingo, dia 24, quarta-feira, sugerimos que levem roupas de
banho, para banhos de Igarapés e de Praias,


Comissão Organizadora do Evento:

Francisco Sales de Paula – Fone : 91 23338470
Tupinambá Pedro Paraguassu Amorim da Silva - Fone : 031 3482-4069,
 e-mail : tupyp@terra.com.br
Raimundo Nonato da Costa – Fone 91 3085-2706, cel 91 8124-7279
e-mail : nonatocmt@gmail.co

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Missa para o Marcos Antônio Rocha

Foto e poema para o Marquinho


Após a missa de sétimo dia realizada às dezenove horas do dia 20/05/14, em Belo Horizonte, na Capela do Colégio Santo Antônio, foi distribuída pelos familiares do Marcos uma foto com um poema em seu verso: 






Transcrevemos abaixo o texto do poema:

“A morte não é nada
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era pra vocês,
eu continuarei sendo.

Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
Ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.”

(Sto. Agostinho)












quarta-feira, 14 de maio de 2014

Marcos Antônio Rocha - Luto

NOTA DE FALECIMENTO

É com grande pesar que comunicamos o falecimento de nosso colega Marcos Antônio Rocha, Jornalista, Encontrista da EASO e editor deste Blog,  ocorrido na manhã desta quarta feira (14/05/2014) em Uberaba - MG.
Nós, ex-seminaristas da EASO, estamos de luto pelo grande amigo que se vai e pelo profissional exemplar.
A família comunica que o velório ocorrerá em Belo Horizonte, na manhã de 15/05/2014 (quinta-feira), no Parque da Colina, de onde o féretro sairá às 10  horas para o crematório, onde o corpo de Marcos Rocha será cremado às 10:30 horas.






quinta-feira, 3 de abril de 2014

EASISTAS, VAMOS ATÉ BELÉM!

                   
                                                                               Por Antônio José Ferreira, o Santana

 Revisão: Siovani
 Edição: Lulu Alfenas

Com a mesma mensagem com que os anjos convidaram os pastores para visitar o Menino Jesus, também convidamos os nossos amigos easistas: vamos à Belém!
Motivos não faltam: o nosso VI Encontro e a aprazível cidade que nos espera. E os nossos amigos, Raimundo e Nazaré e Chicão e Dita, depois de tantas vezes que nos visitaram, certamente estão ansiosos para nos receber e ficarão orgulhosos de nos mostrar a sua terra natal, com toda a beleza e cultura que lhe é própria.
Nonato, coordenador geral do Encon-
tro em Belém,  e Nazaré, nossos
 anfitriões.
Belém, a cidade de quase 400 anos de história, rica em museus, igrejas e monumentos. Belém, da Cidade Velha, do mercado Ver o Peso e do Círio de Nazaré. Belém é tudo isso e muito mais: dos temperos típicos e da comida gostosa, como o pato no tucupi, o tacacá e os mais variados tipos de peixes. E o que dizer das deliciosas frutas tropicais: o açaí, o cupuaçu e outras que conhecemos apenas de ouvir falar: bacuri, pupunha, tucumã, muruci, piquiá e taperebá.
A Comissão Organizadora, tendo à frente o anfitrião Raimundo Nonato, já bateu o martelo e o VI Encontro foi marcado para Belém, no período de 19 a 26 de setembro de 2014. Resumidamente, eis como ficaram definidos o encontro e algumas de suas programações:
Dita e Chicão, nossos anfitriões em
Belém
- O Encontro ficou marcado para o período de 19 a 26 de setembro, da seguinte maneira:
        -  os dias 19, 20, 21, 22 e 23, considerados o núcleo do encontro, terão uma programação prevista somente para a cidade de Belém, findo o qual, os participantes que não quiserem ou não puderem ficar até o dia 26, poderão retornar a seus lares.
        -  Nos dias 24, 25 e 26,  os que ficarem poderão optar por um passeio para a Ilha do Marajó (dias 24 e 25 ) ou irem visitar o túmulo do nosso querido irmão Pe. Bessa, seguido de passeio, no resto do dia, no Sítio do Espírito, onde poderemos ficar “in off” e voltarmos aos velhos tempos, podendo brincar uma pelada , tomar banho no açude ( Igarapé ) e outras pequenas aventuras.
        -  Na noite do dia 25 faremos o encontro de despedidas e prestação de contas
        -  No dia 26, regresso para os lares.

 - Informamos que apresentaremos a programação completa no mês de julho ou agosto, isto porque, precisamos saber o número mais aproximado de participantes para poder tomar algumas decisões.
 - Fica descartada a hipótese de contratação de uma empresa de turismo para providenciar a viagem de avião, portanto sugerimos que cada qual providencie sua própria passagem, marcando para chegar a Belém, no mais tardar, no dia 19 de setembro, todavia nada impede que se possa chegar antes.
 - Quanto às hospedagens em hotéis, a confirmação também ficará para julho ou agosto. Para terem uma ideia, o valor das diárias poderá variar de R$ 180,00 a R$ 280,00. Isto vai depender de encontrar um hotel que possa abrigar todos juntos ou mais de um hotel, desde que se formem grupos com maior número de participantes para se obter algum desconto. Preparem seus bolsos, não só para isso, mas também para tomar açaí com pirarucu frito e farinha d´água no Ver-o-Peso ou tomar bastante tacacá.
- Queremos ter certeza de quantos irão, por isso solicitamos a sua confirmação.

 Então, meus amigos, o tempo urge. Como no ditado: “quem chega primeiro, bebe água limpa”, o nosso é: “quem decide primeiro, paga mais barato”. Assim, vejam o que disse o Luiz Alfenas (Lulu), o editor-chefe de nosso blog, um dos primeiros a garantir a sua passagem: “... comprando agora, podemos achar passagens a preço de banana (eu encontrei passagens de ida e volta por 240 reais, todavia paguei 283 reais porque preferi comprar em loja ...)”. Convenhamos ... foi uma verdadeira pechincha!
É bem verdade que isso foi há quase dois meses. Mas hoje, 04/04/2014, existe uma oferta na edestinos.com.br por R$210,00 mais taxas, o que totalizará cerca de R$300,00.

Lua e Shirley fazem parte da
coordenação do Encontro em Belém.
Para incentivar o nosso grupo e também divulgar a outros easistas, dos quais não temos endereços nem e-mails, resolvemos fazer esta postagem com as informações da programação do nosso VI ENCONTRO EASO em Belém. Outros dos objetivos desta comunicação são estar sempre atualizando as informações do Encontro e dando notícias daqueles que já compraram as passagens ou daqueles que ainda não reservaram voos, mas já confirmaram a sua decisão de ir; e inclusive as informações de hospedagem, quando já as tivermos. Também quem tiver conseguido uma boa promoção poderá informar, por meio de comentários, no final da postagem. Uma informação dessas pode ser muito útil para quem ainda não tenha feito reservas.
Assim, segundo informação do Nonato, aqueles que já compraram passagens são: Lulu e Maria José; Edgard e Cátia; Antônio José (Santana) e Fátima e mais duas acompanhantes (Camila e Maria das Graças, respectivamente, filha e irmã do Santana); Rosalino e a esposa, Leandra; Geraldo (José Geraldo) e Esposa; Siovani e Rosimere.
Tupy é um dos elos entre Minas e
Belém na organização do Encontro.
Também outros já confirmaram presença, apesar de ainda não terem confirmado se já compraram passagem, como: Rafael e Leida, Tião Coelho e Cibele, Tupy e Marina, Walter Caetano e Shirley e também o Benone.
Posteriormente, o Lulu me informou que o Caio Milagres e sua esposa, Maria Auxiliadora, também já reservaram passagens. Um easista que nunca participou de nossos encontros comunicou-me, por telefone, que desta vez irá: o Antônio Ramos de Lima (Antonião) que vai levar também a sua namorada, Maria Lúcia. 
Desta forma, contando com os casais residentes em Belém, nós já temos 31 pessoas confirmadas para o nosso VI Encontro. Tudo indica que teremos um recorde de participações.
A Coordenação do Encontro pretende negociar reservas em algum hotel que nos ofereça desconto no preço. Detalhes serão fornecidos em data mais próxima do evento. Para isso é necessário que aqueles que ainda não confirmaram a presença, façam-no enviando um e-mail para o Nonato.

ATENÇÃO: CONFIRME ABAIXO SUA IDA À BELÉM. POSTE UMA MENSAGEM INFORMANDO SOBRE SUA INTENÇÃO DE IR. COLOQUE SUAS DÚVIDAS. VOCÊ PERGUNTA, E OS COORDENADORES RESPONDEM PRONTAMENTE. DIGA O QUE VOCÊ GOSTARIA DE VER EM BELÉM. AJUDE-NOS A TORNAR O VI ENCONTRO INESQUECÍVEL. 

sábado, 15 de março de 2014

CORNÉLiO VON VROONHOVEN


Por Seoldo

Nasc.  11/08/1924
Votos     28/08/1944          
Ordenação: 26/07/1949
Falecimento: 2013



À ESQUERDA DA CRUZ, DA JANELA DO MEU QUARTO
COM SORRISO LARGO DIZIA: “I LOVE YOU” CAMPO BELO
FALANDO INGLÊS/PORTUGUÊS/HOLANDÊS, AGORA PARTO
TOCANDO/CANTANDO FELIZ NO ETERNO CASTELO

Nota: estas são minhas memorias, cheias de imaginações, porem não mentiras, do Padre Cornélio com quem  convivi 6 anos em Campo Belo nos fins de 1950 e início de 1960. Não tenho muito mais conhecimento sobre sua trajetória e atuação fora  desse contexto. Fica a oportunidade para quem sabe mais sobre ele.



Era responsável pela banda de
desfile do Dom Cabral...
O crúzio, Pe. Cornélio v. Vroonhoven, além das funções de sacerdote, era professor de inglês do antigo Ginásio Dom Cabral (hoje: Colégio Dom Cabral) e, também, ajudava no funcionamento da EASO (Escola Apostólica Santa Odília) nas décadas de 1950-60... Era considerado muito culto sobretudo em literatura e música. Também era responsável pela banda de desfile do Dom Cabral na eterna disputa com o

Muitas vezes ia com os seminaristas nadar na inesquecível
Praça de Esportes de Campo Belo...
Colégio Armstrong nas festas/paradas cívicas em Campo Belo. Para ele o ritmo tinha que ser perfeito! Ficava vermelhão como um peru quando alguém dava uma 'mancada/manota'...  Gostava de andar de lambreta (tinha um problema na coluna devido a um acidente). Fumava com classe, soltando a fumaça do Continental por um lado só da boca... Muitas vezes ia com os seminaristas nadar na inesquecível Praça de Esportes de Campo Belo, onde dava suas demonstrações em técnicas de natação. Parece que torcia mais pelo Comercial do que pelo Sparta. Por fim, dizia-se  que ele era descendente de família de  'sangue azul'.

Gostava de ficar na janela do seu quarto, no segundo andar, apreciando os jogos (sobretudo as 'peladas') dos seminaristas no campo de terra em frente do prédio (hoje  um estacionamento asfaltado). E como se esforçava para criticar e dar palpites!!!
“Chuta esta bola pra frente, biscoiteiro Ázara!”
“Mais pontaria, Marquinhos... passou raspando!”
“Eta Nonato pra reclamar!!!”
“O Chicão também só fica chorando...”
“Olhe só a botinada do Carraro!”
“O chute do Bessa foi parar la no Brasil Vilela!!!”
“Que Benone desbocado. Pare de fungar o nariz,Benone!”
“Coitado do Santana! Ainda não viu o cheiro da bola!!!”(Santana era um 'menor' emprestado)
“O Rosalino só fica avacalhando o jogo!”
“Zé Aureliano não sai do lugar. Eta preguiça!!!”
“Pare de ciscar/piscar, Tião Coelho!”
“Puxa! Que goleiro frangueiro este Pandeló!!!”
“O João Henrique só fica na banheira. Um verdadeiro parasita!!!”
“Alfredo passou a bola no meio das pernas do Zé Geraldo. Que vergonha!!!”
“O Canhão só dá bicuda torta!!!”
“O Seoldo eh um verdadeiro craque de cabeça!!!”
“Olha só a 'folha seca' do Reginaldo... mas foi pra  fora!!!”
“Que empurrão feio, Rafael! Expulsem o Rafael!!!”


….............................. e por ai continuava sua ladainha. Parava para beber um gole de água, mas seguia atento. Às vezes ficava chateado porque os menores (Lulu, Rogério, Chiquinho, Aloísio, Pigmeu, Edgar, Quadrado, Max, Edmundo, etc...) os quais ficavam na beira do campo para buscar a bola que, de vez em quando, caia no mato ou nas ribanceiras, quase sempre, de propósito, demoravam a devolver a bola para continuar o jogo. Nessa altura,  Padre.Cornélio até berrava babando: “Mais depressa, cambada de Cata Piolhos... Parece que estão com fome!!!”---- Sua presença, lá na janela, estimulava mais a turma de maneira que cada um se esforçava e suava mais e mais para fazer bonito e ser lisonjeado por ele. Só dois grupos não apreciavam seu passa-tempo: o dos 'Menores' acima citado, e os padres cujos quartos ficavam na vizinhança. Uma vez, um padre (parece ser o Justino) gritou para ele: 'Potvordoma, Cor', cale a boca, poxa! Não está vendo que é hora da bendita sesta!!! Também presenciamos com nossos próprios olhos alguns dos 'Menores', escondidamente, dar 'bananas' para ele... o que não deixava de ser um pecadinho naquela época.

Padre Cornélio, só pra comparar a goma da batina.
Padre Cornélio era o que tinha a batina mais bem engomada e os sapatos mais bem engraxados... (o Bessa seguia o exemplo dele). Gostava de andar na linha sem ser vaidoso. Talvez tradição da nobreza. Seu olhar, às vezes, era fulminante/faiscante como o de uma serpente/cascavel (na linguagem do Siovani) e suas gargalhadas 'intempestivas' (na linguagem do Santana) quando ouvia as piadas do Padre Humberto na subida da rampa... Ainda lembro-me bem daquela velha piada em que Padre Humberto (escoiçando/cutucando) contou bem alto, em português, no pé da rampa...: ---”Um granfino da cidade de Juiz de Fora perguntou a um matuto do município de Cristais: Você é feio assim mesmo ou tá chupando limão?  Ao que o biscoiteiro matuto respondeu sem demora: “To ti remedanu”.   É uma piada velha para os tempos de hoje pois agora temos  novas variedades de limão (até limão mel), novos dentes na boca e, presentemente somos  FEIOS mesmo de verdade  sem precisar chupar nada....Espero que o Padre Cornélio emende com outra gargalhada...

Padre Cornélio tinha os cabelos anelados/ondulados da metade para  trás, dando-lhe um ar/aparência de artista medieval ou mesmo de  compositor da era do Romantismo.  Quando estava alegre, murmurava como tenor a Valsa do Lago dos Cisnes... Quando estava menos alegre, cantava baixinho, como barítono, o Danúbio Azul em alemão.

Agora que ele faça o possível para os que ainda estão aqui e que descanse em paz com toda a turma da EASO, presenciando o jogo que não tem mais bola no mato e cantando/tocando juntos o Luar do Sertão.

ADEUS PADRE CORNÉLIO DE SORRISO LARGO
QUE OUÇA EM SILÊNCIO A ETERNA CANCÃO
“DOMINUS VOBISCUM” SEM VINHO AMARGO
ADEUS, PADRE CORNÉLIO, VELHO NOBRE IRMÃO!


segunda-feira, 3 de março de 2014

O Meu Amigo da América

O Meu Amigo da América


por Siovani

I

No silêncio da noite cruzou o rastro negro de uma sombra que falava entre dentes: quem não tem memória própria se vale e capenga com a memória alheia. E gargalhava, e repetia aquilo incessantemente. Um espírito incorporado em um facho de luz projetava nas faldas da montanha um atropelo de imagens acumuladas por um século.

Um raio de luz brilhou na profunda noite e o espectro de Black Elk desceu a encosta de pedra até o leito seco do rio, expulsando as brumas dos maus espíritos. Sentando-se, cerimoniosamente acendeu o sagrado cachimbo da sua tribo. Antes de fumarmos, saudou os quatro ventos: uma longa reverência para o Norte, outra ao Leste, girando mais um quarto reverenciou o Sul, mais outro quarto, o Oeste, e retornando ao Norte disse: "Esses quatro espíritos, afinal, são apenas um, e esta pena de águia é para este Um, que é como um pai, e é também para os pensamentos dos homens, que devem se elevar tão alto quanto as águias o fazem." Assim falou Black Elk e deixou-se em silêncio.



O espírito do velho xamã, tomando-me as mãos, levou-me em uma viagem alucinada para as areias do deserto. Sem dizer nada mais deixou-me, esgotado e aflito ao lado de uma cascavel, que chocalhava com persistente ameaça. Dos olhos da serpente, que me fitavam em fogo, partiram dois fachos de luz, que, chocando-se violentamente contra o meu peito, projetaram-me como uma flecha sob os frágeis raios do sol que surgia. Como o avião que se lançava contra o carro de Daria naquela estrada infinita que atravessava o deserto em Zabriskie Point, voei também sobre a facha branca que dividia a estrada sem carro e sem Daria. Caí no meio daquela imensidão com a garganta árida, procurando nas quatro direções o vento que me aliviaria, mas o único murmúrio era o crepitar da areia. Depois, nada mais que o negrume da inconsciência.

Acordei com o insistente barulho de cascos de cavalos a galope. Minha primeira visão foram os gigantes de pedra que se erguiam na paisagem silenciosa pela janela da diligência que
cruzava o Monument Valley. Sentado no chão de madeira, Ringo Kid olhava-me com um leve sorriso de zombaria nos lábios, um sorriso que me lembrava John Wayne sacolejando em Stagecoach. O tropel dos cavalos se intensificou quando o bando de apaches de Gerônimo perseguiu a diligência, e, súbito, uma dor atroz jogou-me para fora entre as patas dos cavalos índios disparados: uma flecha apache atravessara-me o ombro.

Os roncos de duas motocicletas acharam-me perdido na estrada ao pôr do sol. Perguntaram-me de onde vinha, eu só pude responder: é difícil dizê-lo, acho que meu povo está enterrado sob a terra em vossos pés. Montei na garupa de Peter Fonda e viajamos Sem Destino até o tombar da noite, quando paramos e iniciamos uma outra viagem de vertigens. Ao raiar do sol estava sozinho novamente nas Chiricahua Mountains.

Estava agora vagando na teia de Broken Arrow assistindo a cerimônia apache de casamento. O xamã faz uma incisão na mão esquerda de Sonseeahray e na direita de Jeffords, une as duas feridas com um laço: "Não haverá mais chuva para vocês, pois serão o abrigo um do outro; não haverá mais frio, pois darão calor um ao outro; não haverá mais solidão, nunca mais haverá solidão, são dois corpos, mas neles corre um mesmo sangue. Vão, guiem os seus cavalos brancos para seu lugar sagrado de amor."

Quando a consciência recobrou-me o controle, nada mais me dizia se tudo aquilo acontecera ou se havia sido o delírio de uma mente sem memória, mas em minha mão repousava uma pena de águia.




II


Quando eu era criança pequena lá em Miracema, ouvia falar daquela terra que ficava logo ali, além da divisa, embora nem imaginasse o que fosse a tal divisa. E aquela terra que ficava a um beiço dali, chamavam simplesmente de Minas. Via o ônibus passar por ali, bem na frente de casa, levando pessoas que queriam ir para aquelas Minas: para Palma, Laranjal, Leopoldina e Cataguases, itinerário do ônibus, cidades, que logo aprendi, ficavam do outro lado da divisa.

E foram muitos os ônibus que cruzaram aquelas ruas empoeiradas antes que um dia eu também pegasse aquela estrada para adentrar Minas, para cruzar o coração daquela terra desconhecida e aprender, na prática, que aquilo que eu já então via nos mapas era muito mais longe que a imaginação. E lá bem longe, cruzando dos pés ao peito de Minas, léguas perdidas de tempo e estrada, cheguei em Campo Belo.

Em Campo Belo eu aprendi que eu era um papa-goiaba, para a minha não surpresa, pois me era algo muito natural, já que crescera no meio de um quintal infestado por goiabeiras de todos os tipos, de goiabas doces e suculentas, goiabas-pera, goiabas brancas, goiabas vermelhas, que lá pelas Minas só existiam em arremedo, bichadas, areentas e sem sabor. Goiabas que jogávamos nos tachos duas a três vezes por semana, no verão, para ficar fugindo dos espirros que queimavam como brasa até que o caldo grosso virasse a massa de saborosa goiabada, que hoje em dia, saudoso, procuro sem encontrar o sabor.

E lá naquela terra tão perto de Minas, e tão longe devido a minha condição de criança, ainda ouvia que lá em Minas também existia uma cidade de doidos, chamada Barbacena, para onde os doidos de cá eram levados, e para lá nos ameaçavam levar quando fazíamos alguma doideira! E corria pelas bocas satisfeitas do bom dito que o lugar não era para os mineiros, pois "mineiro não fica doido, piora!"

Naquelas viagens, no espaço entre dois ônibus, parava em Leopoldina para almoçar, e foi lá que conheci um ser estranho, estranho para mim, pois muito comum naquelas paragens, um mineiro. Algo havia de ameaçador naquele epíteto, pois ouvia falar de um tal Mineirinho, bandido famoso que aterrorizava o Rio de Janeiro naqueles tempos. Mas esse mineiro que conheci não metia medo, do alto do seu sorriso franco e gozador mais parecia o Mineirinho do Ziraldo, o Comequieto!

Dizem que criança quando cresce é como passarinho, tem que voar para outras paragens para construir o seu ninho, mas esse mineiro, da inusitada alcunha Geraldo Seoldo, não era um simples passarinho, era uma ave migratória de asas potentes, sem medo da Águia, que não se contentou com sua terra para tecer o seu berço e foi arribar em terras longínquas. Para não deixar a saudade bater com muita força, deixa as montanhas para trás e nidifica nas areias de um deserto, onde sua mineirice dá faniquitos de saudades de quando em quando e arremete-o nas lembranças:

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.
(Cidadezinha Qualquer - Carlos Drummond de Andrade).


Há momentos em que penso que ele foi atraído por aquela vastidão de areia porque a sua alma mineira chorava de solidão pela ausência do mar, e aquela praia sem fim refletia a miragem do seu sonho. Por outro lado, em outros momentos, penso ter sido um ato de extrema sabedoria, pois "a única verdadeira sabedoria vive longe da espécie humana, lá fora, na grande vastidão, e só pode ser atingida através do sofrimento; só a privação e o sofrimento abrem o entendimento para tudo o mais que se esconde" (Igjugarjuk - xamã de uma tribo esquimó caribou - citado por Joseph Campbell em O Poder do Mito).

Mas não há águia que possa carregar em suas asas a saudade de um mineiro, as lembranças a ativam e o trazem de volta para sua gente perdida entre as serras das Gerais. Aqui encontra seus antigos camaradas num abraçar único de cinquenta anos de ausência, pois:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
...

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele. (Alberto Caeiro)

III

- Mas por que você diz que não te querem lá?

- Porque eles exigem que eu lhes peça autorização para lá entrar, e põem empecilhos para minha viagem, prefiro ir para lugares que nada me exigem.

Foi em uma conversa assim que a Judite, esposa do Mineirinho, agarrada lá naquelas terras com laço de sangue, tentava quebrar a minha arredia intolerância em visitar a terra da águia. E também faltava livrar-me do pavor que aquele dinheiro miúdo deles transmite com aquele olho escancarado que tudo vê e tudo vigia.

O tempo foi cuidando de quebrar as barreiras, até que em uma conversa pelo Skype ruíram todas as objeções. Mineiro adotado que sou, piorei! Já atiçado pelas memórias das fitas americanas que mostravam aquelas paisagens estonteantes, concordei em irmos a Tucson, eu e a Rose. Já estamos preparando a mala para partir no dia 09 de abril e permanecer com Seoldo e Judite por dez dias da primavera.

Se tiverem algum mimo que possamos levar para o casal, façam-no chegar até aqui, desde que não seja um queijo minas, pois a imigração decerto o localizaria pelo cheiro sem mesmo abrir a mala, e que não seja muito pesado, pois minhas costas precisam ser preservadas para a longa viagem.


***


Obras citadas neste texto (em ordem de citação):

1. Black Elk Speaks – livro de 1932 do poeta e escritor americano John G. Neihardt, que narra a história e a espiritualidade de Black Elk, um curandeiro da tribo Oglala Lakota (Sioux).

2. Zabriskie Point – filme de 1970, dirigido por Michelangelo Antonioni.

3. Stagecoach – no Brasil, No Tempo das Diligências – filme de 1939, dirigido por John Ford, com John Waine interpretando Ringo Kid.

4. Easy Rider – no Brasil, Sem Destino – filme de 1969, dirigido por Dennis Hopper, com Peter Fonda, Dennis Hopper e Jack Nicholson.

5. Broken Arrow – no Brasil, Flechas de Fogo – filme de 1950, dirigido por Delmer Daves, com James Stewart e Jeff Chandler.

6. Mineirinho, o Comequieto – personagem de cartuns de Ziraldo, publicado originalmente na revista O Cruzeiro.

7. Cidadezinha Qualquer – poema de Carlos Drummond de Andrade, do livro Alguma poesia de 1930.

8. The Power of Myth – no Brasil, O Poder do Mito – livro de 1988 que transcreve entrevista entre Bill Moyers e Joseph Campbell.

9. O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia – poema de Fernando Pessoa, publicado pelo seu heterônimo Alberto Caeiro em O Guardador de Rebanhos.