quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Para apresentar a Senhora Dona Menina


Lisboa            

Por Siovani 


Quer tenha sido nas salas do Colégio Dom Cabral, ou mesmo antes, nas salas mais crianças do primário, o menino se revoltava com tantos nomes e datas que lhe cobravam saber. Se as naves de Cabral, sem lemes, fizeram uma travessia de quinhentos anos, a minha viagem, há pouco iniciada, também seguiria o rumo do vento. E os personagens navegavam sobre uma fina tela tecida de grãos de poeira efêmera: eram reis e governadores, eram senhores das capitanias ou escravos heróis, eram holandeses invadindo e holandeses expulsos, eram Cabanadas, Sabinadas, inconfidentes, e o intrépido Arariboia, que lutou com os franceses, atravessou a baía e criou Niterói. Uma salada que se comia crua para fazer uma prova e que no dia seguinte se esvaía pelas latrinas. Depois, a cabeça leve novamente já nada guardava dos episódios, até que outra prova fizesse tudo se acotovelar novamente nos dois neurônios que se precisava usar. E era assim que a história funcionava, tal qual o enredo da escola de samba que o Ponte Preta criou.



 Foram necessários alguns anos de amadurecimento para o menino perceber que deveria ter aprendido a cortar a salada mantendo os ingredientes separados, deixando para juntá-los quando o molho estivesse pronto para ser devidamente apreciado. E o sabor da história foi se tornando cada vez mais necessário enquanto ele estudava a matemática e a engenharia. Forçado a dele se afastar, mais sua fome se fazia sentir.

E começaram as fugas para o passado na história, lida sempre como se fosse um romance. Como aperitivo, a nossa história: em alguns momentos, uns tantos vilipêndios, que a minha cara esquerda aplaudia no ranço deixado pela ditadura; em outros momentos, Gilberto Freire, Celso Furtado, Hélio Silva, a descoberta de um outro país. Depois, nos livros de Michelet, o encontro de enredos muito mais excitantes do que a ficção pode inventar, e desses, retirar a gana para aprender o francês lendo livros de história da França: Clóvis, Carlos Magno, Joana D´Arc, Luís XIV, a Revolução, Bonaparte, a Comuna, a humilhação infligida aos alemães que permitiu erigir um monstro que ameaçou a Europa.    

E um dia você se surpreende na margem do Tejo. A Torre de Belém, agora não mais uma ilha, se ergue a sua frente como um colosso feito da matéria do tempo. Do seu topo, Dom Henrique vigia a boca do rio que se abre para o Atlântico de tantas conquistas. Ao seu lado você vê passar o Vasco da Gama carregando o globo terrestre enquanto o povo ridiculariza-o. Sem as amarras do tempo, Cabral segue seu destino traçado para Vera Cruz. Ele me soprou, acabando com a polêmica, que foi um milagre da Virgem, que queria uma casa em Aparecida. Bartolomeu Dias ainda não sabe que as Tormentas iriam dobrá-lo. Fernão de Magalhães, que se dali não partiu, por ali ficou junto aos seus, gira ao meu redor mil vezes, pois o meu mundo, acalentado por quinhentos anos, é muito mais vasto para sua nau desbravar, e Dona Carlota Joaquina reclama com Dom João, que a arrasta para a terra dos bugres com os soldados franceses nos calcanhares. Tantos fantasmas naufragados nas águas de um povo, que ainda espera pela volta do seu Rei, Dom Sebastião, que levará Portugal novamente ao cume do mundo, como é o seu destino nos sonhos de Vieira.

Nas ladeiras de Alfama um bonde sobe carregando portugueses de setecentos anos. Paro na curva da Sé. Na catedral entro ávido por Santo Antônio, pergunto à senhora dos ingressos onde fica a cruz que ele traçou na pedra, e ela respondeu-me mais ou menos assim: a cruz fica ali naquela escadaria; foi o primeiro milagre dele. Saio sorrindo, o orgulho que havia em sua voz fez-me o sorriso. O Santo é português, mas fez seus milagres na Itália. Ora, pois então não se podia agir diferente, penso eu com um grau de maldade acentuada, arruma-se um milagre em Portugal. Conhecem a história? Pois é mais ou menos esta: Santo Antônio foi criado ali em frente à Sé, e conta-se que em uma noite estava sozinho na capela e foi atacado pelo demônio em pessoa; Fernando, que ainda não era Antônio, pois era esse seu nome de batismo, fugiu para a escadaria do coro e, para se defender, traçou com o dedo na parede de pedra uma cruz que ficou gravada para a eternidade nos sulcos deixados na pedra, que não são superficiais, são profundos, como os que se faz no barro ao pressionar o dedo. 

As ruas já não mostravam seu ar a quase ninguém, escuras e vazias nas imediações do hotel. O dia tinha sido de maravilhas e cansaço, mas ainda não estávamos saciados pelas belezas de Lisboa. Queríamos mais. Queríamos uma pequena ceia que nos trouxesse novamente o doce cheiro do azeite sobre talvez... qualquer coisa portuguesa. Mas parecia que ficaríamos frustrados, pois tudo estava fechado, era uma noite de domingo e aquela freguesia não era propriamente um lugar de boêmia.

Encontramos apenas um pequeno boteco, uma única porta com uns minguados três fregueses, que mesmo assim eram quase suficientes para encher o local. No balcão um casal atendia e, ainda, uma menina adolescente, o que dava ao lugar um aspecto bastante familiar. Como nos informaram que podiam servir-nos algum sanduíche, acomodamo-nos à espera. E foi como se brilhasse, inusitadamente, a varinha mágica de uma fada travessa. 

Senti-me aos poucos entrando nas páginas de um livro do Eça ou do Camilo, ao poder ser o auditório para as conversas que rolavam. Deliciei-me avaramente com a conversa que um senhor, já com os seus cabelos brancos, entretinha com o casal e com a menina. Ele já consumira um tanto mais que o devido de bagaceira, a fala já um pouco alterada, mas mostrava ser freguês velho conhecido do casal. Não me recordo mais do teor da conversa, mas quando o senhor se dirigia à menina, com seu sotaque português característico e carregado pelos vapores espirituosos, dava-lhe, algo que soava tanto cavalheiresco quanto anacrônico, o tratamento de Senhora Dona Menina. E toda vez que se dirigia à rapariga parecia que uma mariposa lhe saía da boca, girava em torno à luz-menina e voltava a ser deglutida, para novamente recomeçar, girando ao redor da menina. E ele soltava a mariposa insensatas vezes, para o meu maior contentamento.

Antes mesmo de terminarmos nossa refeição, ele se despediu e saiu um tanto cambaleante pela noite de Lisboa. Eu também de lá saí recompensado por haver vivido um pequeno pedaço típico da cidade, do povo, do português vivo em seu ambiente mais revelador. Surpresa melhor seria apenas se o possível fantasma de Fernando Pessoa estivesse ali, naquele boteco, sentado a escrever como no quadro de Almada Negreiros, sobre aquela página em que eu podia ser um apagado personagem.

E foi por efeito do meu deslumbramento nessa noite que dei o nome da mariposa a um personagem que criei, Senhora Dona Menina, mas esta, só é uma menina pela vivacidade de espírito, pois os anos já lhe deram alguns netos. Dona Menina, que espero poder lhes apresentar, é uma senhora muito religiosa, mas de uma religiosidade sem beatices, livre de amarras dogmáticas. Católica Apostólica Romana, como faz questão de salientar, vive às turras com o vigário do lugar. Ela encarna a sabedoria típica do nosso povo do interior, e talvez mesmo, daquele povo ancestral antigo que nos legou Cabral.

 Lisboa me deixou um presente e a ternura que lhe tenho enche meus dias de saudades.



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Elegia do Carraro



EASISTA CARRARO  - MEMÓRIAS

(Por Seoldo)

 

Carraro e Seoldo nos tempos da EASO
Antônio Edes Carraro nasceu em 04 de janeiro de 1944 no Sitio do Macuco, município de Leopoldina, cidade localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, num lugar que só tinha morros, com engenho de açúcar e alambique para cachaça.

Seoldo e a madrinha Bida




Era o 12º de uma família de 14 (10 irmãos e 4 irmãs). Creio que é a família recorde entre as de todos os EASISTAS (Zeca, Tide, Vado, Chiquito, Belar, Vanor, Tilim, Ede, Jado e Jurano; Dete, Bida (minha madrinha), Cina e Minu). Pai: Julio; mãe: Arminda.





Seu pai era o líder local, cabo eleitoral e rezador de terço... O time de futebol local era praticamente só dos Carraros... Nos jogos, ninguém buscava encrencas com um deles... O Edes mesmo costumava vender pastéis de carne de porco durante os jogos. Certa vez, seu irmão mais velho, o Zeca, bateu um pênalti... A bola bateu no travessão de cima que caiu, machucando o goleiro...Ninguém sabia se tinha sido gol ou não... 
Zeca e Seoldo
O Zeca, então, cercado pelos irmãos, pegou a bola, tomou o apito do juiz e fez o jogo continuar na marra, jogando e apitando ao mesmo tempo. (Recentemente vi um retrato do time dos 10 irmãos Carraro com mais um primo deles, talvez o colega Tupy possa conseguir uma cópia para publicar neste BLOG). O Zeca era o meu barbeiro... Ele só sabia raspar a cabeça da gente!

Mas o Edes Carraro, EASISTA, partiu daqui em 1972 devido a um trágico acidente de carro na Rio-Bahia. Acho que aqueles com mais informações poderiam contribuir para que possamos reviver melhor este nosso colega. Aí seguem algumas recordações:

- o Carraro era o que nos fazia rastejar para beber vinho na sacristia (lembranças do alambique); gostava de ser coroinha por causa disso;

- cantava muito desafinado, o que irritava muito o padre Luís (oxalá estejam cantando juntos bem afinados agora!!!);

 - único seminarista que conseguia captar (graças ao radar de suas orelhas) as chegadas e andares silenciosos dos padres Marino e Clemente, por isso nunca foi castigado por nenhum "PUM" no dormitório;

- único torcedor do América do Rio que conhecíamos, ele pensava que a América era a coisa maior que existia;

- nunca conseguiu um estilo próprio para seu cabelo, apesar de ter irmãos barbeiros;

- foi o único da família que estudou, colava muito(!!!); passou pingando no exame de admissão na segunda época (ou segunda chamada!!!);

- como era um dos irmãos mais novos, pertencia ao pessoal de suporte na família (antes de ir para o seminário); carregava comida e água para os irmãos mais velhos; ele mesmo nunca pegou na enxada no duro, por isso que era gordinho; comia restos de comidas dos outros, sobretudo angu italiano.
 
Judith, Nelcina e Seoldo

 
Por favor, aqueles que tiverem mais informações sobre o Carraro colaborem para enriquecer esta elegia, sobretudo depois que deixou o seminário... Sua vida em Belo Horizonte, seus estudos, sua vida profissional, etc. Tudo ajudará para melhor apreciar esse saudoso Colega.

Orelhas grandinhas o Edes Carraro
Escutava bem e prestava atenção
Desafinado, sempre cheirando a cigarro,
Acompanhava a turma sem reclamação.

Não era líder, mas seguia contente
No campo nunca caía no chão
Gostava muito do padre Clemente
Odiava o latim, tinha cola na mão.

É pena que daqui partiu tão cedo
Corria firme na pista do sucesso
Perdeu o rumo, sem tempo pra medo
Trombou na lei "Ordem e Progresso".

Lembranças do Carraro gordinho
Lembranças do Carraro fanfarrão
Lembranças do Carraro com carinho
Lembranças do Carraro, nosso irmão.

Que a imagem deste COLEGA EASISTA CARRARO nunca fique esquecida entre nós. Que ele descanse em Paz!

Seu sempre Colega Seoldo.









domingo, 28 de outubro de 2012

Seoldo e Judith visitam Senhora de Oliveira




Seoldo e Judith posam ao lado da Seoldo's
traveller tree (sítio meia-dúzia)

Por que Senhora de Oliveira?

Senhora de Oliveira fica nos limites entre a Zona Metalúrgica, onde as montanhas de ferro são exportadas para que se transformem em aço, e a Zona da Mata, onde as árvores nativas cedem espaço para o eucalipto que também contribui para que o ferro torne-se aço dentro de nosso próprio país. Se a estrada real tivesse acostamento, Senhora de Oliveira seria nele, pois no mapa do "caminho velho" a região aparece como um cantinho da Zona da Mata que foi influenciado pelas entradas dos que vieram procurar ouro para levá-lo a Paraty e depois para Portugal. Nós, ex-seminaristas oliveirenses, habitamos uma terra lateral que tangencia a história mais rica de Minas Gerais e do Brasil. Como parte de um povo que recebeu um legado de seus antepassados, somos coadjuvantes, nunca protagonistas, de boa parte do que aconteceu em Minas em épocas mais remotas: a guerra dos emboabas chegou bem perto daqui, um dos episódios ocorreu em Piranga, ou melhor, num de seus distritos de nome Bacalhau — a cidade era esperta o suficiente para empurrar os combates para fora de seu centro, preservando os bens patrimoniais de seus líderes —; o ouro brotava com facilidade em Ouro Preto, aqui em Senhora de Oliveira só encontraram esse metal no Ribeirão Podre, um riacho de águas claras e potáveis que era podre de tudo quanto fosse preciosidade, diziam os garimpeiros; Aleijadinho, o famoso escultor barroco, entalhador em pedra sabão, esteve a dezesseis quilômetros daqui, na cidade de Rio Espera — construiu ali um altar e o levou, em lombo de burro, para uma das igrejas da então capital de Minas. Numa história farta de acontecimentos, ser coadjuvante não é demérito, ao contrário, coloca o município numa posição de vantagem estratégica quando os eventos se associam a guerras, poluição, evasão de riquezas minerais e vegetais, e perda de autonomia. Esse é um acostamento onde vale a pena viver ou parar para dar uma espiada: ainda temos, nas montanhas, um restinho da Mata Atlântica que por aqui foi empurrada para os cumes dos morros, e, por todo lado, um povo genuinamente do interior, a maioria descendente dos portugueses que venceram a guerra dos emboabas. Temos ainda... Bem, não vamos esticar as preliminares, vocês perceberão, ao longo deste texto, um pouco do que temos.


A partir de 1959.


Senhora de Oliveira nos anos 50 do século XX
Pois bem, finalmente vamos à história que nos interessa: esse é o lugar onde o Padre Marino veio buscar, a partir de 1959 , um boa quantidade de gente fina, meninos inocentes, filhos de mães que queriam um padre na família. Nisso éramos lugares-comuns: crianças inteligentes, bem comportadas, mas caipiras e batateiras. E nossa lista é bem grande: Rosalino, Lulu, João Saturnino, Zé Engrácio, Zé Milagres, Edgard, Zé Agnaldo, Ildeu, Quinzinho, Zé Cesário, Oiser Mário, Canhão e José Maria Coelho (não confundir com José Maria de Carvalho Coelho, este é de Belo Horizonte). É por isso, por ser o berço de tantos ex-seminaristas Crúzios, que o casal quis conhecer o lugar que, sem demora, gostou dele: da refinada filosofia e do humor de coroinha do leopoldinense Geraldo e da simpatia cativante de Judith. Ele, um brasileiro com jeito de americano, do que deu mostras ao lado do motorista, transformando-se em eficiente copiloto: perto dele ninguém desobedece as regras de trânsito. Nosso estimado amigo gosta de tudo certinho, é um legalista acima de tudo, com ele podemos aprender muito. Ela, uma americana quase brasileira, a exceção do leve sotaque. É fácil  gostar deles, mesmo que ambos não conheçam o ora-pro-nóbis, um pecado dos grandes para o Seoldo, pois além de ser mineiro, viveu bastante tempo em BH e haveria de conhecer nosso prato mais famoso (ou será que só conhecia o quiabo?). Pecados debaixo do tapete, e virtudes coladas no teto mais alto: gente que gosta do sol do meio-dia e do luar da madrugada, que aprecia um bom vinho e que na cachaça dá uma talagada quando precisa e duas quando não precisa (culpa da provocante qualidade de nossa pinga). Judith e Seoldo são do melhor remate: amam as árvores, os pássaros, os filetes d’água e o céu estrelado; gostam de uma boa conversa, de fotografar nosso canário-da-terra, sanhaço, tico-tico, sabiá-barranco, seriema, beija-flor, tesoura-do-campo, quero-quero, anu-preto,  maria-preta, maria-branca e todas as marias de asas; Seoldo aprecia filosofar sobre assuntos diversos, desde o misterioso sentido da vida até as práticas mais simples da agricultura. 

Um caso de empatia difusa.


Geraldo — desculpem-me chamá-lo de maneira tão estranha, isso porque a Judith fez com que nos acostumássemos ao seu primeiro nome — empolga-se ao concluir que os ex-seminaristas deram-se bem na vida. Não importa que o interlocutor não saiba bem de como andou cada um em particular, parece que ele usa do princípio estatístico de que basta degustar uma colher de vinho para definir a qualidade de toda a videira. O caso é de uma empatia difusa que nos é tão rara quanto cara. Seoldo fica feliz quando dizemos que o sucesso de que falamos não é apenas o do lado financeiro, olhamos, principalmente, pelo lado da existência, num sentido mais amplo, pelo viés humano. Não há dúvida, ele agora tem certeza de que os antigos colegas realizaram-se: não temos relatos de drogados, nada de alcoolismo — olha que não somos apologistas da abstemia, uma dose aqui e outra ali é sempre sinal de que se está vivo, além de dar um certo barato que não se encontra na água benta —. Não é preciso tanto para viver com dignidade, mas temos um quadro positivo: alguns dos ex-seminaristas Crúzios estão ricos e bem de vida, o que é bom, mesmo que isso não chegue a ser essencial, nem para a felicidade, nem para o respeito público; as suas famílias são bem estruturadas. A vida corre como deve ser, numa sequência que para alguns parece um encadeamento de metas; para outros, uma fila de acasos, e há os que pensam que a vida é um script de Deus do qual não se pode fugir: estudos, sonhos, formaturas, mais sonhos, casamento, trabalho, constituição de família, casamento de filhos, netos, idade e, finalmente, a grande incógnita do eterno retorno, como diria o Alemão, que apelidamos de Nith. 

Seoldo na fazenda do colega Edgard, no córrego do
Pega Bem
Visitando os amigos

Do geral para o particular: em Senhora de Oliveira, Geraldo fez questão de visitar o ex-colega José de Lurdes, o Canhão, este temporariamente afastado dos Encontros da EASO, pois preparava-se para uma cirurgia que ele, como todos nós, esperava que lhe trouxesse de volta a plenitude física ( como de fato veio a ocorrer,  posteriormente, conforme informações de novembro de 2012). Conversaram demoradamente sobre os velhos tempos: Canhão a dizer que Seoldo é que fora o verdadeiro Canhão, pois tinha um chute muito forte; Seoldo, com a modéstia que combina com seus textos no Blog, a dizer que talvez o Reginaldo merecesse tal título. O certo é que Zé de Lurdes, que da bola mal sabia que era redonda, ficou com o cobiçado apelido, e segundo disseram, por uma casualidade, quando aplicou um efeito tipo folha seca que fez com que a bola molhada estourasse com o impacto oblíquo contra um pé coberto de barro, e o apelido surgiu na hora e pegou, e foi o Edgard que o colou nele. Canhão é apelido circunscrito ao tempo e lugar, anos 60 e seminário da EASO. Ninguém jamais ouvira falar do Canhão em Senhora de Oliveira, até o dia em que o Nonato apareceu por aqui, em 2010, e foi visitá-lo e, ao ser recebido pela   irmã dele, perguntou onde estava o Canhão. Nosso ilustre paraense correu o risco de matar a moça de susto, ela poderia ter imaginado que uma briga de proporções ganhasse curso e que as armas pesadas estivessem sendo procuradas, de casa em casa, pela força armada do norte. Mas voltando ao diálogo concreto entre nosso também ilustre visitante de 2012 e o Canhão, podemos observar como o tempo muda o comportamento das pessoas: ali naqueles sofás, frente a frente, mergulhados numa atmosfera de emoções contidas, os dois trocam informações como verdadeiros colegas, sem as amarras que as diferenças de idade (quatro anos - vide link) e de nível escolar lhes impuseram naqueles anos de seminário. Aquelas barreiras não mais existem, o tempo nivelou as idades e o conhecimento; evaporaram-se as razões dos constrangimentos daqueles tempos em que esses dois colegas mal podiam trocar algumas ideias. O mais velho perdeu os penachos, e o mais novo, os cabelos; agora, 50 anos depois, estão na mesma sintonia: ambos estão aposentados e podem andar gratuitamente de ônibus e têm fila preferencial em Bancos, Cartórios e em todo tipo de órgão público. Mas nenhum jovem os inveja, a vida parece ser assim, quanto mais regalias e privilégios nos dá o governo, menos razões temos para deles gostar.

Um pé de ipê.

Judith, sob a supervisão de Seoldo, prepara-se  para
descer a muda à cova já pronta (no sítio meia-dúzia)
Em Senhora de Oliveira, Seoldo e Judith só passaram duas noites e um dia, pois chegaram à tarde no dia 12 de Setembro e retornaram bem cedo a BH no dia 14, onde as mulheres arrumaram os cabelos e os homens tiraram uma soneca, pois no mesmo dia todos foram para Nova União. Em tão breve estada na pequena cidade do interior, puderam, contudo, provar da Minas rural: comeram queijo; degustaram um suculento ora-pro-nóbis que o Seoldo chamou de miserere nobis (do que rimos muito, pois em nossa ignorância do Latim, achamos que ele quisesse dizer: "que miséria! Tanto falam na tal comida e nos servem este tantinho", é claro que não teríamos rido tanto se soubéssemos, naquele momento, o verdadeiro significado dessa frase de contrição.
Na primeira noite em nossa cidade, o casal visitou um comitê eleitoral e, no outro dia, a casa da fazenda do colega Edgard. No sítio ½ dúzia, Seoldo só não tirou leite, ou porque não queria pisar em bosta de boi, ou por não gostar de se levantar cedo, mas não foi o que disse, disfarçou com elegância: "perdi o jeito".
Um dia e meio, pouco tempo para os da terra aproveitarem a experiência do casal e botarem o papo em dia com tão rara visita, mas tempo suficiente para que Judith plantasse um pé de ipê-amarelo, que ficará aqui para Maria José lembrar-se da irmã que ganhou e para fazer companhia a uma outra árvore que do marido já tem o nome, tudo em inglês, para os parentes e amigos americanos entenderem: Seoldo’s traveller tree.
E, assim, termino este pequeno relato e digo que o Seoldo ao vivo pareceu-me o mesmo Seoldo que conheci nos tempos do seminário, mas confesso que não o conhecia tão bem naquela época, embora tenhamos convivido diariamente durante quatro anos, e o motivo é o mesmo que relatei quando me referi ao encontro do Zé de Lurdes e Seoldo: a convivência dos grandes com os pequenos tinha seus limites impostos pela sabedoria Holandesa. Acho, mesmo com poucos dados para melhor cotejo, que o Seoldo de hoje é um pouco mais tímido e obviamente mais vivido. Se individualmente são ótimos, juntos, Seoldo e Judith, são excelentes e gostam do que nós também gostamos, e como a vida é feita, também, de coisas simples que muitas vezes revelam mais do que as mais pomposas, foi pena não termos fotografado o momento em que eles esfriaram os pés no laguinho que temos bem perto de nossa casa.

PS: Durante todo o tempo, mantive sob vigilância o caderninho preto que o Seoldo trazia no bolso da camisa. É que o Santana nos alertara, com sabedoria e esperteza santanense, que o homem do Arizona o sacava, como se fosse uma arma perigosa saída de algum filme do faroeste, e nele anotava tudo. Para mim ele disse: "nada disso! Isso é coisa inventada pelo Santana, e mostrou-me a caixinha de seus óculos que trazia no bolso, mas depois confessou em e-mail: "O Santana estava certo".




No sítio meia-dúzia: Seoldo, Judith, Maria José e Lulu.



terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Santa Cruz voltou?



 O Santa Cruz em 2012 -  A partir da esquerda, agachados: Rosalino,
 Lulu, Nonato, Alfredo e Marquinhos; em pé: Chicão, Max, Benoni,
José Geraldo, Tião Coelho e Seoldo.
No dia 15 de Setembro de 2012, em local totalmente fora do contexto e das canchas de futebol, no restaurante da Serra da Piedade, o esquadrão do Santa Cruz posou para uma foto histórica. O interessante é que todos os jogadores lembravam-se das posições em que jogavam nos anos 60 do século passado. Mas, a bem da verdade, o time nunca teve essa exata formação, pois alguns jogaram em épocas e níveis diferentes: uns no primeiro time, outros no segundo. O Santa Cruz poderá ter novamente essa formação em 2013, isso se os nossos arquiadversários, o Sparta de Campo Belo ou mesmo os ex-alunos do Colégio Dom Cabral, aceitarem um novo e definitivo confronto. O difícil será encontrar aqueles jogadores, pois, como nós, certamente se espalharam.
  Prova cabal de que todos acima jogaram  bola naqueles tempos:

Nesta temos o Seoldo, o José Geraldo Freitas,
o Max, o Chicão, o Nonato, o Alfredo e o Marquinhos.

Mas a prova não se resume numa só foto, temos outras:

Nesta foto, vamos encontrar o Rosalino, o Lulu, o Alfredo e o
Nonato, estes de cócoras. De pé: o Max e o Chicão.


O Benoni é o terceiro de pé, a contar a partir da esquerda, e,
 na linha de frente, vamos encontrar o Nonato , o Alfredo e
  o Marquinhos
Nem sempre a tese inicial pode ser provada, não encontramos o Tião Coelho em nenhuma de nossas fotos , mas temos que tirar esse coelho da cartola, então, o Tião ou qualquer um que tenha uma foto daqueles tempos em que ele aparece ficam convocados a nola enviar (por e-mail, no formato jpg).

Fotos de outros times de futebol da EASO cujos jogares não compareceram ao IV Encontro:




A foto abaixo foi incluída nesta postagem em 24/10/2012, pois nela encontramos, entre outros, um dos presentes no IV Encontro que não entrou na primeira foto desta postagem (colorida): trata-se de  José Geraldo d'Assunção, o segundo, em pé, da esquerda para a direita. Esta é a  foto 114 já  publicada no blog em 6 de novembro de 2010 (link; aqui ).