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sábado, 7 de novembro de 2015

Entrevista com Antônio José Ferreira


A família no aniversário de 3 anos da Laura 
ENTREVISTA COM O  'MENOR' AINDA: EASISTA  ANTÔNIO JOSÉ FERREIRA (SANTANA, TOINZÉ, IRMÃO MAIS NOVO DE CAIM E ABEL).



1 - Toinzé Santana, como foi que você foi parar lá no Seminário Santa Odília em Campo Belo? Foi mesmo influência do 'santo' Bessa quando este passava férias lá em Santana do Jacaré com sua família? Um pequeno resumo cronológico das coisas. Você continua admirando o ‘santo Bessa’ e rezando ainda, com fervor, para ele? Ou foi sua  irmã Maria que lhe deu alguns beliscões para ir rezar mais?




Já nasci com isso na cabeça
Resposta: Parece que eu já nasci com isso na cabeça. Desde que eu me entendo por gente, pensava em ser padre. Na verdade, eu queria mesmo era ser papa. Então, para isso, eu tinha que ser padre primeiro. Lembro-me que eu tinha uns seis ou sete anos e ia muito para a fazenda da Forquilha, de propriedade de meu tio Toinzinho e tia Ica (irmã de minha mãe).  Às vezes ficava por lá por uma semana ou mais juntamente com os primos Chico (filho da tia Ica), José Aloísio (filho da tia Marta, outra irmã de minha mãe) e o tio Fernando (irmão caçula de minha mãe), pouco mais velho que nós, seus sobrinhos. À noite, a gente se reunia em volta do fogão de lenha, principalmente nas épocas de frio, para nos esquentarmos e tomar Toddy com leite quente, era uma delícia. Meu tio Toinzinho era muito brincalhão e gozador. Ele gostava de tirar sarro de mim com a minha vontade de ser padre. Então ele virava para mim e dizia: ”você sabe como é que eles fazem a coroinha do padre (tonsura) que todo padre tem que usar?” Eu respondia: “não”. E ele continuava: ” é assim, oh ... eles pegam uma latinha de massa de tomate, tiram o fundo dela e colocam no cocuruto da cabeça do padre, colocam pólvora dentro e riscam um fósforo; a pólvora pega fogo e queima o cabelo dentro da latinha, por isso que fica redondinho daquele jeito” ...

Outra gozação que me faziam quando já era um pouco mais velho, em torno de 8 a 10 anos, era a seguinte: meus tios mais velhos e solteiros, filhos do meu avô Toniquinho Barbosa, que acolhia o Antônio Bessa em família quando ele tirava férias, gostavam de provocar-me dizendo que havia um segredo usado no seminário para manter os seminaristas quietinhos, e não pensarem em namoradas. O tal segredo (será que foi o Bessa que contou??) consistia em colocar salitre na comida ... aí os seminaristas ficavam comportadinhos. Outros rapazes, para assustarem-me, diziam que a primeira coisa que os padres faziam, assim que todo menino chegava ao seminário, era mandar castrá-lo para que ele nunca mais saísse de lá ... durma com um barulho desses!
Apesar disso, eu não mudei de ideia e continuei firme no meu propósito. Quando terminei o curso primário, em Santana do Jacaré, decidi ir para Campo Belo.
Padre João Batista Verkaden
Quem me influenciou para eu escolher o Seminário Santa Odília, logicamente, foi o Bessa que estudava lá. Mas não foi somente por isto. Naquela época, a paróquia da cidade estava aos cuidados dos Crúzios, tendo como pároco o Padre João Batista Verkaden, e também os seminaristas crúzios, às vezes, passavam as férias do meio de ano lá em Santana, como aconteceu no ano de 1958, conforme Crônica do próprio Bessa publicada aqui no Blog 
Clique aqui para acessar a crônica.

Certa vez, esses seminaristas foram ao sítio onde eu morava buscar laranjas. E num dia à tarde, conversei por um bom tempo com um daqueles seminaristas, sentado em um matacão de pedra perto do campo de pelada atrás da igreja matriz. Tudo isso me ajudou a decidir pelo seminário de Campo Belo, aonde cheguei pela primeira vez no final do ano de 1960, acompanhado do José Aloísio (Zé Sapo), que já estudava no Dom Cabral e me mostrou o caminho. Lá me entrevistei com o Pe. Marino, na época Diretor do Seminário, que me acolheu muito bem e combinamos a minha apresentação para o início do ano seguinte. Para isso ele me passou algumas instruções, inclusive o enxoval necessário e o número que minha mãe deveria colocar nas roupas para não misturar com as de outros seminaristas.

Respondendo ainda sua pergunta: sim, continuo admirando o Bessa, embora ainda não tenha pedido sua intercessão. Quem sabe, seja o caso de fazermos isso. Pode ser que ele nos socorra de uma forma milagrosa e aí poderemos ter pelo menos dois milagres comprovados que possam servir para sua santificação.

Não, a Maria, minha irmã mais nova, nem a primeira irmã, a Lúcia, precisaram dar-me beliscões para rezar mais. Naquela época eu era muito rezador e morria de medo de ir para o inferno, embora não deixasse nunca de cometer os meus pecados. Ainda bem que depois o Pe. João me perdoava nas confissões, se bem que alguns pecados eu escondia, de vergonha.
Por falar na irmã Lúcia, tenho uma estória sobre ela. Quando ainda íamos a pé do sítio para a escola, em Santana do Jacaré, fazíamos um percurso de 3 km e gastávamos aproximadamente uma hora de caminhada, uma vez que as nossas pernas eram ainda muito curtinhas. Num determinado dia, estávamos voltando da aula, com muita fome antes do almoço. De repente, na saída da cidade para perto de nós um veículo, tipo baú, daqueles muito usados naquela época para transporte de mercadorias, e o motorista nos oferece uma carona. Aqui eu faço um pequeno parêntese para explicar algo para facilitar o entendimento daquilo que aconteceu em seguida. Entre nós meninos de roça havia muitas conversas assustadoras de lobisomem, mula sem cabeça, fantasmas, etc.. Entre essas, existia uma sobre os tais veículos com carroceria fechada, que dizia que dentro daquele baú existia um moedor grande para moer crianças que os motoristas pegavam nas estradas e a carne delas era usada para fazer salame. Aí vocês podem imaginar o que rodou em minha cabeça na mesma hora. Assim que o motorista parou e abriu a porta do passageiro, convidando-nos para entrar, a Lúcia imediatamente foi pondo os pés no estribo da porta.
Eu a puxei rapidamente para trás, recusando a carona e dizendo que preferíamos ir a pé. O motorista não entendeu aquela recusa e continuou insistindo, e, por fim, vendo que eu não iria mesmo, ele falou: “então, deixa só a menina vir”, ao que, imediatamente, atalhei, segurando o braço dela: “não, ela também não vai não”. O motorista desistiu e foi embora.

Nós seguimos a pé e a Lúcia foi lamentando o tempo todo a carona perdida.

2 - Lembro-me de que você era um 'menor' calmo, de voz rouca, observador e que evitava confrontos nas 'peladas' e nos jogos de botão e pingue-pongue (ou Ping-Pong), etc... Você chegou a brigar mesmo e discutir firme com outros 'menores/maiores' por algum maltrato ou por tentarem roubar aquele seu famoso BONÉ que o fazia parecer um irmão da dupla Caim/Abel do Velho Testamento?

Resposta: não sei o porquê dessa semelhança Caim/Abel (estou intrigado; espero que você me explique isso nos comentários). Realmente eu era muito quietinho mesmo, mas era de medo. Eu era muito medroso, aliás, ainda sou. Eu tinha muito medo de brigar, de apanhar. Medo de assombração, lobisomem, mula sem cabeça. Eu era um jacu da roça, que caiu no meio daqueles meninos da cidade, muitos de Belorzonte, Ridjanêro, Belempará, Jusdifora.
Não sei como nem por qual motivo, logo nos inícios de minha estada no seminário, numa daquelas peladas de toda tarde eu me entestei com o Zé Aguinaldo, mas parece que ele me deu uns tabefes e eu acabei afinando. Só sei que um dia ou dois depois daquilo, o Zé Sapo e o Fernando, meu tio que também era aluno do Dom Cabral, ficaram sabendo do acontecido e me procuraram. Aí, eles me disseram: “fala quem foi que te bateu que nós vamos pegar e dar uma coça nele”. Então eu retruquei: “não foi nada não ... eu é que fiquei com dó dele e não quis bater muito nele”. Não sei se eu falei aquilo com pena dele ou de medo ... vamos que ele apanhasse dos meus parentes e depois me pegasse de novo sozinho no seminário e me desse outros tapas... e a parentela dele (de Senhora de Oliveira) lá no seminário ... achei melhor curtir meu couro calado.
Autor muito lido no seminário
Depois de uns três ou quatro anos, acho que resolvi descontar no Zé Márcio, o Cebolinha. Isso já foi no campo de treino (gramado). Também não lembro o motivo porque saímos “no tapa”. Verdade que o Cebolinha era menor e mais franzino que eu, mas com medo de apanhar novamente, que seria uma vergonha para mim, parti com disposição para cima dele e lhe desferi um murro certeiro, que o atingiu bem num dos olhos. De susto, ele parou e eu me arrependi na mesma hora, pois todo mundo correu para o lado dele e logo o olho dele começou a ficar roxo, e assim ele ficou por mais de uma semana, coitado. Acho que no mesmo dia pedi-lhe perdão e ele, muito generosamente, perdoou-me de coração. Mas eu não podia olhar para o olho dele, que eu ficava mortificado. Começaram a me chamar de Effendi, aquele personagem dos livros de Karl May (autor muito lido no seminário), que era conhecido por seu punho e mão de ferro, e eu ficava entre envaidecido e arrependido.
Por causa de meu boné, não me lembro de ter brigado. Mas parece que você sabia ou andou pesquisando essas estórias, porque sua pergunta, nesse sentido, foi muito direta e bem no alvo.



3 - Quais suas lembranças mais marcantes do seminário e como você via e aceitava a rotina diária: dormir/rezar/comer/estudar/brincar? Faltava-lhe alguma coisa? Quem foram seus dois vizinhos de dormitório? Qual foi seu número? Você chegou a conversar baixinho com o travesseiro? Qual a sua refeição favorita: aquela feita pela Dona Luca ou a da Dona Mariazinha? Você também cantava o 'Coração Santo' quando subia a rampa para o dormitório ou para a capela?



As lembranças dos passeios - foto de 1962
Resposta: Quando eu fecho os olhos e penso o que mais me marcou no seminário, veem-me as lembranças dos passeios que de vez em quando fazíamos aos rios e cachoeiras próximos do seminário, como o rio Jacaré e o rio da usina hidrelétrica de Candeias. Como eu gostava das viagens nos caminhões, tipo pau de arara, e a chegada aos rios, onde se nadava e pescava! As primeiras coisas que fazíamos era descer as panelas com o almoço e os engradados de Lilabá (refrigerante à base de limão, laranja e abacaxi), que eram colocados dentro d’água para refrigerar. Depois íamos nadar e brincar na água até cansar. Na hora do almoço, fazíamos uma fila para pegar o rango e o refrigerante. Parecia que não existia nada mais gostoso que aquela refeição.
Visita do Padre Provincial em 1963
Outra lembrança marcante que eu tenho do seminário, já que você me qualificou de observador na pergunta anterior, é a seguinte: no meu primeiro semestre no seminário houve um encontro no Colégio Dom Cabral com vários padres da Ordem da Santa Cruz, com a presença do Provincial da época no Brasil, o Pe. Arnaldo. Não sei bem o motivo desse encontro, pois ainda me encontrava muito por fora de tudo que ia além de nossa rotina diária, mas parece que tinha relação com a construção de uma nova ala no prédio do colégio, especificamente para atender as necessidades do seminário, que se encontrava em expansão com o aumento do número de seminaristas. Uma noite, estávamos na sala de recreio, quando chegou o Pe. Jerônimo acompanhado do Provincial. A entrada do Provincial chamou a atenção de todos na sala e, logo após os cumprimentos, o Padre Jerônimo falou que o Padre Arnaldo iria fazer uma mágica e todos ficaram mais atentos e curiosos. Então o Pe. Arnaldo começou a solicitar alguns objetos pequenos de metal. Alguém entregou uma roldana de cortina e ele examinou cuidadosamente a roldana, parece que medindo o tamanho. Depois enfiou a mão direita com o objeto naquele bolso enorme de sua batina e solicitou outro objeto. Algum dos padres presentes lhe estendeu um anel. Ele pegou o anel, virou-o de um lado para outro, achando-o um pouco grande, mas o enfiou dentro do bolso com a mão. Tirou a mão do bolso, fez um pouco de suspense e tornou a enfiar a mão no bolso, retirando de lá uma sacola de pano amarrada pela boca. Ele desfez as amarras e de dentro da sacola retirou uma caixa de madeira, também amarrada. Abrindo-se a caixa, deparamos com uma nova sacola de pano, também amarrada. Não me lembro quantas sacolas e caixinhas foram abertas, em sequência, até que finalmente apareceu a última caixinha de madeira, que quando aberta apresentou lá dentro a roldana de cortina e o anel. Ele entregou o anel a seu dono e a roldana a um dos seminaristas e, rapidamente, juntou todos os apetrechos da mágica e enfiou-os no bolso. Todos ficaram admirados e curiosos e querendo saber como ele fizera aquilo. Como de praxe, o mágico não contou seu segredo. Naquela noite, eu fui pra cama com aquela mágica remoendo na minha cabeça e não dormi logo. Virava e revirava na cama e a resposta não vinha. Foi quando me veio à memória que o Padre Jerônimo dera uma pista dizendo que o truque estava nas amarras, aí então, lembrei-me de um estalido que eu ouvira antes do Pe. Arnaldo tirar a mão do bolso e fazer aquele suspense. Nesse momento matei a charada e consegui dormir. No dia seguinte, assim que encontrei o Pe. Jerônimo fui logo dizendo: “padre, descobri o segredo da mágica; o Provincial tem um canudo de madeira por onde ele passa os objetos desde a abertura da primeira sacola até a última caixinha e tudo é amarrado com elástico. Por isso deu aquele estalinho quando ele retirou o canudo”. Ele me olhou e riu, mas não entregou a mão à palmatória. Depois desse dia, os padres me viam com outros olhos e eu já não era mais tão jacu para eles.

Da rotina diária, lembro-me das horas de estudo noturnas, onde o padre responsável quase sempre era o Pe.Lucas, que continuamente fumava o seu charuto; de como a gente sempre dava um jeito de ler um livro ou uma enciclopédia para passar o tempo.

Faltava-me alguma coisa? Eis aí uma pergunta difícil de responder. Para um menino vindo da roça, acostumado no isolamento, aquele ambiente animado e cheio de novidades era tudo que eu queria. Então eu não pensava em falta, no entanto, apesar de tudo, eu sentia uma angústia que eu não sabia exprimir e me deixava inquieto. Parecia uma necessidade de realizar algo que até hoje sinto.

Lembro-me de dois vizinhos no dormitório novo: o Ildeu e o Tião Rocha. No dormitório velho, não me lembro bem. Meu número era 1(um). O portador desse número havia deixado o seminário pouco tempo antes de eu chegar.

Conversar baixinho com o travesseiro, não me alembro, mas chorar no travesseiro, devo ter chorado algumas vezes.
Eu não sabia diferenciar a comida de uma cozinheira da outra. Parece que havia uma diferença da comida que vinha para nossa mesa e aquela que ia para a mesa dos padres. Em relação a nossa comida, eu gostava quando serviam carne de porco, provavelmente pernil, que vinha com uma gordurinha branca por cima. Eu lambia os beiços!

Não me lembro de cantar o “Coração Santo” subindo a rampa. Isto deve ser do tempo mais antigo ao meu. Lembro-me de subir a rampa depois das peladas ou dos treinos de futebol para o banho, com todo mundo suado e uma catinga de “suvaco” danada. Era dose para elefante!


4 - Depois da sua saída, que aconteceu com relação a sua educação? Andou fazendo muitas farras? Namorou muito? Continuou rezando? Como foi seu encontro com sua esposa Fátima? Ambos caçando borboletas no jardim da praça?



Resposta: saí do seminário no final de 1967, tendo já cursado o 2º Científico (hoje: 6ª série do 2º Ciclo). Como era pensamento do Pe. Justino, o aluno deveria fazer o 3º Científico em colégio próximo à universidade onde pretendia prestar vestibular para se adequar melhor às características de cada vestibular. Todavia o Pe. Justino tinha uma queda para a área agrícola e, naquela época, ele indicava aos alunos interessados nessa área que se dirigissem a Viçosa, onde existia uma famosa escola agrícola, a UREMG, hoje UFV.
Meio sem rumo na vida, decidi ir para Viçosa, pois lá também tinha acabado de se formar em Engenharia Florestal meu tio Sessé e, um outro primo, o Morelinho, lá ainda se encontrava fazendo o mesmo curso. Então eu fiz o Colégio Universitário (COLUNI) e prestei vestibular para Agronomia, completando esses estudos ao final de 1972.

Farras? Não, não tinha jeito para isso. Quando eu estava no seminário, fiquei muito doutrinado em meu jeito de agir, e, em ambiente fora do seminário, eu me sentia meio deslocado e acabava agindo feito um “santinho”: sentia-me comprometido em rezar muito e não gostava de falar, fazer ou pensar em “bobagens” (sacanagens, indecências). Então desde as primeiras férias no seminário, fiquei marcado como aquele menino perto de quem não se falava besteiras nem piadas indecentes, etc, e logo fui recebendo o apelido de padre (até hoje alguns amigos ainda me tratam por esse apelido).
As meninas de Santana, todas me viam como padre e pareciam 
 fugir de mim
Quando deixei o seminário, a minha vida ficou difícil. Eu me sentia desajustado. Por isso não conseguia arranjar namoradas. As meninas de Santana, todas me viam como padre e pareciam fugir de mim, pelo menos, essa era a minha impressão. Ainda rezava, mas já não com a mesma frequência. A vontade era descambar para a gandaia, mas realmente eu não levava jeito e, ainda, o medo do inferno me atormentava.
Para complicar a situação, logo que saí tive que prestar o serviço militar, do qual pelejei para escapar, mas não teve jeito. No final, foi bom porque me ajudou a tirar a indumentária de seminarista. Assim, comecei o Tiro de Guerra em Campo Belo no início de 1969 e depois consegui transferência para Viçosa, onde continuaria estudando e fazendo o tiro. Foi difícil levar as duas tarefas adiante, mas como a gente tinha uma boa base de estudos desde o “Dom Cabral”, consegui dar conta das duas coisas.
Como já disse, eu não conseguia arranjar namoradas. Eu tinha medo de  aproximar-me de uma moça e ser rejeitado. Normalmente eu só conseguia aproximar-me das meninas nos famosos bailes e, assim mesmo, tomando umas e outras doses de cerveja ou da “marvada”. Quase sempre levava um “toco”, mas aí não ligava muito, pois já estava “meio alto”. Como dizia o humorista: “passa a régua”.

Em 1970, quando o Brasil ganhou o tricampeonato de futebol no México, todo mundo saiu à rua para comemorar. Era período de aula e eu estava em Viçosa e, lá, a concentração foi na praça principal, onde era costume as pessoas ficarem dando voltas. Era de noite e todo mundo já estava num fogo só. De repente, eu olho de lado e vejo uma linda garota. Ela olhou para mim e sorriu. Eu fiquei mais animado, sorri também e dei-lhe o braço. Ela aceitou e continuamos dando voltas na praça. Resumindo: continuamos juntos até por volta da meia noite quando fui deixá-la em casa. Nessa altura, a brasa já tinha diminuído e eu não estava mais tão eufórico. Mesmo assim, voltei todo animado para casa, pensando ... dessa vez eu “ me aprumei”. Acontece que alguns dos meus colegas viram a cena e, nos dias seguintes, como numa pescaria ficaram incentivando-me a continuar lutando para trazer o peixe para o balaio. Mas o meu medo costumeiro voltara e eu não conseguia mais falar com a menina. Tentava telefonar e só gaguejava. No final das contas o peixe me escapou totalmente. A conversa foi parar no ouvido do EvaldoVilela, outro primo meu de Campo Belo, que depois se tornou professor e chegou a reitor da UFV. Na ocasião, parece que ele viu o acontecido e como também não colocava muita fé em mim, comentou numa roda de amigos: “Também uma menina daquelas, pro Tonho, só de tri em tri”.



Fátima e Antônio José, em 1971.
E assim  perdemos o primeiro papa 
brasileiro.  
Fátima e Antônio José, em 2015, 44 motivos para um brinde. 
Você me pergunta como encontrei a Fátima e eu respondo: não sei, parece que foi ela que me encontrou primeiro. Acho que foi em 1971. Era período de férias e eu estava em Santana. Havia um baile marcado para o final de semana, não me lembro se era uma sexta ou um sábado. No final da tarde, o meu tio Fernando, aquele mesmo que quisera bater no Zé Aguinaldo lá no seminário e agora se tornara meu parceiro nas paqueras, chegou pra mim e disse: “Padre cê viu quem chegou para o baile?” Eu respondi: “não ... quem”? E ele: “as meninas de Lavras”.
De vez em quando apareciam em Santana umas meninas
de Lavras e era um reboliço. 
De vez em quando apareciam em Santana umas meninas de Lavras e era um reboliço entre os rapazes da cidade. O Torresmo, esse era o apelido do tio Fernando, já havia paquerado umas duas em ocasiões diferentes. Então, eu perguntei: “é aquela loira?” E ele: “não, é uma morena”. Então falei: “ah, é aquela com quem você ficou da outra vez”? Ele respondeu: “não, é a irmã dela” e eu retruquei: “mas ela é muito nova!” e ele: “ela cresceu e encorpou ... tá um tiro”. Bom, pensei comigo, mas sem comentar com ele: “se é a tal, deve ser aquela com quem eu dancei uma vez lá na casa do Escrivão”. “Bem que ela não me enjeitou como essas meninas de Santana, mas era muito novinha... vamos ver como ela vai estar agora”. Com esses pensamentos na cabeça, já fui mais animado para o baile. Tomei umas e outras e parti cedo para o clube para chegar antes do Torresmo e de outros espertinhos. Lá chegando, dentro de pouco, o conjunto musical começou a tocar e a pista de dança foi enchendo-se de pares dançantes. De repente, no meio das moças eu vejo a morena de Lavras. Reparei que ela estava mesmo mais dotada fisicamente e resolvi arriscar-me. Caminhei para o lado dela e a convidei para dançar, entre afoito e temeroso. Ela aceitou numa boa e eu fiquei um pouco aliviado. Dançamos e conversamos por algum tempo e quando a música parou, ela permaneceu do meu lado sem arredar-se. Já fiquei mais animado. Final da história: ficamos juntos até o final do baile, então eu perguntei se podia deixá-la em casa e, como ela estivesse de acordo, dirigimo-nos para a saída do clube, acotovelando-nos no meio das pessoas que também saíam. Foi quando eu escutei de um rapaz que fazia pouco de mim cochichando com outro: “olha só o mulherão que o Padre arrumou (naturalmente o mulherão não era pelo seu tamanho, mas sim pelos seus atributos)”. 
Aí eu pensei: “agora que eu não a solto mais”.  Mais tarde, com o passar dos anos, fui percebendo que seus atributos não eram somente físicos, e que a Fátima  era uma moça com valores humanos e morais que me fizeram, ao final, esquecer-me de virar papa.
      

5 -
Fátima, Flaviane, Sávio, Laura
e Lucas nos EUA,, em Orlando ,
out/2015
Você/Família andaram fazendo viagens no exterior. Alguns comentários e observações. Muita coisa diferente? Mineiro no exterior não pode ficar de cócoras, não é verdade?  Você perguntou à Fatima qual a diferença entre Nova Iorque e Santana do Jacaré?


Em frente da Igreja de Madeleine, em Paris. 
Resposta: Não entendi bem o lance de mineiro não poder ficar de cócoras, mas imagino que seja porque no exterior ele não vai ter um cigarro de palha pra fazer nem vai encontrar facilmente o “cumpadre” caipira pra bater um dedo de prosa, enquanto pita o seu “paiêro”.
Fátima em frente  da Louis 
Vuitton
Antônio José, em Orlando, foto de 1978
Até que não fizemos muitas viagens para o exterior. Eu viajei uma vez a serviço do extinto IBC (Instituto Brasileiro do Café) para a Jamaica com passagem por Miami e Orlando nos EUA, junto com outro colega do IBC (comentários mais abaixo). Em 2011, viajei com a Fátima para a Holanda, onde ela fez alguns cursos e treinamentos em design floral. Na oportunidade fizemos um périplo por Dublin na Irlanda, Liverpool na Inglaterra e Paris, no caminho de volta para o Brasil. As nossas passagens pela Holanda Irlanda  e Liverpool ) estão registradas em publicações no Blog dos Encontristas, de forma que não pretendo fazer nesta entrevista maiores comentários a esse respeito. Quem se interessar por mais detalhes pode acessar clicando aqui.
Fátima na frente da Galeries Lafayette
Quero acrescentar apenas que o Luiz Alfenas, um dos nossos  editores, cobrou-me uma publicação da nossa passagem (minha e da Fátima) por Paris. Decidi não fazer a postagem porque ficamos muito pouco tempo (três dias) em Paris (Fotos) e praticamente não vimos nada de Paris. No pouco tempo que ficamos por lá, a Fátima me arrastou para as Galeries Lafayette da Boulevard Haussmann e outras lojas famosas da  Avenue des Champs-Élysées como a Louis Vuitton, Boutique Nespresso, etc., onde ela passava horas e horas somente admirando as vitrines, porque o dinheiro para compras, este mesmo, estava curto. Ainda bem que conseguimos visitar o Arco do Triunfo, a Torre Eiffel e passeamos ao longo do Rio Senna e atravessamos a ponte dos cadeados (Pont des Arts, cujos cadeados hoje são proibidos), próximo ao museu do Louvre, onde não entramos. Ir a Paris e não entrar no museu do Louvre nem na Catedral de Notre-

Dame é o mesmo que não ir a Paris, por isso achei melhor não fazer a postagem específica da cidade luminosa. Preferi deixar para outra ocasião, se houver.
Carta da Coffee Industry Board of Jamaica
  em agradecimento ao relatório e recomen-
dações feitas pelos Sr. Ferreira e Swarça 
no combate à broca do café. (clique para ver 
os detalhes)
Antônio José e o engenheiro
agrônomo, Mr. Brown, do
Coffee Industry Board 
Foto de 1978
Quanto à viagem à Jamaica, em 1978, foi uma viagem a trabalho, onde eu e o colega Luiz Carlos M. Swarça do IBC de Londrina representamos o governo brasileiro em missão de apoio ao Ministério de Agricultura da Jamaica após a introdução casual da broca-do-café na ilha, acarretando sérios prejuízos à cafeicultura local. Passamos uma semana visitando as regiões cafeeiras e conhecendo suas particularidades de produção de café, como o especialíssimo Jamaica Blue Mountain Coffee, cultivado nas regiões montanhosas de Blue Mountain, preparado e embalado nas indústrias do Coffee Industry Board of Jamaica (80% da produção exportada para o Japão). Das sementes deste café se prepara o também delicioso licor de café Tia Maria, mundialmente reconhecido.
Já a Fátima viajou neste ano para os Estados Unidos, em companhia de nossa filha Flaviane, seu esposo Sávio e as crianças Laura e Lucas, por ocasião da visita do Papa Francisco ao país. Fizeram um roteiro extenso durante 17 dias, cruzando os céus americanos de sul a oeste e depois leste, passando por Miami, Los Angeles, Nova York, Filadélfia, Orlando e retornando ao Brasil, novamente por Miami.    
Fiz a pergunta à Fátima, que você me sugeriu, e ela respondeu: “em Nova York a gente olha pra cima e só vê arranha-céu e em Santana, a gente só vê céu”.     



6 - Por fim, fale algo sobre sua filha Camila, que sempre está alegre presente nos nossos Encontros... também sobre  outros filhos(as) ,  netos(as). E, também, sobre as atividades da Fátima, que vive promovendo casamentos aí em Lavras.


Camila e sua inseparável
companhia, a Safira. Ao fundo
a vó Gaída. 
Resposta: realmente a minha filha Camila gosta muito dos nossos encontros, dos quais ela prefere participar de seu jeito característico: estar presente, mas nem sempre participando de todos os acontecimentos. Ela se satisfaz em encontrar e bater um papo com as amigas que ela conheceu nos primeiros encontros como a Dita, a Nazaré, a Marina,  esposa do Tupy, a Judith e outras; e, no resto do tempo, recolhida em seu canto apreciando os seus cigarrinhos. Assim também como aqui em casa, onde ela prefere ficar no seu quarto e nem sempre participa dos acontecimentos e festas de família. É o seu jeito de ser que nós respeitamos e a gente apenas lamenta que em muitas fotos de família ela não aparece porque não estava presente ao acontecido.
Paulo Henrique, Natália e Antônio 
Henrique
Flaviana, Sávio  e as crianças,
Lucas (1) e Laura (6)
Temos dois filhos casados: o médico Paulo Henrique, casado com a Natália, estudante de Odontologia, que nos deram um netinho, o Antônio Henrique (9 anos), e que residem em Lavras; e a Flaviane, assistente social, que eu já citei, casada com o engenheiro agrônomo Sávio; e que moram em Ponta Grossa – PR, juntamente com nossos dois outros netinhos, a Laura (6 anos) e o Lucas (1 aninho).
Amanda e Junior
Temos também o filho caçula Júnior (Antônio José), formado em Educação Física, que trabalha na Aeronáutica em Pirassununga, e ainda não se casou, mas está de namoro com a Amanda, engenheira de alimentos, que trabalha na empresa Jeito Caseiro de Lavras.

Decoração da Fátima no Clube
 Camuá, Lavras (Out 2015)
Decoração da Fátima no Clube
 Camuá, Lavras (Out 2015) - detalhe
Design floral da Fátima



Como você me pergunta, a
Foto de outra decoração da Fátima
Fátima trabalha há uns 20 anos como design floral fazendo decorações em eventos e festas. Ela é apaixonada pelo seu trabalho e é capaz de passar noites e madrugadas nos fins de semana executando a sua arte. Como diz o ditado: “uma imagem vale mais que mil palavras”. Dessa forma, prefiro apresentar algumas fotos de seu trabalho artístico para vocês verem se eu não tenho razão de estar gabando-me e todo orgulhoso de sua capacidade.    

    


7 - Qual a sua visão do Brasil de amanhã?

Resposta: Excelente pergunta, todavia de difícil resposta e para respondê-la corretamente eu precisaria escrever um livro de, pelo menos, umas 200 páginas. Todavia, vou tentar ser sucinto.
Desde o nosso tempo de seminário ouço dizer: o Brasil é o país do futuro. E lá se vão mais de 50 anos e parece que esse futuro nunca chega. No entanto, de fato o Brasil era e continua sendo o país do futuro e já reconhecido mundialmente como uma potência global, senão vejamos:
a)     Posição do Brasil no panorama mundial: 5º maior país em extensão territorial; 5º em população; 7ª economia mundial (PIB-2014).
b)    O Brasil é um dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, etanol de cana-de-açúcar e suco de laranja. Além disso, lidera o ranking das vendas externas do complexo da soja (farelo, óleo e grão) e tem o maior rebanho bovino comercial do mundo.
c)     Atualmente, o Brasil é 13º em reserva e 12º em produção de petróleo no mundo. Levando em conta as estimativas conservadoras, que apontam que o pré-sal possui reservas da ordem de pelo menos 60 bilhões de barris de petróleo, o país tem chances de entrar para a lista das 10 maiores potências petrolíferas até 2030, ultrapassando Estados Unidos e Líbia.
d)    O Brasil tem uma participação importante no cenário mundial de reservas minerais. O Brasil é possuidor das maiores reservas de nióbio (98,2%), barita (53,3%) e grafita natural (50,7%) em relação ao resto do mundo. O país se destaca também por suas reservas de tântalo (36,3%) e terras raras (16,1%), ocupando a posição de segundo maior detentor destes bens minerais. Os minérios de níquel, estanho e ferro também apresentaram participação significativa de valores de reserva a nível mundial.
e)    O Brasil possui a maior reserva mundial de água doce e tem o maior potencial hídrico da Terra; aproximadamente 13% de toda água doce do planeta encontra-se em seu território.
f)      Segunda maior reserva florestal do mundo, atrás apenas da Rússia. No entanto o Brasil possui a maior cobertura de florestas tropicais do mundo, especialmente concentrada na Região Amazônica. Por esta razão, aliada ao fato de sua extensão territorial, diversidade geográfica e climática, nosso país abriga uma imensa diversidade biológica, o que faz dele o principal entre os países detentores de megadiversidade do Planeta, possuindo entre 15% a 20% das 1,5 milhão de espécies descritas na Terra. Possui a flora mais rica do mundo, em torno de 55 mil espécies de plantas superiores (aproximadamente 22% do total mundial); 524 espécies de mamíferos, 1.677 de aves, 517 de anfíbios e 2.657 de peixes.
Vou parar por aqui com esses dados estatísticos porque senão esta entrevista vai se alongar além de seus objetivos estabelecidos e nem todo o mundo tem paciência e tempo para debruçar-se sobre tantos números.
Então, vem outra pergunta: por que com tanta riqueza e tamanho potencial o Brasil vive num drama que parece que vai afundar de uma vez?
Realmente é difícil de entender e eu já me fiz esta pergunta várias vezes. Eu sou otimista e esperançoso e confio naquela frase: “o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro”. Mas no momento estou um pouco temeroso. Penso que o futuro do Brasil depende do resultado dessa briga de cachorros grandes que se está travando atualmente: de um lado um governo progressista, comandado por uma mulher valente, corajosa e honesta, que externamente peitou o governo americano na questão das espionagens e na criação do grupo dos BRICS, mas internamente se encontra fragilizada pela falta de apoio político e pela pesada campanha da mídia, e, do outro lado, uma oposição conservadora aliada a grupos
Direitistas radicais (ambos apoiados por grandes empresas americanas e outras multinacionais interessadas em apropriar-se de nossas riquezas)
que não reconhecem a derrota nas urnas e querem a todo custo destituí-la, mesmo que este custo seja implodir o nosso país. Acho que esse confronto iniciou-se mais ou menos dois anos antes das últimas eleições e culminou com a declaração da presidente durante a campanha eleitoral ao manifestar a sua decisão de combater a corrupção, desmontando pedra sobre pedra, doa a quem doer. Esta firme decisão contribuiu para que se reunissem do outro lado todos aqueles com o “rabo preso” temerosos das consequências desta firme determinação, se levada a termo. Isto a enfraqueceu ainda mais politicamente, porque entre os de “rabo preso” existem grupos de mídia, da oposição, do judiciário, do ministério público e do próprio governo e aliados, e só Deus sabe o resultado final desse embate.     

8- Lulu: Vai mais uma pergunta para o Santana: você participou na organização de dois Encontros, o que você recomendaria para aqueles que vão organizar os próximos? O que não pode faltar para o sucesso de um Encontro? 

Resposta: Penso que os organizadores do próximo encontro, tendo à frente o Lulu e o Edgard, têm uma grande experiência na organização de eventos desse tipo e acredito que o encontro em Senhora de Oliveira será um grande sucesso, superando todos os anteriores. O que eu posso recomendar é que depois de tudo programado, mais ou menos uma semana antes do encontro, chequem tudo, para que não ocorram imprevistos de última hora, como por exemplo, a banda não aparecer, faltar água durante as viagens, entrar no cemitério para preencher o tempo enquanto a banda não vem, etc..

9- Siovani: O meio acadêmico, ou boa parte dele, ainda tem sido um baluarte na sustentação do PT e do governo Dilma. O que você tem a dizer-nos sobre o assunto?

Resposta: concordo com você neste ponto e acrescento que isto se deve em grande parte ao grande esforço que o Lula fez em seus dois períodos de governo para dar sustentação às universidades e institutos federais de educação e a Dilma tem dado continuação, criando-se nesses dois governos do PT várias novas universidades e escolas técnicas, como também o Prouni e o Ciências sem fronteiras. Tudo isso, somado ao descalabro que existia nas universidades anteriormente no governo FHC, era de esperar-se que houvesse um apoio maior no meio acadêmico às políticas do governo Dilma, todavia não é o que se observa e existem muitas resistências. Acho que isto se deve à campanha pesada de desmoralização que a mídia faz contra o PT, Lula e Dilma com interesses escusos. E olha que eu não sou petista de carteirinha, apenas simpatizante porque me identifico com seus propósitos de justiça, igualdade, patriotismo, democracia, liberdade, fraternidade e constitucionalidade, apesar de lamentar alguns erros e fracassos.
 
Entrevistador: Seoldo
Revisão: Siovani
Edição: Lulu
 



sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Relatório do VII Encontro da EASO por Siovani

I

Amanhecer de Campo Belo como visto do Convento dos
Crúzios. Foto Gentilmente cedida por Nazaré Costa (Cli-
que para abir a foto em tamanho grande)
A foto da Nazaré com que iniciamos a abertura deste relato do nosso Sétimo Encontro pode ser vista como uma feliz representação e coroação das conversas que tivemos durante o encontro; vou tentar transmitir neste relato o porquê de tal observação.

Quando chegávamos a Campo Belo, quando a cidade se abriu diante dos nossos olhos, o sol mostrava-se enorme e vermelho descendo atrás de um morro. Naquele dia, 25 de Setembro, praticamente no equinócio da primavera, esse espetáculo acontecia às seis horas. Ali ele morria para renascer na foto que o Raimundo fixou. Para conseguir o objetivo que tracei acima vou falar de duas jornadas: a do nosso VII Encontro e, entremeada, de uma outra tecida em um  poema de Fernando Pessoa que fez parte de uma conversa que mantive com o Edgard, sendo esta sua primeira estrofe:

         Eros e Psique

Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.


A simpatia acolhedora do Padre
Júlio.
O nosso Encontro, também adormecido na espera de um longo ano, renascia naquela noite com a presença dos caros amigos easistas no Convento da Santa Cruz, onde fomos acolhidos pela simpatia do Padre Júlio. Logo ao chegar já nos surpreendemos pela bela obra que encontramos, a qual víramos antes apenas nos alicerces. Feitas as inscrições, fomos levados a uma sala onde uma mesa fazia o centro para reuniões. Ao lado janelas se abriam para a cidade, que se oferecia em uma vista panorâmica. Ali nos esperava também, além dos padres brasileiros e noviços da Ordem de Santa Cruz, o representante dos antigos padres holandeses, o Padre Tiago, figura agradável, sempre com um sorriso nos lábios, uma pequena voz suave, que num momento posterior, ao responder aos agradecimentos que foram dirigidos aos padres que nos acolheram no seminário, devolveu-nos: “o que seria de nós sem vocês”.

Os padres Crúzos
Após as palavras de acolhida do Padre Júlio foram feitas as orações que o Tupi preparara em folhas impressas, cujo auge foi a música de Gonzaguinha “O que é, o que é?”. Em uma apóstrofe às orações, o casal Nonato e Nazaré recebeu um pacote, que aberto revelou uma escultura do Espírito Santo, um presente da Fátima, esposa do Santana, – esta esteve ausente ao Encontro devido a uma viagem – para que fosse instalado no sítio do casal; tendo sido a imagem abençoada, ali mesmo, pelo Padre Tiago. Em seguida o Edgard pediu a palavra para fazer a leitura da mensagem que o Seoldo, distante fisicamente e tão próximo, enviou-nos, secundado ainda pela Rosimere, que leu a mensagem também nos enviada pela Judite, com especial dedicação dirigida às amigas – ver textos abaixo.
Escultura do Espírito Santo oferecida
à Nazaré pela Fátima
E as conversas de reencontro tomaram conta do ambiente entrecortadas pela cerveja, refrigerantes e acepipes, que já nos acostumamos a enaltecer, servidos pelas irmãs do Santana. E a alegria foi se achegando à noite até que fomos convidados a dirigirmo-nos ao refeitório do convento onde nos esperava um jantar preparado pelos padres e noviços, os quais nos  foram todos apresentados, inclusive um indonésio que pouco falava o português:

Padres:
Júlio César Evangelista Resende (prior), Elione Corrêa, Wilson Burato Dias, José Cláudio Nilton, Raphael Priyo Handyanto e André Dadang;

Noviços:
 Hiago Henrique, Carlo Eduardo Sousa Retori, Marcos Antônio Rodrigues Lélis e Daniel de Souza Gomes. 

Cátia e Edgard, o re-
encontro com as ma-
ravilhas divinas. 
Durante o jantar pude conversar demoradamente com o Edgard, que expressava júbilo por tudo que lhe estava acontecendo, demonstrando um fervor inusitado com o seu (re)encontro com as maravilhas divinas. A alegria que encontramos no Edgard foi uma das melhores marcas deste Encontro.

Mas havíamos abandonado a princesa encantada lá em cima à espera do Infante, dormindo dentro do muro de sua inconsciência. E como a noite já ia alta, o sono da princesa nos convidou para sua companhia, levando aos sonhos uma esperança.


II

Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.


Enquanto descansávamos o Infante cumpria sua jornada de herói entregando-se aos prazeres e cruezas do mundo. Como o grande Hércules, ele teria que, sem escolha, descer ao mundo de Hades para vencer o seu guardião, e experimentar os excessos da insanidade, antes que, redimido pela experiência, deixasse o caminho errado.

E no acordar do sábado havia a programação das Laudes  e o café da manhã.  Em seguida o Padre Júlio falou sobre a Ordem da Santa Cruz e fez suas reflexões sobre “Olhar do Papa Francisco sobre o mundo atual”, onde, se enalteceu o Papa pelo seu carisma e ativismo, também mostrou restrições a algumas atitudes que “nos incomodam”, conforme suas palavras. Solicitado a enumerar tais incômodos, falou da frase “mexicanização da Argentina”, pelo seu caráter não diplomático; pela defesa aos atacantes do Charlie Hebdo quando disse que - citando de memória - se alguém agride sua mãe, você revida com um soco na cara.

O que iniciou um debate acirrado foi a questão referente à facilitação de anulação de casamentos, onde a posição radical do Ázara contra qualquer possibilidade de dissolução de casamento se contrapôs ao Edgard, beneficiado por este dispositivo. Confesso que fiquei surpreso ao perceber no primeiro o fundamentalismo, pois parece incompatível com seu jeito brincalhão e moleque.

Tendo o Padre encerrada a sua palestra, o Tupi voltou a distribuir novas folhas de orações anteriormente preparadas. Aqui também houve um dissenso entre os easistas, pois alguns deixaram o recinto por não concordarem em transformar nossos encontros de amizade em encontros religiosos. A crença ou não crença de cada um deve ser respeitada. Não achamos que esse tipo de atividade não deva haver, mas simplesmente não deve ter caráter coercitivo; dever-se-ia fazer um convite aos que espontaneamente queiram participar.


Eustáquio também falou antes do 
almoço

Fomos chamados para o almoço no refeitório do convento nos moldes do jantar da véspera. À esta atenção dos padres temos muito a agradecer, acolhida melhor não poderíamos imaginar:
 jantar, almoço, palestra e a oferta das dependências do convento onde diversos easistas se hospedaram.

Voltemos então ao nosso Infante que abandonamos em sua hercúlea jornada através dos caminhos desregrados.

III

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.


A Princesa, ainda inconsciente das lutas pelas quais o Infante enfrenta, sonha talvez com ele. A grinalda de hera que lhe orna a fronte pode nos levar à ciumenta deusa da fidelidade, Hera, que por causa das traições de Zeus perseguiu Héracles-Hércules desde o seu nascimento: sendo a infidelidade um motor potente o suficiente para desencadear tormentos de culpa.

E a nossa jornada no sábado continuava sem compromissos escalados para a tarde. Alguns colegas foram assistir a um ensaio da fanfarra do Colégio Dom Cabral na Vila Vicentina, outros preferiram recuperar-se para a jornada da noite que se anunciava.


IV

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,

Ela para ele é ninguém.


E o Infante continua a trilhar o caminho que lhe foi predestinado inconsciente do seu objetivo fatal.

Na noite do sábado estávamos convidados a uma missa na Capela da Santa Cruz. Após a missa, corações mais leves e liberados para alguns excessos, fomos para o pátio do Colégio Dom Cabral onde as mesas de concreto foram cuidadosamente paramentadas pelo bufê da Tuza,   BUFFET KI-KOMIDA  - assim com letras maiúsculas para tentar deixar transparecer a gigantesca qualidade e eficiência de seus serviços - ,  para o que foi programado como uma Noite de Roda de Viola.

Juntou-se ao grupo nesta noite o Clayton, nosso colega da turma de 1964, e sua esposa Regina. Ausente na noite, o Baliza não deixou de enviar pelo Eustáquio as garrafinhas de cachaça com o rótulo do VII Encontro, objeto de coleção para alguns colegas.

E a noite correu sob um elenco de músicas, muitas das quais embalaram nossos momentos na sala de recreio antes da hora de dormir. O olhar se dispersa um pouco e ainda vê o Eustáquio, um pouco mais novo, a cabeça não tão branca, a revirar os discos na vitrola, amparado pelos pitacos de alguns colegas sentados ao redor, mas, aí, a visão do Padre Humberto embaçou tudo...

Santana se revela e Ázara continua dançando
Enquanto a Germana novamente corria livre para colocar em alguns mais exaltação, o Ázara não perdia uma música,bebia  as notas caídas no seu copo e dançava, incansável, noite adentro.

Os garçons não nos deixavam descansar, sempre prontos a encherem nossos copos e a oferecer-nos os deliciosos salgados ofertados pelas irmãs do Santana.  A brincadeira mais comum na noite foi “senta aqui, puxa uma cadeira”, o que o concreto se recusava a concordar.

Não se deixou de cutucar o Rafael com a música que o Padre Humberto o repreendeu por não ser adequada a seminaristas, e lá foram pedir ao cantor que tocasse “Sapore de Sale” e “Quando Calienta El Sol”. E pudemos ouvir:

Sapore di sale
(Gino Paoli, Ricky Gianco)


Sapore di sale,                     (Sabor de sal,)

sapore di mare,                   (sabor de mar,)

che hai sulla pelle,              (que tens na pele,)

che hai sulle labbra,           (que tens nos lábios,)

quando esci dall'acqua      (quando sais da água)

e ti vieni a sdraiare             (e vens deitar-te)

vicino a me                           (pertinho de mim)

vicino a me.                          (pertinho de mim.)

Sapore di sale,                     (Sabor de sal,)

sapore di mare,                   (sabor de mar,)

un gusto un po' amaro       (um gosto meio amargo)

di cose perdute,                  (de coisas perdidas,)

di cose lasciate                    (de coisas deixadas)  

lontano da noi                     (longe de nós)

dove il mondo è diverso,   (onde o mundo é diferente,)

diverso da qui.                     (diferente daqui.)

Qui tempo è dei giorni       (Aqui o tempo é de dias)

che passano pigri                                (que passam lentos)

e lasciano in bocca             (e deixam na boca)
il gusto del sale.                   (o gosto de sal.)
Ti butti nell'acqua               (Mergulhas na água)
e mi lasci a guardarti          (e me deixas a olhar-te)
e rimango da solo               (e fico sozinho)
nella sabbia e nel sole.       (na areia e no sol.)
Poi torni vicino                    (Depois voltas)
e ti lasci cadere                   (e te deixas cair)
così nella sabbia                  (na areia)
e nelle mie braccia             (e nos meus braços)
e mentre ti bacio,               (e enquanto te beijo,)
sapore di sale,                     (sabor de sal,)
sapore di mare,                   (sabor de mar,)
sapore di te.                         (sabor de ti.)



Cuando calienta el sol










Amor estoy solo aqui en la playa,
es el sol quien me acompaña
Y me quema, y me quema, y me quema


Cuando calienta el sol aquí en la playa

Siento tu cuerpo vibrar cerca de mi
Es tu palpitar, es tu cara, es tu pelo
Son tus besos me estremezco, oh oh oh!

Cuando calienta el sol aquí en la playa
Siento tu cuerpo vibrar cerca de mi
Es tu palpitar, tu recuerdo, mi locura
Mi delirio, me estremezco, oh oh oh!


Cuando calienta el sol

Aquí en la playa
Cerca de mi
Es tu palpitar

O cansaço pouco a pouco foi cuidando de deixar as mesas de concreto ainda mais rígidas de solidão, dos últimos remanescentes o Lua encontrou um grande camarada no Carlos Eduardo, um dos noviços, lá mesmo de Campo Belo, marinheiro experimentado que já cruzou os mares do nosso globo.



V

Mas cada um cumpre o Destino 
ela dormindo encantada,

ele buscando-a sem tino

pelo processo divino

que faz existir a estrada.


No livro de Philip K. Dick, “O Homem do Castelo Alto”, pode-se ler esta frase que também fala dessa estrada difícil:
“mesmo se uma só pessoa encontrar o caminho... significa que há um caminho, mesmo que eu pessoalmente não o alcance.”

Domingo: o dia seria passado no sítio da Maria das Graças, e no Hotel Champagne já nos juntamos para o café da manhã e para a espera do ônibus.
Em Santana do Jacaré
Lá fomos novamente para Santana do Jacaré rever o rio que tantas lembranças traz aos easistas; hoje, um tanto esmaecido como todas as nossas águas, já não é mais um jacaré, talvez possamos dizê-lo um mero camaleão. Ultrapassamos o rio, atravessamos toda a cidade passando em frente ao seu mais ilustre prédio, a casa onde ainda hoje habita a mãe do Santana, Senhora Margarida, e chegamos ao sítio.
Uma mesa estava preparada com um café da manhã que me entristeceu por ter tragado o meu no hotel. Requintes dessa família que fez dos quitutes uma arte de bem servir.
Quem quis abraçou o Jatobá que viu o Toinzé crescer
Após a fartura da mesa, fomos convidados a abraçar o Jatobá. Perceberam o “o”? Pois é assim mesmo, não um jatobá, mas o Jatobá que viu o Toinzé crescer, e vice-versa; até não seria exagero dizer que conhecemos mais um irmão do Santana, e que este fica devendo-nos um livro, onde superando José Mauro de Vasconcelos, fale-nos de toda sua trajetória infantil ao pé daquele irmão. Muitos braços ao redor do tronco foram unidos para o abraço. Alguns, com saudade dos tempos do seminário, procuraram no chão algumas vagens – já não restavam na árvore – que ainda pudessem saborear, outros se interessaram nas sementes para plantar.
Vontade de beber café
Enquanto ali na sombra daquela árvore rainha do sítio, ouvimos os relatos do Toinzé sobre os tempos que ali cresceu. Do levantar-se de madrugada para fazer o café antes de pegar a estrada para ir à escola, da caminhada de cerca de uma hora ao lado da irmã, da vez em que, tonto de sono, acordou, fez o café e só então descobriu que ainda era meia-noite, pois o pai, tendo percebido o engano, ficou calado até o café ficar pronto, pois “eu vi que cê tava enganado, mas tava com vontade de beber o café”.
Enquanto caminhamos deixando o Jatobá em sua paz, vamos continuar na saga do nosso já querido Infante.
VI
E, se bem que seja obscuro c
tudo pela estrada fora,

e falso, ele vem seguro,

e, vencendo estrada e muro,

chega onde em sono ela mora.


A estrada muitas vezes causou duras penas, lutas inglórias e injustiças, mas o que importa é que a estrada existe; suas pedras pouco mudam de lugar, mas cada Infante que por ali se aventura as pisa de maneira inusitada, às vezes esmagando-as, às vezes caindo num tropeço.
Mas ali no sítio tudo é a pura alegria do compartilhamento da amizade que nos une embalada por um sol sem o sabor de mar, mas com o sabor de suor que a piscina de três lugares, como o Santana nos prometera, estava apta a mitigar.
Dona Margarida quando chegava para 
sonhar conosco. 
A turma foi se reunindo junto a muitos familiares do Santana, inclusive a Dona Margarida esteve ali na sombra conosco. Primeiro apareceram as cervejas e os refrigerantes para ajudar a expelir o calor, um pouco mais tarde, devido à coragem do irmão do Santana, Paulo Roberto, de enfrentar o calor das brasas, os churrascos passaram a tomar o tempo de todos, que não se recusavam a contrariá-los. E ainda houve o almoço servido para os mais corajosos.
Após o almoço chegou a hora de nossa reunião para decidir o futuro de nossos encontros. Falou-se em diversas opções, tendo o Benone proposto um encontro turístico em Bonito- MS, O Lua voltou a oferecer Morretes – PR, além da possibilidade de Arraial D’Ajuda, desta vez prometendo colocar seus amigos, donos das pousadas, diretamente em contato com os organizadores dos encontros.
Devido ao caráter supressivo das demais, a primeira proposta apresentada para votação foi a do Nonato: todos os nossos encontros deveriam acontecer em Campo Belo, lugar de nossas origens agregadoras, mas a maioria rejeitou-a.
Uma segunda proposta, também supressora dos encontros turísticos, foi apresentada: os encontros deveriam ser circunscritos a lugares que tivessem alguma relação com os easistas, sendo citadas as cidades de Senhora de Oliveira, Leopoldina e Juiz de Fora para os próximos encontros. A maioria aprovou esta proposta sepultando, para desaponto do Benone, a ideia de encontros em lugares turísticos.
Vista parcial de Senhora de Oliveira
Em seguida o Eustáquio propôs, Lulu e Edgard concordaram com alegria, que nosso próximo encontro acontecesse em Senhora de Oliveira, o que foi aceito quase por unanimidade, definindo assim o próximo como um encontro bucólico nos moldes do que tivemos em Nova União. 
Tudo acertado, hora de voltar a Campo Belo onde a noite ainda nos reservava algumas surpresas, pois devido ao desfile que acontecia na praça principal as ruas achavam-se bloqueadas, trazendo-nos dificuldades para circular e encontrar um restaurante para jantarmos. Mesmo que alguns não pudessem comer queijos e afins, tiveram todos que   resignarem-se a enfrentar a pizzaria.
VII
Segunda-feira:
O José Geraldo convidara-nos a todos para um almoço em seu apartamento que fica justo em frente à praça principal onde aconteceria o desfile. Devido ao compromisso com nosso netinho de buscá-lo na escola por volta do meio-dia, tivemos que declinar o convite e, em companhia do Lua, voltamos cedo para Belo Horizonte. 
Transcrevo, então, palavras do Lulu e do Santana sobre a agradável manhã:
Os anfitriões já nos haviam alertado: venham cedo porque o espetáculo merece ser visto desde o início. Rosalino cumpriu à risca essa orientação e foi o primeiro a chegar e,  como sempre acontece,  filmou tudo – não sei se para compartilhar, mas com certeza para atender a sua sina de colecionador.  O certo é que antes das nove o ap só não estava cheio porque é tão espaçoso quanto bonito.   Além dos donos da casa, amigos e vizinhos, e não eram poucos, lá estavam o Clayton e sua esposa, Regina, Nonato e Nazaré, Edgard e Cátia, Lulu e Maria José, o casal dançarino, Ázara e Ica, Rosalino e Antonio José, o Santana. O padre Wilson só chegou depois de encerrado o desfile, pois era linha de frente da fanfarra do Dom Cabral.  José Geraldo e Marta circulavam preocupados em bem receber, verificando se a fartura de bebidas e canapés estavam chegando às varandas, que são duas, uma no quarto da frente e outra  como prolongamento da grande sala de recepção.  Espaço não faltou e muito bem colocado para quem quisesse ver o que acontecia na grande Praça Cônego Ulisses, e nesse dia quem não haveria de querer:  ali passou, entre tantas, a  bem ensaiada fanfarra do Colégio Dom Cabral. Ritmo, beleza das musicas escolhidas, beleza das meninas que marchavam à frente.  Como disse o Santana,  o Padre Wilson regia a fanfarra fazendo-nos lembrar o saudoso Padre Cornélio em toda sua exuberância.  Houvesse prêmios, seria , sem dúvida, a vencedora.
Por fim, depois de muita cerveja, refrigerantes  e petiscos, posamos para fotos e fomos ao almoço. Nem precisa dizer, quem caprichou na entrada não deixaria de se esmerar no prato principal: lombo de porco, arroz à mineira, tropeiro e uma salada de fazer inveja aos melhores gourmets do mundo. 

Acendeu a chama do
amor, o castiçal da
amizade, um presente
do casal José Geraldo
e Marta..
Além de tudo isso, o casal amavelmente distribuiu presentes para as senhoras easistas, cuidando em arrumar portadores para a entrega às que ali não puderam comparecer.
Se a jornada do nosso VII Encontro acabou, a do Infante ainda está em curso. Depois de tantas voltas, tantos caminhos tortos, agora o nosso Infante, amadurecido, tal qual o filho pródigo, está pronto para o retorno.
E, inda tonto do que houvera,

à cabeça, em maresia,

ergue a mão, e encontra hera,

e vê que ele mesmo era

a Princesa que dormia.

Vista de frente do modelo em gesso patinado 'Psiquê revivida
pelo beijo de Eros', de Antonio Canova, exposta no Museu
Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
Dante Alighieri representou nossa jornada pela vida como um semicírculo, a metade inicial do arco simbolizando o período da infância e do amadurecimento. Essa vida exterior de busca, perplexidade e incompletude atinge o ápice aos 35 anos; a partir daí, a consciência da vanidade nos empurra de volta à vida interior, à busca de nosso verdadeiro Eu, ou Alma, ou Cristo, ou o Amigo. Fernando Pessoa estruturou o poema em sete estrofes de cinco versos cada, representando os trinta e cinco anos. Há um dito popular que diz que a vida começa aos quarenta.

E assim nos despedimos certos que teremos no próximo ano um Encontro que nos será oferecido, no mínimo, com o mesmo carinho que recebemos neste, sob a coordenação, que já sabemos eficiente, do Lulu e do Edgard. A este desejamos que sua alegria continue a contagiar-nos com felicidade e esperança.

oooooooo - oooooooo


Texto do Seoldo:

 SAUDOSOS EASISTAS E FAMILIARES,

 CUMPRIMENTOS RESPEITOSOS AOS PADRES CRÚZIOS E SEMINARISTAS.

 PREZADOS DEMAIS PARTICIPANTES,


      "NENHUM VENTO SOPRA A FAVOR DE QUEM NÃO SABE PARA ONDE IR". (JÁ DIZIA O SÊNECA). GRAÇAS À PRESSÃO DA NOSSA AMIGA EASISTA ROSIMERE MOREIRA E À RÁPIDA INTERVENÇÃO DO GRUPO RAFAEL / RAIMUNDO / TUPI / LULU, O VII ENCONTRO FOI SALVO! NO FIM, PARABENS A TODOS PELA AJUDA NA ORGANIZAÇÃO, COMO O TOINZÉ  SANTANA / EUSTÁQUIO / BALIZA / PADRE JÚLIO, E OUTRO(A)S... O CARÁTER FUNDAMENTAL DESTES ENCONTROS É A RAIZ CRÚZIA, QUE NOS ATRAIU NO PASSADO E QUE SE CONFIRMA AGORA ATRAVÉS DESSA NOSSA UNIÃO. SE CIÊNCIA É CONHECIMENTO ORGANIZADO, SE SABEDORIA É VIDA ORGANIZADA, ENTÃO ESSES NOSSOS ENCONTROS SÃO SAUDADES ORGANIZADAS.



CABE  AQUI UM PEQUENO SILÊNCIO PARA EASISTAS / FAMILIARES / PADRES QUE PASSARAM PARA O "OUTRO LADO DO CAMINHO". LEMBREM-SE DO CONSELHO DE OUTRO VELHO SÁBIO: "PARA SE TER VIDA LONGA É PRECISO VIVER DEVAGAR". O SUPORTE DO GRUPO PARA AQUELES QUE LUTAM COM SEUS PROBLEMAS É UMA PEQUENA CARGA DE TODOS. COMO JÁ DISSE UMA VEZ: NÃO PODEMOS RESOLVER OS PROBLEMAS DE CADA UM, MAS, SIM, PODEMOS ABRAÇAR CADA UM COM SEUS PROBLEMAS. POR FALAR EM ABRAÇO, O TUPI FICOU ENCARREGADO DE DAR UM SEGUNDO ABRAÇO A CADA PARTICIPANTE EM NOME NOSSO (JUDITE E EU).



COMO REFERI NA MINHA ENTREVISTA:  "QUEM FALA MUITO, ERRA MUITO;  QUEM FALA POUCO, ERRA POUCO; E O SILÊNCIO NOS AJUDA A ERRAR MENOS". A VIDA MUDOU, PORÉM NÃO DESAPARECEU.


ABRAÇOS SAUDOSOS A TODOS.


OBRIGADO AO EASISTA EDGARD ALFENAS PELA LEITURA DESTA MENSAGEM.




                                                 D O N A    N O B I S    P A C E M !






 EASISTA Geraldo H. Seoldo Rodrigues

( Tucson / Arizona / USA)  -  Setembro 2015 - VII ENCONTRO EASO.




                                                oooooooo - oooooooo



Texto da Judite:

Minhas queridas amigas, companheiras e demais EASISTAS

Saudações a todas! Meu coração está cheio de saudades e ao
mesmo tempo de frustração por não lhes acompanhar neste
Encontro de Campo Belo.

As milhas nos separam, porém o espírito de amizade, de
irmandade e de preocupação para cada um de vocês supera a
distância.

Acabo de assistir a chegada do Papa Francisco – um homem de
Deus que traz uma mensagem aplicável a qualquer pessoa
humana. Chorei de emoção como muitos aqui nos Estados
Unidos – que no momento se acham um pouco des unidos. O
mundo está precisando tanto da mensagem dele – não somente
das palavras, mas da sua demonstração na vida que ele vive.

Um bom proveito a todas nestes dias juntas. Fiquem certas de que
estou com vocês espiritualmente. Que Deus nos reúna no próximo
ano.

Abraços, minhas amigas,

Judite

Tucson, Arizona
Um abraço para Judite