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segunda-feira, 7 de março de 2011

CRÔNICAS Outubro de 1961 (Ipsis litteris)



CRÔNICAS

Iniciamos estas no meio do mês de outubro, anotando os principais acontecimentos dêste nosso fim de ano.
Como há tempos se anunciara, começou-se a construção da outra parte dêste nosso prédio. A  antiga calma desapareceu: ora são os caminhões, carregados de madeiras, areias ou pedras, que sobem, rangendo, êste môrro, ora os monótonos ruídos dos martelos, da serra e das marretas. Quando chegou a máquina de fazer concretos duplicaram-se os barulhos, e então era com pesar que nos lembrávamos da antiga calma.
Com muito prazer nosso , no dia 23 fomos assistir ao filme Família Trapp na América, de que todos gostamos muito. Poucos dias depois assistimos a "Saeta, o  canto do rouxinol". Êste costume de ir de vez em quando ao cinema, está sendo muito apreciado por nós; uma diversão a mais nunca é ruim.
Neste fim de ano, nossas atividades futebolísticas não foram muito felizes: certo dia o Sparta quis jogar conosco, mas perdeu de 3 X 2; êles não se conformaram com a derrota e convidaram-nos para uma série "melhor de três", finda a qual o campeão ganharia uma taça.
Apanhamos o primeiro jôgo; o segundo, que poderia ser o da decisão, transcorreu debaixo duma dessas chuvinhas que abatem os ânimos mais exaltados. E para completar, os nossos jogadores não estavam muito felizes em suas jogadas; o resultado acusou 8 X 6 a favor do Sparta, e lá se foi a taça em que tanto queríamos por as mãos.
Alguns dias depois, também o "Infantil" do Comercial quis jogar conosco; e após um jôgo mal apitado, saímos de campo, com 5 X 4 para o Comercial, e encerramos tristemente a nossa temporada.
Por ocasião do penúltimo domingo de outubro, o Domingo das Missões, o Diretor Padre Humberto nos pediu que fizéssemos um trabalho escrito sôbre as Missões. Isto nos ajudaria a lembrarmo-nos melhor delas em nossas orações. Todos se esforçaram por fazer algo do melhor; em verdade, houve vários trabalhos ótimos (dos quais dois seguem neste jornalzinho).
Apareceram até poesias e desenhos. No fim o Padre premiou a todos principalmente aos melhores colocados, e todos saíram muito contentes.
Novembro, como sempre, iniciou alegre para os estudantes dois dias de folga, dia 1 e 2.
No dia 4 chegou a Campo Belo o padre João, vigário coadjutor, que voltava de suas férias na Holanda mais gordo e a vender saúde.
No dia 10 assistimos a uma comédia O Bobo do rei, levada a palco pelos estudantes católicos de Campo Belo, dirigidos pelo padre Antônio. Foi uma noite divertidíssima e ao mesmo tempo instrutiva. Foi uma bela apresentação! Parabéns aos atores e ao diretor, e fazemos votos que continuem sempre a trazer-nos cultura dum modo alegre.
O dia 14 foi o dia bendito, o sonhado dos estudantes desde o primeiro dia de aulas: o último dia das aulas.
Todos estão alegres e dispostos a enfrentar as provas parciais, último passo para as férias.
Começaram as provas no dia 16, para acabar somente no dia 27.
Por êste tempo o padre Diretor deixou que os seminaristas do científico fizessem passeios para onde quisessem. Êles, mito contentes logo arrumaram varas, anzóis e tudo o mais preciso para pescar.
As provas orais começaram no dia 1o. de dezembro, e só acabarão no dia 6. Depois estaremos de férias.
No dia 8 faremos uma festinha de despedida a um seminarista que parte para o seminário Maior. A 10 assistiremos a ordenação sacerdotal do diácono Guido.
E finalmente, no dia 11, bem cedinho, estaremos partindo para nossos lares.
Marcos A. Rocha
1o. científico
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PENSAMENTO
O demônio é leão terrível ou tímida formiga, conforme fôrmos nós formiga ou leão. (S. Gregório Magno)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Crônica: o futebol naquele tempo (Ipsis litteris)


CRÔNICAS
(10 de maio até 4 de Julho de 1960)         
         Corre rápido o mês de maio e a temperatura nestes dias é de um frio cortante, de manhã e à noite principalmente. E num tempo dêste o melhor meio de se esquentar é o futebol; e esta é razão por que o dia 21 marcou início de uma série de jogos do nosso infantil controa os dos clubes da cidade.
          Às 15,30 horas, nosso time entrava em campo para lutar contra o Sparta, êste que terminou com 3 X 1 para nós. A partida estava equilibrada e havia ataques perigosos de ambos os times; mas não demorou e furamos o primeiro gol. Pouca depois, um médio esquerdo adversário teve a honra de assinalar o segundo tento para nós, isto é: foi um gol contra.  Mas êles continuaram tentando até que furaram seu primeiro gol, num penal. Na segunda etapa, conseguimos assinalar mais um tento , por intermédio de Antôniio Ázara; com esta quantia acabou a peleja.
         No dia seguinte, domingo, fomos assistir a um jogo em que o Comercial local ganhou do Renascença de Belo Horizonte por 3 X 1, mostrando pela segunda vez sua superioridade àquele time, pois da outra vez fôra 2 X O o placar.
         O dia 26 foi dia santo da Ascenção do Senhor; claro que não houve aula. Na parte da manhã fomos assistir a uma Missa solene na velha Matriz.
         No dia seguinte chegou aqui o Revmo. Padre Martinho, no seu último ano como superior dos Crúzios do Brasil, o qual voltou a 2 de junho.
       Os infantis do Comercial ouvindo dizer que havíamos batido no Sparta, quizeram jogar contra nós no dia 23 para ver se ganhavam, e ser assim o melhor infantil da cidade.Mas, coitados, ainda não havia dois minutos, já estava o placar em 2 X 0, ambos os gols de Raimundo. Mais um pouco e mais outro gol nosso. Passaram alguns minutos em que ficamos  "dando baile", e então assinalaramos mais dois gols por intermédio de Alfredo; e com 5 X 0 terminou a primeira etapa. Na segunda, êles reforçaram o time a ponto de dar mais pressão; marcamo somente um gol, de Luiz, mas os perdidos foram muitos e o baile não vou contar. A partida terminou por 6 X 0.
       Depois de tanto jogar, chegamos a junho, o mês das festas e fogueiras, mas também das perigosas provas parciais.
       Mas ainda não havia acabado nossos jogos: o último foi no dia 4, contra o Sparta que pedira desforra. Logo no ínício erramos um penal. O jôgo  estava difícil para nós, quando num ataque em que a defesa adversária parou, Fidelis aproveitou a ocasião para assinalar o primeiro gol a nosso favor. No segundo tempo os espartanos queriam ganhar a todo custo, recorrendo até a jogadores juvenis, sendo que  combinamos infantis. No início dêste período houve uma paralização, pois não queríamos aceitá-los. Por fim cedemos e jogaram dois.  Os adversários chegaram a ganhar de 2 X 1 numa espectacular reação, mas a nossa foi maior; daí a pouco Max fura o segundo tento, de penal, e não demorou que Antônio Ázara assinalasse mais gols. E assim vencemos por 4 X 2.
        No dia 11, à noite, ficamo sabendo de uma notícia sensacional que nos pôs na maior alegria: dia 4 de julho partiríamos para casa! O amigo leitor deve saber que não temos o costume de passar as férias do meio do ano em casa; portanto é fácil imaginar a nossa surpresa e alegria, ao sabermos disso.
        No dia santo do Corpo de Deus não houve aula. Às 10,30 horas fomos acompanhar uma bela processião que percorreu as principais ruas da cidade, parando em três lugares para haver benção.
       Demorou, mas finalmente chegou o último dia da aula: 18 de junho. Todos estávamos muito alegres pelo término das aulas e animados a fazer boas provas parciais.
       No dia seguinte, 19, assistimos a um ótimo jôgo: Botafogo do Rio X Comercial. O primeiro trazia elementos de grande valor no futebol brasileiro. É claro que não houve possibildade para o nosso Comercial, mas êstes lutram muito para perder do menos possível; o final constou 4 X 0 para os visitantes.
       Dia 20 marcou início das provas parciais que acabaraim sòmente a 30 do corrente. Nestes dias geralmente estuda-se muito, pois todos queremos obter bos notas.
       O dia 23 foi a véspera da partida do Revmo Pe. Lucas, superior desta casa, o qual irira gozar suas merecidas férias no país natal. Não lhe podemos fazer uma boa festa, o que era nosso desejo, pois estávamos em pleno tempo das provas. Mas ainda houve um discurso, lido por Raimundo, no qual lhe agradecíamos pelos esforços e fadigas, e lhe desejávamos boas férias. Em seguida êle nos falou desejando bom aproveitament das provas e nas férias; também nos agradeceu pela nossa colaboração em seus oito anos de seminário. No dia seguinte, às 11,30, Pe Lucas partiu para Belo Horizonte.
       Custaram muito a terminar as provas, já estávmos impacientes; mas finalmente chegou o dia 30, e após uma última prova já estávamos de férias. Agora até dia 4 nossa vida se resumirá em quatro palavrinhas: dormir, rezar, comer e brincar; e naquele dia acima dito partiremos alegres para casa.
                                                         Marcos Antônio Rocha
                                                                       4a. série


                                                          BOAS FÉRIAS

sábado, 15 de janeiro de 2011

AS MISSÕES NO BRASIL (Ipsis litteris)

O REPÓRTER CRÚZIO
Escola Apostólica Santa Odília. Campo Belo. Minas Gerais
Ano I                                                             Outubro de 1958                                               No.    6
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                                            AS MISSÕES NO BRASIL                                           

   Sendo o mês de outubro um mês dedicado às Missões e principalmente hoje, terceiro domingo, quero aqui relembrar as fadigas que o missionário suporta em meio a tantos milhares de outros sacrifícios, e os bens que as Missões fazem e fizeram ao Brasil.
   O interior de nosso país, assim como o litoral, que hoje pertence à Religião Católica, foi inteiramente conquistado pelas Missões que ainda trabalham em Mato Grosso e Goiás, às voltas, ora com índios, ora com garimpeiros.
   São as Missões expedições organizadas pela mão de Deus, com o fim de ir à procura das ovelhas extraviadas do rebanho divino, sacrificando-se e sofrendo pelos infelizes filhos da selva, pela sua salvação. No Brasil destacam-se grandemente os trabalhos que elas têm prestado aos selvícolas, espiritual ou materialmente; ou à Santa Igreja, alargando cada vez mais o vasto Campo e rasgando novos horizontes, com seu suor e sangue, amparadas por Deus. O campo missionário no Brasil é tão vasto como a Suiça, Itália, Bélgica e Holanda unidas.
   Os componentes destas expedições fazem grandes sacrifícios, como: o abandono da pátria amada, do lar paterno, dos parentes e amigos, do bom redil, para conquistar o ignorante da verdadeira fé. As Missões sofrem muitos motejos por parte dos protestantes, mas não desistem do ambicionado ideal, de salvar almas.
   Os missionários devem ter espiritualmente muitos ofícios que são praticados corporalmente, como o exemplo: imunizar, como médico as almas, dos micróbios da corrupção; como mestres, privar os pupilos da ignorância; como agricultores, abrir o sulco e descansar o arado, para fertilizar as almas e semear o Pão da Vida; como engenheiros, fazer e fortificar com bases fortes as cidades de Deus.
   Às orlas de certos rios, como o Araguaia, o Das Mortes, índios chavantes e carajás, assim como os bororos, já cristãos em alguns lugares, sob a influência de satanás, ainda esperam quem por eles vele e peça junto a Jesus. Por estes, assim como pelos garimpeiros, muitos missionários estrangeiros e patrícios, deram para Cristo a vida, e juntaram ao do Senhor no cálice, seus sangue martirizados pelos índios que, incrédulos e ignorantes da finalidade dos catequizadores, preferiram continuar sua vida incasta e pecaminosa.
   Se nós, jovens, providos de um ardente amor às Missões e às almas dos aborígenes, por motivos de saúde, não podemos participar das missões, se rezarmos, se dermos esmolas e se nos sacrificarmos, tudo pelo amor e conquista das almas, embora de longe, seremos também apóstolos e missionários.  
   Para celebrizar ainda mais a vida missionária no Brasil, não poderia deixar de contar aqui o martírio de dois padres salesianos:
   Corria o ano de 1934. É o dia primeiro de novembro. Pe. Pedro Sacilotti e Pe. João Fuchs, assim chamados, martirizados às margens do Rio das Mortes foram avisados, por um explorador, de que a uns cinco quilômetros de Santa Teresinha, sítio onde moravam os missionários, nome este dado por ser ela a padroeira das Missões, estavam às margens do Rio das Mortes canoas Chavantes, usadas para atravessar o rio. Sabendo disso, os missionários, mais cinco companheiros, desceram o rio e, mais ou menos nas proximidades indicadas pelo explorador, encontraram as canoas. Pe. Sacilotti, ao ver as canoas, procurou avistar os índios, enxergando apenas dois junto a um alto barranco, pescando. Talvez fôssem eles armadilhas dos terríveis Chavantes  para matar os dois missionários já por eles perseguidos há muito tempo. Pulou da embarcação com um outro companheiro, o Pe. Sacilotti, e os índios, logo avistados, correram para junto de seus companheiros.
   Ao subir o barranco, nada mais avistaram senão pegadas dos chavantes, mas ao chegar à floresta, estas desapareciam. Trepou numa árvore o corajoso missionário brasileiro, e avistou debaixo de alguns arbustos uns cinquenta índios que lhe fizeram sinais que significavam não dever aproximar-se. Mas ele, chamando o resto dos companheiros, quis ir para o lugar onde estavam os indígenas. Mas, antes disso, preveniu-os dizendo: Eu e o Pe. João estamos prontos para morrer. Se tiverdes coragem ficai, se não, fugi, contanto que não façais uso de armas.
   O resto dos homens voltou para a embarcação, para buscar presentes, mas, ao subir o barranco, ouviram os Padres Sacilotti e Fuchs, ambos com um crucifixo e um rosário nas mãos, gritar: “Os chavantes atacam!” Todos os outros correram para a lancha. Um Holandês correu a buscar sua winchester automática e encheu os bolsos de balas e subiu o barranco, permanecendo ali duas horas seguidas e gritando de quando em quando: “Pe. Pedro, Pe. João!” O eco respondia, mas eles não.
   Na manhã seguinte, a uns quinhentos metros da ribanceira, encontram os dois corpos dos valorosos missionários estirados ao chão. Pe. Fuchs tinha o crânio fraturado; Pe. Pedro tinha os dentes e um braço quebrados, assim como uma ferida na testa. No chão não se encontravam cacetes, nem lanças. Repousaram os cadáveres num buraco feito às margens do Rio das Mortes, no barranco, com ambas as cabeças viradas para a correnteza do Rio, parecendo querer ouvir por mais uma vez o murmúrio do caudaloso rio. Eis a história de dois grandes missionários, que contei para ilustrar estas palavras de louvor às missões. A eles e a todos os missionários, rendamos a nossa admiração e peçamos a Deus nas nossas orações, que por eles vele, que os proteja e que, enfim, dê mais homens para abraçar a espinhosa, mas bela tarefa das Missões.
(discurso no Domingo das Missões)
Marcos Antônio Rocha 2ª. Série.