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domingo, 16 de outubro de 2011

Entrevista com o Professor Luís Fransen



Entrevistado: Ludovicus Johannes Hubertus Maria Fransen (86)
Nome adotado no Brasil: Luís Fransen
Natural de Helmond, Holanda.
Data de Nascimento: 13/09/1925
Formação acadêmica: Teologia/Filosofia/Língua Inglesa pela Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Profissão: Professor (aposentado desde 1986)
Disciplinas que ministrou: História, Geografia, Filosofia, Francês e Inglês.


  
Eduardo Jenner (de pé), Professor Luís Fransen e Brigitte
 Louise
Apresentação
Esta é uma entrevista fora dos  moldes tradicionais. O nosso entrevistado encontra-se enfermo, tem os movimentos limitados e fala com dificuldades.Contudo, essas restrições não são totalmente impeditivas, o Professor Luís tem boa visão, excelente audição e, o mais importante , está em pleno gozo de sua capacidade intelectual. Dentro desse quadro, evitamos perguntas que pudessem exigir respostas mais discursivas, e, para trazer à tona aspectos relevantes de sua vida que pudessem exigir respostas mais elaboradas, contamos com a ajuda de sua sobrinha Brigitte e de seu amigo Eduardo Jenner, este um ex-aluno no Colégio Dom Cabral de Campo Belo. Com a ajuda deles, o Professor Luís nos relatou aspectos importantes de sua vida com poucas, mas significativas palavras.

Os dois entrevistadores, conselheiros do Blog, tiveram  semelhante impressão  desde o primeiro contato com o Professor: havia ali a presença de um espírito forte sustentado pela figura de um homem inteligente e realizado. Nenhuma de nossas fotos pôde captar, em sua inteireza, essa força, mas ela se manifesta na vivacidade de seu olhar e, sobretudo, num sorriso discreto que ilumina  sua face com uma expressão de serenidade, a dignidade mora ali em grandeza substancial. Num determinado momento da entrevista, como se quisesse deixar isso bem claro para nós, chamou sua sobrinha e, com dificuldades, disse-lhe baixinho ao ouvido: "Diga-lhes que sou abençoado"... "Muito feliz". E, como que para nos indicar a causa, completou: "sou um homem muito religioso".

Durante a nossa visita, houve uma pequena interrupção da entrevista para que o Professor pudesse receber alimentação parenteral. Uma casual evidência de que ele dispõe de recursos e amigos em favor da saúde e bem-estar dele e de sua esposa Emília, esta acamada. Adota-se  o rodízio de enfermeiras e secretárias do lar e, quando necessária, é chamada a assistência ambulatorial especializada em Mal de Parkinson e Tireoide. A localização de sua casa, na região central de Poços de Caldas, facilita o atendimento em domicílio para que lhe prestem os serviços e cuidados de que necessita, evita-se, assim, a internação hospitalar para eventuais recaídas de menor gravidade.

Um pouco antes do término da entrevista, numa surpreendente demonstração de sua capacidade de atenção para com as visitas, o Professor Luís chamou suas auxiliares e mandou que nos servissem  café com bolo de milho e pão de queijo, o que,  como bons mineiros que somos, não dispensamos. Noutro momento, fez um gesto muito eloquente enquanto apontava para o piso e dizia alguma coisa em voz baixa, sua sobrinha Brigitte interpretou-o: "ele está dizendo que quer visitas", o Professor concordou com um movimento da cabeça que não deixava dúvidas quanto ao asserto dessa versão. Prometemos, em nosso nome e de todos os ex-seminaristas, visitá-lo sempre que possível. 
Mostrou-se prestativo em se deixar fotografar, e, no dia seguinte, em nos ceder algumas fotos de seus arquivos.


A alegria com que nos recebeu e a emoção com que nos viu partir contagiaram-nos. 

Perfil




Professor Luís Fransen e Emília Fransen (foto de 1986)

Família: casado com Emília Fransen (89), tem fortes laços com a sua família holandesa através de sua sobrinha Brigitte que se considera como uma filha.

Hobbies:
  • Música clássica;
  • Poesia;
  • Esportes em geral; caminhadas, em especial;
  • Viagens pelo Brasil (Prefere cidades históricas).
Residências no Brasil:

Belém - PA: 1953/1954;
Campo Belo - MG: 1954/1963;
São Paulo - SP:1964/1986;
Poços de Caldas - MG:1987


Perguntas específicas

Professor Luís Fransen com os Crúzios, foto
dos anos 1960


Blog Que fatos são inesquecíveis em sua vida?

Professor Luís Fransen:
  • Primeira comunhão quando eu tinha 5 ou 6  anos;                                                 
  • Minha formatura no Colégio;
  • Minha Ordenação Sacerdotal;
  • Meu casamento com a Emília. 


Blog —  Que recordações o senhor tem do tempo em que era Professor no Colégio Dom Cabral? Alguma lembrança da Escola Apostólica Santa Odília?

 Professor Luís Fransen —  Tenho boas lembranças daquele tempo. Gostava muito dos meus alunos, mas  não me lembro de nomes de ex-seminaristas porque não dava aulas específicas para os seminaristas.



 Blog — O senhor teria algum conselho para os jovens que querem entrar na vida religiosa como sacerdotes?

Professor Luís Fransen —  Posso dizer que a vida religiosa é tudo e que a vida como sacerdote foi muito importante para mim . Mas é muito difícil dar conselhos para os que querem seguir o sacerdócio , pois já faz muitos anos  que eu saí da vida eclesiástica e não me sinto à vontade para aconselhar a esse respeito. Mas quero destacar: sou muito religioso.


 Blog —  O que o senhor destacaria na sua vida?

Professor Luís Fransen —  Considero-me abençoado e feliz pelo que fiz de minha vida e pelas oportunidades que tive de repartir o meu conhecimento com meus alunos. Tenho um casamento muito feliz e trabalhei duro na Cultura Inglesa de São Paulo.

 Informações prestadas por Eduardo Jenner:


Eduardo Jenner
(Set/2011)


Blog — Como você conheceu o Professor Luís e como é o  seu relacionamento com ele?

Campo Belo, anos 1960
Foto: cortesia de Rodolfo
Rodarte

Eduardo   Em 1958, quando eu iniciei o curso ginasial, nossa turma foi transferida para o prédio novo do Colégio Dom Cabral, foi o primeiro ano em que o Ginasial funcionou no prédio novo...  Eu fiquei conhecendo o professor em 1959. Naquele ano ele foi meu Professor no segundo ano ginasial, ele lecionava História e Geografia... Eu sentava na carteira da frente, da janela para a porta da entrada da sala, na segunda fila. Eu tinha um pequeno problema de audição e ficava sempre na frente, dada a qualidade das aulas do Professor que me prendiam muito. Ele me dava bastante atenção e eu me tornei seu admirador desde que assisti a sua primeira aula. Passados alguns anos, eu precisei sair de Campo Belo para iniciar a minha vida profissional, isso em 1962, depois de fazer o primeiro científico no Dom Cabral e o Tiro de Guerra em Campo Belo. Fui, então, para São Paulo e consegui um emprego no Banco de Crédito Real.  O motivo de eu estar fazendo essa explanação é para frisar que, de 1963 a 1966, o Professor e eu saímos de Campo Belo. Eu saí para um lado e ele para outro, ambos buscando suas opções de vida.  

 Blog  E como suas vidas se cruzaram novamente?

 Eduardo Cheguei a Poços de Caldas em 1986 e o professor chegou, já aposentado, em 1987. Eu vim a me aposentar em 1992. Com a aposentadoria, nós passamos a conviver mais.


 Blog Como foi esse reencontro?

Carteira de 1987


Eduardo Foi casual, eu morava relativamente perto dele, nos encontramos no caminho de uma leiteria que existia perto de nossas casas.  A partir daí ocorreu  a nossa reaproximação e quando eu me aposentei, em 1992, ele convidou-me para alguns passeios às cidades históricas. Ele queria verificar "in loco" aspectos de seus estudos de História e Geografia. Visitamos, então, algumas cidades históricas.  Fizemos de cinco a seis viagens, saíamos na segunda-feira e voltávamos na sexta. Foi um fantástico e rico período de nossas vidas.  E à medida que os anos foram passando, o nosso material foi se desgastando (pelo gesto que acompanhou sua fala, o Eduardo refere-se, neste trecho,  ao desgaste físico), o envelhecimento veio, e, ultimamente, nós estamos (plural de modéstia) dando a assistência que você acabou de perceber: um profissional da área de saúde vem dando um apoio para ele, ajudando com a alimentação parenteral. Atualmente eu convivo mais com ele de que com minha família de Campo Belo, meus irmãos, os quais moravam lá, já se foram...

Blog Parece-nos que não se trata de uma relação profissional, mas de uma convivência entre amigos, é isso mesmo?

Eduardo Amigo, amigo... desprendimento, afetividade.  (Aqui Brigitte fez um aparte, dizendo: "para nós da família do Luís, é muito importante o que o Eduardo faz, porque não podemos fazer o que ele faz...")

Blog — Você sabe por que o professor escolheu Poços de Caldas para morar depois que se aposentou?


Poços de Caldas, vista parcial, Set/2011


Eduardo  — O porquê não posso dizer com certeza, mas sei que não foi uma decisão casual, ele viajou a várias cidades  do Sul de Minas e escolheu Poços de Caldas.


 Blog Vocês mantêm contatos com Eduardo?(essa pergunta foi dirigida a Brigitte, mas foi o Eduardo quem respondeu primeiro)


Eduardo Sim, por correio eletrônico, nós temos passado as necessidades dele para a família na Holanda e, agora, para a Brigitte na Bélgica, pois, com a morte da mãe dela,  é ela quem cuida dos assuntos do Tio. A família tem feito um trabalho muito importante, está sempre presente nestes últimos cinco anos.

Brigitte: (referindo-se ao  seu  relacionamento com o seu Tio Luís): nós temos uma relação muito carinhosa, muito boa para mim também... É uma troca em que nós dois somos beneficiados.



Informações prestadas pela sobrinha do Professor, a Senhora Brigitte Marie Louise Kuijpers van den Assem

Brigitte

Blog — Brigitte, gostaríamos que você falasse um pouco de você e de sua família? 

Brigitte Sou filha da irmã mais velha do Luís. Eu  tenho cinco irmãos, ou melhor, dois irmãos e três irmãs. O Tio Luís tem, também, cinco  irmãos (um irmão e quatro irmãs). Eu vivo na Bélgica há um ano, casei-me com o Hans e, infelizmente,  não tenho filhos.

Blog Por que você, e não outro da família, cuida de seu Tio?

Brigitte — Minha mãe ajudava ao Tio Luís, da Holanda. Depois que minha mãe morreu, há dez anos, eu substituí minha mãe e sou como se fosse uma filha do Tio Luís. Eu já estive no Brasil por seis meses, em 1976-77. Viajei por todo o país e nos intervalos, entre um passeio e outro, eu ficava, por algum tempo, com meu tio e tia. É por isso que eu os conheço melhor do que os outros membros da família o conhecem.


Blog Você vem com frequência ao Brasil?
Brigitte    Em 1976 tive que viajar sozinha no Brasil durante seis meses. Em 2008, meu marido e eu viemos ao Brasil e fizemos uma viagem ao Pantanal, a São Paulo, a Brasília, ao Rio de Janeiro, às Cataratas do Iguaçu  e  a Poços de Caldas;  em 2009, fiz um trabalho voluntário na Santa Casa por quase três meses; em 2010, vim a Poços de Caldas com meu marido, ficamos algumas semanas aqui; em 2011 estive  aqui em Poços de Caldas duas vezes, primeiro em maio, quando meu Tio ficou doente, depois,  agora em setembro, por mais dez dias.


Blog — Como você aprendeu português, praticando ou estudando?
Brigitte Aprendi algumas palavras quando estive no Brasil, em 1976, mas depois estudei Português na Holanda, e, pratico  quando venho aqui

Blog: — Qual é sua profissão?

 
Brigitte Eu sou formada em Business Administration (Administração de Empresas). Quando falo Business Administration ninguém  aqui  entende. Estudo também Health Science (Ciência de Saúde). (Eduardo fazendo um aparte: “desta vez ela ficou aqui em Poços de Caldas mais tempo e vai embora depois da amanhã. Está trabalhando e se aperfeiçoando em hospitais daqui”).
Blog Fale um pouco sobre o Professor Luís.

Professor Luís Fransen em seu escritório (foto de 1997)


Brigitte Ele é um intelectual, poliglota, tradutor, está sempre estudando, gosta muito de ler (Eduardo esclareceu que de três meses para cá o Professor tem dificuldades na leitura por causa da limitação dos  movimentos).

Blog — O Professor viaja muito para a Holanda?

Brigitte —  Poucas vezes. Parece que ele foi lá quando morava ainda em Campo Belo. Depois, ele foi  única vez na Holanda com a Emilia para visitar a mãe. Foi no anos de 1976


***
Poços de Caldas, Minas Gerais, Brasil, 20 de Setembro de 2011




segunda-feira, 25 de julho de 2011

Entrevista com Seoldo

Entrevistado: Geraldo Hélcio Seoldo Rodrigues (69)
Período no seminário: 1956-1967
Formação acadêmica: Letras/Filosofia/Agronomia
Países onde morou: Brasil, Colômbia, Itália e Estados Unidos.
Países que visitou: Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria, Suiça, Franca, Espanha, Portugal, Ilhas Canárias, Canadá e México.

Apresentação
Nós, os ex-seminaristas da EASO, poderíamos ser classificados segundo algumas características: alguns têm uma excelente memória para recompor a história da época em que estudaram no seminário, outros se destacam pelas saudades daquelas amizades tecidas no convívio inocente e quase ingênuo do internato, e há, ainda, os que têm o dom de relembrar e descrever com humor as atitudes dos padres, as brincadeiras dos colegas mais sapecas e os fatos pitorescos ocorridos naquele tempo. O entrevistado desta postagem reúne todas essas características e a isso soma uma maneira franca e honesta de descrever seus sentimentos. Suas palavras nos colocam frente a um ser concreto, de carne e osso, que habita um planeta real, de chão e céu, e que percorreu, até agora, uma interessante trajetória em busca da felicidade durante a qual não deixou de reconhecer “tu és pó”. Seoldo não habita os extremos, não se gaba nem desvaloriza seus méritos, não esconde que precisou de ajuda, que teve dificuldades, que a luta foi uma constante, mas que admite, quando escolhe as frases que assinaria,  que “este mundo é bonito”.  E pelas palavras e fotos que nos enviou, nosso entrevistado reconhece a beleza dentro e fora de sua casa: dentro de casa, a família que é a única amarra que os impede de voltar para o Brasil, família, essa, que encontra esteio e suporte em sua grande companheira de jornada, a esposa Judith, juntos “deixaram muita poeira para trás”; fora de sua casa, a amizade que cultivou ao longo de sua trajetória, a visão de um deserto bonito e cheio de vida. “Um deserto ou um jardim?”, perguntamo-nos.
Ao Seoldo, colega que viveu onze anos no seminário e que foi contemporâneo de quase todos nós, goleador de nosso futebol, articulista mirim do Jornalzinho O REPÓRTER CRÚZIO, deixamos o nosso agradecimento por esta entrevista e por nos fazer refletir.

 

Em pé, a partir da esquerda: Judith, Nathalie e sua filha Harper no colo e
Tiffany. Primeira fila, a partir da esquerda: Antônio, Seoldo, Clint, André
e Santino

Família: Judith B. Seoldo (Esposa) Casamento: 29/09/1973 André A.B.Seoldo (Filho casado com Tiffany; 2 filhos : Antônio (6 anos);  Santino (3 anos); Nathalie R. S. Hinman (Filha casada com Clint, 1 filha : Harper(2 anos)
Nota: Tenho um irmão que mora em Lavras, outro em São Paulo e uma Irmã no Rio.   Meus pais já faleceram.




Colagem de fotos da família: da esquerda para a direita:  André, Antônio , Tiffany e  Santino, Natalhie, Harper e Clint, Seoldo, Harper e Judith . (Clique na foto para ampliá-la).


PERFIL

HOBBY: Colecionar moedas, sobretudo as de 25 centavos do dólar, representados os estados e também suas belezas naturais. Mais tarde passarei para os netos...
MÚSICAS: Quase todas listadas no Blog do Marquinhos e mais a Sinfonia #40 de Mozart e mais alguns forrós nordestinos e umas cumbias colombianas… entre outras…

FILMES: English Patient, Dance with the Wolves, The Godfather, Central Station, Vidas Secas, entre outros…e documentários científicos

PASSEIOS: Muitos acampamentos nos parques do estados de Nova Iorque e Arizona… Viagens de carro nos Estados Unidos visitando amigos e parentes da esposa, do filho e da filha…


Minha família me inspira, sobretudo os netos: Harper,
Antônio e Santino (clique na colagem para ampliá-la).
PESSOAS QUE ME INSPIRAM: minha família, sobretudo os netos. Há muitas pessoas que admiro como o Tupy, o Marquinhos, o Lulu, o Rafael, o Nonato, todos responsáveis por este Blog que me dá a oportunidade de expressar-me… outros que admiro e respeito, como, Padre Tiago, Ex-Padre Antônio, Richard Barton (Pastor Metodista), Adalgiza de Oliveira (minha afilhada de casamento que vive em Pindorama, AL.), João Batista Lima (colega de trabalho em Pindorama e ex-seminarista de Diamantina) … e dois casais muito amigos nossos: Hank / Marilene/ Atha (Tucson, AZ) e Arnaldo / Ines Machado (Belo Horizonte)... Pessoas que já faleceram, mas que são constantemente lembradas: meus pais, meu irmão Lézio, Padre Agostinho, Carraro, Bessa, Renê Bertholet (Fundador de Pindorama), meus sogros Raymond e Gertrude… entre outros.

LEITURA DE PREFERÊNCIA: Jornal local, resumo das notícias do Brasil, leitura de revistas científicas

CITAÇÕES QUE ASSINARIA EMBAIXO: “Dá a Deus o que é de Deus, e o resto que sobrar divida igualzinho com cada um”; “Nem tudo que reluz é ouro”; “Tu és pó e em pó tu hás de tornar”; “Só há uma solução para um problema: a certa é a minha. E ambas são a mesma.”; “O homem sem dinheiro é o diabo; o homem com dinheiro é o diabo também. Então, é melhor ser o diabo com dinheiro.”; “Quem fala muito, erra muito; quem fala pouco, erra pouco; e o silêncio ajuda a errar menos.”; “Você é filho do Universo; tão importante como as árvores e as estrelas; você tem o direito de estar aqui.”; “Apesar de todas as sem-vergonhices, safadezas e sonhos não realizados, este mundo ainda é muito bonito”.
CITAÇÕES QUE NÃO ASSINARIA: “Cão que ladra não morde.”; “O sol nasce para todos, mas as sombras são para os ricos.” (Tanto mexicano pobre aqui que não sai da sombra!)
VIDA PROFISSIONAL: Embora com o grande título de Pesquisador Agrícola, passei toda minha vida profissional dedicando-me a educação básica, quer trabalhando em Belo Horizonte, quer no Projeto de Reforma Agrária em Pindorama/Alagoas, quer no Departamento de Correções do Estado de Nova Iorque. Muito difícil ser educador, isto é, tentar mudar os hábitos de pensar e agir de um indivíduo. Longa história… Foram muitos os desafios, mas conseguimos educar pelo menos nosso filho e nossa filha que hoje estão bem profissionalmente… Minha esposa e eu deixamos muita poeira para trás… Ela trabalhou como nutricionista em Saúde Publica como voluntária para o Corpo da Paz, para a Ajuda a Merenda Escolar e, para o Projeto Hope no Brasil: uma fundacão americana para promover intercâmbio de profissionais na área de saúde. Naquela época a fundacão tinha um navio hospital todo equipado que ficou ancorado em Maceió por 9 meses em 1973. Judith fazia parte da equipe que veio para Maceió em convênio com a Universidade Federal de Alagoas. Nossa recepcão do casamento foi no navio. (Link: Project HOPE). Judith trabalhou, também, para um programa de nutrição de gestantes e crianças até cinco anos de idade, aqui nos Estados Unidos. Meu filho se formou em Administração de Esportes. E minha filha é farmacêutica. Minha esposa e eu estamos aposentados, tomando conta da netinha Harper (ou melhor, Harpinha). Muito trabalho! Em resumo, trabalhei dois anos em Belo Horizonte, 10 anos em Pindorama, e quase 18 anos para o Departamento de Correções de Nova Iorque.
Seoldo na frente de sua casa (Tucson
18 de Julho de 2011) 
Durante os meus estudos aqui na Universidade de Arizona (1979-1988) fiz muitos “biscates”. Quem quiser nos visitar aqui em Tucson, Arizona, só tem que pagar a passagem de vinda e volta… o resto é conosco, ouviram? As portas estão abertas… muitas coisas interessantes para ver aqui, sobretudo quem gosta do Velho Oeste.
Trabalhei como carregador de cargas de caminhão de bebidas até a 1 hora da manhã; trabalhei em manutenção de quintais e irrigação de plantas ornamentais, além de cuidar do filho e da filha, que eram pequenos, enquanto a esposa estava no trabalho… Sofri mais do que sovaco de aleijado! Financeiramente, sempre estivemos no vermelho… ainda pagamos mensalidade da nossa casa. Aos poucos, os filhos estão pagando de volta

POLÍTICA: Às vezes penso que pertenço ao Partido dos Frustrados. Apesar de pensar como meu pai que todo político é ladrão e safado, sempre voto contente… Aqui votar não é obrigatório… há muita malandragem e safadeza… o dinheiro compra tudo. Moralidade é um conceito esquecido. É cobra engolindo cobra… mas como disse o ditado: “O povo tem o governo que merece”.


RELIGIOSIDADE: Fiz uma limpeza geral na mente e tento analisar a realidade observando os fatos e as coisas objetivamente, com muito menos emoções, ilusões, fantasias, medo, teatro… Acho que tenho coragem de aceitar meu destino dentro da ordem natural de que “Tu és pó e em pó tu hás de tornar”. Mas respeito muito a posição sincera de cada um.
Atualmente não frequento nenhuma igreja. Assim que a netinha crescer mais, vou procurar dar um apoio voluntário a uma organização com uma função social. Quero ajudar um pouco mais…                                                                                               

PERGUNTAS GERAIS

Blog dos Encontristas da EASO: fazendo uma retrospectiva da sua vida e do ser humano que você é atualmente, o que a EASO- Escola Apostólica Santa Odília significou nesse contexto? Qual a importância que ela teve para você? 
Seoldo: foi lá que aprendi a disciplina de conviver com vários e diferentes tipos de meninos e jovens e o valor de respeitar um regime com ordem, horário e regras. Trato de ser pontual em tudo (menos para responder esta entrevista); acho que o silêncio, sobretudo pela manhã, é importante para começar o dia… e mesmo pequenas coisas como arrumar sua cama, e como ser educado na mesa durante as refeições…
Para ouvir a primeira 
 música escolhida
 pelo Padre Marino
 (foto): clique aqui
Além do que mencionei acima, a importância maior foi me proporcionar a educação básica acadêmica até o segundo científico, a qual viria abrir outras portas adiante.
Blog dos Encontristas da EASO: quais as lembranças que você tem da EASO e das pessoas com as quais conviveu lá que são as mais marcantes e significativas para você.
Seoldo: fumaça de cigarros/charutos/cachimbos dos padres… Ouvir música clássica nos Sábados e Domingos escolhidas pelo Padre Marino (discos de 78 rotações), a primeira era sempre a Sinfonia #40 de Mozart.
Os passeios nos sítios e fazendas para chupar laranja e comer goiaba.
Os banhos na piscina na Praça de Esportes.                               
As aulas de latim do Padre Lucas… ”Alea jacta est”; “Carthago delenda est”;    “ Senatus Populusque Romanus”; “Tempus Fugit” ; “O Tempora, O Mores!!!”  “Miserere Nobis”. Mamma Mia!!!!
As idas para assistir aos jogos do Comercial e Sparta.
Carraro e Seoldo na aula
de ciência sob o olhar
atento do Padre Justino.
Os “ruídos suspeitosos” depois de apagar as luzes na hora de dormir. (Perguntem ao Lídio, Picolé, Aureliano, Canhão, e outros). 
Férias em Santana do Jacaré. Os teatros do Padre Antônio. Dar catecismo aos domingos no Morro do Cruzeiro, Jogar peladas e voleibol em frente do Ginásio. Campeonatos de jogos de botão (Muitas brigas. Pergunte, sobretudo, ao Marquinhos e ao Zé Geraldo). O nervosismo do Padre Lucas; as piadas do Padre Humberto; a chatice do Padre Clemente; a irritação do Padre Luís; o esnobismo do Padre Cornélio; as doidices do Padre Justino. Participação dos seminaristas na Semana Santa em Campo Belo. E por último, fumar escondido cigarros dos padres (marca Continental), etc.

Blog dos Encontristas da EASO: Para você, o que é ser bem-sucedido na vida?
Seoldo: entendo por bem-sucedido quando o peso dos positivos é constantemente maior do que dos negativos. Não é uma meta em si, mas um reajuste dinâmico durante toda a caminhada. Para mim é conceito subjetivo. (Curiosidade: bem-sucedido e malsucedido. Êta português!)



PERGUNTAS ESPECÍFICAS

Blog dos Encontristas da EASO: pindorama é um projeto de cooperativismo que deu certo. Você que trabalhou na educação do projeto poderia nos dizer qual foi a chave desse sucesso?
Seoldo: visão e liderança do fundador, o suíço Rene Bertholet juntamente com a aplicação eficaz de uma intensa ajuda estrangeira, tanto técnica como financeira. É uma história em si mesma. Vale a pena fazer uma visita. Fica a meia hora da foz do Rio São Francisco. Comprem sucos de fruta Pindorama! Há um site na Internet, link  Cooperativa de Pindorama ´- História.                                                                                                 

Blog dos Encontristas da EASO: existe alguma diferença entre o curso de agronomia no Brasil e nos Estados Unidos?
Seoldo: agronomia no Brasil envolve engenharia básica como Construção Rural, e Cursos de Zootecnia, de Sociologia Rural entre outros. Nos Estados Unidos, agronomia é mais concentrada nos cultivos de plantas em si. O CREA no Brasil exige cursos complementares para quem se forma em Agronomia aqui. Os meus cursos de mestrado e doutorado foram concentrados em Melhoramento Genético de Plantas (Forrageiras, especificamente a Alfafa). * vide link: Avaliação de cultivares de alfafa na região de Lavras MG

Blog dos Encontristas da EASO: em que esses cursos, de doutorado e mestrado, o ajudaram como professor no departamento de Correções nos Estados Unidos?
Seoldo: fui contratado pelo Departamento de Correções de Nova Iorque como professor de Ciências Básicas. Os cursos de ciências do mestrado e doutorado ajudaram nas credenciais para minha contratação. Na verdade, o que o Departamento queria era um professor bilíngue - espanhol/inglês. Em suma, foi uma espécie de jogada que fizeram para me contratar. Fui o único candidato para a vaga.

Blog dos Encontristas da EASO: como é (ou foi) sair de um seminário, passar por um projeto rural e depois ir morar nos Estados Unidos, em outras palavras, o que é migrar de um mundo mais espiritual, passando para um mundo laico pobre e rural, e depois ir viver no país mais capitalista, próspero e rico do mundo? Algum choque?
Seoldo: Sem dúvida foram decisões muito difíceis. No seminário havia muita pressão externa. A decisão de ir para o Nordeste talvez tenha sido a saída que vi para começar tudo de novo, longe… livre… uma pessoa nova apesar de toda a bagagem impossível de descartar.
A vinda para os Estados Unidos foi também muito difícil e dolorosa… Mas nestas alturas
eu não estava mais sozinho, tinha uma esposa, um filho e uma filha…foi muito duro!!!
Todavia não me arrependo.

Blog dos Encontristas da EASO: Além da família, o que o segura nos Estados Unidos? Alguma expectativa de voltar a morar no Brasil?
Seoldo: só a família nos amarra por aqui… Quero participar o máximo possível no desenvolvimento dos netos… Acredito que nestas alturas, na casa dos 70, sem maiores problemas de saúde, eu seria um pouco útil no Brasil. Mas é muito remota a possibilidade de eu voltar a morar no Brasil…Talvez, um dia, a metade do meu “pó”.

Outra nota: O retrato das montanhas, tirado daqui da
 nossa casa, mostra bem a neve no cimo (era inverno)
Blog dos Encontristas da EASO: Como é a região em que você mora hoje?
Seoldo: Região desértica… muito calor no verão (junho, julho e agosto). Meia hora de carro de onde moramos, podemos estar a quase 3.000 metros de altura… Quando cheguei aqui pela primeira vez, parecia que o avião estava chegando a outro planeta… Mas Arizona tem quatro regiões muito distintas de acordo com a elevação. Na região mais alta onde está o Grand Canyon, cai muita neve no inverno, é bem fria… Aqui onde moramos é região do Velho Oeste, muitas tradições dos índios, dos mexicanos e dos caubóis americanos… Vivemos a 80 km da fronteira com o México… muitos problemas com imigração e tráfico de drogas. Há muitos parques para acampamentos e piqueniques… A cidade de Tucson é muito espalhada e fácil de movimentar… É sede de uma enorme base aérea (muitos da FAB - Forca Aérea Brasileira vêm treinar aqui). Tem um cemitério de aviões usados que perde de vista… Só vindo aqui mesmo para ver de perto… Já estão convidados
As montanhas e o céu de Tucson
Blog dos Encontristas da EASO: você poderia nos enviar algumas fotos que ilustrem o clima que você descreveu acima? Que planta é essa parecida com um mandacaru gigante que a gente pode ver nas fotos do deserto?
Seoldo ao lado de um pé de
Saguaro, a poucos metros de
sua casa (Amplie esta foto
com um clique).

Lago Patagônia. Uma raridade!
Seoldo: fizemos um apanhado corrido de algumas fotos...da netinha, da nossa casa, do bairro, e da região. Todas as montanhas que você vê ficam aqui perto de Tucson... o lago fica a uns 60 Km (LAGO PATAGÔNIA -Uma raridade)... Mas tudo é melhor quando se vê de perto...O "mandacaru" gigante a que você refere, chama-se "Saguaro", muito popular aqui no deserto de Sonora. Os passarinhos fazem ninhos por todos os lados...
 No inverno, as vezes, a neve cobre até a metade das montanhas... Agricultura  por aqui é mais de frutas, sobretudo citros, castanhas, uvas,  alguns grãos, e algodão, e muita alfafa...Tudo irrigado....Há muita importacão de verduras e frutas do México

Outra nota enviadas pelo Seoldo: ai vão outras fotos tiradas no Sabino Canyon, uma area turistica situada nos pés das montanhas Catalinas , no norte de Tucson, mais ou menos 20 minutos daqui...você então terá uma ideia melhor do "Saguaro", que se parece com o seu cacto "mandacaru". Ele floresce uma vez por ano e dá um fruto muito apreciado e usado pelos indios para fazerem uma espécie de geleia e também vinho e melaço. Ele tem uma tradição muito grande ... é protegido e custa caro para colocar um em sua casa... Na foto à esquerda, nota-se uma parte da cidade de Tucson 

 O Gigantesco cactus Saguaro fornece ninhos às aves do deserto e funciona como "árvore". Éspecie: Carnegiea
gigantea. 
Perguntas enviadas por Antônio José Ferreira (Santana) que hoje mora em Lavras, MG: que lembranças você tem de Lavras? Você se lembra de alguns amigos ou ex-seminaristas que também moravam na cidade naquela época?       
                                                                              
Seoldo: Passei quase um ano em Lavras, MG, com uma bolsa da EMBRAPA. Praticamente estagiando/trabalhando como pesquisador testando variedades de alfafa, junto a ESAL (naquela época), no Departamento de Biologia, sobretudo com o Professor Magno e o Professor César, além de outros… também estava em contato com  os Professores Júlio César (falecido) e Ricardo da Zootecnia… Fiquei conhecendo Julio César aqui em Tucson, e foi ele que me apadrinhou para receber uma bolsa do CNPq e depois para ir para Lavras…Era um bom amigo! Outro motivo grande de ir para Lavras era que meus pais e meu irmão mais velho já moravam lá… Tudo deu certo… Passei num concurso para ensinar na Universidade Federal de Alagoas… mas a família que estava aqui nos Estados Unidos ganhou a parada. Isso tudo se passou entre 1988-1989. A inflação estava horrível e havia greves por toda a parte… Mas meus pais estão enterrados ai em Lavras, meu irmão ainda vive por ai… tenho duas sobrinhas bonitas e um sobrinho muito popular ai em Lavras (Seu nome é Thallys). Faça uma visita a LOJA MATERNITY ai na Praça que você fica sabendo mais… Também tenho uma sobrinha casada que mora em Varginha… Tenho outro irmão que mora em São Paulo, e uma Irmã, no Rio… Uma vez me encontrei com o Ataliba (veterinário) … foi o único. Andei visitando o Ázara em Campo Belo.

Santana, onde você assinava o ponto lá na ESAL? Sem dúvida devemos ter passado um pelo outro várias vezes… Que passeio bacana você e sua esposa fizeram lá pela Europa! Por que não dar uma subidinha até aqui? (Informação do editor: o entrevistado não foi informado antecipadamente que o Santana ainda não residia em Lavras naquele ano).

Saudações e abraços a todos. Sem dúvida, antes de ficarmos rastejando e falando besteira, minha esposa e eu iremos participar de um Encontro… Enquanto isso, vou acompanhando os acontecimentos através do BLOG, graças aos esforços do grupo organizador. Até um dia!!!  QUE CADA UM ESTEJA EM PAZ CONSIGO MESMO!

Artigos do Seoldo publicados no Jornalzinho O REPÓRTER CRÚZIO : LINK TRÊS ARTIGOS DO SEOLDO

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Entrevista com Eustáquio

Entrevistado: Eustáquio de Azevedo Silva (67)
Formação: Filosófo, teológo e pedagogo
Diretor do Colégio Dom Cabral de Campo Belo, Minas Gerais
Participante do Pro - Alto (Grupo de apoio para assessoria aos dirigentes das Associações do Alto do Morro).
Criou a COMTUR  para o desenvolvimento do potencial turístico em Campo Belo, Minas Gerais, com atuação destacada no distrito de Porto dos Mendes.


Apresentação:
O Blog dos Encontristas da EASO, através de sucessivas trocas de e-mails, foi ao Encontro do diretor do Colégio Dom Cabral de Campo Belo, Eustáquio Azevedo da Silva, para saber um pouco mais de sua vida e obra. Eustáquio é o incansável e prestativo colega que tem contribuído na organização e realização dos Encontros: em 2008,  fez a conexão dos coordenadores do I Encontro, José Rafael Cabra, Raimundo Nonato Costa e Antônio José Ferreira com os padres Crúzios na busca de espaços físicos para as reuniões, refeições e cultos. Naquele ano, foram utilizadas as salas de aulas e o refeitório do mesmo prédio onde os Encontristas haviam estudado nas décadas 1950/1960; em 2010, no II Encontro, já como diretor do Colégio Dom Cabral,  tornou-se anfitrião, cedeu aos Encontristas algumas salas para reuniões e refeições, ajudou-os na escolha e reserva de hotéis e restaurantes na cidade de Campo Belo e colocou os pés de valsa num animado baile da “melhor idade”, e, por fim, levou-os ao distrito de Porto dos Mendes para um passeio de balsa na Lagoa de Furnas. Ao inteirar-se de sua trajetória, fica claro que o que ele faz por seus colegas, nos encontros, é uma pequena amostra do que vem fazendo, há tempos, em favor das pessoas mais humilhes de Campo Belo, Minas Gerais. Sua presença nas obras sociais se concretiza junto às comunidades do Alto do Morro, local muito conhecido na cidade, e no distrito de Porto dos Mendes, na Lagoa de Furnas, na organização de pescadores e na instalação de equipamentos de lazer e esportes em praças públicas.  Desde os tempos de Santa Tereza, depois de uma crise existencial, já ensaiara, na periferia daquele  bairro de Belo Horizonte, os passos que o levariam a uma catequese baseada na valorização do homem e, por consequência, às obras que viria a desenvolver em Campo Belo.

1 Perfil do entrevistado
Período em que esteve no seminário: por convite do padre José Maria da paróquia de Santa Tereza, vim para o Seminário em 1963, para aprofundar nos estudos religiosos, enquanto terminava o Ensino Básico, fiquei até 1966.
 Formação acadêmica: Filosofia, Teologia e Pedagogia (Teologia foi, para mim, o melhor   curso)
 
Pedro Henrique (neto), Érick (filho)
Cida (esposa) e Eustáquio (o entrevi-
tado)
Família: Eu e Cidinha comemoramos 39 anos de casamento, temos quatro filhos (dois casais), todos formados, dois em BH, um em Lavras e outro aqui em Campo Belo. Temos um neto. Vim de uma família muito católica tradicional. Na família temos padres, bispos, arcebispos. Meu tataravô foi padre casado e vigário em Carmópolis de Minas. (Acho que é DNA).
Juliana (filha), Cida (esposa) Pedro (neto) e Eustáquio (de pé)
Daniela (a filha caçula) e seu filho  Pedro

Érick (filho) e sua esposa Rita









 *** Clique nas fotos para ampliá-las***


Entretenimento e lazer/ hobby/músicas/ filmes: esportes (praticar, assistir não muito), principalmente natação. Dança (dizem que sou pé de valsa). Sou muito eclético com relação à música, aprecio todos os estilos. Filmes, os de ação e/ou  ficção científica, e documentários.
Passeios: viagens para lugares com significado histórico e naturais. Gosto muito de Salvador.

Filosofia: política, religiosa, pessoas que inspiram você; leitura de preferência: valorização da pessoa, incentivo à participação, respeito às diferenças, respeito à vontade da maioria (democracia), respeito aos direitos humanos. Sou muito crítico e observador dos acontecimentos, tirando deles lições para o dia-a-dia. Não tenho dificuldades em aceitar mudanças. Atualmente tenho lido mais livros técnicos. São inúmeras as pessoas que me inspiram: amigos, colegas, mestres, pessoas com as quais tenho interagido no caminhar dos dias, e muitos não contemporâneos pelos seus exemplos de vida.

Citações que assinaria debaixo: são inúmeras, vamos citar uma: “No torvelinho das posições importa não perder a questão fundamental e manter a suficiente serenidade para ver claro”. Leonardo Boff.


   Igreja de Santa Tereza na
   Praça Duque de Caixas, Santa
   Tereza, BH (o início de uma ca-
   tequese diferente)
 Vida profissional (formação e prática); (Fique a vontade para destacar tudo que você acha de importante na sua vida): minha vida profissional está ligada a uma questão familiar. Fui educado numa catequese que provocou em mim uma crise existencial e uma conseqüente revolta contra a Igreja. Perturbei os padres, os Congregados Marianos, as Filhas de Maria de Santa Tereza, fazendo com que turmas da praça os infernizassem. Quando estava no primeiro ano do ginásio (hoje sexto ano), resolvi atacar a Igreja de maneira diferente. Comecei a ler os Evangelhos buscando fundamentos para atacar. Percebi que o que buscava estava ali, o que não condizia com o que me foi passado. Criei por minha conta, na periferia de Santa Tereza, uma equipe de catequese diferente daquela em que fui educado. A catequese era libertadora, voltada para o reconhecimento do valor da pessoa humana, isso foi em 1960. Padre José Maria me apoiava, era o meu “diretor espiritual”, penava com minhas colocações. Vim parar na EASO. Chegando ao seminário, percebi que não era bem aquilo que esperava. Somente os que estavam nos últimos anos podiam sair para as paróquias nos fins de semana. Para amenizar os dias, criamos de 15 em 15 dias o “Cateretê”. Alguém se lembra? Fizemos teatro, dublagens, coral, quadros do tipo “Balança, mas não cai”, aulas de violão, corte de cabelos... Eu ficava muito preocupado com os menores que às vezes sofriam nas mãos dos “maiores”.
Saindo de Campo Belo, não fui para o convento. Fiz os estudos filosóficos e teológicos como leigo, atuei na Paróquia de N.S. Mãe dos Homens onde os vigários, eram consecutivamente: Padre Guilherme, Thiago, João Maria, Honório e Leonardo. Terminado os estudos teológicos fiquei atuando (já casado) em tempo integral, graças ao apoio e incentivo do padre Thiago, que achava que eu poderia me dedicar integralmente ao trabalho de pastoral, por quatro anos foi ótimo. Pedi demissão ao Dom Serafim, que aceitou sem questionar. Percebi ao longo do trabalho que a Igreja (pelos seus sacerdotes) tinha dificuldades em aceitar um “leigo” atuando diretamente como “pastor”. Aceitam bem o leigo, como ajudante. Como havia estudado Pedagogia com intenção pastoral para catequese e juventude, passei a atuar em escolas. Não abandonei a pastoral, continuei no trabalho de desenvolvimento de liderança comunitária voltada para a evangelização, catequese, pastoral familiar. Aos poucos, fui restringindo o trabalho, só me restou os fins de semana, a família não podia ficar relegada. Antes de atuar em tempo integral na pastoral , eu era professor do Estado. Voltei a trabalhar como professor e orientador educacional. Frequentemente, vinha a Campo Belo para visitar o grupo de catequistas, que continuavam a dar o catecismo na chácara das irmãs (Alto do Morro). Era um catecismo alegre, muitas músicas, representações elaboradas pelos catequistas e crianças. O catecismo durou muito tempo ainda, sem interferências. Cidinha, minha esposa, foi uma das catequistas. No trabalho de pastoral, viso à comunidade para que ela continue a trabalhar por si própria. Este é o meu trabalho e minha maneira de ser. A Teologia da Libertação faz parte da minha vida, (da minha história de vida). Preocupo-me com a Igreja, fico triste com muitas coisas, principalmente aqui em Campo Belo (Diocese de Oliveira).

2- Perguntas gerais


Blog dos Encontristas da EASO:   fazendo uma retrospectiva da sua vida e do ser humano que você é atualmente, o que a EASO- Escola Apostólica Santa Odília significou neste contexto? Qual a importância para você, suas lembranças mais marcantes? 
Padres Lucas, Justino e Humberto, visões
marcantes.
Eustáquio: Não fui para a Escola Apostólica Santa Odília, como a maioria, com 11 anos de idade (sempre achei isto um absurdo) Procurei me adaptar. Quando cheguei a Campo Belo gostei da maneira como os padres, principalmente Justino, Humberto davam aulas. Não havia aquele “magister dixit”. Padre Justino com sua visão ecológica voltada para a Pessoa como responsável pelo meio ambiente e agricultura sustentável (bem a frente do seu tempo). Padre Humberto que tinha uma visão diferente nas suas aulas de História Sagrada, mais tarde se revelou no trabalho catequético (sua especialidade), com sua dinâmica a partir de fatos da vida real. Hoje fico pensando o quanto ele sofreu na função de diretor do seminário e quantos seminaristas com ele. A EASO foi muito importante para mim, foram períodos de muita reflexão, muitos amigos, muitas lembranças agradáveis. Meu sofrimento foi com o latim, somente decorei para as provas. Saudades do Padre Lucas com seu charuto: “corta que, sujeito no acusativo, verbo no infinitivo”.  Às vezes ficava vermelho de raiva, percebia que eu não entendia nada. O que sei de Latim? O exemplo de vida dos padres e a visão deles me marcaram muito.

Blog dos Encontristas da EASO:  Para você o que é ser bem sucedido na vida?
Eustáquio: Não vejo como algo que deva ser alcançado ou que já tenha atingido. É viver o momento, procurando ser coerente com os ideais, maneira de ser, estando atento para novos rumos, adequando conforme as necessidades, vivendo.

Blog dos Encontristas da EASO: Como é um dia típico do diretor do Dom Cabral? (rotina diária)?
Eustáquio: No fim de ano, dezembro e janeiro é um sufoco, durante o ano é mais tranquilo. Um dia é diferente do outro. Nada acontece do mesmo modo. Conversa com alunos, professores, atendimentos aos pais, verificando se tudo está bem (aqui um pouco de síndico), “despachando” com a coordenação, secretaria, tesouraria. Atendendo telefone, cumprindo agenda do dia. Assinando documentos. Planejando. Lendo o que acontece no país sobre a educação... .  Cada dia é uma preparação para o ano seguinte.

3 Perguntas específicas

      Blog dos Encontristas da EASO: Quantos alunos o Colégio Dom Cabral tem atualmente?
Eustáquio: 615 alunos.


Teatro do Colégio Dom Cabral
Blog dos Encontristas da EASO:  O que significa, em termos pedagógicos, a parceria do Colégio com o sistema “COC”?  
Eustáquio: O Colégio tinha parceria, no Ensino Fundamental, com o sistema Pitágoras, e no Ensino Médio com o COC. Hoje somente com o COC. Qualquer sistema de ensino é melhor que nenhum (várias pesquisas comprovam). Todos os sistemas fazem a integração entre os diversos conteúdos. Há uma sequência, uma interdisciplinaridade. Uns são melhores que outros. O COC é disparado o melhor e mais avançado sistema, do infantil ao básico. O COC está sempre pesquisando e inovando. O sistema COC permite 30% das aulas para atender as especificações da turma e do colégio. Veja no Lin sistema COC o que ele oferece ao aluno e ao professor. Veja no site link Colégio Dom Cabral, mais informações.

Blog dos Encontristas da EASO: Que pedagogias vocês usam para promover maior integração entre os alunos no compartilhamento e desenvolvimento do aprendizado? Há como medir os resultados em relação a anos anteriores?
Eustáquio: Procuramos seguir os princípios da pedagogia de Freinet: “EDUCAR É CONSTRUIR JUNTOS”.
A pedagogia de Freinet se alicerça em quatro eixos fundamentais: Cooperação (como forma de construção social do conhecimento; Comunicação (como forma de integrar esse conhecimento); Documentação (registro da história que se constrói diariamente); Afetividade (elo entre as pessoas e o objeto de conhecimento). E as Invariantes Pedagógicas de Freinet. Muitos de nossos mestres ainda não estão afinados com esta pedagogia. Na prática é a que nos orienta. O colégio não tem uma proposta política pedagógica pronta, a que temos é a que a maioria dos colégios tem (só para cumprir a legislação). Com toda a comunidade escolar estamos preparando a nossa. Bimestralmente, temos o simulado para todos os níveis de ensino. É feito um comparativo do aluno em relação a si, em relação a turma e comparativo da turma por disciplina. No boletim do aluno, os pais e o aluno recebem um gráfico de rendimento comparativo. No Ensino Médio, temos  ainda o simulado ENEM. No ano passado, a aprovação dos concluintes do Médio, nos vestibulares,  foi de 71%, neste ano foi de 83%..

Quadro Digital "Touch screen"
     Blog dos Encontristas da EASO: Como é a sala de aula mais moderna do Colégio Dom Cabral (que usa a tecnologia “Touch screen”?
Eustáuio: Todas as 15 salas de aula do colégio possuem o quadro digital “touch screen”, conectados à internet. Os quadros digitais oferecem agilidade na interação com os conteúdos. O professor ganha mais tempo para explicações, levando para as salas as inúmeras possibilidades do Portal COC, do Livro Eletrônico e das Aulas Digitais. Através do quadro o professor faz a chamada que é enviada imediatamente para a secretaria, registrada no diário eletrônico do professor e  imediatamente os pais tem acesso a essa chamada. O professor tem ainda uma ferramenta tecnologica: o ClassBuilder, com a qual ele pode construir e personalizar os conteúdos apresentados aos alunos. O Sistema COC produz aulas com a tecnologia 3D, com temas relacionados aos conteúdos estudados.

Blog dos Encontristas da EASO:   Como tem sido a utilização efetiva dos netbooks na sala de aula (outros tipos de computadores) e para acessar os livros eletrônicos disponibilizados pelo colégio aos alunos?
Eustáquio: Quando utilizamos os netbooks a Internet ficou lenta. Estamos providenciando uma capacidade maior de Banda Larga. Os nets estão sendo usados pelos professores para uso pessoal, enquanto não temos mais acesso à BL. São usados pelos alunos na biblioteca. O Livro Eletrônico está disponível para o aluno em CD-ROM ou on-line, no Portal COC. O Livro Eletrônico oferece ao aluno recursos como: hipertexto, animações, palavras explicadas, gráficos, mapas, ilustrações e atividades lúdicas. O Livro Eletrônico é mais que e-books. Para alunos carentes o colégio tem dado, gratuitamente, todo o material: apostilas e computadores, com recursos doados por terceiros e pelo colégio.

     Blog dos Encontristas da EASO: Como os professores, alunos e pais têm reagido à modernização do Colégio?
Eustáquio: Os professores, os pais e os alunos ainda não conseguem aproveitar tudo o que a tecnologia oferece. A cada dia descobrem mais essa ferramenta auxiliar do ensino-aprendizagem. Ficam maravilhados. Houve um acréscimo do número de alunos para 2011. Fomos forçados a retirar descontos nas mensalidades e a resposta foi o aumento das matrículas, graças à modernização do Colégio.  O Colégio, através do Portal COC Educação, faz parte de um pool de escolas de diversas regiões do país, que oferecem plantão On-line a partir do 6º ano do Ensino Fundamental, os alunos podem ter contato com professores dessas escolas para esclarecer dúvidas em tempo real, em casa, no momento da dificuldade. Nós disponibilizamos professores para atender essas escolas. Os alunos têm usado este recurso com sucesso.

Laboratório de ciências - tradicional
qualidade do Colégio Dom Cabral
     Blog dos Encontristas da EASO:  O Colégio Dom Cabral sempre teve um excelente laboratório, e essa tecnologia também beneficiou o laboratório? Como?
Eustáquio: Desde a época do padre Justino, o colégio tem um ótimo laboratório para executar aulas práticas na área de ciências. A tecnologia complementa, facilitou o entendimento ao aluno, proporcionando-lhe a visualização das aulas teóricas dentro das mais atualizadas descobertas, debates e estudos científicos.

     Blog dos Encontristas da EASO: O que você vê de bom e de ruim no ENEM como meio de inclusão social? Você teria alguma proposta?
Eustáquio: O ENEM veio tirar do Ensino Médio a preocupação do professor de ensinar “macetes’ e “decorebas” provocados pelo vestibular. O ENEM privilegia a compreensão, o raciocínio, há mais leitura. As avaliações, simulados seguem a mesma linha de raciocínio e compreensão. O ENEM muda o perfil do bom professor. Não vejo o ENEM como inclusão ou exclusão social, não é essa a finalidade do ENEM. Inclusão social é dar mais recursos (condições) para um ensino de qualidade para todos. Reservar 10, 20, 40 ou 50% do ENEM por qualquer motivo, como inclusão para acesso à faculdade é provocar futuro desajuste no ensino superior. Pessoas carentes ficam fora das federais por não poderem pagar boas escolas ou preparatórios. É uma injustiça social. Quem pode pagar, estuda gratuitamente. É complexo, há controvérsias, acho que deveria cobrar um valor justo de quem pode pagar. É no Ensino Básico que está o problema. Soluções paliativas de forma alguma é solução, não resolvem.

      Blog dos Encontristas da EASO:  O que você pensa do ensino formal como meio de inclusão social? Quais os desafios?
Eustáquio: Inclusão social fora do ensino é esperar que uma fada com sua varinha mude tudo. Recurso humano é tudo que precisamos para o desenvolvimento de nosso país. Como conseguir isto sem a Educação formal de qualidade, diversificada, que possa atender às necessidades, orientada para o trabalho, como determina nossa Constituição? O grande problema está com nossos políticos não compromissados. São três os recursos necessários ao desenvolvimento: Humanos. Naturais e financeiros, qual nos falta?

      Blog dos Encontristas da EASO: Que recomendações, a partir de sua experiência, você daria aos educadores a respeito de questões melindrosas como: bullyng, homofobia e preconceito em geral?

Eustáquio: Bullyng, homofobia e preconceitos, são resultados da falta de respeito à pessoa humana, prepotência, injustiça. Agir e repudiar, imediatamente tais atitudes. Muitos já sofreram irreparavelmente, alguns seminaristas da nossa época sofreram com isso e já aconteceu de alguns abandonarem por este motivo.  Muitas vezes isto parte também de professores, não apenas de alunos. Ficar bem atento às atitudes agressivas, injustas.  É necessário o respeito incondicional à pessoa humana. Para reconhecer que ninguém é mais que outro, e que quem se valoriza, valoriza o outro e que na desvalorização do outro está a desvalorização de si próprio, somente com educação.
      Blog dos Encontristas da EASO: Obras sociais: fale-nos do que você tem feito em Campo Belo e em sua redondeza (exemplo, Porto dos Mendes):


Tanques-rede para criação de peixes num braço da Lagoa
 de Furnas em Porto dos Mendes, Minas Gerais
     Eustáquio:  Quando vim para Campo Belo pensei em trabalhar com grupos de pastoral. Encontrei uma situação tal, que achei melhor ficar fora. Decidi trabalhar com Associações Comunitárias. No Alto do Morro: Pro - Alto (Grupo de apoio para assessoria aos dirigentes das Associações do Alto do Morro). O Pro - Alto ajudou a integrar as ações em benefício da região. Foram várias benfeitorias, dentre elas a construção de um salão comunitário para a comunidade usar para encontros, festas, reuniões, teatros,... O motivo da construção do salão foi a proibição pelo pároco do uso do salão paroquial para movimentos “de igreja” e não “da igreja”. São mentalidades deste tipo que me fazem ficar fora. Campo Belo é uma magnífica cidade com muitas atrações turísticas no seu município. Procurei incentivar a administração pública. Criamos o COMTUR. Porto dos Mendes é a principal atração turística, está agora preparada para ser uma área de lazer para as famílias campobelenses. No Porto a associação está procurando criar meios de trabalho para os moradores como: cooperativas de doces, de artesanato, de pescadores para a criação de peixes, e frigorífico de peixes. Já está em funcionamento um restaurante, um bar junto à balsa. Estamos restaurando o muro do cemitério e a igreja. Já está quase pronta a avenida que margeia a represa. O campo de futebol receberá alambrado, arquibancada, iluminação. Está sendo construído um alojamento para a Polícia Militar, uma biblioteca distrital para funcionamento nos fins de semana e feriados, um pesqueiro flutuante, uma área de camping e outra para pousadas. Meu trabalho é provocar e despertar a comunidade.

Parque infantil na praça de Porto de Mendes, Campo Belo, Minas Gerais.


Durante o II Encontro, Setembro de 2010, o Padre João Maria
e o Eustáquio guiaram os Encontristas da EASO na escalada   
            para o Cruzeiro de Porto dos Mendes.                                            
Eustáquio inseriu este Post scriptum:
PS – Fiquei sabendo hoje,no Conselho Municipal de Educação, que todo o ensino municipal de Campo Belo terá a tecnologia em suas salas de aula. Na secretaria de Educação será implantada uma telessala. O sistema será implantado já em Agosto no Ensino Infantil e em Fevereiro em todo Ensino fundamental do município. O sistema será o Positivo. É o Dom Cabral incentivando melhoria no ensino.