domingo, 30 de setembro de 2012

Nova União aqueceu nosso IV Encontro

Sexta-feira, 14/09/12. A tarde já ia adiantada quando tomamos o carro para seguirmos para Nova União, local de nosso IV Encontro, o primeiro a se realizar longe de Campo Belo. As expectativas de um encontro diferente brincavam em nossas cabeças enquanto cruzávamos a cidade, morosamente, para atingir a estrada. E a estrada chegou junto com a noite, deixando-nos mais cuidados para percorrer os não muitos quilômetros da temida BR-381.

Na entrada de Nova União o Zeta Hotel já nos recebeu com alegria, pois ali encontramos os primeiros amigos na portaria, preenchendo as fichas de registro. Tomamos posse de nosso quarto e, ligeiros, nos dirigimos para a futura Pousada Pé de Banana, onde o nosso queridoWalter Caetano, o Lua, com a assistência de sua esposa Shirley, ou seria o contrário, preparara a nossa recepção.

Chegam uns, trazem outros, e breve o salão estava totalmente tomado. Um sanfoneiro fora trazido pelo Lua para esquentar os abraços de reencontro. Nessa noite, três novos encontristas nos alegraram com suas presenças: o José Geraldo, da turma de 1965; o Seoldo, que veio dos Estados Unidos com a esposa, Judith; e o José Maria, que pouco faltou para se ordenar padre. Eu estava ao lado do Olímpio quando o José Maria chegou e tive a felicidade de captar a sua expressão de alegria e contentamento ao ver ali presente seu antigo professor.


Sempre da esquerda para a direira: primeira fila -  Rafael, Marcos Rocha,Tião Coelho, José Geraldo d'Assunção, Tupy;
segunda fila - José Maria, Benone, Max, Waltinho, Alfredo, Siovani, Lulu; na útima fila - Santana, Olímpio, Rosalino, Alberto Medina (parcialmente encoberto), Nonato, Eustáquio, José Geraldo Freitas, Baliza, Chicão, Seoldo (parcialmente encoberto).

Chope na mão, conversa para todo lado, sanfona e cantoria pela noite adentro. Se a fome apertava, um belo caldo de feijão ou canjiquinha estava ao alcance do apetite de cada um. A pururuca acrescida ao caldo elevou-o ao ápice gastronômico de todo o encontro, se bem que alguns afoitos se arrependeram por se acharem mais espertos que a pimenta que se ofertava.

Um momento alto da noite foi quando o Nonato presenteou a cruz símbolo dos padres crúzios ao Lua, para que fosse colocada na capela existente na propriedade. Em outro momento, o José Maria falou sobre sua vida após deixar o diaconato, uma peregrinação pelo mundo como membro do corpo diplomático brasileiro.

A noite já ia alta quando fomos para o hotel acalmar os espíritos excitados pelas emoções que nos assaltaram.


Sábado, 15/09/12.Para os que estávamos hospedados no Zeta Hotel, o café da manhã reuniu-nos a todos em torno dos pães de queijo, bolos e frutas. Aliás, as dependências desse hotel surpreenderam bastante pelo bem-estar proporcionado e também pelo seu tamanho em uma cidade tão pequena.

A galharda jardineira, com ar condicio-
nado e tudo, aguentou firme
Estávamos instruídos a reunirmo-nos às nove horas no Pé de Banana, onde os carros seriam deixados, para seguirmos para a Fazenda Germana. Lá, a jardineira estava pronta à nossa espera, galharda, ou melhor, gargalhando ao nosso receio se seria ela capaz de chegar inteira ao destino, e, admire-se ainda mais, faria duas viagens, pois éramos demasiados para que ela levasse a todos. E lá se foi a primeira leva e outros ficaram para trás aguardando o retorno da brava velhinha. Fomos titubeando pela estrada de terra, um morro íngreme exigia-lhe respeito,
 ela parava, aceitava uma primeira meio claudicante e vencia mais aquele desafio.  Lembramo-nos do caminhão do Tião e dos padres meio loucos que jogavam cinquenta crianças em cima de bancos de tábuas na carroceria para levar-nos para os piqueniques, pelo menos a jardineira tinha um teto, se bem que não muito confiável, para não permitir que o céu caísse em nossas cabeças de irredutíveis ex-seminaristas que buscavam novamente os deuses da natureza.


A Fazenda Germana
Chegamos todos sãos e salvos na Fazenda Germana, agradecidos pela experiência do Ildeu, motorista da brava velhinha. Na bela sede da fazenda, recoberta de hera, fomos apresentados aos retratos da família do Lua, à veneração que ele tem por sua falecida mãe e visitamos a maternidade, o quarto onde ele nasceu.

Prosseguindo a visita, a atenção de todos foi atraída para o processo industrial da famosa cachaça Germana: o processo da fermentação do caldo da cana, a garapa; a destilação do líquido fermentado que dá origem à branquinha, a cachaça pura; o processo de envelhecimento em barris de carvalho, onde, através do tanino existente na madeira, a cachaça adquire a coloração própria ao carvalho ou à outra madeira utilizada; o processo de envasamento e fechamento das garrafas; a capa protetora das garrafas feitas do caule das bananeiras, proteção contra choques e contra a luz, que pode causar alteração no produto. Além do processo industrial, o Lua falou sobre o modo como são exportadas as garrafas, principalmente para a Inglaterra, cujos pedidos são feitos especificamente de cada barril existente, pois o líquido é analisado previamente.

Acompanhando o processo industrial ouviam-se ávidos comentários sobre quando se faria a degustação da famosa Germana, e, chegado o momento, aprendeu-se a apreciar a cachaça: o cheiro inicial, para causar a preparação do organismo para o irreverente líquido que se está prestes a ingerir, o leve toque nos lábios para anestesiar a língua e, aí sim, a liberação para o  desfrutar. Em seguida, estávamos na lojinha da fazenda onde se podia adquirir o produto nobre por preços bem convenientes.

Tomados os aperitivos, o almoço já se fazia premente, mas ainda tínhamos que novamente bambolear na jardineira para chegar ao pasto, não me interpretem mal, pasto no sentido de lugar onde se faz nutrição. E lá fomos para o meio de uma mata para um verdadeiro piquenique. Sentados à sombra das árvores, com cerveja e acepipes, aguardando o almoço, ouvimos o Pe. Wilson nos falar sobre o projeto dos padres crúzios em construir um convento em Campo Belo para continuar sua obra no Brasil e poder formar novos padres. Pediu-nos a todos que contribuíssemos com o esforço financeiro que a obra exigia. OTupi, tomando a palavra, propôs que cada um contribuísse com um salário-mínimo por ano, ou cinquenta reais por mês, afinal, poderemos retribuir pelo tempo que lá estudamos gratuitamente e mesmo se considerarmos alguma indenização pelos cuidados do Pe. Humberto, ainda há um saldo a favor dos crúzios. De minha parte, só não vou querer considerar minhas aulas de piano com professora da cidade, porque meu ouvido surdo brigava com aquela obrigação e sempre perdia, causando-me muita aflição.

E o almoço foi liberado. Ufa! Já era tempo. Canjiquinha, ora-pro-nóbis, carneiro assado, frango ensopado, prato na mão à procura de um assento, briga com o frango, depois bananada com queijo e pausa para pegar a jardineira.

Capela da Serra da Piedade
E o Lua perdeu aquele sorriso gozador quando recebeu um telefonema que lhe comunicava que o ônibus que nos levaria à Serra da Piedade não estava mais disponível. Explosão de nervosismo, o que fazer? Nenhum problema, logo duas vans estavam à disposição para levar-nos. Já era noite quando subimos a serra para apreciar o gélido vento que varria o pico e como tudo estava fechado apressaram-se todos para o abrigo da pizzaria. Ao redor das mesas, momentos para conversar, contar piadas, falar mal e bem dos antigos mestres com a pizza entre os dentes. Não posso elogiar a pizza, pois tinha sempre presunto a incomodar-me.  E, então, para encerrar o dia que fora tão cheio, só nos restava descer a serra e procurar o aconchego das camas.

Domingo, 16/09/12, a atividade do dia seria uma visita ao Caraça, nobre santuário mineiro onde no passado existiu um dos mais famosos colégios do país. Não sabíamos se algum ônibus teria sido providenciado para a viagem, ficamos aguardando na porta do hotel até que chegaram os carros dos que estavam na Pousada da Dadinha e, estava definido, iríamos nos próprios carros.

A viagem de Nova União ao Caraça, cerca de sessenta quilômetros, correu tranqüila e agradável sem nenhum dos contratempos que enfrentavam os peregrinos que desde a antiguidade remota sobem as montanhas para se aproximarem de Deus. Logo estávamos na portaria do parque que controla a entrada dos visitantes e, em seguida, a paisagem da bela igreja surgida do nada entre a mata e as montanhas da Serra do Espinhaço. O isolamento é total, e nós, que vivêramos internos no meio urbano de Campo Belo, não podíamos deixar de sentir uma certa angústia por aqueles meninos que deixavam tão longe suas casas para ambiente tão solitário, apesar da natureza gratificante dos arredores. E lá estudaram muitos homens ilustres de nossa história, dentre eles, Afonso Pena.


Na frente do belíssimo altar da igreja do Caraça. Sempre da esquerda para a direita: primeira fila - Lívia, Maice, Dita,
Maria Jósé, Fátima; na segunda fila: Maria de Jesus, Rosimere, Cibele, Marta, Judith, Liana, Shirley, Nazaré,
Marina, Marina, Camila.

O grupo se dirigiu para a igreja de estilo neogótico onde participou da missa iluminado pela luz que os vitrais traziam ao recolhimento de cada um. Após a missa, fotos no interior do templo:
E fomos almoçar no meio do tumulto que os demais visitantes criavam no refeitório, muita gente! O grupo se dispersou um pouco. Mas após o almoço reunimo-nos num canto mais isolado do refeitório. Foram prestadas homenagens ao Lua e à Shirley como agradecimento pela acolhida carinhosa. O Lua agradeceu a presença de todos e contou a história sobre um índio que percebia em si, nos dois lados do coração, dois cachorros, um pitbull e um collie, que lutavam pelo seu domínio, o poder e a violência contra a ternura, e disse que o collie prevalecera nas suas ações para oferecer-nos o melhor, com muito carinho.

Ouvimos, ainda, o depoimento emocionado da Judith, de nacionalidade norte-americana, que agradeceu a oportunidade e a felicidade de conhecer e participar de uma parcela tão importante da vida de seu esposo, o Seoldo, em terras tão distantes.

E chegou a hora da despedida para muitos que dali do Caraça partiriam para suas cidades, prometendo estar de volta ao encontro do próximo ano em Campo Belo, em 28 de setembro, dia do aniversário da cidade.

E contaram-me que um grupo voltou à Nova União e ainda se reuniu à noite na Pizzaria Minuano, acompanhado pelo Lua e o proprietário da Pousada da Dadinha. Pizza, cerveja e a Germana correram à vontade.
A bela Capela no alto da Serra da Piedade

Na subida da Serra da Piedade, parada
ao lado da quarta estação da Via Sacra
O casal Seoldo visita a Gruta do Eremita na
Serra da Piedade.
17/09/12,segunda-feira. Deixando Nova União para trás, antes de voltar a Belo Horizonte, com aquela saudade do que não foi visto e que valia sê-lo, o grupo subiu novamente a Serra da Piedade, com toda a luz do sol desse dia escaldante e conheceu a capela, a Casa dos Romeiros, a Gruta do Eremita e a cripta.

E encerrou-se mais um encontro sob as bênçãos da amizade que nos une a todos e nos dá a alegria de podermos participar de momentos tão reconfortantes de uma família que agora tem um braço estendido em Tucson, Arizona, EUA.


4 comentários:

  1. Graaaaade, Siovani ! Excelente, a narrativa ! Me senti de volta a aqueles momentos tão agradáveis.
    Este cara é um escritor!

    Mudando de assunto:
    belembelembelem !
    Atençao, senhores ! Max e Maice, Lua e Shirley tambem aderiram à ida a Belem ! Agora já são l7.
    E voce, Siovani ? Estamos contando com voce e esposa. Abraços - Benone

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  2. CORREÇÃO: na primeira foto e na primeira fila, temos, não o José Carlos, mas o nosso querido amigo e uma de nossas recentes "aquisições", Zé Geraldo Assnção. Abraços - Benone

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  3. Agradeco ao Siovani pelo excelente relatorio.Cada detalhe do nosso Encontro foi lembrado com riqueza de detalhes. As fotos escolhidas complementaram o trabalho.
    Parabens, vou imprimir este Relatorio para guardar com carinho.
    Rafael

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