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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Relatório do VII Encontro da EASO por Siovani

I

Amanhecer de Campo Belo como visto do Convento dos
Crúzios. Foto Gentilmente cedida por Nazaré Costa (Cli-
que para abir a foto em tamanho grande)
A foto da Nazaré com que iniciamos a abertura deste relato do nosso Sétimo Encontro pode ser vista como uma feliz representação e coroação das conversas que tivemos durante o encontro; vou tentar transmitir neste relato o porquê de tal observação.

Quando chegávamos a Campo Belo, quando a cidade se abriu diante dos nossos olhos, o sol mostrava-se enorme e vermelho descendo atrás de um morro. Naquele dia, 25 de Setembro, praticamente no equinócio da primavera, esse espetáculo acontecia às seis horas. Ali ele morria para renascer na foto que o Raimundo fixou. Para conseguir o objetivo que tracei acima vou falar de duas jornadas: a do nosso VII Encontro e, entremeada, de uma outra tecida em um  poema de Fernando Pessoa que fez parte de uma conversa que mantive com o Edgard, sendo esta sua primeira estrofe:

         Eros e Psique

Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.


A simpatia acolhedora do Padre
Júlio.
O nosso Encontro, também adormecido na espera de um longo ano, renascia naquela noite com a presença dos caros amigos easistas no Convento da Santa Cruz, onde fomos acolhidos pela simpatia do Padre Júlio. Logo ao chegar já nos surpreendemos pela bela obra que encontramos, a qual víramos antes apenas nos alicerces. Feitas as inscrições, fomos levados a uma sala onde uma mesa fazia o centro para reuniões. Ao lado janelas se abriam para a cidade, que se oferecia em uma vista panorâmica. Ali nos esperava também, além dos padres brasileiros e noviços da Ordem de Santa Cruz, o representante dos antigos padres holandeses, o Padre Tiago, figura agradável, sempre com um sorriso nos lábios, uma pequena voz suave, que num momento posterior, ao responder aos agradecimentos que foram dirigidos aos padres que nos acolheram no seminário, devolveu-nos: “o que seria de nós sem vocês”.

Os padres Crúzos
Após as palavras de acolhida do Padre Júlio foram feitas as orações que o Tupi preparara em folhas impressas, cujo auge foi a música de Gonzaguinha “O que é, o que é?”. Em uma apóstrofe às orações, o casal Nonato e Nazaré recebeu um pacote, que aberto revelou uma escultura do Espírito Santo, um presente da Fátima, esposa do Santana, – esta esteve ausente ao Encontro devido a uma viagem – para que fosse instalado no sítio do casal; tendo sido a imagem abençoada, ali mesmo, pelo Padre Tiago. Em seguida o Edgard pediu a palavra para fazer a leitura da mensagem que o Seoldo, distante fisicamente e tão próximo, enviou-nos, secundado ainda pela Rosimere, que leu a mensagem também nos enviada pela Judite, com especial dedicação dirigida às amigas – ver textos abaixo.
Escultura do Espírito Santo oferecida
à Nazaré pela Fátima
E as conversas de reencontro tomaram conta do ambiente entrecortadas pela cerveja, refrigerantes e acepipes, que já nos acostumamos a enaltecer, servidos pelas irmãs do Santana. E a alegria foi se achegando à noite até que fomos convidados a dirigirmo-nos ao refeitório do convento onde nos esperava um jantar preparado pelos padres e noviços, os quais nos  foram todos apresentados, inclusive um indonésio que pouco falava o português:

Padres:
Júlio César Evangelista Resende (prior), Elione Corrêa, Wilson Burato Dias, José Cláudio Nilton, Raphael Priyo Handyanto e André Dadang;

Noviços:
 Hiago Henrique, Carlo Eduardo Sousa Retori, Marcos Antônio Rodrigues Lélis e Daniel de Souza Gomes. 

Cátia e Edgard, o re-
encontro com as ma-
ravilhas divinas. 
Durante o jantar pude conversar demoradamente com o Edgard, que expressava júbilo por tudo que lhe estava acontecendo, demonstrando um fervor inusitado com o seu (re)encontro com as maravilhas divinas. A alegria que encontramos no Edgard foi uma das melhores marcas deste Encontro.

Mas havíamos abandonado a princesa encantada lá em cima à espera do Infante, dormindo dentro do muro de sua inconsciência. E como a noite já ia alta, o sono da princesa nos convidou para sua companhia, levando aos sonhos uma esperança.


II

Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.


Enquanto descansávamos o Infante cumpria sua jornada de herói entregando-se aos prazeres e cruezas do mundo. Como o grande Hércules, ele teria que, sem escolha, descer ao mundo de Hades para vencer o seu guardião, e experimentar os excessos da insanidade, antes que, redimido pela experiência, deixasse o caminho errado.

E no acordar do sábado havia a programação das Laudes  e o café da manhã.  Em seguida o Padre Júlio falou sobre a Ordem da Santa Cruz e fez suas reflexões sobre “Olhar do Papa Francisco sobre o mundo atual”, onde, se enalteceu o Papa pelo seu carisma e ativismo, também mostrou restrições a algumas atitudes que “nos incomodam”, conforme suas palavras. Solicitado a enumerar tais incômodos, falou da frase “mexicanização da Argentina”, pelo seu caráter não diplomático; pela defesa aos atacantes do Charlie Hebdo quando disse que - citando de memória - se alguém agride sua mãe, você revida com um soco na cara.

O que iniciou um debate acirrado foi a questão referente à facilitação de anulação de casamentos, onde a posição radical do Ázara contra qualquer possibilidade de dissolução de casamento se contrapôs ao Edgard, beneficiado por este dispositivo. Confesso que fiquei surpreso ao perceber no primeiro o fundamentalismo, pois parece incompatível com seu jeito brincalhão e moleque.

Tendo o Padre encerrada a sua palestra, o Tupi voltou a distribuir novas folhas de orações anteriormente preparadas. Aqui também houve um dissenso entre os easistas, pois alguns deixaram o recinto por não concordarem em transformar nossos encontros de amizade em encontros religiosos. A crença ou não crença de cada um deve ser respeitada. Não achamos que esse tipo de atividade não deva haver, mas simplesmente não deve ter caráter coercitivo; dever-se-ia fazer um convite aos que espontaneamente queiram participar.


Eustáquio também falou antes do 
almoço

Fomos chamados para o almoço no refeitório do convento nos moldes do jantar da véspera. À esta atenção dos padres temos muito a agradecer, acolhida melhor não poderíamos imaginar:
 jantar, almoço, palestra e a oferta das dependências do convento onde diversos easistas se hospedaram.

Voltemos então ao nosso Infante que abandonamos em sua hercúlea jornada através dos caminhos desregrados.

III

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.


A Princesa, ainda inconsciente das lutas pelas quais o Infante enfrenta, sonha talvez com ele. A grinalda de hera que lhe orna a fronte pode nos levar à ciumenta deusa da fidelidade, Hera, que por causa das traições de Zeus perseguiu Héracles-Hércules desde o seu nascimento: sendo a infidelidade um motor potente o suficiente para desencadear tormentos de culpa.

E a nossa jornada no sábado continuava sem compromissos escalados para a tarde. Alguns colegas foram assistir a um ensaio da fanfarra do Colégio Dom Cabral na Vila Vicentina, outros preferiram recuperar-se para a jornada da noite que se anunciava.


IV

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,

Ela para ele é ninguém.


E o Infante continua a trilhar o caminho que lhe foi predestinado inconsciente do seu objetivo fatal.

Na noite do sábado estávamos convidados a uma missa na Capela da Santa Cruz. Após a missa, corações mais leves e liberados para alguns excessos, fomos para o pátio do Colégio Dom Cabral onde as mesas de concreto foram cuidadosamente paramentadas pelo bufê da Tuza,   BUFFET KI-KOMIDA  - assim com letras maiúsculas para tentar deixar transparecer a gigantesca qualidade e eficiência de seus serviços - ,  para o que foi programado como uma Noite de Roda de Viola.

Juntou-se ao grupo nesta noite o Clayton, nosso colega da turma de 1964, e sua esposa Regina. Ausente na noite, o Baliza não deixou de enviar pelo Eustáquio as garrafinhas de cachaça com o rótulo do VII Encontro, objeto de coleção para alguns colegas.

E a noite correu sob um elenco de músicas, muitas das quais embalaram nossos momentos na sala de recreio antes da hora de dormir. O olhar se dispersa um pouco e ainda vê o Eustáquio, um pouco mais novo, a cabeça não tão branca, a revirar os discos na vitrola, amparado pelos pitacos de alguns colegas sentados ao redor, mas, aí, a visão do Padre Humberto embaçou tudo...

Santana se revela e Ázara continua dançando
Enquanto a Germana novamente corria livre para colocar em alguns mais exaltação, o Ázara não perdia uma música,bebia  as notas caídas no seu copo e dançava, incansável, noite adentro.

Os garçons não nos deixavam descansar, sempre prontos a encherem nossos copos e a oferecer-nos os deliciosos salgados ofertados pelas irmãs do Santana.  A brincadeira mais comum na noite foi “senta aqui, puxa uma cadeira”, o que o concreto se recusava a concordar.

Não se deixou de cutucar o Rafael com a música que o Padre Humberto o repreendeu por não ser adequada a seminaristas, e lá foram pedir ao cantor que tocasse “Sapore de Sale” e “Quando Calienta El Sol”. E pudemos ouvir:

Sapore di sale
(Gino Paoli, Ricky Gianco)


Sapore di sale,                     (Sabor de sal,)

sapore di mare,                   (sabor de mar,)

che hai sulla pelle,              (que tens na pele,)

che hai sulle labbra,           (que tens nos lábios,)

quando esci dall'acqua      (quando sais da água)

e ti vieni a sdraiare             (e vens deitar-te)

vicino a me                           (pertinho de mim)

vicino a me.                          (pertinho de mim.)

Sapore di sale,                     (Sabor de sal,)

sapore di mare,                   (sabor de mar,)

un gusto un po' amaro       (um gosto meio amargo)

di cose perdute,                  (de coisas perdidas,)

di cose lasciate                    (de coisas deixadas)  

lontano da noi                     (longe de nós)

dove il mondo è diverso,   (onde o mundo é diferente,)

diverso da qui.                     (diferente daqui.)

Qui tempo è dei giorni       (Aqui o tempo é de dias)

che passano pigri                                (que passam lentos)

e lasciano in bocca             (e deixam na boca)
il gusto del sale.                   (o gosto de sal.)
Ti butti nell'acqua               (Mergulhas na água)
e mi lasci a guardarti          (e me deixas a olhar-te)
e rimango da solo               (e fico sozinho)
nella sabbia e nel sole.       (na areia e no sol.)
Poi torni vicino                    (Depois voltas)
e ti lasci cadere                   (e te deixas cair)
così nella sabbia                  (na areia)
e nelle mie braccia             (e nos meus braços)
e mentre ti bacio,               (e enquanto te beijo,)
sapore di sale,                     (sabor de sal,)
sapore di mare,                   (sabor de mar,)
sapore di te.                         (sabor de ti.)



Cuando calienta el sol










Amor estoy solo aqui en la playa,
es el sol quien me acompaña
Y me quema, y me quema, y me quema


Cuando calienta el sol aquí en la playa

Siento tu cuerpo vibrar cerca de mi
Es tu palpitar, es tu cara, es tu pelo
Son tus besos me estremezco, oh oh oh!

Cuando calienta el sol aquí en la playa
Siento tu cuerpo vibrar cerca de mi
Es tu palpitar, tu recuerdo, mi locura
Mi delirio, me estremezco, oh oh oh!


Cuando calienta el sol

Aquí en la playa
Cerca de mi
Es tu palpitar

O cansaço pouco a pouco foi cuidando de deixar as mesas de concreto ainda mais rígidas de solidão, dos últimos remanescentes o Lua encontrou um grande camarada no Carlos Eduardo, um dos noviços, lá mesmo de Campo Belo, marinheiro experimentado que já cruzou os mares do nosso globo.



V

Mas cada um cumpre o Destino 
ela dormindo encantada,

ele buscando-a sem tino

pelo processo divino

que faz existir a estrada.


No livro de Philip K. Dick, “O Homem do Castelo Alto”, pode-se ler esta frase que também fala dessa estrada difícil:
“mesmo se uma só pessoa encontrar o caminho... significa que há um caminho, mesmo que eu pessoalmente não o alcance.”

Domingo: o dia seria passado no sítio da Maria das Graças, e no Hotel Champagne já nos juntamos para o café da manhã e para a espera do ônibus.
Em Santana do Jacaré
Lá fomos novamente para Santana do Jacaré rever o rio que tantas lembranças traz aos easistas; hoje, um tanto esmaecido como todas as nossas águas, já não é mais um jacaré, talvez possamos dizê-lo um mero camaleão. Ultrapassamos o rio, atravessamos toda a cidade passando em frente ao seu mais ilustre prédio, a casa onde ainda hoje habita a mãe do Santana, Senhora Margarida, e chegamos ao sítio.
Uma mesa estava preparada com um café da manhã que me entristeceu por ter tragado o meu no hotel. Requintes dessa família que fez dos quitutes uma arte de bem servir.
Quem quis abraçou o Jatobá que viu o Toinzé crescer
Após a fartura da mesa, fomos convidados a abraçar o Jatobá. Perceberam o “o”? Pois é assim mesmo, não um jatobá, mas o Jatobá que viu o Toinzé crescer, e vice-versa; até não seria exagero dizer que conhecemos mais um irmão do Santana, e que este fica devendo-nos um livro, onde superando José Mauro de Vasconcelos, fale-nos de toda sua trajetória infantil ao pé daquele irmão. Muitos braços ao redor do tronco foram unidos para o abraço. Alguns, com saudade dos tempos do seminário, procuraram no chão algumas vagens – já não restavam na árvore – que ainda pudessem saborear, outros se interessaram nas sementes para plantar.
Vontade de beber café
Enquanto ali na sombra daquela árvore rainha do sítio, ouvimos os relatos do Toinzé sobre os tempos que ali cresceu. Do levantar-se de madrugada para fazer o café antes de pegar a estrada para ir à escola, da caminhada de cerca de uma hora ao lado da irmã, da vez em que, tonto de sono, acordou, fez o café e só então descobriu que ainda era meia-noite, pois o pai, tendo percebido o engano, ficou calado até o café ficar pronto, pois “eu vi que cê tava enganado, mas tava com vontade de beber o café”.
Enquanto caminhamos deixando o Jatobá em sua paz, vamos continuar na saga do nosso já querido Infante.
VI
E, se bem que seja obscuro c
tudo pela estrada fora,

e falso, ele vem seguro,

e, vencendo estrada e muro,

chega onde em sono ela mora.


A estrada muitas vezes causou duras penas, lutas inglórias e injustiças, mas o que importa é que a estrada existe; suas pedras pouco mudam de lugar, mas cada Infante que por ali se aventura as pisa de maneira inusitada, às vezes esmagando-as, às vezes caindo num tropeço.
Mas ali no sítio tudo é a pura alegria do compartilhamento da amizade que nos une embalada por um sol sem o sabor de mar, mas com o sabor de suor que a piscina de três lugares, como o Santana nos prometera, estava apta a mitigar.
Dona Margarida quando chegava para 
sonhar conosco. 
A turma foi se reunindo junto a muitos familiares do Santana, inclusive a Dona Margarida esteve ali na sombra conosco. Primeiro apareceram as cervejas e os refrigerantes para ajudar a expelir o calor, um pouco mais tarde, devido à coragem do irmão do Santana, Paulo Roberto, de enfrentar o calor das brasas, os churrascos passaram a tomar o tempo de todos, que não se recusavam a contrariá-los. E ainda houve o almoço servido para os mais corajosos.
Após o almoço chegou a hora de nossa reunião para decidir o futuro de nossos encontros. Falou-se em diversas opções, tendo o Benone proposto um encontro turístico em Bonito- MS, O Lua voltou a oferecer Morretes – PR, além da possibilidade de Arraial D’Ajuda, desta vez prometendo colocar seus amigos, donos das pousadas, diretamente em contato com os organizadores dos encontros.
Devido ao caráter supressivo das demais, a primeira proposta apresentada para votação foi a do Nonato: todos os nossos encontros deveriam acontecer em Campo Belo, lugar de nossas origens agregadoras, mas a maioria rejeitou-a.
Uma segunda proposta, também supressora dos encontros turísticos, foi apresentada: os encontros deveriam ser circunscritos a lugares que tivessem alguma relação com os easistas, sendo citadas as cidades de Senhora de Oliveira, Leopoldina e Juiz de Fora para os próximos encontros. A maioria aprovou esta proposta sepultando, para desaponto do Benone, a ideia de encontros em lugares turísticos.
Vista parcial de Senhora de Oliveira
Em seguida o Eustáquio propôs, Lulu e Edgard concordaram com alegria, que nosso próximo encontro acontecesse em Senhora de Oliveira, o que foi aceito quase por unanimidade, definindo assim o próximo como um encontro bucólico nos moldes do que tivemos em Nova União. 
Tudo acertado, hora de voltar a Campo Belo onde a noite ainda nos reservava algumas surpresas, pois devido ao desfile que acontecia na praça principal as ruas achavam-se bloqueadas, trazendo-nos dificuldades para circular e encontrar um restaurante para jantarmos. Mesmo que alguns não pudessem comer queijos e afins, tiveram todos que   resignarem-se a enfrentar a pizzaria.
VII
Segunda-feira:
O José Geraldo convidara-nos a todos para um almoço em seu apartamento que fica justo em frente à praça principal onde aconteceria o desfile. Devido ao compromisso com nosso netinho de buscá-lo na escola por volta do meio-dia, tivemos que declinar o convite e, em companhia do Lua, voltamos cedo para Belo Horizonte. 
Transcrevo, então, palavras do Lulu e do Santana sobre a agradável manhã:
Os anfitriões já nos haviam alertado: venham cedo porque o espetáculo merece ser visto desde o início. Rosalino cumpriu à risca essa orientação e foi o primeiro a chegar e,  como sempre acontece,  filmou tudo – não sei se para compartilhar, mas com certeza para atender a sua sina de colecionador.  O certo é que antes das nove o ap só não estava cheio porque é tão espaçoso quanto bonito.   Além dos donos da casa, amigos e vizinhos, e não eram poucos, lá estavam o Clayton e sua esposa, Regina, Nonato e Nazaré, Edgard e Cátia, Lulu e Maria José, o casal dançarino, Ázara e Ica, Rosalino e Antonio José, o Santana. O padre Wilson só chegou depois de encerrado o desfile, pois era linha de frente da fanfarra do Dom Cabral.  José Geraldo e Marta circulavam preocupados em bem receber, verificando se a fartura de bebidas e canapés estavam chegando às varandas, que são duas, uma no quarto da frente e outra  como prolongamento da grande sala de recepção.  Espaço não faltou e muito bem colocado para quem quisesse ver o que acontecia na grande Praça Cônego Ulisses, e nesse dia quem não haveria de querer:  ali passou, entre tantas, a  bem ensaiada fanfarra do Colégio Dom Cabral. Ritmo, beleza das musicas escolhidas, beleza das meninas que marchavam à frente.  Como disse o Santana,  o Padre Wilson regia a fanfarra fazendo-nos lembrar o saudoso Padre Cornélio em toda sua exuberância.  Houvesse prêmios, seria , sem dúvida, a vencedora.
Por fim, depois de muita cerveja, refrigerantes  e petiscos, posamos para fotos e fomos ao almoço. Nem precisa dizer, quem caprichou na entrada não deixaria de se esmerar no prato principal: lombo de porco, arroz à mineira, tropeiro e uma salada de fazer inveja aos melhores gourmets do mundo. 

Acendeu a chama do
amor, o castiçal da
amizade, um presente
do casal José Geraldo
e Marta..
Além de tudo isso, o casal amavelmente distribuiu presentes para as senhoras easistas, cuidando em arrumar portadores para a entrega às que ali não puderam comparecer.
Se a jornada do nosso VII Encontro acabou, a do Infante ainda está em curso. Depois de tantas voltas, tantos caminhos tortos, agora o nosso Infante, amadurecido, tal qual o filho pródigo, está pronto para o retorno.
E, inda tonto do que houvera,

à cabeça, em maresia,

ergue a mão, e encontra hera,

e vê que ele mesmo era

a Princesa que dormia.

Vista de frente do modelo em gesso patinado 'Psiquê revivida
pelo beijo de Eros', de Antonio Canova, exposta no Museu
Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
Dante Alighieri representou nossa jornada pela vida como um semicírculo, a metade inicial do arco simbolizando o período da infância e do amadurecimento. Essa vida exterior de busca, perplexidade e incompletude atinge o ápice aos 35 anos; a partir daí, a consciência da vanidade nos empurra de volta à vida interior, à busca de nosso verdadeiro Eu, ou Alma, ou Cristo, ou o Amigo. Fernando Pessoa estruturou o poema em sete estrofes de cinco versos cada, representando os trinta e cinco anos. Há um dito popular que diz que a vida começa aos quarenta.

E assim nos despedimos certos que teremos no próximo ano um Encontro que nos será oferecido, no mínimo, com o mesmo carinho que recebemos neste, sob a coordenação, que já sabemos eficiente, do Lulu e do Edgard. A este desejamos que sua alegria continue a contagiar-nos com felicidade e esperança.

oooooooo - oooooooo


Texto do Seoldo:

 SAUDOSOS EASISTAS E FAMILIARES,

 CUMPRIMENTOS RESPEITOSOS AOS PADRES CRÚZIOS E SEMINARISTAS.

 PREZADOS DEMAIS PARTICIPANTES,


      "NENHUM VENTO SOPRA A FAVOR DE QUEM NÃO SABE PARA ONDE IR". (JÁ DIZIA O SÊNECA). GRAÇAS À PRESSÃO DA NOSSA AMIGA EASISTA ROSIMERE MOREIRA E À RÁPIDA INTERVENÇÃO DO GRUPO RAFAEL / RAIMUNDO / TUPI / LULU, O VII ENCONTRO FOI SALVO! NO FIM, PARABENS A TODOS PELA AJUDA NA ORGANIZAÇÃO, COMO O TOINZÉ  SANTANA / EUSTÁQUIO / BALIZA / PADRE JÚLIO, E OUTRO(A)S... O CARÁTER FUNDAMENTAL DESTES ENCONTROS É A RAIZ CRÚZIA, QUE NOS ATRAIU NO PASSADO E QUE SE CONFIRMA AGORA ATRAVÉS DESSA NOSSA UNIÃO. SE CIÊNCIA É CONHECIMENTO ORGANIZADO, SE SABEDORIA É VIDA ORGANIZADA, ENTÃO ESSES NOSSOS ENCONTROS SÃO SAUDADES ORGANIZADAS.



CABE  AQUI UM PEQUENO SILÊNCIO PARA EASISTAS / FAMILIARES / PADRES QUE PASSARAM PARA O "OUTRO LADO DO CAMINHO". LEMBREM-SE DO CONSELHO DE OUTRO VELHO SÁBIO: "PARA SE TER VIDA LONGA É PRECISO VIVER DEVAGAR". O SUPORTE DO GRUPO PARA AQUELES QUE LUTAM COM SEUS PROBLEMAS É UMA PEQUENA CARGA DE TODOS. COMO JÁ DISSE UMA VEZ: NÃO PODEMOS RESOLVER OS PROBLEMAS DE CADA UM, MAS, SIM, PODEMOS ABRAÇAR CADA UM COM SEUS PROBLEMAS. POR FALAR EM ABRAÇO, O TUPI FICOU ENCARREGADO DE DAR UM SEGUNDO ABRAÇO A CADA PARTICIPANTE EM NOME NOSSO (JUDITE E EU).



COMO REFERI NA MINHA ENTREVISTA:  "QUEM FALA MUITO, ERRA MUITO;  QUEM FALA POUCO, ERRA POUCO; E O SILÊNCIO NOS AJUDA A ERRAR MENOS". A VIDA MUDOU, PORÉM NÃO DESAPARECEU.


ABRAÇOS SAUDOSOS A TODOS.


OBRIGADO AO EASISTA EDGARD ALFENAS PELA LEITURA DESTA MENSAGEM.




                                                 D O N A    N O B I S    P A C E M !






 EASISTA Geraldo H. Seoldo Rodrigues

( Tucson / Arizona / USA)  -  Setembro 2015 - VII ENCONTRO EASO.




                                                oooooooo - oooooooo



Texto da Judite:

Minhas queridas amigas, companheiras e demais EASISTAS

Saudações a todas! Meu coração está cheio de saudades e ao
mesmo tempo de frustração por não lhes acompanhar neste
Encontro de Campo Belo.

As milhas nos separam, porém o espírito de amizade, de
irmandade e de preocupação para cada um de vocês supera a
distância.

Acabo de assistir a chegada do Papa Francisco – um homem de
Deus que traz uma mensagem aplicável a qualquer pessoa
humana. Chorei de emoção como muitos aqui nos Estados
Unidos – que no momento se acham um pouco des unidos. O
mundo está precisando tanto da mensagem dele – não somente
das palavras, mas da sua demonstração na vida que ele vive.

Um bom proveito a todas nestes dias juntas. Fiquem certas de que
estou com vocês espiritualmente. Que Deus nos reúna no próximo
ano.

Abraços, minhas amigas,

Judite

Tucson, Arizona
Um abraço para Judite



  

sábado, 11 de outubro de 2014

VI Encontro na Pai d'Égua Belém

 Por Siovani

Sexta-feira, 19 de setembro de 2014.

Um fato histórico de elevada grandeza foi registrado nesse dia nos anais paraenses:
"Descida da cauda da estrela do Pará, conforme fora anunciado há um ano pelos oráculos de Campo Belo, tomou de assalto o aeroporto de Belém uma legião de mineiros encanecidos,travestida de alegria, que convulsionou o saguão do lugar com abraços de efusivos reencontros.Os mineiros desembarcados foram recebidos no local pelos amigos paraenses que propiciaram a alegre recepção. No meio do burburinho acalorado ouviu-se em alta voz um surpreso espectador, talvez versado em latim, exclamar:

- Um verdadeiro Val-de-Cans!

Pela importância do fato e pela apropriada imagem que retratava as muitas cãs em alvoroço, deu-se ao aeroporto e ao bairro o nome de Val-de-Cans, que resistiu pela história dos últimos 300 anos da capital do estado." (Notícia transcrita do popularíssimo jornal Diário de Nazaré, edição de 14 de outubro de 1708.)

Sob os auspícios dessa curiosa notícia propagada pela internet, esta moderníssima mídia de elevada credibilidade, que trazia um misterioso hiato no espaço-tempo, começou o nosso VI Encontro em Belém. Mas as peripécias do tempo não se limitaram ao narrado, com efeito, uma bolha de um ano, carregada de mazelas políticas e outros achincalhes, foi criada ligando o término do Encontro anterior a este. Como o agora é uma simples imagem atrasada do passado,ilusão dos nossos olhos que só enxergam o que já não mais existe, suprimida a bolha, no contínuo do espaço-tempo permanecemos no mundo onde a amizade é rainha e condutora suprema.

Findos os abraços, fomos todos os mineiros para o mesmo hotel, Grão Pará, em frente à Praça da República, já com a obrigação de estarmos às dezessete horas prontos para iniciar os compromissos com Belém. Um pouco de tumulto houve para conseguirmos estar prontos à tal hora, mas com certo atraso, que nada prejudicou, seguimos para a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, onde assistiríamos à missa das dezoito horas. Grata surpresa já nos esperava no ônibus quando se nos apresentou o guia da Valeverde Turismo que nos acompanharia por todos os eventos na cidade, Guilherme Martins. Muito mais que um guia, ele logo nos revelou seus dons de cantor entoando uma canção em homenagem à Senhora de Nazaré.

                                                   (Fafá de Belém cantando Vós Sois O Lírio Mimoso)

E ali mesmo no ônibus começou nossa imersão na cultura paraense pela história da imagem
de Nossa Senhora de Nazaré. O pequeno ícone foi achado em 1700 pelo caboclo Plácido no local onde hoje se ergue a Basílica. Conta-se que o caboclo levou a imagem para sua casa e no dia seguinte ela havia desaparecido. Voltando ao lugar onde a encontrara, lá estava a imagem. Recolhida novamente em sua casa tornou a desaparecer e a reaparecer no local original, repetindo-se o fato por diversas vezes até que foi ali construída uma capela. Posteriormente a capela deu lugar a uma igreja que,por sua vez, foi substituída no início do século 20 pela atual basílica.

Fomos ainda apresentados à história do Círio de Nazaré e da corda que puxa a Berlinda que carrega a imagem: durante a procissão de 1855 o carro ficou atolado devido a uma forte chuva; arranjou-se uma grande corda e os fiéis puxaram a Berlinda; posteriormente a corda foi
incorporada às festividades como um elo entre os fiéis e Nossa Senhora de Nazaré.

Neste ano a corda confeccionada em Santa Catarina chegou em Belém no dia 24 de setembro. Confeccionada de sisal, ela tem oitocentos metros e um diâmetro de cinco centímetros, e será dividida em dois pedaços de quatrocentos metros:um deles será usado na Trasladação e a outra metade na grande romaria do domingo, dia 12 de outubro. A festa ocorre no segundo domingo de outubro, que neste ano coincide com a outra grande festa católica de Nossa Senhora Aparecida.
Tour virtual pela basílica
(Atenção: para entrar na basílica e
posteriormente para entrar em
 qualquer área, clique no Sn)
E quando entramos na belíssima Basílica a luz do sol ainda invadia os vitrais franceses que circundam a parte alta do templo colorindo todo o recinto com aquele ar místico que envolve os fiéis em profunda imersão, e pouco a pouco foi se apagando, e já assistimos à missa à luz das lâmpadas, que não menos embelezava nossos olhos de admiração. Mais uma vez comprovando a"importância do nosso Encontro para o povo paraense", a missa foi transmitida pela TV Nazaré. Por televisores postados ao longo da igreja podíamos acompanhar as imagens que eram levadas aos fiéis distantes. Antes do início do rito uma senhora leu uma interminável lista de nomes e dedicações daquela missa, entre eles o nosso grupo easista, atestando a enorme dedicação do povo paraense a sua Virgem de Nazaré. 


Finda a missa dirigimo-nos ao Alfajor Buffet, local onde os anfitriões paraenses nos brindaram com um coquetel e um jantar. Como está se tornando costume, que conclamamos mister seja definitivamente abolido, o grupo de Juiz de Fora faltou a esse evento de abertura, com a ilustre exceção do Alfredo e esposa, Marina. De inusitado, a atitude do Edgard quando nos vimos na necessidade de atravessar uma rua sem sinal e faixa para pedestres: ele postou-se à frente de um ônibus, parando-o, e atravessamos a rua à frente dos carros espantados.

E a noite correu ligeira e agradável embalada pela música do Geraldo Braga, amigo do Nonato, ou seria melhor dizer, Geraldo Braga e Seus Teclados, que dedilhava e cantava músicas que nos faziam recordar momentos passados, e sem faltar a presença de artistas do nosso grupo como a Dita e o Chicão, casal de anfitriões paraenses que nos encantou: ela com sua bela voz, ele com a irreverência autêntica de exímio repentista com uma burlesca paródia da música Chico Mariê, satirizando a nossa seleção de futebol:

Desabafo de um Torcedor
                         F Sales (Chicão)
(Refrão)
Não sei o que dizer        
Não sei o que pensar
Mas essa copa do mundo
Dessa vez foi de amargar
Mas essa copa do mundo
Dessa vez foi de amargar

Eu não sei se tenho pena
Ou raiva do Felipão
Mas eu sei que o time dele
É um monte de bundão

Não se faz uma omelete
Sem ter os ovos na mão
E com um grupo de vedetes
Não se faz a seleção

Faltou raça faltou peito
Faltou garra faltou jeito
Lá na p...onte que partiu

Até pra bater os pênaltis
Foi aquela confusão
Tinha nêgo que chorava e dizia
Eu sou um ...bobão

Eu só gostei do goleiro
Que teve boa conduta
Mas teve por companheiro
Um bando de filhos da ...fruta

Sete a um pra Alemanha
Que não teve nem trabalho
Vão ser ruim desta maneira
Lá na casa do ... Barbalho

Se ferrou (com) a Holanda
Não ficou nem em terceiro
Três a zero e mais um baile
E um chute no traseiro.





E o jantar foi uma perfeita introdução à gastronomia paraense: camarão ao creme de pupunha, peixe ao tucupi, filé ao molho,mousse de bacuri, nuvem de cupuaçu.

O cansaço venceu-nos e fomos em busca dos lençóis, mas alguns ainda ouviram o Edgard entoar "Canzone Per Te", música italiana de Sérgio Endrigo que nos anos 60 venceu o festival de San Remo com interpretação de Roberto Carlos. Ele, o Edgard, ainda não revelara ao grupo os seus males, mas alguns que deles sabiam pensaram que ele o fazia como sua canção do cisne, mas como ele mesmo o negou,quero usar os versos abaixo da canção como uma promessa de estarmos juntos outras vezes:

"Perché giurare che sarà l'ultima volta
Il cuore non ti crederà"

(em tradução livre)
Porque se jurar que será a última vez
O coração não acreditará.)


Sábado, 20 de setembro.

O café-da-manhã já nos trouxe o atrasado grupo de Juiz de Fora ao nosso meio, além da presença do saudoso Marquinhos estampada no sorriso de etérea simpatia da Liana. Às dez horas, na verdade nem tão pontualmente assim, subimos novamente no ônibus que nos levaria para as docas, onde embarcaríamos para um passeio à ilha de Serituba. Também chegaram,vindos de Fortaleza, raios de juventude a fazerem mais resplandecentes as cãs, um filho do Alfredo e Marina. Neste encontro um bom número de novos amigos foram incorporados ao grupo, enriquecendo a diversão e a amizade.

Descemos nas docas, um belíssimo espaço onde antigos armazéns foram transformados em lojas e restaurantes,e com a excelente cervejaria Amazon Beer, que produz sua cerveja ali mesmo no local. Mas tudo isto só desfrutaríamos posteriormente, naquele momento tivemos que fazer, sob o sol do equador,que não se preocupou em mostrar gentilezas aos seus ilustres visitantes, uma fila para entrarmos no barco.

Mas eis-nos dentro do barco, finalmente à sombra, deslizando pelas águas da Baía do Guajará, vendo Belém se afastar vagarosamente.

Belém, vista a partir da Baía do Guajará

Por aquelas águas, durante as comemorações do Círio, centenas de embarcações acompanham o barco que conduz Nossa Senhora de Nazaré até o porto de Belém, em um percurso de aproximadamente cinco horas. Para informação aos incautos que queiram participar, os bilhetes para a procissão fluvial, embora ao preço de duzentos e sessenta reais, há muito já estão esgotados.


Mas fiquemos com o nosso grupo que faz uma romaria pela cultura paraense sob a regência da guia Ana Cristina, uma genuína viúva negra, em confissão dela própria, que enterrou cinco maridos. Só não entendi como conseguiu amarrar o sexto sob tal ameaça segura de morte. E o barco ia correndo pelas águas tranquilas da baía enquanto assistíamos a um show de músicas e danças paraenses apresentado pelo grupo Tribo dos Kayapós. Os ricos e sensuais ritmos do Norte, Carimbó, Lundu Marajoara, Marujadas de Bragança, entre outros, balançavam o barco nos pés do casal de bailarinos, que se apresentavam com vestimentas típicas.

Houve um momento em que o guia do nosso grupo, o Guilherme, contou a todos os turistas marinheiros de água-doce, sobre nossa história, desde o momento inicial em que o Rafael e o Nonato se puseram a nos caçar pelo mundo. E falou de tal maneira simpática e cativante, falando da amizade que nos une, e que muito além da amizade era uma fidedigna questão de amor, que olhando-se ao redor via-se diversos rostos transfigurados em emoção, as lágrimas correndo soltas. Ao meu lado, a Liana derretia-se.

  E fomos ainda apresentados a algumas das 39 ilhas que vivem sua exuberância amazônica entre as águas da baía, com nomes indígenas e curiosos: Jutuba, Cotijuba, Paquetá-Açu, Arapiranga... Ilhas cobertas de árvores, entrecortadas pelas casas dos caboclos, que do açaí abundante fazem sua principal fonte de energia, consumindo-o misturado à farinha de mandioca, sem açúcar, pois este dizem estragá-lo, acompanhado de peixe. E navegando pela baía podíamos apreciar diversos ribeirinhos com suas canoas, até mesmo crianças pequenas, que nos saudavam, sozinhas em suas pirogas naquelas águas imensas.

Apesar dos momentos em que foi necessário chamar a atenção dos afoitos turistas que acorriam precipitadamente para o mesmo lado do barco, levando perigo para seu equilíbrio, chegamos ao píer onde desembarcamos. Uma caminhada pelas margens do rio e da floresta levou-nos até a praia de Sirituba, não sem alguns danos, pois nossa amiga Cibele, esposa do Tião Coelho, sofreu uma queda e machucou o pé, o que lhe deu como companheiras duas muletas pelo resto do Encontro. Poucos se aventuraram pelo rio, pois a fome era mais importante a cuidar. Almoçamos de maneira despojada e a cerveja correu ligeira pelas mesas para amenizar o calor.

Voltamos ao barco, a maré havia baixado, o que deu às mulheres uma nova oportunidade para experimentarem uma nova aventura: enfrentar a tosca escada para descer a bordo, que felizmente todas venceram com espírito esportivo. O barco retornou a Belém já não com o mesmo brilho da ida, mas com muita música, até demais para alguns mais sensíveis ao som muito alto.

À noite pudemos apreciar a Estação das Docas. Na Amazon Beer provamos a cerveja Stout Açaí, cerveja escura de alto teor alcoólico, vencedora do Festival Brasileiro da Cerveja deste ano como a melhor cerveja artesanal do Brasil, bem como a Forest Bacuri, mais leve, grande preferida do público feminino. Fizemos ainda uma viagem gastronômica no Spazzio Verdi onde o Pato a Tucupi estava delicioso. E por fim não pode faltar o sorvete de frutas típicas.

O cansaço era o nosso fiel companheiro na volta ao hotel para uma noite de sono, pois o dia seguinte também prometia muitas descobertas.


Domingo, 21 de setembro.

O atraso no embarque do dia começou agitado, pois um casal do grupo ficou preso no elevador do hotel. Após alguns minutos de ansiedade foram resgatados sem nenhum dano aparente.
Saímos novamente de Belém em direção à terra de Antônio Araújo Bessa, o Padre Bessa, o único exemplar dos easistas que se ordenou. Grande amigo do Seoldo, este fez questão de ir conhecer o lugar onde o Bessa nasceu,a Vila de São Jorge, naqueles tempos conhecida como Dezoito (neste blog existe um texto do Seoldo homenageando o amigo, ver em http://encontristasdaeaso.blogspot.com.br/search?q=bessa).

Uma vila pequena no interior do Pará: para nós, vindos de tão longe, uma quase surpresa em encontrar gente morando perdida em tais paragens. Conhecemos a igreja onde o Padre Bessa foi vigário, a casa paroquial e um seu sobrinho. Ali na igreja foram feitas as homenagens ao amigo que se foi tão cedo, menos de dois anos após sua ordenação.


Em frente à casa paroquial um pé de jambo nos atraía como antigamente aos antigos seminaristas famintos de novidades, principalmente as gustativas, mas no atual peso das barrigas nenhum se aventurou a subir nos galhos atrás das suculentas, apenas foram feitas algumas tentativas de catar as frutas puxando os galhos. E voltamos ao ônibus para seguir para o sítio do Nonato, que não ficava muito distante, no município de Santa Maria do Pará.

Maravilha! Chegamos no sítio onde nos sentimos os noivos de uma bela noiva toda de branco. As árvores com seus troncos caiados transpiravam harmonia com o verde fresco das folhas. Relaxante! Acolhedor! Gostoso! Ouvia-se!

  Tapioca! Cuscuz! Sucos! A água fresca também virou iguaria! Linguiça boa apimentada na brasa e coxinha de frango!

Descemos para o que chamam por lá de igarapé, um riacho, onde a corrente foi represada formando uma piscina natural. O sol por entre as folhas das árvores coloria aqueles barrigudos que se juntaram em roda dentro da água para contar piadas. Agora, sem a presença dos coices vigilantes do Pe.Humberto, as piadas já não eram mais tão inocentes.

E tome cerveja! E baciada de caranguejo! E baciada de camarão! Melhor assim, sem falar muito, só interjeições de contentamento! E ainda houve almoço!

E o papo se espalhou em volta das mesas que tomavam a varanda da casa. Um grupo começou a contar as histórias das formações dos casais que lá estavam: como se conheceram, o namoro, o casamento. Confidências que nos fazem cada vez mais amigos ao penetrarmos mais fundo nas intimidades uns dos outros. Depois apareceram redes onde alguns se desligaram de vez, deixando os roncos competirem com a algazarra das conversas. No campeonato em que reservadamente inscrevemosos distintos dorminhocos, o Santana levou a taça com distinção.

Mas chegou a hora de partirmos e voltarmos a Belém. Ainda ganhei como recordação uns beijos de amor de umas lava-pés que deixaram meus pés em fogo.

Neste momento é bom abrir um parêntese para agradecer a acolhida que os paraenses nos deram, em especial ao Nonato e à Nazaré, que nada economizaram para nos propiciarem um Encontro onde a alegria fosse a única lembrança. E não houve economia nem de tempo, nem de lar, nem financeira, nem de gentilezas e carinhos. À Dita e ao Chicão temos a agradecer a alegria, a versatilidade e competência de grandes artistas que são e que nos propiciaram muitos divertidos momentos. Ao Tupi e a Marina pela presença de conhecedores de Belém e pela ajuda que sempre estiveram dispostos a prestar. Muitíssimo obrigado!!!


Segunda-feira, 22 de setembro.

A segunda-feira nos levou a Icoaraci, local de onde partem os barcos na procissão fluvial do Círio e maior centro de produção de cerâmicas das culturas marajoaras, tapajônicas e Maracá. Mas da agitação de tantos barcos que tumultuam a baía naquela data nada se via, somente a placidez das leves ondinhas que corriam pelas águas iluminadas pelo sol dos trópicos, aliás, o nome Icoaraci alguns pretendem que significa "de frente para o sol", enquanto também se ouve dizer "mãe de todas as águas", de qualquer maneira, muita água e muito sol.

Antes de irmos admirar a paisagem da orla fluvial estivemos na olaria do Sr. José Anísio e fomos surpreendidos pela beleza das peças que lá se encontravam em exposição. Os olhos aturdidos por tamanhas belezas ainda ficaram mais estupefatos quando pudemos acompanhar as mãos habilidosas do oleiro a moldar um vaso: daquela massa informe de argila socada e amassada, pouco a pouco tomando forma, ora parecendo que tudo se desmoronava para retomar de imediato uma forma ainda mais elaborada, girando continuamente no mesmo ritmo pela ação dos pés, transformando o giro da roda em anéis que desenhavam a curvilínea forma do vaso, girando... girando...

Enquanto moldava o vaso o oleiro nos contava detalhes de sua vida, sem se descuidar da sua obra, e sabedor da sua valia comentava que na sua terra não lhe davam valor, e se estivesse no hemisfério norte decerto estaria rico. Falou-nos de alguém que tendo plantado em um vaso de plástico reclamou que a planta murchara, e completou com ironia: o que poderia querer de outro se a planta e a terra não podiam respirar como num vaso de barro. E falando de modo tão simples, sem esconder uma sabedoria inata, despertou em todos simpatia e admiração.

Feitas as compras, reencontrada a Fátima, que o Santana perdera e não dava notícia do seu destino, seguimos para a orla do rio que nos aguardava com uma feirinha de mais cerâmicas e outros artefatos, onde ainda se gastou um pouco mais, mas chega de compras. Seguimos pela orla para onde barracas nos espreitavam com os cocos afogados no gelo esperando com avidez. Sentados à sombra, o rio sacudindo levemente as águas e os nossos olhares bamboleantes, a paisagem entrecortada pelas ilhas ao longe, e com o sol desenhando caprichosamente sobre as águas com um pincel feito das sombras das nuvens... ah! que bambeza...

O guia lembrou-se de nos acordar para nos levar para o almoço no restaurante Espaço Verdi, não nas docas, como já havíamos provado, mas na casa matriz, muito maior, onde a variedade de pratos aturdia o desejo de provar tantas belezas que prometiam. O prato para o serviço era enorme, o que já podia causar enganos à capacidade da fome, mas o Seoldo não se fez de cuidados, parava em cada iguaria e acomodava mais um pedaço no prato. Peixes, carnes, camarão, bacalhau, como deixar de provar algum? Resultado: a balança quase não acreditou que tinha de registrar um quilo e meio. Só espero que ele não saia divulgando para os seus amigos americanos que a comida no Brasil é muito cara!



Terça-feira, 23 de setembro.

A terça-feira nos prometera um city-tour por Belém. Saímos novamente no ônibus, conduzido pelo Cláudio como em todos os dias, novamente em direção às docas. Dali, um pouco à frente, fomos ao mercado Ver-o-peso, a maior feira ao ar livre da América Latina.

De um antigo posto de fiscalização, denominado Casa de Haver o Peso, originou-se o nome do mercado, que aliás são muitos: o Mercado de Ferro, o Mercado de Carne, o Mercado de Peixe. Ambiente perfeito para conhecer a diversidade dos produtos que fazem parte da mesa paraense: as frutas pouco conhecidas no sul, tais como o cupuaçu, abricó-do-pará, taperebá, bacuri estão presentes in natura, em sucos e em doces; plantas medicinais para curar do lumbago a um simples mal de amor; camarões de todos os tamanhos e peixes; artesanato e roupas.

Seguimos a orla em direção à Cidade Velha, bairro antigo de Belém, onde a cidade nasceu. Ali visitamos a Catedral da Sé, que apresenta um dos interiores dos mais bonitos que já pude contemplar, onde a arquitetura se harmoniza com as diversas obras de arte e as luzes. Ainda tivemos a alegria de ouvir o enorme e antigo órgão soar uma música.


Tour pela Catedral
Siga às setas para entrar na Catedral e em suas diversas
áreas.
Ali ao lado da catedral visitamos o Forte do Castelo do Senhor Santo Cristo do Presépio de Belém, ou Forte do Presépio, onde se descortina uma maravilhosa vista da baía, tendo em primeiro plano o Mercado de Ferro do Ver-o-Peso.

Mas o nosso tempo com a Valeverde Turismo acabou e fomos levados de volta ao hotel.

Ao cair da tarde dirigimo-nos, eu e a Rose, junto com o Santana e a Fátima, à casa do Nonato, pois, como deixaríamos Belém no dia seguinte, o amabilíssimo casal anfitrião convidou-nos para conhecer sua morada. Lá tivemos a oportunidade de conhecer os seus netos, bem como o filho, também coronel-bombeiro, que ainda não conhecêramos. Trocamos ao redor de uma mesa de lanche as conversas corriqueiras. No caminho de volta ao hotel, o Santana e o Nonato agarraram uma discussão política, onde cada um jogava na ponta extrema, e da qual me abstive, um tanto por não escutar direito por estar no banco de trás, outro tanto por não gostar de assuntos de atiçar marimbondos.

Despedimo-nos, então, do casal que nos propiciou tão agradáveis momentos, agradecendo por todas as gentilezas que nos cumularam durante a nossa estadia. No dia seguinte, enquanto a corda do Círio chegava a Belém, deixamos os amigos e o Val-de-Cans.

E aqui entrego a pena ao Seoldo para continuar a narrativa do VI Encontro.
















 [LA1]Ficou muito bema inserção  do link para o tour virtual pela Catedral