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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ecos de estradas e encontros


Edgard Miranda Alfenas - autor



O ENCONTRO DOS EX-SEMINARISTAS

15 de setembro de 2011, quinta-feira, 10 horas , Olímpio, Cátia e eu saímos do Rio de Janeiro e pegamos a BR 040 com destino a Belo Horizonte. No dia seguinte seguiríamos pela Rodovia Fernão Dias para Campo Belo - MG, onde aconteceria  o encontro dos ex-seminaristas da Escola Apostólica Santa Odília (EASO) no Colégio Dom Cabral.
Olímpio Set// 2011
Nas proximidades de Petrópolis, por volta das 11 horas, Olímpio recebeu uma ligação. Apesar de não ser possível ouvir o interlocutor, facilmente percebemos tratar-se do seu sócio do escritório de contabilidade. Marinho, que pelo visto, estava nervoso ou temia ficar sozinho diante de algumas responsabilidades consideradas muito pesadas para ele, ao faltar-lhe a competente presença do Olímpio. Marinho estava confuso, pois havia documentos por regularizar, folhas de pagamento, fundo de garantia, INSS; a vida de um Contador é osso. Olímpio demonstrava  amizade pelo sócio: “Calma, Marinho, eu não poderia deixar de fazer esta viagem, pois ela tem grande significado para mim. Depois você tira também uns dias de férias. Estou indo ao encontro de grandes amigos."
Mas Marinho parecia não estar convencido. Acho que Olímpio não negociou bem essa viagem, pois temia que o sócio não concordasse e isso seria o fim... Na subida da Serra de Petrópolis, enquanto apreciávamos a beleza da Mata Atlântica,  o celular continuava a martelar. Olímpio atendia, escutava com paciência  e argumentava com calma.  Por fim silenciou-se a vã caixinha preta. Marinho fora vencido pelos argumentos do Olímpio, pelo cansaço ou  entráramos em área fora da cobertura?  Jamais saberemos. Na oportunidade comentamos  sobre  a dificuldade de nos afastarmos do trabalho para uma tal viagem, eu tinha o mesmo problema com meus negócios.
Olímpio é um profissional de grande experiência. Já trabalhou em grandes empresas, entre elas a Brasilit, também foi vendedor de café produzido na região de  Campo Belo, por isso entendeu a preocupação de seu sócio, mas ficou tranquilo. A viagem fluía maravilhosamente bem. Apenas Olímpio se sentia  dividido entre o sócio e os amigos que iria encontrar. Do sócio fazia excelentes referências, dizia tratar-se de um homem de conduta ilibada, de  procedimento exemplar e inigualável.  Olímpio, quando fala dos amigos ou colegas, deixa aflorar um traço marcante de sua personalidade,  gaba-os em seus méritos, mesmo mínimos,  com poderosos adjetivos e cala-se quando não tem motivos para elogiá-los. Por outro lado, é um homem que valoriza a tradição, tem por princípio participar de todos os encontros, para ele um item importante de seu código de honra.

É também um contador de boas histórias. Na viagem, fez questão de nos contar este  caso que aconteceu com ele no seminário,  quando tinha 17 anos: decidiu escrever uma carta para a Rádio Havana de Cuba, da qual era  ouvinte assíduo. Na carta manifestava sua admiração pelos programas, pelo bom gosto, etc. Porém, havia no Seminário uma regra básica e irretocável e de todos  conhecida: todas as cartas expedidas dali deveriam ser entregues nas mãos de um dos diretores, com plenos poderes para ler e decidir se seriam ou não enviadas . Dessa vez, entregou a carta ao Padre Agostinho que, ao lê-la, teve uma excelente ideia.  Como estávamos em plena ditadura militar e vendo que se aproximava o dia 1º de abril, consagrado como o dia da mentira ou da brincadeira, chamou a atenção de Olímpio para o risco de ser preso em razão de manter relacionamento com Cuba: "meu filho, eu  remeti a  carta porque era essa a sua vontade, mas você fez muito mal em escrevê-la, muito mal!".  A advertência  já fazia parte de uma 'maldadezinha' que o  Padre arquitetava para o dia 1º de abril. A vítima, até hoje, fala com detalhes daquele, para ele, histórico dia. Chegado o momento, o nosso querido padre Agostinho mandou que alguém fosse aos correios e enviasse um telegrama para o Olímpio, nele havia a seguinte mensagem: “Tendo sido detectada sua correspondência para Cuba, fica Vossa Senhoria intimado a comparecer ao Hotel Maracanã, hoje, às 15h30, para prestar esclarecimentos sobre o suspeito fato.” Olímpio, ao receber o telegrama, quase enlouqueceu e nem reparou nos detalhes de quem o remetera; foi tanta a aflição do garoto que o  Padre, temendo consequências mais graves,  logo desmentiu a intimação e revelou a artimanha: "Meu filho, é primeiro de Abril!", disse com seu acentuado sotaque holandês.  
De história em história, chegamos a Belo Horizonte às 13 horas e algums  minutos. Lá tivemos a recepção calorosa de Lulu, Maria José e Luiz Filho. Olímpio havia quebrado os óculos e, por conta disso, usava uma lente contato, literalmente, pois havia perdido a outra. Somente percebeu o imbróglio quando foi tirar suas lentes   para dormir e, também, reparou que não havia o líquido no recipiente onde a lente deveria passar a noite sequer uma gota do produto. A falta foi rapidamente compensada por soro fisiológico que a anfitriã providenciou. Embora com uma lente só, Olímpio tinha outras de reserva: trazia dois ou três pares.

Por volta das 22 horas e 30 minutos, Olímpio, Lulu e eu telefonamos para o colega, também ex-seminarista, Rogério Luiz Pinheiro, para combinar uma visita que lhe desejávamos fazer. Rogério é, agora,   médico clínico e internista e professor de Clínica Médica na Faculdade de Medicina da UFMG. Decidimos anunciar-nos antes para certificar-nos de que estaria em casa e também pelo adiantado das horas. Visita depois das dez, ou é de compadre ou de bobo, mas não queríamos perder a oportunidade, pois estávamos próximos à sua residência. Com a ajuda do GPS, chegamos a sua casa  em menos de 10 minutos.  Rogério, como nos tempos de Seminário, recebeu-nos de maneira simpática e com grande cordialidade. Convidou-nos  a entrar e relatou boa parte de sua trajetória de vida ao longo destes 50 anos. Falava com certa suavidade e emoção, o que nos deixou também emocionados.  Mostrou-se impressionado com a transformação dos amigos, deixou implícito o susto de ver o Edgard careca. Segundo ele, sempre revê uma fotografia na qual estão Manuel de Juiz de Fora, Edgard e ele,  todos cabeludos, e esta é a impressão que tem guardada na memória.  Naquele tempo, estavam na faixa de 12 para 13 anos, agora, com todos acima dos 60, não é pra menos, na primeira vez que se veem, depois de tantos anos,  as transformações realmente assustam, e o susto é compreensível. Depois de matarmos a saudade do amigo, retornamos à casa do Lulu, ficando a dúvida se o Rogério poderia ir ou não ao encontro.  Mais tarde ele nos telefonou justificando sua falta, alegando compromissos inadiáveis.  Por outro lado, afirmou que vai estar presente no ano que vem, para matar as saudades dos demais amigos que não vê há 50 anos.  Com medo de  virarmos abóboras, saímos da casa do Rogério antes da meia-noite.

A essa altura, o relógio gritava: "é hora de ir pra cama!"  Já passava de meia-noite, portanto, madrugada de 16 de setembro, sexta-feira. Quilômetros e quilômetros nos esperavam, Campo Belo estava bem distante e o tão esperado encontro nos aguardava às 18 horas, tudo devidamente programado.
Às 9 horas, já se pensava em partir, e  Olímpio não conseguia colocar as lentes reservas. O fato de estar em Belo Horizonte, famosa pelos recursos de oftalmologia, deixava-nos tranquilos para resolver o problema. Saímos à procura de uma ótica e logo encontramos uma na Avenida Brasil, perto do conhecidíssimo Colégio Arnaldo. Apenas para variar, mais uma pequena demora nos apanhou de surpresa: a contatóloga não se encontrava na ótica. Olímpio ameaçava sair em busca de outra, porém, um rapaz de alta habilidade comercial o segurou com a conversa agradável de quem nasceu para ser relações públicas, um grude de indisfarçável simpatia. A contatóloga chegou e em  minutinhos pôs o alegre Olímpio a enxergar. A alegria do Olímpio, ao ver resolvido seu problema com as lentes, acabou nos contagiando com aquele espírito jovial. .
A turma do jipe.
Às 13 horas estávamos de volta à casa de Lulu e Maria José, anfitriões singulares, diplomatas em receber os amigos e parentes em sua residência, até mesmo quando não os conhecem, fazendo valer aquela famosa expressão algébrica: o amigo do meu amigo é meu amigo.  Minutos depois, uma voz abençoada anunciou: "O almoço está na mesa". Rapidamente colocamo-nos em posição de quem adora os deliciosos quitutes e outras iguarias que fazem parte das apetitosas receitas da anfitriã.
Prato principal: Lombo Festivo para
visitas agradáveis que fazem elogios
rasgados à comida da casa. (Legenda
do intrometido editor)
Convidados a postos, a mesa repleta, inicia-se a saborosa empreitada  gastronômica. O assunto é variado, mas sempre em torno da gastronomia, todos falam de algum tipo de comida. Olímpio se emociona a todo instante, mostrando a pureza do seu coração, o que nos emociona também, pois afinal se aproximava a hora da partida, ou seja, de ir ao tão esperado encontro dos velhos amigos ex-seminaristas. Entre umas e outras brincadeiras de bom gosto, conversamos sobre o valor nutritivo do ora-pro-nóbis e de sua riqueza em ferro  (Deus que nos livre e guarde!). Almoçamos e bem. É hora da partida, as bolsas abarrotadas ficaram espremidas e, se possível, gritariam por socorro no porta-malas do carro, grande e reluzente, da família dos modernos jipes importados. Quase 3 da tarde,  rumamos para Campo Belo, a vontade de chegar esticava a estrada e diminuía a nossa paciência, um percurso de 210   quilômetros parecia ser de 600.
Chegamos a Campo Belo às 6 horas e 30 minutos da tarde, no quase contradito de que mineiro não perde o trem. Realmente não o perdemos, pois todos se atrasaram, nada, porém, que estragasse a graça e a alegria do tão esperado encontro tradicionalmente britânico: podemos perder a hora, mas nunca perderemos o encontro e a alegria de rever os colegas, mesmo que os obstáculos e as intempéries da vida tentem nos impedir.
Como previsto na programação, fomos direto para o Colégio Dom Cabral, onde num passado distante quase todos éramos felizes, uns sabiam, outros não. Todos sacodem a poeira e começam os abraços de boas-vindas. O afeto sincero se espalha pelo local, como nos velhos tempos de seminaristas internos. Abraços fraternos se confundem com os risos de satisfação. A maioria levou as esposas que já nutrem uma forte amizade recíproca, tornando-se mais sólida a cada ano. Os flashes das câmeras fotográficas resplandecem no ambiente numa sucessão de raios de luz. Para nós, toda essa festa tem um significado muito especial, afinal as amizades se fortalecem a cada encontro anual e são eternizadas pelo registro fotográfico.
O antepasto era do tamanho
da fome; e a pinga, da sede.
Para as 8 da noite, foi marcada uma reunião no Hotel Fazenda Álamo, a uns 5 quilômetros  de Campo Belo,  e lá chegamos às 8 e pouco e, a essa altura, a fome se apoderou de nossa vontade, fomos nos encantar com a deliciosa comida mineira. Logo depois, numa respeitável disciplina como nos velhos tempos, Rafael, o Coordenador Geral dos Encontros, tomou a palavra e todos prestaram uma silenciosa atenção ao orador. Rafael foi breve e liberou democraticamente a palavra para cada um  falar sobre o motivo pelo qual entrou e saiu do seminário. Nem todos seguiram o figurino, alguns extrapolaram, a fala foi livre, mas o silêncio aqui, como em outros lugares,  teve sentido e significado.




Alguns dos que falaram no jantar de confraternização: João Henrique; padre Haroldo: "tive dificuldades em entender a lingua brasileira - o que significa, por exemplo,  'tirar a água do joelho' ?"; Lulu (sem foto); Lua; Ázara; Alfredo contou a história do sapato do irmão que tinha uma chapinha no bico fino; Janjão: resumiu sua vida; Padre Júlio Cesar: agradeceu ao convite e falou de sua missão.

Pé grande, Eu?
Os mais extrovertidos contaram casos e situações engraçadas, como foi o caso do nosso amigo Alfredo. Quando seminarista, usava sapatos que foram de seu irmão mais velho. Por conta disso, eram bem maiores que seus pés e sobravam mais ou menos uns dez centímetros em seu bico fino, deixando uma marca registrada na lembrança dos colegas. Foi como aconteceu com Edgard que, ao encontrar Alfredo 12 anos após deixarem o Seminário, olhou imediatamente para o seu pé e, sem pestanejar, perguntou: "Cadê o sapato de verniz?" Isso foi motivo de uma dualidade engraçada: a primeira quando o fato aconteceu, outra ao ser contado no primeiro dia do encontro pelo protagonista, Alfredo.
Vários outros casos engraçados foram contados durante aquela noite pelos colegas e a brincadeira perdurou por várias horas, até sermos vencidos pelo cansaço. Mesmo com certa teimosia, tivemos de ir dormir, pois já era madrugada e outro dia nos esperava com novos compromissos festivos e inadiáveis, afinal eram apenas dois dias de encontro.


O presidente da Vila Vicentina, Baliza, quando falava para os encontristas
da EASO  de como funciona a organização que dirige.

Clique para ampliar e ler a placa no canto direito superior:
"Rezemos pela Beatificação de Padre Alberto"
No segundo dia, assim que amanheceu, fomos tomar café acompanhado de frutas diversificadas e deliciosas guloseimas peculiares da cozinha mineira. Após o café, visitamos a Vila Vicentina Furtado de Menezes, instituição filantrópica que funciona desde 29 de maio de 1938. Trata-se de uma entidade muito querida pelo povo de Campo Belo, sob o comando de seu dedicado presidente, José Orlando Baliza. A parte espiritual se faz presente pelo Capelão, Padre Sebastião Israel, e a administradora,  Irmã Palmira de Oliveira Neves, tem como único objetivo a caridade sem limites na mais verdadeira expressão da palavra. 

Numa das repartições encontra-se,  com devido mérito, o busto do Padre Alberto Fuger, intitulado amigo dos pobres, falecido em 17 de dezembro de 1970. Esse sacerdote dedicou, fraternalmente, parte de sua vida aos pobres da Vila Vicentina, fazendo jus à placa numa das paredes pedindo orações pela sua beatificação.
Como fazíamos nos tempos do Seminário, percorremos a Vila cumprimentando as pessoas com um gesto de fraternidade. A Vila tem hoje uma arquitetura moderna, com os traços de uma pequena, porém linda cidade, onde a limpeza e a organização são palavras de ordem. Conta com um excepcional ambulatório que atende a todas as suas necessidades, tais como: soroterapia, oxigenioterapia, curativos, nutrição parenteral, sondagem e cuidados do dia a dia. Desta forma, diminui as internações hospitalares e proporciona mais conforto e segurança a seus assistidos.
Residente: "Quando vejo uma mulher,
lembro da mãe, quando vejo um  homem,
lembro do pai".
Alfredo, sua esposa Marina e eu, enquanto andávamos pela Vila, fomos abordados por um de seus habitantes com deficiência mental. Pousando as mãos com suavidade em cada um de nós, dizia a Marina, misturando choro com riso: “Quando vejo mulher, lembro da mãe. Ah, que saudade da mãe!" Logo a seguir, se dirigia a mim ou ao Alfredo e dizia: "Quando vejo homem, lembro do pai. Ah, que saudade do pai!" Como diria Galvão Bueno: "Haja coração!"
Fanfarra do Dom Cabral
Por volta das 11h, saímos da Vila em direção à velha matriz, que se apresenta garbosa numa das mais lindas e imponentes praças da cidade, adornada com uma rica variedade de árvores. Passeamos pela praça,  inspirando o ar puro e apreciando sua beleza.
Ao  meio-dia, retornamos ao Hotel Álamo, pois era hora do almoço e o cardápio, convidativo. Havia um self-service com churrasco e refrigerante. O ambiente estava aromatizado com o vapor, quase imperceptível, do banho-maria, que sustentava a temperatura da deliciosa refeição. Após o requintado almoço, cada um procurou descansar um pouco.


A presença dos Crúzios                                                         
te partiste

 Edgard e Cátia com o mais simpático
 dos mortais,  o padre Haroldo.

Padre Elione, Edgard, Cátia e  padre Júlio Cesar

Às 4 horas e 30 minutos da tarde, retornamos ao Colégio Dom Cabral para nos despedir da nossa antiga moradia e assistir à apresentação da fanfarra do Colégio.  Considero um demérito chamar aquela excelente corporação musical de fanfarra, pois se trata de uma excelente banda marcial, com músicos exímios e compenetrados. No pátio do Colégio Dom Cabral, onde a banda abrilhantava a festa com suas canções, tiramos várias fotos com os novos Crúzios (cônegos regulares da Ordem da Santa Cruz). O Padre Júlio Cesar Evangelista e o Padre Elione Correa, jovens da mais alta postura de fé, movidos pelos princípios religiosos de suas famílias, optaram por viver em comunidade e trabalhar em prol daqueles que sofrem e levar até eles a esperança fundada na ressurreição.
Por volta das 6 da tarde, rumamos para o  hotel para, desta vez, desfrutarmos das brincadeiras. A seguir, fizemos um coffee-break (pausa para o café), quase sem intervalo entre uma brincadeira e outra, até sermos avisados: "É hora do jantar." Jantamos e mais uma vez fomos aos aposentos para descansar e tirar uma soneca.

Conselho Editorial (antes da plenária). Este grupo, agora com
o reforço do Siovani, foi reeleito para mais um ano de mandato.

Por volta das 8 da noite,  tivemos uma reunião com os membros do Conselho Editorial do blog. Às 10 horas, os mais exaustos foram dormir, os demais seguiram  para o salão de convenções do hotel, onde foram dispostas várias cadeiras em forma de círculo, possibilitando ficarmos todos frente a frente. Novamente foi dada a palavra a todos e o Santana  supreendeu a todos, espalhando no meio do salão centenas de bolinhas de gude, relembrando nosso tempo de criança. As bolinhas foram  imediatamente catadas pelos integrantes da reunião, como se voltássemos, por um instante, a um passado de aproximadamente 50 anos.

Foi anunciada,  pelo Coordenador dos Encontros, a realização de um sorteio, que foi rapidamente organizado pelo Raimundo Nonato Costa, nosso  ilustre viajante que veio do norte e atravessou fronteiras em lombo de caminhonete,  que escreveu o número dos apartamentos dos presente em alguns papeizinhos. Foram oferecidas para o sorteio várias caixinhas de cerveja Cerpa (Cerpinha) trazidas por  Nonato diretamente do Pará. Nossos olhos cresceram para o lado de  algumas garrafas de cachaça da marca Germana oferecidas pelo próprio fabricante, o Walter Caetano Pinto, conhecido no Seminário pelo apelido de Lua. E como se para não nos deixar esquecer um trecho da estrada, o Baliza ofereceu para ser sorteado um terço de sua própria confecção. Todos atentos, iniciou-se o sorteio, com uma condição: aquele que fosse sorteado teria de pagar uma prenda, ou seja, pagar um mico no meio do salão: poderia contar uma história, declamar uma poesia, ou falar sobre algum fato pitoresco.
Durante o sorteio, foram premiados Edgard, Antônio de Ázara, Ica, Lulu, Liana e Marina Borges. Edgard tentou chamar atenção pelo fato de ser observador e de boa memória. Relembrando o episódio do Alfredo, falou: "Quando eu tinha 10 anos, minha avó contou-me uma historinha: o rei estava na janela, passou um homem e o rei perguntou: 'o que é que você mais gosta da galinha?'  Ele  respondeu: 'o  ovo'. O homem seguiu sua viagem."
Toda mesa redonda tem uma meia-lua.
Em seguida, Edgard parabenizou o Lua pela idéia de fazer o próximo encontro para os lados de Caeté/Nova União/Caraça  e continuou a história: "Quando eu tinha 12 anos, cortei uma bengalinha de ipê. Doze anos após termos saído do Seminário, encontrei Alfredo, este se identificou, olhei para o seu pé,tentando me certificar se era ele mesmo, por meio do sapato de verniz de bico fino. Quarenta e sete anos após termos saído do Seminário, Rafael ligou para minha casa e disse: adivinha quem está falando, meu nome é Rafael?" Edgard respondeu de pronto: "Rafael, o seminarista de Campo Belo".  Rafael quase perdeu a fala, pois não conseguia acreditar no que acabara de ouvir. Continua Edgard: "A bengalinha que cortei com 12 anos está comigo até hoje. Dez anos depois, o homem, quando passava de volta de sua viagem,encontrou o rei na mesma janela. Então o rei prosseguiu com a pergunta: "Com quê?" Ele respondeu: “Com sal." Acho que poucos entenderam esta mensagem. Memória, memória.


o mar bramia
.
Antônio de Ázara declamou, aos trancos e barrancos, uma poesia, cujo título não me lembro.  Ficou mais ou menos assim: "Era pequeno, brincava na praia, o mar bramia e erguendo o dorso altivo sacudia a branca espuma para o céu sereno, eu disse à minha mãe nesse momento: que dura orquestra, que furor insano..." Mas, a poesia toda é assim:
Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia,
A branca espuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento:
Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver de maior do que o oceano
Ou que seja mais forte do que o vento?

Minha mãe a sorrir, olhou pros céus
E respondeu: - Um ser que nós não vemos,
É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus.

[Casimiro de Abreu] (1839-1860)
Ica, esta sim, surpreendeu a todos com seu dom de atriz, declamando uma linda poesia, O Pássaro Cativo. A declamação foi sensacional.

Pássaro cativo                                                           

Ica: O Pássaro Cativo 
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
             A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
             O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
             Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
             “Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
             Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
             Tenho frutos e flores,
             Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...
             Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
             Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
             Quero voar! voar! ... “
Estas cousas o pássaro diria,
             Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
             Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
             A porta da prisão...
                                                         Olavo Bilac



Fala mais alto! Nós aqui
do de trás também queremos
dormir...

 Lulu contou uma piada, porém de costas para a metade dos presentes, para nós, portanto não a ouvimos muito bem. Pelas gargalhadas vindas do lado oposto, não foi difícil perceber que foi muito boa (nota do editor: "se dissesse outra coisa não seria publicado").





Liana declamou, com desenvoltura, o clássico soneto de Camões:

Liana nos trouxe a emoção de
Camões

Alma minha gentil, que te partiste                 

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


A hora do "Pai nosso"


Finalmente chegou a vez de Marina, que se recusava a ir ao meio da roda. Depois de muita insistência de todos, inclusive de seu marido, decidiu pagar a prenda usando estratégia felicíssima: pediu que todos dessem as mãos, agradeceu a Deus por estarmos ali e convocou-nos a rezar a oração do Pai Nosso, o que fizemos com grande fervor.

A esta altura já passava de uma hora da madrugada e fomos dormir. No dia seguinte, para dar um chega pra lá na tristeza, estando quase na hora da despedida, fomos passear pelo parque do hotel, onde ficamos conversando até o momento de ajeitar as bagagens, e cada um tomar o seu destino.

Lua: Razões irrefutáveis:
Caeté, Nova União e BH
Mantemos a esperança  que no ano que vem, em período semelhante, estaremos juntos de novo, só que desta vez no Caraça, por sugestão do nosso amigo Walter, o Lua do Seminário. Se esqueci de alguém, peço que me perdoem. Não fiz nenhuma anotação, por isso não posso dizer que estas reminiscências abrangem tudo que ocorreu nos dias maravilhosos em que convivemos (Para trazer-lhes as poesias e sonetos, recorri a amigos que estavam presentes no encontro  e à internet). Portanto, se alguém lembrar de algo mais ou diferente do que vai aqui escrito, corrija-me ou me supra com outras informações.

Comentários no rodapé desta página serão sempre bem-vindos.

Créditos: fotos de Edgard, Lulu, Marcos Rocha e Rafael
CE/SRM

domingo, 25 de setembro de 2011

Presenças no III Encontro dos ex-seminaristas da EASO

III Encontro, Campo Belo, 16 a 18 de Setembro de 2011.
Local: Hotel Fazenda Álamo  
 
 
Sentados, a partir da esquerda: Olímpio, Benone, José Geraldo, Nazaré, Nonato,
Marcos Rocha, Liana, Walter (Lua), Alberto Medina, Maria Conceição, Maria Vale,
Edmundo, Marina (filha do Tito), Rudgers (Genro do Tito), Ronaldo (Neto do Tito)
De pé, a partir da esquerda: Rafael, Tião Coelho, Cibele, Antônio José (Santana),
Fátima, Maria José, Cátia, Luiz Alfenas (Lulu), Edgard, Ica, Antônio de Ázara,
Tupy, Marina, Eustáquio, Rosimere, Siovani, José Tito, Marly
Nota do editor: colegas presentes no III Encontro que não estão na foto acima: o casal Alfredo e Marina, José Nicodemos, João Moreira (Janjão), João Henrique, o casal José Orlando Baliza e Maria José. 


 
Ázara, Padre Sebastião Israel, Janjão
 
De pé, a partir da esquerda: Tupi,
Alfredo, Edgard, Alberto Medina,
Antônio José. De cócoras, a partir da
 esquerda: Rafael,Tito, Siovani e Lua.


Walter Caetano Pinto (Lua)




Marcos Rocha e Liana
   

Marcos Rocha

João Henrique
Rosimere e Siovani
 

 



Fátima e Santana
  



Elas e os Crúzios
   


Reunião do Conselho Editorial


Elas e eles
  
 
Marly, Marina (filha do Tito) e Marina

 


Maria José, Lulu, Olímpio,
 Edgard, Cátia e Padre Haroldo
  



Nonato e Benone
   


Olímpio, Tito, Ronaldo, Marina
e Rudgers
  


 
 

Janjão, Tião Coelho e Cibele



 Lista de todos os presentes em ordem alfabética
ALBERTO GONÇALVES MEDINA 
ALFREDO DIAS DA COSTA
ANTÔNIO DE ÁZARA MAIA
ANTÔNIO JOSÉ FERREIRA
BENONI FERNANDES BILHEIRO
CÁTIA MARIA LUCHEZI ALFENAS
CIBELE VIEIRA TEIXEIRA COELHO
EDGARD MIRANDA ALFENAS
EDMUNDO ANTÕNIO DUTRA DO VALE
EUSTÁQUIO DE AZEVEDO SILVA
JOÃO HENRIQUE DOS SANTOS
JOÃO MOREIRA DE OLIVEIRA
JOSÉ GERALDO DE FREITAS OLIVEIRA 
JOSÉ NICODEMO COSTA
JOSÉ ORLANDO BALIZA
JOSÉ RAFAEL CABRAL
JOSÉ TITO GONÇALVES
LIANA BORGES AMARAL
LUIZ HENRIQUES ALFENAS
MARCOS ANTÔNIO ROCHA
MARIA CONCEIÇÃO M. MEDINA
MARIA DE  LOURDES OLIVEIRA MAIA - ICA
MARIA DE JESUS GASPAR DO VALE
MARIA FÁTIMA S. FERREIRA 
MARIA JOSÉ APARECIDA BALIZA
MARIA JOSÉ DA SILVA ALFENAS
MARINA BARBOSA DA COSTA
MARINA TEREZINHA RIGOTTO DA SILVA
MARLY GOMES ALVARENGA
NAZARÉ DE FÁTIMA V. DA COSTA
OLÍMPIO JOSÉ DA SILVA 
RAIMUNDO NONATO COSTA
ROSIMERE ASSIS DE ANDRADE MOREIRA
SEBASTIÃO CARVALHO COELHO
SIOVANI RODRIGUES MOREIRA
TUPINAMBÁ PEDRO P AMORIM DA SILVA
WALTER CAETANO PINTO

Familiares do José Tito
MARINA ALVARENGA BRAGA (Filha)
RUDGERS RODRIGES CAMPOS (Genro)
RONALDO ALVARENGA R. CAMPOS (Neto)


Visita ao Campo do Sparta, 17/09/2011
 Créditos: as fotos desta postagem foram enviadas pelo Edgard, Rafael e Marcos Rocha