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segunda-feira, 5 de junho de 2023

Encontro dos easistas da grande BH e zona da Mata, em 20/5/2023.

 

                                                                                                                                                               Escrito pela equipe de redação do Blog

Colocar a amizade em dia não é uma questão de muito tempo, mas de afeto.



A sempre bela Tiradentes.
Os que vieram tinham um compromisso inicial, um almoço no restaurante Habanero, em local central de Tiradentes, o que não poderia ser melhor. Comida com muitas escolhas, algumas com nomes sofisticados, mas com excelente sabor e ao gosto dos mexicanos, com pimenta em vidrinhos daqueles que você pergunta: onde achar tal preciosidade para enfeitar a cristaleira?(um deles, um vidro pequeno com um chapéu do tamanho daqueles que o Caio usa, isso no sentido proporcional). Aliás, quase me esqueci de quem estava lá: os anfitriões que nos convidaram e organizaram tudo e que nos deram atenção e carinho até exagerado, mas ninguém reclama deste tipo de excesso, falo de Rose e Siovani, o casal 20, talvez sem a Rose não saberíamos nem o que pedir, pois ela nos orientou sobre a qualidade dos pratos e o que devia ser pedido como entrada e como prato principal. E na saída conferiu as contas nas comandas e mandou o garçom consertar alguns lançamentos. Aliás, este esmero conosco já havia se revelado momentos antes quando chegamos à casa deles, primeiro Maria José e Lulu, depois Marina e Tupy, e já estávamos velhos lá, quando chegaram o Lua e seu irmão Ademir. Auxiliadora e Caio só chegaram um pouco depois porque foram direto para uma Pousada.
No Habanero a partir do Lua, Siovani, Maria José,
Auxiliadora, Rose e Marina

Via-se a satisfação no rosto e nas palavras dos que chegavam ao se depararem com a simpatia dos donos da casa que combinava com a arquitetura do imóvel, que também encantava. É bom ver que estes amigos vieram para São João Del Rei e aqui encontraram local muito bom para viver: aconchegante, cheio de recursos que dão conforto e bem-estar. Uma casa que mostra o bom gosto de quem a construiu e dos que a escolheram para comprar. Como eles mesmos dizem, rodaram meio mundo procurando o que queriam e foi paixão à primeira vista pela beleza e estilo do imóvel; não foi preciso dar mais de que dois passos no jardim para baterem o martelo: é esta! Os espaços e localização são excelentes, os jardins têm agora as digitais que marcam o capricho dos atuais moradores, um local onde se dãoao luxo de terem beija-flores de estimação (eles quase falam com o Siovani que lhes dá atenção e água com açúcar; e não se esqueça: 20% de açúcar, 80% de água). Quem dormiu lá sabe que o conforto se estende pela casa toda e em especial pelo quarto, banheiro e cama. Pode existir colchão igual, mas melhor duvido, foi o que disse a Maria José. 

Mas voltemos à vaca-fria, ou melhor, ao guacamole e ao Habanero: copos regados à cachaça Germana com gelo e água tônica e, nos pratos, molho de pimenta. Muitas guloseimas: Tacos, Tortilhas, Torresmo estupidamente crocante, Bife de Ancho com arroz, Bolinho de Carne Moída. O forte da casa é o guacamole que recheia diversas opções de pratos, a pimenta ali é adereço servido na forma de molhos que enchem pequenascaveiras de cristais (e como definiu o Tupy: arde pouco na primeira lambiscada, mas que queima bastante com o passar do tempo).

Terminado o almoço, Lua e seu irmão, Ademir, despediram-se dali mesmo, pois tinham compromissos inadiáveis em BH. Nós resolvemos perambular pelas ruas de Tiradentes tomadas pelo povo num dia de movimento acima do normal, pois havia um festival gastronômico que evitamos, já que havíamos comido e bebido do melhor que se poderia ter por ali.  Logo na porta do restaurante alguns saborearam picolés de marca famosa na cidade (Picolé do Amado), e nota-se que uma senhora pediu alguma coisa e Maria José ofereceu um pedaço do picolé que degustava, a mulher, emocionada em intensidade desproporcional a uma metade de picolé, agradeceu por várias vezes; e o Caio, um observador perspicaz, comentou mais tarde de como algumas pessoas são gratas mais pelo gesto do que pelo valor do bem recebido.  Depois do picolé, o pequeno grupo resolveu caminhar um pouco pelo centro de Tiradentes. Alguns entraram em umas poucas lojas, olharam os preços, torceram a cara, e logo sentiram que o frio aumentava a vontade de voltar e aproveitar o calor da casa e do Encontro (que também aquece a alma).

Não demorou e o grupo já estava de novo na casa dos anfitriões, e logo em seguida todos sentaram-se ao redor de um café ao estilo mineiro, o que aguçou o apetite. Não faltaram boas quitandas: pão de queijo; queijo fresco; pão de frutas; um bolo muito elogiado e tudo mais que se possa pensar em termos de alimentos saudáveis, e, acreditem, tudo ou quase tudo feito pela anfitriã.  Para completar a alegria da noite, fomos convidados para um papo de coroinhas, o que ocorreu numa enorme sala, ao lado de uma lareira, que não foi acesa por cortesia dos proprietários com a Maria José, que tem alergia por fumaça de lenha. Pensem numa sala grande e alta, na verdade, um espaço que comporta um mezanino que dá acesso a alguns cômodos do segundo andar. Pensem no Caio abrindo o verbo, ele que sempre fugiu das entrevistas do Blog dos Encontros da Easo, desta feita, talvez pelo efeito da Germana, que não tonteia, mas sobe, falou um pouco dele mesmo mostrando uma experiência de vida que daria para escrever um livro dos bons. Caio é um ótimo contador de estórias, pois coloca sempre uma boa dose de humor em seus casos. Lembrou-se do tempo em que morava em Senhora de Oliveira, MG, e em seguida de seu período inicial de vida profissional em que foi caminhoneiro e garimpeiro. Teve uma época em que ele associou-se a um primo em uma balsa e juntos percorreram as margens do Rio Piranga e do Gualaxo do Sul à procura de Ouro.  Depois de revirar muita areia, por destino ou vocação, Caio conta que finalmente firmou-se na vida profissional como especialista em minerações de grande porte e que atuou na zona metalúrgica de Minas em diversos pontos de prospecção e escavação entre Conselheiro Lafaiete, Belo Horizonte e Ouro Branco.

E assim, depois desse dia rememorável,  dormimos tranquilos pensando em montanhas, no preço das peças artísticas e no valor da amizade.


No dia seguinte, Domingo bem cedo, nos vimos novamente ao redor de uma mesa farta de quitutes e calor humano
. Logo em seguida, embora tentássemos segurá-los, Maria José e Lulu, que tinham compromissos inadiáveis com seus bichos de estimação, deixaram-nos, voltando para o seu sítio em Senhora de Oliveira.

A partir da esquerda: Auxiliadora; Conceição,
Marina , Medina, Caio, Rose e Siovani 

Ficamos à espera do Alberto que vinha de Juiz de Fora trazendo o Rafael na boleia. Quando ele ligou para o Siovani, dizendo que já havia chegado em São João e perguntando como chegar, ele não disse que não usava o gps, e recebeu indicações para chegar mais próximo, e foi logo dizendo: ok, ok, deixa comigo. O tempo foi passando e ele não aparecia. Preocupados, ligamos para ele no justo momento em que ele disse: achei a rua agora! Ele é adepto do caduco ditado “quem tem boca vai à Roma”, pois hoje “quem tem o waze vai direto à Roma”, sem necessidade de conhecer, a contragosto, um bairro inteiro, e bem grande.

Embora a costumeira alegria de recepção do nosso grupo aos recém-chegados, ficamos todos um tanto consternados ao constatar que chegaram apenas o Alberto e a Conceição, nada do prometido e aguardado Rafael, há muito desaparecido dos nossos encontros, pois a esposa dele não estava muito bem.

Na parte detrás da casa, sentamo-nos todos ao redor de uma mesa feita sob encomenda com as medidas de uma mesa de ping-pong, esperando pelo churrasco que o Siovani prometera. Aos poucos foram sendo oferecidos os petiscos entre queijos e carnes e, para arrematar, abacaxi com queijo provolone, coloridos pelas conversas divertidas que a presença do Caio sempre propicia.

O churrasqueiro













A cerveja foi consumida praticamente pelas mulheres, com um pouco de ajuda do Alberto. Todos saciados, eis que a Rose traz para a mesa um pudim de leite e um pavê de chocolate. Que dureza! Ainda ter que fazer um sacrifício extra para acomodar mais uns bocados.

Hora da arrumação: momento especial para o Caio mostrar que além de ser um prosador de primeira é também um excelente lavador de pratos.

E é chegada a hora das despedidas. Nos abraços trocados a saudade já começa a surgir por nos distanciarmos dos momentos de tanta amizade e alegrias.

Para o próximo ano, o Lua prometeu que nos levaria novamente a Nova União. Acontecendo, poderemos esperar grandes momentos assim como foram os do encontro que lá fizemos.

 

 

 

 

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Anais do VIII Encontro


  Por Siovani


Foto oficial do VIII Encontro  -  clique nas fotos para
ampliá-las. Ao abrir em outro link, elas ficarão ainda
maiores
“O pároco de nossa cidade, após muito empenho, conseguiu adquirir uma belíssima imagem de Nossa Senhora de Oliveira, mais tarde Nossa Senhora “da” Oliveira. Foi realizada uma linda festa para a chegada da imagem, quando nosso pai, na qualidade de prefeito, fez um discurso ao seu estilo, simples e objetivo, mas com palavras cálidas, perfumadas e contagiantes pela sinceridade. Num gesto simbólico, ele entregou a chave da cidade a Nossa Senhora, e nas mãos da santa deveria, por hipótese, permanecer até os dias de hoje“.
Tivemos a falta de cerimônia de tomar estas palavras que o Edgard escreveu, sem lhe pedir permissão, para dizer-lhe que realmente a Santa não ficou com a chave, pois naqueles dias que ali estivemos apossamo-nos dela com grande avidez, não por descortesia com a Senhora da Oliveira, mas pelo amor, que também refletimos no espelho de pura amizade, que nos foi dado por essa família da terrinha que nos recebeu. Sodiga, acreditamos sem a menor possibilidade de dúvida, sentiu-se pela segunda vez abençoado pela Santa ao ver os gestos incansáveis de seus filhos para cumularem de carinho os meninos easistas.
Chegamos em Senhora de Oliveira na quinta-feira, vinte e dois de setembro, para desfrutarmos um pouco mais do que esperávamos seriam momentos de muita paz e alegria. Logo ao chegarmos, um pouco confusos por não enxergarmos a Igreja Matriz, paramos no posto de gasolina para obter as informações necessárias, e ao perguntarmos a um solícito funcionário:
- Sabe nos informar onde mora o Edgard...
E antes que completássemos, ele já abreviou:
- Alfenas?
Cátia Resort
E nos indicou como chegar a nosso destino. E chegamos na Alameda Sadita, com grande alegria da nossa amiga Dita, que se sentiu um tanto quanto homenageada. Lá naquela alameda é onde está instalado o Cátia Resort, que nos abrigou camaradamente por aqueles dias, onde a mesa estava sempre profusamente servida, até fazendo-nos sentir um pouco ingratos em sermos tão comedidos em matéria de alimentação. E foi assim que entramos naquela camaradagem que ronda as pequenas cidades do interior, acolhidos por Lulu e Edgard, herdeiros de Sadita e Sodiga, pois assim eram conhecidos os pais de nossos caros amigos.
Na história do município, na primeira eleição para prefeito, foi eleito Sodiga, após sua brava luta para conseguir a emancipação da cidade. Podemos apreender o carinho e a gratidão que lhe dedicava o povo oliveirense por esta simples poesia que circulou naquela ocasião:  

Dita sentiu-se
 homenageada 
pelo nome da 
Alameda 
Sadita
Oh! Nossa Senhora de Oliveira
A chave desta cidade
Por Sodiga vos foi entregue
Por isto entregai-o à Prefeitura
É os pobres que vos pede

Padre Luiz Miguel de Souza na
frente da gruta da casa do Edgard
Em nossas perambulações pela cidade estivemos em certo momento na Casa Paroquial onde o Edgard nos apresentou o Padre.Luiz Miguel e com ele mantivemos um bom bate-papo. O padre convidou-nos para conhecermos a igreja e mostrou-nos seus detalhes. Conforme suas palavras, embora Senhora de Oliveira não seja nem catedral nem santuário, ele abriu A Porta da Misericórdia - instituída pelo Papa Francisco para este ano com os mesmos benefícios das Portas Santas da Basílica de São Pedro, em Roma -  para que também os mais humildes fiéis e os que não têm meios para se deslocarem até as catedrais pudessem receber a indulgência jubilar.
Local onde repousam  os restos 
mortais de Monsenhor José Justiniano 
Teixeira ao lado de seu memorial.
Contou-nos o padre, ainda, sobre o Monsenhor José Justiniano Teixeira, padre que o Edgard considera como um verdadeiro santo e sábio: quando da construção da Matriz, o Monsenhor preparara no interior da igreja, no solo, um local onde queria ser enterrado, mas isto não aconteceu, pois o padre que fora enviado a Senhora de Oliveira para ajudá-lo em suas tarefas quando ficou doente, ao assumir a paróquia, recusou-se a cumprir aquele desejo, e o Monsenhor foi enterrado no cemitério. O povo do lugar, indignado com o padre, recorreu à justiça para garantir a transladação dos restos mortais do Monsenhor para a igreja, pleito que lhe foi outorgado. E hoje, não no local que ele preparara, mas em um canto junto ao Memorial que lhe foi erigido, ele repousa.

À noite, as bandeiras vermelhas e azuis  dos
 dois  candidatos enfrentam um combate 
apaixonado sob os sons  que também 
disputam a primazia
Ainda digno de nota é o ambiente de política acirrada na cidade que pudemos testemunhar nas conversas pelas ruas. À noite, as bandeiras vermelhas e azuis dos dois candidatos enfrentam um combate apaixonado sob os sons que também disputam a primazia. É somente através do número do partido que se ouve falar dos candidatos, o povo nem sabe dizer que partido é, ou seja, não importam os partidos, mas unicamente os candidatos.


Sexta-feira, 23 de setembro.de 2016

Após mais um ano passado em preparações e ansiedade, enfim chegamos na Pousada Roda D´água para o início do nosso VIII Encontro.

Em um canto rústico, mesas alinhadas ao lado da dita roda d´água e de um pilão bem preguiçoso, os easistas chegavam acompanhados de suas caras companheiras e, desta vez, de diversos filhos que nos brindaram com suas presenças.

Pouco a pouco ia confirmando-se a pesarosa ausência de alguns que sempre estiveram presentes nos Encontros anteriores, mas também a surpresa de ver surgir algum que não se fizera anunciar previamente, como o Olímpio, recebido com muita alegria.

50 anos passados, rever nosso contemporâneo, o Canhão, vulgo José de Lourdes Oliveira, foi uma emoção especial. O tempo lhe arranhou o corpo, mas não lhe conseguiu tirar o bom humor. Depois do primeiro encontro, desaparecidos, os irmãos Ildeu e Joaquim voltaram ao rebanho contribuindo mais um pouco pelas nossas lembranças.



Como cerimônia oficial de abertura do VIII Encontro, como previsto no programa, o Rafael, nosso dedicado coordenador, pediu uma pausa das bocas de todos para que fizéssemos a Oração de abertura. Um pouco depois, leu a mensagem que o Seoldo e a Judite nos enviaram, mas, para desfrutarmos um pouco mais da irreverência e graça do Seoldo, peço licença ao Rafael para transcrever também o texto do email:

Mensagem enviada pelo Seoldo e Judite foi lida pelo Rafael.
“Prezado “Anjo" Rafael....
 Um arcanjo me enganou. Mandei isso para que o Santana abrisse a boca lá no Encontro saudando a todos com poucas palavras... mas parece, conforme últimas informações, que ele não vai. Peço-lhe, então, por amor ao "Santo" Pe. Bessa, que leia bem alto estas mal traçadas linhas saudando o pessoal aí durante o Encontro. Você mesmo decide a hora mais oportuna. Um abração e uma boa viagem a Senhora de Oliveira. Cuidado com os morros... lá só tem subidas!!!
Easista Seoldo”

E o texto lido pelo Rafael:

“Easistas e descendentes,
Saudações para todos(as) – um abraço para cada um(a).
Judite e eu estamos distantes de Senhora de Oliveira... Aliás, estamos aqui em cima enquanto vocês estão aí embaixo da linha do equador e parece que quanto mais perto do céu mais fresco é...
Que todos os ventos soprem a favor de vocês aí... Que todos os mulungus sem fazerem sombras balancem contentes com as presenças de vocês... E, finalmente, que todos os sapos-bois, todos os sapos martelos, aliás, ferreiros, ou melhor, pererecas em conjunto com as seriemas espalhadas aí pelos morros da estrada afinem no batuque e ajudem a alegrar e a celebrar este VIII Encontro!!!...
Podem todos crer que os Alfenas com sangue do Sodiga e da Sadita, nascidos em Ribeirão Podre, hoje Senhora de Oliveira, tratá-los-ão com carinho e respeito.
Outra vez, abraços sinceros e saudosos dos easistas Judite/Seoldo”.

Voltando a nossas difíceis tarefas, além das conversas, as bocas também estiveram ocupadas com o que a roça tem de mais saboroso, mas também perigoso, como o torresmo, a mandioca, e, algo que para muitos era uma grande novidade: o Galopé, um bicho híbrido com carne de galo e pé de porco. Os entendidos reclamaram que o pé estava um pouco duro, mas para os desentendidos foi uma festa. Só fiquei com pesar de que o esperado exemplar vivo do bicho, prometido e juramentado, não apareceu para tirar nossas dúvidas.

A leitoa era só alegria em poder oferecer-se
como noiva em tão seleto jantar. 
Dúvida não houve quando uma leitoa apareceu sobre o fogão. O Lulu prometera-a e havia algum tempo nos afirmara que a senhorita já estava em seu poder, tratada com aveia e soja, e que, após as cerimônias de desculpas e agradecimento que lhe foram prestadas, ela era só alegria em poder oferecer-se como noiva em tão seleto jantar.
 Mas agora, despida do seu véu, lá estava toda faceira com a pele bronzeada à pururuca. Foi apresentada a todos e logo levada para ser destrinchada. Quando nos lembramos novamente da apetitosa e fomos em busca de um pouco da tenra carne, quase nada mais havia além de desprezados ossos. Mistério absoluto: quem consumiu a pobre noivinha?

Talvez a fome saciada, talvez o torpor ainda vigente das viagens, talvez a noite ávida de sono, mas a turma resolveu voltar cedo para suas acomodações sem o programado Momento para Performances.


Sábado, 24 de setembro.de 2016

Voltamos para a pousada Roda D´água onde havia sido programada para as 9h30 uma apresentação de um tema, ainda então não revelado, pelo Siovani, e outro pelo Rosalino: Um Miranda Mirando-se no Espelho ou a Síndrome da Acumulação Compulsiva. 

Siovani mostra o `Poder do
Mito": a essência última das
religiões, a filosofia perene. 
Acomodados, o Siovani fez a apresentação do tema que iria abordar, O Poder do Mito, baseado em uma entrevista feita por Bill Moyers com o professor Joseph Campbell, falecido em 1987, mas até então, ou mesmo até hoje, a maior autoridade no estudo da mitologia e também grande estudioso da religião comparada. Devido ao assunto muito vasto, apenas pequenos trechos da entrevista foram apresentados, e com ênfase na filosofia perene, isto é, a essência última das religiões, a eliminação do ego e a religação com o divino, terminando com um tema do grande poeta sufi Rumi (Jalālad-Din Muhammad Rumi), que, resumindo, diz-nos que na presença de Deus não pode haver dois eu’s, somente quando o eu nada mais significar pode-se experimentar esta plena união.
Rosalino explica porque é um
acumulador inveterado: a mão
que ajunta também distribui. 

Tomando a palavra o Rosalino dissertou sobre a sua mania compulsiva de acumulação de objetos, sem que haja um objetivo definido em possuí-los. Síndrome que quase lhe destruiu o casamento e que causa a seus familiares aborrecimentos incontáveis pela invasão dos espaços da casa, e que sua esposa “sonha em ter uma casa limpinha, arrumadinha, sem nada”, mania que ele atribuiu a sua origem na roça, onde a escassez de recursos levava à necessidade de guardar tudo. Mas com a ressalva de ajudar a quem lhe solicite um dos objetos, portanto, o móvel da ação é a acumulação e não a retenção egoísta.

A sala apinhada registra o interesse pelas apresentações e
debates. 
O Lua pediu a palavra e com sua graça costumeira revelou-nos que passou a saber que também tinha aquela doença do acumulador, pois possuía cinco ferros-velhos com máquinas antigas e sem nenhuma utilidade. E sobre a palestra do Siovani ele também falou que estava sentindo a necessidade de livrar-se do apego, de desvestir as roupas velhas e que tinha mesmo a chance de também tornar-se um santo, pois nunca perseguiu Cristo como São Paulo o fez.

E, ainda, a Rosimere falou emocionada sobre o mesmo problema que um irmão tem e que causou muitos transtornos para os seus pais, e causa de perdas que o próprio irmão sofreu por abandono de pessoas íntimas, amigos e familiares. O Ildeu falou sobre sua função de acumulador e transmissor de conhecimentos como engenheiro agrônomo, e que de tanto acumular, às vezes nem sabe para que serve aquilo tudo.

O Raimundo falou do lado bom da acumulação, pois muitas vezes o descarte causa uma perda de informações importantes. E então apareceram as camisas comemorativas do nosso VIII Encontro e foram distribuídas a todos os easistas com a recomendação que todos as usassem durante a missa no dia seguinte. O mimo nos fora feito pela Tatiane, filha caçula do Edgard, mostrando-se como um broto natural daquela árvore que já nos havia circundado de carinho.

Zazá observa Matheus no colo do 
avô, Alfredo, na noite anterior à
queda. 
Episódio triste do dia foi a queda do Matheus, netinho do Alfredo, que brincava na carroça que atraíra tantas fotos nossas. Angústia desmedida para os pais que tiveram que buscar cuidados médicos em Lafaiete e depois em Belo Horizonte. Felizmente as notícias que nos chegaram aliviaram-nos ao saber que não houve consequências além do susto e das preocupações.

A partir da esquerda: pé de moleque (prenda);  doce de figo
 em caldas; doce de laranja; doce de limão; laranjinha 
kinkan em caldas; arroz doce; ambrosia (o manjar 
dos deuses); doce de cidra; doce de mamão em pedaços. 
(E o pote com água mineral  saborizada com amora,
 laranja, manjericão, hortelã e funcho).
Depois de tanta falação, a fome nos levou para o Sítio Meia Dúzia, onde o Lulu e a Maria José haviam preparado uma recepção que duraria até a madrugada. Primeiro o almoço regado com churrasco, depois, requinte dos requintes, a Maria José havia colocado toda a sua perícia para forrar uma mesa com doces dos mais diversos tipos, dos quais as nossas restrições nos advertiam que não ousássemos provar, pois seguramente pagaríamos caro em não poder conter a vontade - que mal exemplo seria após a tal palestra sobre a eliminação do ego!

Eu era assim, tão novo, sem rugas
e cãs.
A decoração do sítio primou por  oferecer-nos também um belo espetáculo que alargava a nossos olhos a bela paisagem que o sítio já oferecia. O cuidado que o sítio mereceu nas mãos dessa família caprichosa também se desvelou nos enfeites oferecidos a nossa admiração e contentamento. A montagem, feita às costas da varanda do belo casarão colonial, das fotos antigas registradas no seminário atraía a atenção e curiosidade dos presentes em identificar aqueles meninos que se perderam nas cãs e rugas dos não tanto circunspectos senhores de hoje.

Um símbolo do efêmero para os monges tibetanos  tornou-se
 em selo da amizade  duradoura entre as mulheres. Alfredo
 representou os homens., como embaixador easista. 
A maior ternura da Maria José se revelou na mandala de flores que embelezava o gramado do sítio. Este símbolo de harmonia utilizado largamente como meio de meditação, os monges tibetanos elaboram em delicados trabalhos feitos com o sopro sobre finíssima areia, e, terminada a obra belíssima, sua destruição representa a transitoriedade. Mas, no contexto, a intenção era opostamente marcar a data de nossa reunião com uma lembrança perpétua da presença ali de suas queridas amigas, e de todos nós. Enternecidas, as mulheres abraçaram a mandala.

E assim nasceu o bosque easista: aqui se planta aqui se colhe. 
Momento houve em que fomos convidados pelo Lulu a plantar, cada um, uma árvore para fazer um bosque dos easistas, e todas as mudas tinham uma placa com a identificação da espécie, onde também o nome do plantador podia ser registrado. O Chicão contou-nos uma história sobre um coqueiro que havia em uma casa sua, que com o passar dos anos já não o atraía como no início e os cocos ficavam por lá sem serventia. Certo dia, uma menina pediu-lhe um coco e ele autorizou-a a tirar quantos quisesse, pois o coqueiro era pequeno e os cocos ficavam ao alcance. A menina cortou alguns frutos e se foi, poucos dias depois o coqueiro morreu. Dizem que há pessoas com tais “dispoderes” e esperamos que não façamos parte destas e que o bosque floresça e que lá possamos voltar e admirar nossa pequena contribuição para o Sítio do Lulu.

A interprete, Dita, e o autor, 
Chicão. 
Lá pelo fim da tarde chegaram os músicos que deveriam acompanhar-nos pela noite adentro e logo começaram a apresentar um repertório de sertanejas. O Chicão havia feito especialmente para nós uma letra para ser cantada com a música de La Paloma, mas infelizmente os músicos não conheciam a melodia e nem conseguiram um acompanhamento adequado, mas a Dita cantou à capela:

Voltei buscando alegria mais uma vez
Cheguei trazendo carinho para vocês
Estou trocando sorriso aqui entre nós
E vou lhes dar um pouquinho da minha voz.

Pois esta fraternidade, gente querida,
Só traz a felicidade pra nossa vida
Me sinto bem amparado e feliz da vida
E digo muito obrigado pela acolhida.

Quando estou com vocês
Eu me sinto criança
Nasce em mim aquela esperança
De um mundo bem melhor.

Quando estou com vocês
Eu me sinto criança
Nasce em mim aquela esperança
De um mundo bem melhor.

Lembrancinhas doados por alguns easistas: mini latas
de leite recheadas de balas (Rosa Helena); vasinhos de
 suculentas e mini-cactos (Maria José); pacotinhos de
 pés de moleque (Flávia Linhares); caixinha com 
 sabonete perfumado e decorado (Cibele);  porta livros
 (Rosa Helena); Livro os Benguelas...(Lulu); camisas 
com alusão ao evento (Tatiane) .
E a tarde foi se encurtando com o sorteio das camisas, que sobraram, para as mulheres e das capas de livros que foram oferecidas pela Rosa Helena, esposa do Joaquim. E a noite fez-se estrelas.

E desfez-se a luz!

Saudades da lamparina de 
querosene,
Ficamos no escuro, sem música, mas com muita comida. As ações ficaram mais restritas, mas ninguém precisa de luz para conversar. Após talvez cerca de duas horas à luz de velas, que não trazem saudades a ninguém, alguns, para grande tristeza do Lulu, resolveram partir, deixando para trás os patos com macarrão, prato que o gentil casal de anfitriões havia destinado para a nossa ceia e que ainda nem havia chegado.

E o Lua fazia a piada deste Encontro: com o pato e o macarrão estava selado, o próximo encontro seria feito apenas com as viúvas dos easistas, que então passariam a ser conhecidas como as “Desunidas dos maridos”.

Os patos e o macarrão chegaram. Delícia, mas a moderação já fazia sua exigência. E a energia não deu mais o ar de sua graça; os músicos foram embora sem executar seus instrumentos e nós também partimos para procurar uma boa noite de sono. Quando partíamos, ainda recebíamos brindes diversos: a Rosa Helena ofereceu a todos uma delicada peça de artesanato, uma latinha de leite decorada para lembrança do VIII Encontro - Senhora de Oliveira, recheada de balas de mel; a Flávia, nora do Lulu, ofertava-nos os saquinhos com os pés de moleque, pura meiguice; e, ainda, um vasinho com um cacto ternamente oferecido pela Maria José, a quem vimos desta vez, para nossa  muita alegria, ligeira a correr por todos os cantos cuidando do melhor para todos, livre do mal que lhe afligia em passados Encontros.



Domingo, 25 de setembro.de 2016

Depois da missa, o  Padre Luiz Miguel e os  easistas
 uniformizados na frente do altar da igreja matriz. 
Tupy nos representou brilhantemente.
Nossa primeira função do dia foi a missa das 9 horas na Matriz, onde nossos lugares estavam reservados para que ficássemos todos juntos e uniformizados, e bonitos com as camisas da Tatiane. O pároco reservou-nos também um lugar para participação na liturgia, para o qual indicamos o Tupy, que nos representou brilhantemente.

O Padre Luiz Miguel apresentou-nos aos demais fiéis e disse que nos recebia com enorme prazer naquela solenidade litúrgica.

Após a missa, o Rafael convocou-nos para uma reunião onde seria decidido o local do próximo Encontro. A reunião foi realizada no salão do pavimento superior da casa do Edgard, onde, em seguida, estávamos todos intimados a sofrer as agruras de um churrasco de picanha, especialíssimo produto do Edgard.

A assembléia easista decidiu: próximo Encontro será
em Juiz de Fora. 
Discutida preliminarmente a decisão do Encontro anterior de que a cada dois anos o Encontro deveria ser realizado em Campo Belo, a proposta não obteve nenhuma adesão, e desta vez o Nonato nem mesmo a defendeu. Foi então, proposta pelo Siovani, a possibilidade de se fazê-lo em Diamantina, solicitação que este havia recebido de algumas participantes que desejavam assistir a Vesperata. Colocada em votação houve apenas três votos favoráveis. Em seguida foi proposta a cidade de Juiz de Fora, e pela quase unanimidade da aprovação sentiu-se um certo sabor de algo há muito esperado.

Os presentes oraram pela recuperação dos cole- 
gas enfermos e para a alma dos que já partiram.
Quanto à Diamantina, fica proposta uma visita fora dos nossos encontros anuais. A divulgação das datas das Vesperatas normalmente ocorre no mês de dezembro, e neste ano começaram em abril e ocorrerão até outubro. Estaremos aguardando as datas para tentarmos as reservas de mesas e hospedagem aos que se interessarem.

O Lulu solicitou a participação de mais colegas nos trabalhos do blog, e foram indicados o Benoni, o Edgard e o Ildeu.
Tudo esclarecido e concertado teve início o almoço: churrasco com churrasco, se havia outros tantos pratos confessamos que não damos notícia, pois só queríamos mesmo saber da carne, mas também havia um belo arranjo de frutas das quais nos regalamos.

Disse-nos o Edgard que aquele músico que tocou e cantou para nós, Paulo Coelho, amigo desde a infância, fora convidado para participar do almoço, mas que ele levou o violão e nos presenteou com sua voz. E a Dita finalmente pode cantar a La Paloma com acompanhamento, e a poesia do Chicão pôde ser melhor apreciada!

Quero fazer um aparte para referir-me na primeira pessoa ao que está acontecendo-me:
- Chicão, desde que ouvi a Dita cantar seus versos, tenho um disco girando em minha cabeça continuamente a repetir o refrão:
Quando estou com vocês
Eu me sinto criança
...
Ainda bem que estes versos só me lembram momentos tão gostosos.

Ferragens retorcidas... o sítio irá 
calar-se por alguns dias.  
Mas toda jornada, além de um começo e um meio tem também um fim, e este se mostrou quando as despedidas começaram e se prolongaram até que alguns poucos restaram para passar a noite. E as nuvens negras que víamos chegando sobre a cidade desabaram trazendo muita água e granizo. A ventania aliada da chuva causou uma inundação no salão onde há pouco era só festa. No Sítio Meia Dúzia, aquelas tendas que nos abrigaram ficaram com as ferragens retorcidas.

Todos os nossos Encontros têm sabores distintos que os tornam difíceis de serem comparados, mas neste sentimos um algo mais inusitado, um grande pesar por findarem aqueles momentos onde as cadeias da amizade tanto se estreitam.

É difícil achar expressões adequadas para expressar o enorme carinho que transbordou pelo Lulu, pela Maria José, pelo Edgard, pela Cátia, pela Tatiane, enfim, por todos os easistas. Obrigados mil pelos momentos deliciosos que pudemos participar.