quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Elegia do Carraro



EASISTA CARRARO  - MEMÓRIAS

(Por Seoldo)

 

Carraro e Seoldo nos tempos da EASO
Antônio Edes Carraro nasceu em 04 de janeiro de 1944 no Sitio do Macuco, município de Leopoldina, cidade localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, num lugar que só tinha morros, com engenho de açúcar e alambique para cachaça.

Seoldo e a madrinha Bida




Era o 12º de uma família de 14 (10 irmãos e 4 irmãs). Creio que é a família recorde entre as de todos os EASISTAS (Zeca, Tide, Vado, Chiquito, Belar, Vanor, Tilim, Ede, Jado e Jurano; Dete, Bida (minha madrinha), Cina e Minu). Pai: Julio; mãe: Arminda.





Seu pai era o líder local, cabo eleitoral e rezador de terço... O time de futebol local era praticamente só dos Carraros... Nos jogos, ninguém buscava encrencas com um deles... O Edes mesmo costumava vender pastéis de carne de porco durante os jogos. Certa vez, seu irmão mais velho, o Zeca, bateu um pênalti... A bola bateu no travessão de cima que caiu, machucando o goleiro...Ninguém sabia se tinha sido gol ou não... 
Zeca e Seoldo
O Zeca, então, cercado pelos irmãos, pegou a bola, tomou o apito do juiz e fez o jogo continuar na marra, jogando e apitando ao mesmo tempo. (Recentemente vi um retrato do time dos 10 irmãos Carraro com mais um primo deles, talvez o colega Tupy possa conseguir uma cópia para publicar neste BLOG). O Zeca era o meu barbeiro... Ele só sabia raspar a cabeça da gente!

Mas o Edes Carraro, EASISTA, partiu daqui em 1972 devido a um trágico acidente de carro na Rio-Bahia. Acho que aqueles com mais informações poderiam contribuir para que possamos reviver melhor este nosso colega. Aí seguem algumas recordações:

- o Carraro era o que nos fazia rastejar para beber vinho na sacristia (lembranças do alambique); gostava de ser coroinha por causa disso;

- cantava muito desafinado, o que irritava muito o padre Luís (oxalá estejam cantando juntos bem afinados agora!!!);

 - único seminarista que conseguia captar (graças ao radar de suas orelhas) as chegadas e andares silenciosos dos padres Marino e Clemente, por isso nunca foi castigado por nenhum "PUM" no dormitório;

- único torcedor do América do Rio que conhecíamos, ele pensava que a América era a coisa maior que existia;

- nunca conseguiu um estilo próprio para seu cabelo, apesar de ter irmãos barbeiros;

- foi o único da família que estudou, colava muito(!!!); passou pingando no exame de admissão na segunda época (ou segunda chamada!!!);

- como era um dos irmãos mais novos, pertencia ao pessoal de suporte na família (antes de ir para o seminário); carregava comida e água para os irmãos mais velhos; ele mesmo nunca pegou na enxada no duro, por isso que era gordinho; comia restos de comidas dos outros, sobretudo angu italiano.
 
Judith, Nelcina e Seoldo

 
Por favor, aqueles que tiverem mais informações sobre o Carraro colaborem para enriquecer esta elegia, sobretudo depois que deixou o seminário... Sua vida em Belo Horizonte, seus estudos, sua vida profissional, etc. Tudo ajudará para melhor apreciar esse saudoso Colega.

Orelhas grandinhas o Edes Carraro
Escutava bem e prestava atenção
Desafinado, sempre cheirando a cigarro,
Acompanhava a turma sem reclamação.

Não era líder, mas seguia contente
No campo nunca caía no chão
Gostava muito do padre Clemente
Odiava o latim, tinha cola na mão.

É pena que daqui partiu tão cedo
Corria firme na pista do sucesso
Perdeu o rumo, sem tempo pra medo
Trombou na lei "Ordem e Progresso".

Lembranças do Carraro gordinho
Lembranças do Carraro fanfarrão
Lembranças do Carraro com carinho
Lembranças do Carraro, nosso irmão.

Que a imagem deste COLEGA EASISTA CARRARO nunca fique esquecida entre nós. Que ele descanse em Paz!

Seu sempre Colega Seoldo.









9 comentários:

  1. Durante o nosso terceiro encontro eu comentei com o Tupy, que passou uns tempos no seminário maior em Leopoldina, sobre um grave acidente que tivemos, eu e Julienne, minha falecida primeira esposa, na Rio-Bahia, na ponte em curva que existe perto do trevo de Vista Alegre, a poucos quilômetros de Leopoldina.
    Foi com muita surpresa que ouvi que fora ali que o Carraro também se acidentara. Junguiana coincidência, dois anos antes do meu acidente.
    Na noite do acidente, por volta das 23:30, uma cochilada me causou um susto ao perceber o carro saindo da estrada pelo lado direito da pista, instintivamente virei o volante e o carro atravessou a estrada caindo por um barranco. Fiquei desacordado algum tempo e, quando me recuperei, vi fogo no motor do carro. Apavorado, percebi que a Julienne ainda estava desfalecida, e cuidei de tirá-la do carro. Naquele momento não tinha a menor noção que o fogo já estava se extinguindo, sem atingir o interior do veículo. Tive forças apenas para carregá-la alguns passos e não houve outro meio que deixá-la no meio de um brejo para procurar ajuda na estrada, de onde o carro não era visível e, portanto, ninguém parava. Subia e descia o barranco para verificar o seu estado e gritava por socorro. Finalmente apareceu uma Kombi que parou no acostamento, era um morador ali de perto que ouviu os meus gritos e que nos levou para o hospital de Leopoldina, onde ficamos um mês, pois a Julienne sofreu algumas graves fraturas que necessitaram intervenção cirúrgica. Eu, pouco sofri, alguns pontos e uma dor imensa no peito onde o volante se quebrara.
    Aquela alma gentil que nos socorreu, contou-me, mais tarde, que ouvira o barulho do acidente e que fora até a janela para tentar se inteirar do acontecido, mas como não viu movimento na estrada, foi tomar um banho e jantar. Só depois ouviu os meus gritos. Não foi pequeno o tempo que fiquei desacordado e o fogo queimou inteiramente o motor do carro, mas só o motor. Ficou-nos a sensação da presença de um anjo que velou cuidadosamente por nós.
    Aquela curva quase levou um segundo Easista.

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    1. Colega Easista Siovani,
      E dificil achar palavras para certos acontecimentos...lembrancas, saudades, tristeza (sobretudo no Dia de Finados) creio que sao apropriadas. Nem posso imaginar a agonia sua naquela situacao!
      Espero que Tupy nos informe e nos esclareca como realmente aconteceu o acidente com o Carraro.So sei que foi muito tragico! Abracos, Seoldo.

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  2. Hoje (04/11/12) resolvi dar um telefonema para o Zeca, e sua filha, Julinha, me informou de que a minha Madrinha Bida acabou de ser enterrada... morreu hoje as 5 horas da manha!!! Que ela descanse em paz! Pelo menos recebeu um pouco do meu carinho. Ela era a mãe do EASISTA Antônio Carlos (Carraro) de Almeida, também já falecido. Falei com Tupy/Marina que foram lá para um casamento... tiveram de voltar do caminho para BH para irem ao enterro em Leopoldina.
    Seoldo.

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  3. Raimundo Nonato da Costa5 de novembro de 2012 às 21:54


    O Carraro, era de uma turma acima da minha, mas passou a ser meu colega de turma, não me lembro se no segundo ou terceiro ano, porque não havia passado de ano. Eu me lembro muito bem dele, embora vivessemos grande parte do tempo próximos um do uotro a nossa convivência não era muito amistosa, nós não nos simpatisavamos muito,um com o outro, embora nos esforçassemos para uma boa convivência, entravamos sempre em conflito, ao ponto de um dia sairmos para as vias de fato, um socando o outro, o que resultou foi que o Padre Marino nos separou, nos deu aquele pito que só ele sabia dar e nos entregou um daqueles cadernos que na capa de traz continha o hina Nacional e o Hino da Bandera, para enchermos com as frazes : Não devo brigar com meu irmão. e Devo amar o próximo como a mim mesmo. Estas copias devariam ser feiras só na hora do recreio em uma sala, sentados um de frente para o outro; levamos mais ou menos uns 15 dias para encher os cadernos, ainda levei desvantagem porque acabei primeiro que ele e tive que esperar ele acabar por mais de um recreio. No fonal o Padre Marino fez com que nos abraçassemos e pedissimos desculpas um para o outro e prometer numca mais brigar.GRANDE CARRARO, que Deus o tenha em sua glória.
    Nonato

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  4. Seoldo,achei legal o seu texto sobre seu amigo Carraro. É uma demonstração do quanto você gostava dele. Em um ponto me identifiquei com ele: Eu era sacristão e também tomador de vinho como vocês! A minha vantagem é que eu possuia a chave de onde os vinhos eram guardados e podia tomá-lo acompanhado de hóstias (não consagradas),pois tinha também o controle delas.Talvéz não seja uma coisa boa de estar confessando, nas se vocês também gostavam do vinho dos padres, não haverão de me censurar.
    Quanto aos padres! Espero que também não tenham sido santos enquanto seminaristas!...

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  5. Temos que parabenizar o Seoldo pela iniciativa e pela beleza do texto e grandeza do gesto dessa Elegia do Carraro. O Seoldo nos convoca, também, para, cada um com suas memórias, irmos compondo o quadro da bonita história de vida desse EASISTA. E, por esse motivo, apresento a minha pequena contribuição:

    Tive duas oportunidades de conviver com o saudoso Antônio Edes Carraro, uma durante o seminário (quatro anos) e depois, aqui em BH, no 3o. Graú, pois ambos fizemos o curso de Administração de Empresas pela Universidade de Negócios e Administração e iríamos nos formar no mesmo ano, em 1972. Contudo, aconteceu o que todos sabem: num acidente, quase às vésperas de sua formatura, ele perdeu a vida. Ao lado de seu nome, em nosso convite, está escrito (in memoriam).

    Como meu colega de turma na UNA, tenho pouco a dizer, não éramos grandes amigos, mas éramos colegas cordiais. Eu quase nada sabia da vida que ele levava por aqui naqueles anos, entre 1968 e 1972. Tínhamos um relacionamento muito tênue, nem cheguei a conhecer a sua noiva, aliás, só tomei conhecimento de que ele estava noivo depois de sua morte, isso pelo fato de ela ter morrido no mesmo acidente. O fato de não sermos grandes amigos, naquele tempo, pode ter explicações que me escapam, eu só consigo ver uma na qual me coloco com metade da responsabilidade: estávamos numa fase da vida marcada pelas correrias, busca da sobrevivência, atrás de nossos sonhos -- um curso superior, sair-se bem no emprego, ocupar posições, etc. Naquela época, eu, por exemplo, só tinha tempo para os amigos de infância, colegas de república e de trabalhado (como operador de computador mainframe na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte). Era um tempo muito curto para as demandas de trabalho, estudo e lazer. Tivesse eu, então, a consciência que tenho hoje da importância do tempo de seminário em nossas memórias, acho que buscaria uma amizade mais robusta com Carraro, mas a vida é assim mesmo: acho que nós só percebemos a importância dessas memórias quando chegamos próximos aos 60 anos e, mesmo assim, porque fomos despertados por alguns colegas.

    Carraro e eu éramos colegas da mesma classe, mais havia uma turma da noite e outro da manhã, e nem sempre estávamos na mesma sala, pois eu tinha um emprego fixo e diversas atividades variáveis: como digitador e operador de computador, por exemplo, trabalhei para o IBGE e COPASA, que na época se chamava Demag. Na UNA, quase que semestralmente, eu passava por um rodízio de turma, ora pela manhã, ora à noite, segundo a necessidade de meus empregadores e dos meus bolsos. Esses dois turnos explicam, em parte, nosso pouco contato; mas não, nosso distanciamento. Contudo, tínhamos encontros amistosos, ele costumava chamar-me de Caieira, apelido que me foi dado pela turma de Leopoldina/Recreio, Seoldo, Lido e próprio Carraro. E agora, lendo o texto do Seoldo, percebi que as lembranças de Carraro despertam em mim bons sentimentos.

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  6. Meu depoimento com relação às lembranças que tenho do Carraro também se divide em duas etapas: os tempos do Seminário e a época em que trabalhávamos no mesmo prédio, entre 1969 ou 1970 e 1971, quando me desliguei da Manchete, onde era Repórter e, depois, Chefe de Redação. Nesse último período, ele trabalhava na Cemig e o prédio onde funcionavam os escritórios de ambas as empresas era o da Av. Afonso Pena, 1.500 - em frente ao Palácio das Artes.
    Nos tempos do Seminário, fomos colegas de classe durante alguns anos até que ele teve que repetir o ano, conforme relato do Nonato. Lembro-me de que, apesar de ter certa dificuldades em acompanhar os demais alunos da mesma série, principalmente o Seoldo, que era o mais estudioso e aplicado entre nós, o Carraro era muito esforçado. Assim como o igualmente saudoso Antônio de Araújo Bessa, que também não era brilhante como aluno (fomos sempre da mesma classe), mas compensava esse aspecto sendo mais dedicado aos estudos. Carraro também sabia das suas dificuldades de aprendizado, mas procurava compensar isso se esforçando mais do que os demais alunos "medianos" e mais "malandros", entre os quais me incluo.

    Lembro-me, também, da sua participação nas peladas e nos jogos de futebol: ele jogava duro -- disputando uma jogada ou batendo de frente contra ele, a gente sempre levava desvantagem, pelo menos fisicamente. Tinha "canela de ferro". Era do tipo que a gente ironizava chamando de "botineiro". Não gostava de perder -- aliás, ninguém gosta --, o que é uma qualidade.

    Já no segundo período a que me referi, quando trabalhamos no mesmo prédio, nossos contatos foram muito eventuais. Encontrávamos dentro dos elevadores ou na fila para subirmos aos nossos andares, cumprimentávamo-nos cordialmente, mas nunca passamos desse nível de intimidade (ou ausência de). Hoje, lamento que tenha sido assim. Poderíamos ter saído juntos para tomar uma cerveja no final do expediente ou nos fins de semana, mas nossos horários não coincidiam e tínhamos, ambos, uma vida agitada, na luta pela sobrevivência, da mesma forma como relata o Lulu. Nessa época, eu já era casado e tinha uma filha nascida em 1970 -- e esse período coincide também com o das minha militância na luta contra a ditadura, que já relatei na minha entrevista (em maio), durante o qual estive preso nos porões da repressão por mais de seis meses, somadas todas as três "canas". Nem me lembro se chegamos a conversar sobre esse aspecto da minha vida, nas nossas subidas e descidas pelo elevador do Edifício Clemente Faria onde trabalhávamos (acho que era esse o nome, tinha sido construído pelo Banco da Lavoura para ser sua sede em MG). É provável que não tenhamos conversado nada sobre esse tema, que na época da repressão brava todo mundo evitava comentar, pois éramos considerados "subversivos" perigosésimos -- e, de fato, o éramos, tanto que uma das minhas companheiras de militância (com a qual, hoje, não tenho nenhuma ligação ou afinidade política ou ideológica ou mesmo pessoal) era a atual presidente da República (rs rs rs).

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  7. Inocêncio Magela de Oliveira29 de janeiro de 2015 às 09:54

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  8. Inocêncio Magela de Oliveira29 de janeiro de 2015 às 10:56

    Que prazer encontrá-lo aqui!

    Gostaria de falar com você. Aguardo seus contatos, para que possamos nos reencontrar.
    Meu e-mail é dialetika@dialetika.com.br e meus telefones são (xx) xxxx-xxxx / (xx) xxxx-xxxx (o editor excluiu os números dos telefones por motivo de privacidade).

    Um saudoso abraço do seu amigo,

    Inocêncio Magela de Oliveira

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