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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O que diz uma foto?

Antonio José Ferreira (Santana)

Navegando pelas páginas do Blog, deparei-me refletindo diante de uma foto emblemática formada pelo núcleo de padres crúzios mais assíduos na Escola Apostólica Santa Odília e Colégio Dom Cabral, em Campo Belo, nos idos de 60. Trata-se da foto 14 do acervo 2 do Blog, que parece ter sido tirada no espaço em frente às salas de aula e embaixo da grande rampa que dá acesso ao andar superior do colégio.

Com os olhos fitos na imagem, veio-me o pensamento: o que sonhavam esses padres? Quais os seus objetivos? Que razões os fizeram deixar sua terra natal, a Holanda, um avançado país da Europa, e se embrenhar num país distante, bem menos desenvolvido e totalmente diferente do seu? Será que havia somente o fervor religioso ou algo mais os movia?

Fixando o olhar no conjunto de padres, deparo com o Pe. Justino, em pé, no lado esquerdo da foto. Quem foi o Pe. Justino? Difícil defini-lo, tamanha a sua envergadura. Todavia, muito resumidamente, posso dizer que, além de padre, Justino Obers foi um cientista que durante duas décadas dirigiu com brilho o D. Cabral, ao mesmo tempo em que ministrava aulas de Química e de Física do mais alto nível para a educação brasileira da época. Depois de deixar a direção do colégio, Pe. Justino passou a se dedicar às lides da terra, tornando-se agricultor e também defensor do homem do campo e do meio ambiente – foi, inclusive, um dos fundadores da Sociedade de Defesa do Meio Ambiente - SODEMA. Participou da Pastoral da Terra e se aproximou do MST.

Muitos agricultores da região perceberam nele um líder rural, tanto que seu nome ficou perpetuado em duas escolas municipais, uma em Campo Belo e outra em Aguanil e um centro educacional, o Centro Educacional Municipal Padre Justino Obers, em Campo Belo. Seu reconhecimento se estendeu até a Universidade Federal de Lavras, onde foi criado um núcleo de pesquisas com seu nome, o Núcleo de Pesquisa e Apoio à Agricultura Familiar Justino Obers. Teve a vida interrompida abruptamente, em 1992, quando ainda poderia prestar enorme contribuição ao nosso país, considerando a sua grande capacidade de liderança e visão.

Voltando à foto, percebo, sentado próximo ao Pe. Justino, o Pe. Marino Verkuylen, com quem não convivi como gostaria, pois quando cheguei ao seminário, em 1961, ele acabara de deixar a função de diretor. Mas me lembro que foi com ele que eu tive a primeira conversa, quando decidi entrar para o seminário. O Pe. Marino entrevistou-me e, depois, me passou as instruções de costume, como a lista do enxoval necessário, o número de identificação de meus pertences, assim como outras que já não me lembro mais.

Os veteranos da época o elogiavam muito pela forma de conduzir o seminário e pelo seu modo franco e aberto de se relacionar com os seminaristas. Era muito entrosado com a turma e até participava do time de futebol e, segundo me disseram, também era goleador. Recordo-me, ainda, que, depois de deixar o cargo de diretor, o Pe. Marino passou a se dedicar à tarefa de garimpar novos candidatos para o seminário, na capital e no interior de Minas. De vez em quando voltava a casa, com seu fusquinha azul claro sempre brilhando. Acredito que muitos dos nossos colegas chegaram por suas mãos e motivados pelo seu entusiasmo.

Indo para o outro lado da foto, vejo sentado mais à direita o Pe. Humberto Nienhuis que, substituindo o Pe. Marino, foi diretor do seminário por aproximadamente cinco anos, de 1961 a 1965, se eu não estiver equivocado. Tenho boas lembranças do Pe. Humberto. Sempre me tratou muito bem, apesar de algumas vezes me advertir com energia. Gostava de contar piadas, que nem sempre eram muito engraçadas, mas todo mundo ria por respeito e para não deixá-lo sem graça. Também gostava de nos levar em passeios a pé ou em carrocerias de caminhões para piqueniques em fazendas, nadar em piscinas, represas ou rios. Todavia mantinha muito rigor e disciplina na condução do seminário, principalmente nas horas de estudo, orações e, ainda, no refeitório e no dormitório.

Pe. Humberto foi infeliz e rigoroso em algumas medidas tomadas ocasionalmente, que afetaram a vida de alguns colegas. Segundo fiquei sabendo, reconheceu seus erros de avaliação e até pediu desculpas a alguns com os quais se encontrou posteriormente. Era um excelente professor de Matemática e muito lhe devo e agradeço por seus ensinamentos. Depois que deixou a direção do seminário, segundo consta, assumiu um trabalho pastoral no Rio de Janeiro, do qual não encontrei nenhuma informação registrada. Se alguém tiver alguma informação a esse respeito e quiser colaborar, no intuito de reconhecer seus méritos, sinta-se à vontade para enviar-nos ou acrescentar como comentário a essa crônica, que ficaremos agradecidos.

Pesquisando na Internet, encontrei três obras do Pe. Humberto, em forma de livros, que pretendo ler e já providenciei a aquisição, conforme nomeio a seguir:

1. Creio em um só Deus, 1976, 128p. – Edições Paulinas
2. Compromisso da Fé, 1981, 115p. – Edições Paulinas
3. São José o Carpinteiro, 1987, 109p. – Edições Paulinas

Já recebi o primeiro livro que solicitei. Coincidentemente é o primeiro da lista acima (Creio em um só Deus). Na apresentação do livro, o Pe. Humberto dá uma indicação de que, na ocasião da publicação (1976), ele era o coordenador da catequese paroquial da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Infelizmente, não foi possível extrair mais informações de sua biografia ou de sua função na arquidiocese, pois o livro não apresenta nenhuma informação referencial sobre o autor, conforme é usual pelas editoras, geralmente, na última página ou na contracapa do livro.

O livro “Creio em um só Deus” é apresentado como um catecismo destinado aos catequistas, às crianças da catequese paroquial e a todos os pais de crianças que estão freqüentando a catequese. Inicialmente, pareceu-me um livro muito elementar de catequese. Todavia, estou percebendo, depois de algumas páginas lidas, que o livro é uma obra de Teologia, exposta de uma maneira simples e acessível para um público não acostumado com as questões teológicas. Para isso, o Pe. Humberto utiliza exemplos da vida cotidiana de nosso povo, costumes brasileiros que ele bem assimilou depois de longa vivência conosco. A linguagem que ele utiliza torna mais fácil o entendimento de temas de difícil compreensão como a Santíssima Trindade, a filiação e missão do Cristo em sua natureza divino-humana, entre outros.

Esse conhecimento do Pe. Humberto não causa surpresa a nós que tivemos oportunidade de ouvi-lo em suas homilias e assistir suas aulas de religião. Talvez não percebêssemos na época, mas hoje podemos avaliar que o Pe. Humberto foi realmente um grande teólogo.

Quem quiser adquirir algum dos livros citados acima, basta acessar algum dos sites de buscas na internet e fazer uma pesquisa para “Pe. Humberto Nienhuis” e aparecerão diversos endereços de sebos, com ofertas desses livros, a preços de pechincha.

Vou encerrar por ora esta minha reflexão para não me tornar cansativo, prometendo retornar em breve com considerações e insights sobre outros personagens retratados na foto 14. Quem sabe não estarei mais inspirado, sendo mais justo e fiel com as pessoas representadas, expondo melhor suas qualidades como seres humanos, padres e educadores!