Perfíl
Nome: Benone Fernandes Bilheiros
Nascimento:05/03/1945
Período do Seminário: 1958/1959
Formação: Engenheiro
Auto-apresentação
O menino é preguiçoso!
A formatura do curso primário, em 1957, em Guarará, com direito a solenidade na Igreja Matriz, tendo o Padre Adil como paraninfo, foi com "pompa", presente e tudo.
O primeiro certificado!
A "jardineira" veio sacolejando pela estrada poeirenta e parou.
Desceu o Padre Martinho.
Subiram o Padre e o menino de guarda-pó.
Ficou o pai.
E foram.
Campo Belo era longe, muito longe.
"O menino é preguiçoso", exclamou o Padre Marino, sorriso maroto, ao ver os sapatos do tipo sem cadarço, usado pelo menino. Uma forma de se aproximar, deixar o menino mais à vontade. O menino, pele muito clara, enrubesceu. Tinha acabado de chegar. Era tudo muito diferente. A cidade, o prédio, o quarto imenso e com muitas camas. E aquele padre.
Fiquei 2 anos no Seminário: 1958 e 1959. Foi um período de extrema importância para a minha formação. As noções de disciplina, organização, a convivência com pessoas de hábitos diferentes, educação diferente, cultura diferente como, por exemplo, nossos amigos nortistas, contribuíram de forma importante para a formação da minha personalidade e meu caráter. Eu estava com 13 anos. Início da adolescência. O espírito de camaradagem, disputar as "peladas" no campo de terra, as partidas "oficiais" de futebol com camisa, chuteira e tudo; ver o Marquinhos disputar com o Renato as "tatiquinhas" com a bola feita de pano; o Raimundo, que encontrou um ovo naquele morro atrás do refeitório e o quebrou na minha testa (só não entendi, até hoje, como aquele ovo foi parar naquele lugar, já que não havia nenhuma casa por perto que pudesse estar criando galinhas); o campeonato de botões, com a final entre mim e o Geraldo, com o dito indo para a disputa com um beque mais alto que o goleiro (barbaridade, o meu time era melhor, mas aquele beque desequilibrou!); as horas na sala de recreio com ping-pong, música clássica, música popular... Quem se lembra de " o gato da madame, era perfumado, laço no pescoço, todo alinhado..."; do Bessa que era o "tio" de todos, do Moacir (Borges Beleza) que era professor no curso de Admissão e jogava um bolão; do Seoldo, que naquela época já era um gozador; do Carraro, o brigão do grupo. Cada um, afinal, a seu modo, contribuiu para a minha formação. Assistir aos jogos no campo do Comercial, era o máximo! Quem se lembra do goleirão Plauto e do grande centro-avante Zé Pinto? As férias em Santana do Jacaré; nadar no rio. Aliás, sobre isto o Marquinho fez uma observação em sua biografia e eu gostaria de me alongar: ficávamos soltos, absolutamente soltos, numa grande região do rio, muitos dos meninos ainda pequenos e sem saber nadar e nunca aconteceu nada com ninguém. Coisas dos nossos anjos da guarda.
Foto de 1959 com Benone em destaque
Sai do seminário em dezembro e, já em janeiro, comecei a trabalhar numa fábrica de calçados. Fiquei um tempo, alguns meses, e fui para a Papelaria Zappa, a maior de Juiz de Fora. Lá, tive a oportunidade de atender ao Padre Marino e ao Zé Maria, que naquela época estava no Seminário Maior em uma cidade próxima, Leopoldina. Lá fiquei até os meus 18 anos, quando então, dei uma guinada de 180 graus e fui para Ipatinga, trabalhar na Usiminas. Era um período especial para os empregados da usina. Havia ainda, no ar, resquícios dos atos da violência perpetrada pela polícia, quando dezenas de operários foram metralhados e mortos. Sub-produto da ditadura militar. O assunto ganhou repercurssão na imprensa do País. Tínhamos um belo salário, mas as condições de trabalho eram complicadas, especialmente os horários. Trabalhávamos em 3 turnos semanais: das 8 às 16, das 16 às 24 e das 24 às 8 horas. É claro que o organismo não aceitava tais mudanças de horário e então, o sono e a alimentação não eram ideais.Tínhamos, basicamente, 3 categorias de servidores: os peões, que era o meu caso, os técnicos e o pessoal de nível superior, especialmente engenheiros. Cada categoria tinha seu próprio meio de transporte. Os peões usavam um caminhão Scania, adaptado com uma grande carroceria coberta, sem poltronas; íamos todos de pé. Já os técnicos e o pessoal de nível superior tinham ônibus do tipo convencional. Meu setor de trabalho era a escarfagem. Recebíamos as placas (chapas de aço) vindas do alto forno já resfriadas (nem tanto!). Eram blocos de ferro de várias toneladas de peso e que eram depositadas no pátio do nosso galpão. Eram duas as equipes de trabalho. A minha equipe tinha como função marcar com giz os pontos com fissuras existentes na superfície das placas e numerá-las (as placas) com tinta a óleo.Vinha, então, a outra equipe com grandes maçaricos e, a fogo, retiravam as fissuras. O processo espalhava fagulhas de ferro incandescentes para todo lado. Como o trabalho era feito simultaneamente pelas duas equipes e em muitas placas, pode-se imaginar o efeito que isto provocava. Por isto, o setor era chamado de "sucursal do inferno". Certa vez, estava um membro de minha equipe fazendo seu trabalho, quando, de repente, " choveu " ferro em brasa sobre ele. O "cara" do maçarico não se preocupou em olhar para frente e mandou bala. Meu colega se enfureceu e jogou a lata de tinta sobre ele. O cara partiu para cima com o maçarico ligado, se pega....! Como se pode ver, era um ambiente de trabalho pesado.
Lembro-me de um acontecimento especialmente marcante e que teve reflexos importantes na minha vida: estávamos, eu e um colega de trabalho, sentados na beira da calçada, esperando nosso papa-filas, quando passou um ônibus de técnicos quase vazio; então, comentei com o meu colega: "estamos aqui, cansados, querendo chegar em casa, passa este ônibus e não nos leva." Ao que ele respondeu: " não adianta reclamar; seja um também!"
Decidi, então, que era hora de voltar para Juiz de Fora e, em 1966, comecei a trabalhar na Universidade, na área administrativa. Em 1972 fui nomeado Administrador de Restaurantes; eram dois os restaurantes, um no centro da cidade, que servia almoço e jantar, e outro no "campus" da Universidade. Éramos, também, responsáveis pela alimentação do Hospital Universitário. Servíamos, no pico, 4.000 refeições diárias. Foi um período especialmente difícil, pois os estudantes usavam os restaurantes como o centro de manifestações contra a ditadura militar, inclusive com invasões.
Quando me formei em Engenharia, fui transferido para o quadro de Engenheiros da Prefeitura da Cidade Universitária. Anos depois, fui nomeado vice-prefeito. Este cargo, ao contrário das Prefeituras convencionais, tinha funções bem definidas. Tínhamos um quadro de servidores numeroso, composto de engenheiros, técnicos, pessoal de campo e pessoal administrativo. Nossa Preitura tinha, guardadas as proporções devidas, as mesmas características das demais Prefeituras, já que no Campus "moravam" todos os dias, cerca de 10.000 pessoas, entre alunos, professores e pessoal administrativo. Paralelamente, fui convidado a dar aulas no Curso Técnico Universitário - CTU. A cadeira era "O Orçamento das Edificações". Fui então convidado pelo Magníco Reitor, Professor José Passini, para chefiar seu Gabinete. Um convite que muito me honrou. Minha nomeação para o Gabinete coincidiu com um momento de grande importância para a cidade, a chegada, à Presidência da República, de um juizforano, Itamar Franco. Então, o contato do Gabinete do Reitor com o Gabinete da Presidência foi intenso. Buscávamos verbas para a Universidade.
Finalmente, em 1993, aos 48 anos, ainda na Chefia de Gabinete, me aposentei. Criei, então, a Pé de Moleque, uma loja de calçados infantis, onde estou até hoje. E para os senhores que já são vovôs, a loja está à disposição, com os melhores produtos e melhores preços. Aproveitem!
André, o primogênito
(foto recente)
Fabrícia, a do meio (foto recente)
Andréa (foto recente)
N
Adriana, a caçulinha (foto recente)
o plano pessoal, tive 2 casamentos. O primeiro, em 1969, com a Milma Luiza, com quem tive 3 filhos: o primogênito, Alexandro, é comerciante; a Andréa, Turismóloga, é funcionária do Banco do Brasil e a Fabrícia, Engenheira de Telecomunicaçoes, também do Banco do Brasil. No segundo, em 1987, com a Márcia, Engenheira e minha colega de turma, nasceu a Adriana, minha raspinha do tacho, que estuda Bioquímica na Universidade Federal de São João Del Rei - Campus Divinópolis.
Perguntas Gerais
- Blog - Quais as lembranças que você tem da EASO e das pessoas com as quais conviveu lá que são as mais marcantes e significativas para você?
: Tive a oportunidade de me referir às lembranças que levo da EASO no início deste depoimento, bem como às pessoas com as quais tive mais afinidades e que foram mais marcantes para a minha vida. As lembranças e as pessoas foram de grande importância e me ajudaram a compor o mosaico da minha personalidade.
- Blog – Para você, o que é ser bem sucedido na vida?
Benone: ser bem sucedido na vida é estar feliz consigo mesmo, é estar feliz com o que se tenha realizado, independentemente do quanto e do quê. Pode ser muito ou nem tanto. Não adianta ser um milionário e se sentir frustado por ter perdido a oportunidade de ser um bi.
Perguntas específicas
Perguntas do Blog
- Por causa de um cadarço mal amarrado, o Padre Marino afirmou: "O menino é preguiçoso". Era mesmo? Em que isso o ajudou depois?
Benone: na verdade não era um cadarço mal amarrado e sim sapatos do tipo que dispensa cadarços. Se teve alguma influência na minha vida, foi de forma subjetiva. Aquele foi o meu primeiro contato com o mundo real do Seminário e me impressionou, pois ainda posso me lembrar da expressão do padre Marino.
A formatura do curso primário, em 1957, em Guarará, com direito a solenidade na Igreja Matriz, tendo o Padre Adil como paraninfo, foi com "pompa", presente e tudo.
O primeiro certificado!
A "jardineira" veio sacolejando pela estrada poeirenta e parou.
Desceu o Padre Martinho.
Subiram o Padre e o menino de guarda-pó.
Ficou o pai.
E foram.
Campo Belo era longe, muito longe.
"O menino é preguiçoso", exclamou o Padre Marino, sorriso maroto, ao ver os sapatos do tipo sem cadarço, usado pelo menino. Uma forma de se aproximar, deixar o menino mais à vontade. O menino, pele muito clara, enrubesceu. Tinha acabado de chegar. Era tudo muito diferente. A cidade, o prédio, o quarto imenso e com muitas camas. E aquele padre.
Fiquei 2 anos no Seminário: 1958 e 1959. Foi um período de extrema importância para a minha formação. As noções de disciplina, organização, a convivência com pessoas de hábitos diferentes, educação diferente, cultura diferente como, por exemplo, nossos amigos nortistas, contribuíram de forma importante para a formação da minha personalidade e meu caráter. Eu estava com 13 anos. Início da adolescência. O espírito de camaradagem, disputar as "peladas" no campo de terra, as partidas "oficiais" de futebol com camisa, chuteira e tudo; ver o Marquinhos disputar com o Renato as "tatiquinhas" com a bola feita de pano; o Raimundo, que encontrou um ovo naquele morro atrás do refeitório e o quebrou na minha testa (só não entendi, até hoje, como aquele ovo foi parar naquele lugar, já que não havia nenhuma casa por perto que pudesse estar criando galinhas); o campeonato de botões, com a final entre mim e o Geraldo, com o dito indo para a disputa com um beque mais alto que o goleiro (barbaridade, o meu time era melhor, mas aquele beque desequilibrou!); as horas na sala de recreio com ping-pong, música clássica, música popular... Quem se lembra de " o gato da madame, era perfumado, laço no pescoço, todo alinhado..."; do Bessa que era o "tio" de todos, do Moacir (Borges Beleza) que era professor no curso de Admissão e jogava um bolão; do Seoldo, que naquela época já era um gozador; do Carraro, o brigão do grupo. Cada um, afinal, a seu modo, contribuiu para a minha formação. Assistir aos jogos no campo do Comercial, era o máximo! Quem se lembra do goleirão Plauto e do grande centro-avante Zé Pinto? As férias em Santana do Jacaré; nadar no rio. Aliás, sobre isto o Marquinho fez uma observação em sua biografia e eu gostaria de me alongar: ficávamos soltos, absolutamente soltos, numa grande região do rio, muitos dos meninos ainda pequenos e sem saber nadar e nunca aconteceu nada com ninguém. Coisas dos nossos anjos da guarda.
Foto de 1959 com Benone em destaque |
Sai do seminário em dezembro e, já em janeiro, comecei a trabalhar numa fábrica de calçados. Fiquei um tempo, alguns meses, e fui para a Papelaria Zappa, a maior de Juiz de Fora. Lá, tive a oportunidade de atender ao Padre Marino e ao Zé Maria, que naquela época estava no Seminário Maior em uma cidade próxima, Leopoldina. Lá fiquei até os meus 18 anos, quando então, dei uma guinada de 180 graus e fui para Ipatinga, trabalhar na Usiminas. Era um período especial para os empregados da usina. Havia ainda, no ar, resquícios dos atos da violência perpetrada pela polícia, quando dezenas de operários foram metralhados e mortos. Sub-produto da ditadura militar. O assunto ganhou repercurssão na imprensa do País. Tínhamos um belo salário, mas as condições de trabalho eram complicadas, especialmente os horários. Trabalhávamos em 3 turnos semanais: das 8 às 16, das 16 às 24 e das 24 às 8 horas. É claro que o organismo não aceitava tais mudanças de horário e então, o sono e a alimentação não eram ideais.Tínhamos, basicamente, 3 categorias de servidores: os peões, que era o meu caso, os técnicos e o pessoal de nível superior, especialmente engenheiros. Cada categoria tinha seu próprio meio de transporte. Os peões usavam um caminhão Scania, adaptado com uma grande carroceria coberta, sem poltronas; íamos todos de pé. Já os técnicos e o pessoal de nível superior tinham ônibus do tipo convencional. Meu setor de trabalho era a escarfagem. Recebíamos as placas (chapas de aço) vindas do alto forno já resfriadas (nem tanto!). Eram blocos de ferro de várias toneladas de peso e que eram depositadas no pátio do nosso galpão. Eram duas as equipes de trabalho. A minha equipe tinha como função marcar com giz os pontos com fissuras existentes na superfície das placas e numerá-las (as placas) com tinta a óleo.Vinha, então, a outra equipe com grandes maçaricos e, a fogo, retiravam as fissuras. O processo espalhava fagulhas de ferro incandescentes para todo lado. Como o trabalho era feito simultaneamente pelas duas equipes e em muitas placas, pode-se imaginar o efeito que isto provocava. Por isto, o setor era chamado de "sucursal do inferno". Certa vez, estava um membro de minha equipe fazendo seu trabalho, quando, de repente, " choveu " ferro em brasa sobre ele. O "cara" do maçarico não se preocupou em olhar para frente e mandou bala. Meu colega se enfureceu e jogou a lata de tinta sobre ele. O cara partiu para cima com o maçarico ligado, se pega....! Como se pode ver, era um ambiente de trabalho pesado.
Lembro-me de um acontecimento especialmente marcante e que teve reflexos importantes na minha vida: estávamos, eu e um colega de trabalho, sentados na beira da calçada, esperando nosso papa-filas, quando passou um ônibus de técnicos quase vazio; então, comentei com o meu colega: "estamos aqui, cansados, querendo chegar em casa, passa este ônibus e não nos leva." Ao que ele respondeu: " não adianta reclamar; seja um também!"
Decidi, então, que era hora de voltar para Juiz de Fora e, em 1966, comecei a trabalhar na Universidade, na área administrativa. Em 1972 fui nomeado Administrador de Restaurantes; eram dois os restaurantes, um no centro da cidade, que servia almoço e jantar, e outro no "campus" da Universidade. Éramos, também, responsáveis pela alimentação do Hospital Universitário. Servíamos, no pico, 4.000 refeições diárias. Foi um período especialmente difícil, pois os estudantes usavam os restaurantes como o centro de manifestações contra a ditadura militar, inclusive com invasões.
Quando me formei em Engenharia, fui transferido para o quadro de Engenheiros da Prefeitura da Cidade Universitária. Anos depois, fui nomeado vice-prefeito. Este cargo, ao contrário das Prefeituras convencionais, tinha funções bem definidas. Tínhamos um quadro de servidores numeroso, composto de engenheiros, técnicos, pessoal de campo e pessoal administrativo. Nossa Preitura tinha, guardadas as proporções devidas, as mesmas características das demais Prefeituras, já que no Campus "moravam" todos os dias, cerca de 10.000 pessoas, entre alunos, professores e pessoal administrativo. Paralelamente, fui convidado a dar aulas no Curso Técnico Universitário - CTU. A cadeira era "O Orçamento das Edificações". Fui então convidado pelo Magníco Reitor, Professor José Passini, para chefiar seu Gabinete. Um convite que muito me honrou. Minha nomeação para o Gabinete coincidiu com um momento de grande importância para a cidade, a chegada, à Presidência da República, de um juizforano, Itamar Franco. Então, o contato do Gabinete do Reitor com o Gabinete da Presidência foi intenso. Buscávamos verbas para a Universidade.
Finalmente, em 1993, aos 48 anos, ainda na Chefia de Gabinete, me aposentei. Criei, então, a Pé de Moleque, uma loja de calçados infantis, onde estou até hoje. E para os senhores que já são vovôs, a loja está à disposição, com os melhores produtos e melhores preços. Aproveitem!
André, o primogênito (foto recente) |
Fabrícia, a do meio (foto recente) |
Andréa (foto recente) |
Adriana, a caçulinha (foto recente) |
Perguntas Gerais
Perguntas do Blog
Benone: na verdade não era um cadarço mal amarrado e sim sapatos do tipo que dispensa cadarços. Se teve alguma influência na minha vida, foi de forma subjetiva. Aquele foi o meu primeiro contato com o mundo real do Seminário e me impressionou, pois ainda posso me lembrar da expressão do padre Marino.
Foto de 2008. Benone, à esquerda,
participou de todos os Encontros
da EASO
|
- Que força é essa que tem feito você participar dos Encontros e ser um entusiasmado Easista?
Benone, pessoa inserida no contexto
em foto de 2011, ao lado de Medina,
Alfredo e Rafael
|
: o Seminário é parte importante da minha história, da minha vida. Encontrar todos vocês é realmente prazeroso. É como voltar no tempo, se isto fosse possível. É a oportunidade de falar de coisas que aconteceram há mais de 50 anos. Nos encontros se ouve a cada momento alguém dizendo para alguém : você se lembra...?
- O Nonato quebrou um ovo em sua testa, em 1959. Quanto tempo durou o galo psicológico dessa afronta?
Benone: na verdade, não houve um galo psicológico. Eu o creditei às peraltices próprias da idade. Aliás, o Raimundo era o meu parceiro. Chegamos no mesmo ano no seminário. Nos surpreendemos, ele e eu, quando descobrimos, no nosso reencontro, que ele é 2 anos mais velho que eu. Naquela fase de nossas vidas, isto fazia diferença. Entretanto, nunca sentimos isto. Era como se fôssemos da mesma idade.
- Você, que já trabalhou na sucursal do inferno, chegou a trabalhar em algum lugar que seria a sucursal do céu?
Benone: o trabalho sempre foi algo natural na minha vida. As minhas mudanças se deveram, principalmente, a uma visão de longo prazo. Teria eu alguma possibilidade de ascenção no futuro? Eu estava qualificado para almejar esta ascenção? Então, na Universidade Federal de Juiz de Fora, senti que tinha alguma possibilidade de ascender profissionalmente, desde que me qualificasse. Então, dentro dessa ótica, posso dizer que a UFJF foi o meu céu.
Pergunta enviada pelo Santana
- Benone, lendo sua biografia, percebe-se que você é uma pessoa lutadora, que traça objetivos e segue em frente. Com essa característica, que é própria dos vencedores, você obteve grande sucesso profissional, galgando sempre postos mais elevados até atingir o cargo de Chefe de Gabinete do Reitor da UFJF, que é um cargo de grande confiança e que requer muita competência de quem o ocupa. Com toda essa experiência de vida, conhecimento e a sua facilidade de escrever e transmitir ideias, você nunca pensou em escrever um livro? Transmitir suas experiências e conhecimentos que poderão servir de inspiração para muitos jovens? Fica aqui a sugestão.
Benone: nunca havia pensado nisso, meu amigo Santana. Considero-me, apenas, uma pessoa inserida no contexto. Se considerarmos que somos, nós, os ex-seminaristas da EASO, em sua maioria, oriundos de extratos sociais modestos e verificarmos que temos, hoje, homens, muitos, bem sucedidos profissionalmente, sinto que posso me colocar, modestamente e com muita honra, entre esses, na profissão que escolhí. Isso pode ser verificado nas biografias já editadas.
Perguntas enviadas pelo Marcos Rocha:
- Qual a origem do seu nome e também do sobrenome, ambos muito inusitados? Você, por exemplo, não deve ter tido nenhum problema de confusão com homônimos ao longo da vida, não é? (rs rs rs)
Benone: realmente, nunca tive dificuldades com homônimos. O problema sempre foi o telefone, já que tenho que repetir várias vezes para o interlocutar entender. Infelizmente, não sei sua origem nem significado. Quanto aos sobrenomes, o Fernandes, da minha mãe, Dona Marianna, é de origem portuguesa, com certeza. Já o Bilheiro, do meu pai José Montano Bilheiro, é um autêntico italiano.
9. Depois de ter tido uma longa carreira como funcionário público, ocupando cargos de confiança na UFJF, hoje você está na iniciativa privada, como comerciante. Compare estas duas fases da sua carreira. Em qual das duas atividades você se sente mais realizado? Ser um pequeno ou médio comerciante nos dias atuais, com tantos impostos e uma legislação trabalhista totalmente ultrapassada e onerosa, ainda vale o esforço?
Loja de sapatos do entrevistado. |
Benone : entrei na iniciativa privada, por acaso. Não foi algo planejado. Havia comprado uma loja em um Shopping em construção na cidade, e, seu término coincidiu com minha aposentadoria. Então, para não ficar parado, tomei a decisão, mas, realmente, não é uma atividade que me realize. De fato, a carga de impostos é pesada, a concorrência é grande e Juiz de Fora, apesar de ser uma cidade com mais de 500.000 habitantes, tem uma renda “per capita” baixa, não circula dinheiro e a legislação trabalhista é complicada. Tomei, recentemente, a decisão de rescindir o contrato de uma funcionária com 1 ano de trabalho na loja. Esta rescisão custou à empresa, entre salários e direitos trabalhistas, 4.000 reais. Uma quantia importante para uma pequena empresa e por tão pouco tempo de trabalho. Então, respondendo à pergunta, digo que meu trabalho na UFJF tinha mais a ver comigo.
10. Vários dos nossos colegas easistas têm levado suas esposas/companheiras e, alguns, até os filhos e netos para participar dos nossos Encontros; outros, não. Por que você ainda não nos deu o prazer de nos apresentar à Márcia? Ou foi opção dela ainda não ter aparecido na nossa confraria easista?
Benone: eu e a Márcia somos bons amigos. Nos separamos há cerca de 3 anos. Ela, agora, mora em Barbacena, onde tem uma empresa comercial ligada ao artesanato, sua antiga paixão. Nos vemos com regularidade, já que ela vem à Juiz de Fora uma vez por mês tratar de assuntos pessoais, ocasião em que nos encontramos e almoçamos juntos, invariavelmente. Ocasionalmente, vou à Barbacena para vê-la.
Pergunta enviada por José Tito Gonçalves
11. Como você compara o que viveu dentro da Usiminas com o que aprendeu no seminário? Acha que pode ter alguma coisa a ver com o Padre Marino?
Benone: tive a oportunidade de falar sobre a importância que o Seminário teve em minha vida e o padre Marino foi, na minha avaliação, a essência do Seminário. Fosse outro, o Diretor, provavelmente as coisas seriam diferentes. Então, ele teve, sim, direta ou indiretamente, importância na minha vida.
Perguntas enviadas pelo Siovani
12. Os paulistas gozam muito os mineiros por dizerem que compramos os bondes (ultrapassados) que eles não queriam mais, ou melhor dizendo, porque Juiz de Fora comprou os bondes, o que você tem a dizer sobre essa gozação face às cidades que até hoje usam os bondes como São Francisco, Lisboa, etc.?
Benone: os bondes são, nestas cidades, uma tradição. Não servem, com qualidade, como meio de transporte, e tradição é para ser cultivada. Quanto às gozações... também precisamos responder.
13. A mídia ridicularizou muito o ex-presidente Itamar Franco quando de sua passagem pela Presidência, em sua experiência de trabalho e de vida, o que significou esse governo para Juiz de Fora? E para o Brasil?
Benone: para Juiz de Fora, muito pouco, até porque, qualquer feito do governo federal na cidade era motivo para os jornais paulistas, especialmente O Estado São Paulo, caírem de pau. Para o Brasil, é importante que lembremos, o país vinha de um processo de hiperinflação, com a economia toda desorganizada, foi ótimo. Foi o governo do Presidente Itamar que acabou com a inflação e iniciou o processo de estabilização e organização da economia. Isto em dois anos. Os meios de comunicação nunca, repito, nunca creditam a ele o mérito pela estabilização. Recordo-me, agora, de uma frase dita por um general famoso, da história antiga: "ninguem sabe quem foi o responsável pela vitória na batalha... mas todos saberiam se fosse uma derrota".
A mídia tentou, de todas as formas, ridicularizar o Presidente Itamar, mas nunca o rotulou de corrupto. Afinal, ele foi um homem digno. Uma raridade em nosso tempo. Sobre esse assunto, vou me reportar à excelente reportagem escrita pelo jornalista Antônio Luiz Costa, na revista Carta Capital, a propósito do recente escândalo nos meios de comunicação britânico: "Hoje, uma fatia desproporcional dos jornais, emissoras de tevê e sites pertencem às mesmas empresas e sua receita depende da publicidade de um punhado de grupos econômicos de porte equivalente ou maior, com a mesma identidade política e ideológica. Hostis a tudo que não sejam os interesses da ultraelite, apegam-se a pensamento único e fecham-se a alternativas, mesmo quando provêm dos círculos científicos e intelectuais mais respeitáveis. Abusam, cada vez mais, de seu monopólio e de suas conexões com o poder político e financeiro para RIDICULARIZAR (a ênfase é minha) idéias contrárias, chantagear e perseguir desafetos, transformar minorias oprimidas em bodes expiatórios e violar a privacidade, as liberdades de cidadãos que o liberalismo propõe garantir".
E "pra não dizer que não falei de flores", já que o assunto ficou pesado e em homenagem ao meu amigo Marquinhos, nosso jornalista, vou me referir a um dos mais antigos meios de comunicação, o telégrafo, em que cada palavra escrita custava um bom dinheiro, por isto, tínhamos que ser sucintos. O melhor de todos, foi, provavelmente, aquele escrito por Lord Home, Ministro das Relações Exteriores britânico a alguém que o aborreceu terrivelmente: "VÁ PARA O INFERNO. SEGUE CARTA COM INSULTOS". Dois titãs da réplica se sobrepujaram quando
Bernard Shaw convidou Winston Churchill (e os dois nunca foram amigos) para a estréia de sua nova peça: "ESTOU RESERVANDO PARA VOCÊ DUAS ENTRADAS PARA A MINHA PREMIÈRE. VENHA E TRAGA UM AMIGO - SE VOCÊ TIVER UM". A resposta de Churchill: " IMPOSSÍVEL COMPARECER À PRIMEIRA APRESENTAÇÃO. ASSISTIREI À SEGUNDA - SE HOUVER".
A mídia tentou, de todas as formas, ridicularizar o Presidente Itamar, mas nunca o rotulou de corrupto. Afinal, ele foi um homem digno. Uma raridade em nosso tempo. Sobre esse assunto, vou me reportar à excelente reportagem escrita pelo jornalista Antônio Luiz Costa, na revista Carta Capital, a propósito do recente escândalo nos meios de comunicação britânico: "Hoje, uma fatia desproporcional dos jornais, emissoras de tevê e sites pertencem às mesmas empresas e sua receita depende da publicidade de um punhado de grupos econômicos de porte equivalente ou maior, com a mesma identidade política e ideológica. Hostis a tudo que não sejam os interesses da ultraelite, apegam-se a pensamento único e fecham-se a alternativas, mesmo quando provêm dos círculos científicos e intelectuais mais respeitáveis. Abusam, cada vez mais, de seu monopólio e de suas conexões com o poder político e financeiro para RIDICULARIZAR (a ênfase é minha) idéias contrárias, chantagear e perseguir desafetos, transformar minorias oprimidas em bodes expiatórios e violar a privacidade, as liberdades de cidadãos que o liberalismo propõe garantir".
E "pra não dizer que não falei de flores", já que o assunto ficou pesado e em homenagem ao meu amigo Marquinhos, nosso jornalista, vou me referir a um dos mais antigos meios de comunicação, o telégrafo, em que cada palavra escrita custava um bom dinheiro, por isto, tínhamos que ser sucintos. O melhor de todos, foi, provavelmente, aquele escrito por Lord Home, Ministro das Relações Exteriores britânico a alguém que o aborreceu terrivelmente: "VÁ PARA O INFERNO. SEGUE CARTA COM INSULTOS". Dois titãs da réplica se sobrepujaram quando
Bernard Shaw convidou Winston Churchill (e os dois nunca foram amigos) para a estréia de sua nova peça: "ESTOU RESERVANDO PARA VOCÊ DUAS ENTRADAS PARA A MINHA PREMIÈRE. VENHA E TRAGA UM AMIGO - SE VOCÊ TIVER UM". A resposta de Churchill: " IMPOSSÍVEL COMPARECER À PRIMEIRA APRESENTAÇÃO. ASSISTIREI À SEGUNDA - SE HOUVER".
14. Por que a escolha dos sapatos infantis para abrir uma loja, teria sido por uma espécie de complexo de Peter Pan?
Benone: A opção pelos calçados infantís foi puramente comercial. Em uma pesquisa rápida no Shopping, percebí que havia pouca oferta desse produto; então, não foi dificil decidir.
Benone fotos de presença
Benone, o segundo da primeira fila, em 2011 |
Benone, o primeiro à esquerda, em 2012 |
Do álbum de família
Benone: "Luana, a neta preferida" |
As filhas ruivas, a partir da esquerda, Andréa e Fabrícia em 1977 |
Andréa e Fabrícia na primeira comunhão, em 1984 |
Benone com 17 anos |
Benone e seu filho Alexandro , ao lado do lobo, em 1980 |
Benone: "As quatro mulheres da minha vida". A partir da esquerda, Luana, Fabrícia, Adriana e Andréa, foto de 1998 |