Por Siovani
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Sempre da esquerda para a direita: no chão: Benone, Marcos Rocha, Lulu, Nicodemos, Clayton, Antônio de Ázara, o menino Otávio (na cadeira). Assentados no palco: padre José Cláudio, Edgard, Chicão, Olímpio, Santana com Laura no colo , José Geraldo, Alberto Medina,Tupy, Roosevelt, Eustáquio, Rafael, Siovani e Lua. Em cima do palco: Geísa, Cátia, Dita, Liana, Nazaré, Cecília, Marta, Catarina, Marina, Ica, Marina, Maria José e Rosimere. Foto de 21 de setembro de 2013. Local: espaço onde foram os dormitórios dos ex-seminaristas que ali permaneceram depois de 1963.
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Sexta-feira,
20 de setembro de 2013.
A
estrada faz uma curva caprichosa e segue à direita para cumprir seu destino de
leva e traz, mas nós a abandonamos para seguir em frente, relaxados pela
sensação de alívio que nos vem quando chegamos ao nosso destino. E, novamente,
este destino é Campo Belo: uma rotatória nos acolhe para nos arrancar da
estrada e jogar-nos, como em passe mágico, dentro da cidade, sem aquela tão
normal periferia feia e depauperada que recebe os viajantes em nossas cidades.
Naquela
rotatória nasce a rua principal num ondular de subida que ainda esconde o
centro da cidade. Do alto daquela ondulação a cidade irrompe em nossos olhos e
afunda-nos no passado, onde a memória vai repousar.
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O olhar, apagado já pelo cansaço, descortina por aquela
rua o colégio ainda lá longe. Foto de 20 de setembro de
2013 a partir do alto da Avenida Afonso Pena, Campo Belo,
Minas Gerais, Brasil
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Quem
ali chega agora é um menino alquebrado pelo peso da mochila, carregada de
laranjas, que o empurrou por algumas léguas. O olhar, apagado já pelo cansaço,
descortina por aquela rua o colégio ainda lá tão longe. O olhar corre pela rua
que novamente sobe em busca do outeiro que culmina na praça central, e aquele
olhar busca alento para percorrer aquela pesada subida em passos não mais tão
firmes quanto na debandada da manhã alegre em que partira ávido pelo dia de
fartura à frente.
Isso
tudo se passa num átimo, porque agora o carro incansável nos entrega, bem ali
no meio da descida, ao Hotel Champagne. Chegamos sob o crepúsculo das seis
horas, hora em que um certo ar de mistério envolve a cidade. E lá no hotel já
nos recebem alguns dos colegas que também suaram por aquela rua sob a carga das
laranjas e das esperanças.
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Espaço Antares, um local tranquilo e agradável onde o Santana e seus familiares haviam preparado uma bela recepção. Foto de 20 de setembro de 2013. Aparecem da esq. para a dir.: Cecília e José Geraldo; Olímpio; Antônio de Ázara e Ica; Tupy e Marina; e Liana.
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Geísa recebe das mãos do Eustáquio,
o coordenador deste encontro, um
prêmio em louvor à competência e à
simpatia em exercê-la. Foto de 21 de
de setembro de 2013.
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Um
pequeno relaxamento após a tensão da estrada em um refrescante banho e seguimos
para o Espaço Antares, um local tranquilo e agradável onde o Santana e seus
familiares haviam preparado uma bela recepção. Mas antes, o anjo da guarda do
Eustáquio, e nosso, nossa simpática amiga Geísa, sempre presente a ajudar a
organização dos encontros, recebia-nos com um crachá para cada um a troco de uma
pequena colaboração para custear as despesas do V Encontro.
A
lua cheia também veio nos brindar com sua presença misteriosa no horizonte e o
nosso amigo Walter, o Lua Cheia, encheu-se ainda mais num sorriso de satisfação
para agradecer ao Eustáquio, nosso presidente, a bela homenagem que este lhe
prestava com convidada tão ilustre.
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A noite que ainda nos trouxe a bem-vinda presença dos cole-
gas Clayton (2); José Geraldo (4) e Roosevelt (6). Os núme-
ros indicam a posição dos citados, a partir da esquerda.
(clique nas fotos para ampliá-las lado a lado. Fotos acopladas.
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A
lua ia subindo no céu sobre a cidade e os nossos colegas, pouco a pouco,
apareciam trazendo seus sorrisos e abraços na costumeira alegria que sustenta
os nossos encontros e nos faz esperar com ansiedade o ano escorrer até o próximo.
Enquanto nos reencontrávamos, a irmã do Santana distribuía pelas mesas
deliciosos acepipes que nos fartaram pela noite adentro. Noite que ainda nos
trouxe a bem-vinda presença de colegas que pela primeira vez participaram de
nosso encontro, o Roosevelt, um dos primeiros seminaristas, e, dali mesmo de
Campo Belo: o José Geraldo e o Clayton. Este, um colega que entrou comigo em
1964, e que me trouxe uma alegria particular em revê-lo. Ausências sentidas dos
colegas de Juiz de Fora que chegariam apenas na manhã do sábado.
E
também pudemos contar alegremente com a agradável presença do Padre Guilherme,
representante dos antigos padres crúzios, que aceitou nosso convite para deixar
Belo Horizonte e participar do nosso encontro.
Identificados
e cumprimentados os encontristas, o Lulu foi solicitado a fazer uma explanação
sobre o nosso blog e a mostrar como encontrá-lo na vastidão da internet. Desnecessário comentar aqui
sobre esses temas, pois estáis aqui.
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Maria José exibe um dos belíssimos
livros que ganhou pelo segundo lugar
do concurso de fotos.
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Flaviane, que representou a sua mãe, Fá-
tima, exibe o prêmio do primeiro lugar
do concurso de fotos: rosas desidratadas
emolduradas em pátina trabalhada.
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As
fotos vencedoras do Concurso de Fotos do IV Encontro estavam em exposição no
recinto, e o Marcos Rocha, que praticamente sozinho promoveu, coordenou,
revelou as fotos e patrocinou, fez a entrega aos vencedores da premiação. Ouvimos
com prazer muitos ohhhs! de júbilo pelos belos prêmios recebidos; estes
acenderam a cobiça de todos pelos futuros, o que certamente causará uma
avalanche de fotos nos próximos concursos. O Tupy foi bastante alfinetado pela
ausência na foto que certamente ganharia o prêmio máximo se ele estivesse
presente. Ele se escusou, pedindo que culpassem a natureza, que nos faz
exigências inadiáveis.
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Santana, representando seu filho Jr,
recebe alguns livros pelo terceiro lugar
do concurso de fotos.
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Na foto, Laura (4 anos) ao lado de
Otávio (7 anos) em linda apresenta-
ção.
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Para
não nos deixarem dizer que nossos encontros são encontros de senhores de
cabelos brancos e de suas respectivas senhoras, duas graças irromperam em nosso
meio, o Otávio, 7 anos, já nosso velho conhecido, filho do Lua, e a Laura, 4
anos, netinha do Santana; esta também acompanhada de sua bela e simpática mãe,
Flaviana. Liberado um microfone para declamações, as duas crianças roubaram a
cena com desenvoltas e animadas canções que exigiam aplausos e pedidos de bis.
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Catarina cantou e declamou. |
Ouvimos,
ainda, poemas e canções antigas entoadas pela Catarina, pela Dita e pelo Lua, que,
enciumado talvez com o sucesso das crianças, declamou atrapalhadamente dois
poemas, pois a Germana já estava cobrando seus vapores, e só para lembrar-lhe
como é o poema que era o campeão de apresentações em nossas aulas de declamação
(todos o aprendíamos de tanto ouvi-lo), eis o original:
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Dita cantou e encantou |
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Lua e Germana declamam duas poesias |
Visita à Casa Paterna
Luiz Guimarães
Como
a ave que volta ao ninho antigo
Depois
de um longo e tenebroso inverno,
Eu
quis também rever o lar paterno,
O
meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei.
Um gênio carinhoso e amigo,
O
fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me
as mãos, olhou-me grave e terno,
E,
passo a passo, caminhou comigo.
Era
esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em
que da luz noturna à claridade
Minhas
irmãs e minha mãe... O pranto
jorrou-me
em ondas... Resistir quem há-de?
Uma
ilusão gemia em cada canto,
Chorava
em cada canto uma saudade.
O
Seoldo, mesmo permanecendo em sua longínqua morada, não podia faltar ao nosso
encontro, por isso tratou de contratar uma transposição bilocal com destino a
Santana do Jacaré, mas com escala em Campo Belo. E, assim, com o corpo
acomodado, sem fazer nada, em uma piscada de olho estava incorporado na voz
potente do Marcos Rocha e falou (a caixa alta, pelo que pude apreender, foi
para simular a voz potente):
AMIGOS
COLEGAS EASISTAS,
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Marcos Rocha vestiu o pensamen-
to do Seoldo com sua potente voz
de veludo.
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QUE
TENHAM UM BOM ENCONTRO E SE COMPORTEM DIREITINHO, SOBRETUDO EM SANTANA DO
JACARÉ! ESTAREMOS (JUDITE E EU) AÍ EM
PENSAMENTO COM VOCÊS. ABRAÇOS E LEMBRANÇAS A TODOS!
SANTA
ODÍLIA (SO), O VELHO SEMINÁRIO
MISTURADO
COM COLÉGIO DOM CABRAL
SOLTOU
NO MUNDO UM GRUPO VISIONÁRIO
BUSCANDO
SEMPRE O CAMINHO PRINCIPAL
NO
SANTA ODÍLIA SÓ SE PENSAVA NO FUTURO
NO
SANTA ODÍLIA SE REZAVA PRA CHUCHU
NO
SANTA ODÍLIA, TUDO VERDE, TUDO PURO
ARROZ,
FEIJÃO, ANGU; ÀS VEZES, TUTU
NO
SANTA ODÍLIA ERA TUDO ORGANIZADO
NO
SANTA ODÍLIA SE ESTUDAVA COM PRAZER
NO
SANTA ODÍLIA NADA ERA DECORADO
NO
SANTA ODÍLIA SE COMIA PRA VALER
NO
SANTA ODÍLIA SE TRADUZIA O LATIM
NO
SANTA ODÍLIA SE CANTAVA NA CAPELA
NO
SANTA ODÍLIA ERA SÓ CAMA DE CAPIM
NO
SANTA ODÍLIA NÃO SE FICAVA NA JANELA
NO
SANTA ODÍLIA HAVIA HORA PARA TUDO
NO
SANTA ODÍLIA O MELHOR ERA O RECREIO
NO
SANTA ODÍLIA ROUPA LIMPA, NÃO BARBUDO
NO
SANTA ODÍLIA ERA SÓ DEZ OU NOVE E MEIO
NO
SANTA ODÍLIA SE ABAIXAVA A CABECA
NO
SANTA ODÍLIA A CABEÇA NÃO CAÍA
NO
SANTA ODÍLIA ERA SÓ DEUS OBEDEÇA
NO
SANTA ODÍLIA TODOS FILHOS DE MARIA
NO
SANTA ODÍLIA ERA POUCA A PORCARIA
NO
SANTA ODÍLIA NINGUÉM ERA DESBOCADO
NO
SANTA ODÍLIA NAO HAVIA CORRERIA
NO
SANTA ODÍLIA O RUIM ERA O PECADO
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Seoldo e Judite, os mais presentes dos
ausentes. Foto de setembro de 2012 |
NO
SANTA ODÍLIA CADA UM COM APELIDO
CANHÃO,
MAMONA, PICOLÉ, CUTIA
PIGMEU,
QUADRADO, PACU, ESPRIMIDO
NO
FIM, TODOS FILHOS DE MARIA!
O
SANTA ODÍLIA ERA COMO FORMIGUEIRO
NO
SANTA ODÍLIA TUDO ERA MARCADINHO
NO
SANTA ODÍLIA SEMPRE HAVIA BISCOITEIRO
O
SANTA ODÍLIA', NO FINAL, FOI NOSSO NINHO.
(Easista
Seoldo, Setembro de 2013, V ENCONTRO)
E
a noite ia correndo em conversas animadas, e a Germana corria nas gargantas
secas de tanta fala, e, então, o inevitável! O matreiro Baco fez questão de
mostrar sua personalidade na voz mais rascante de alguns que insistiam em
afrontar os seus poderes, e então... Então nada, tudo correu maravilhosamente
até que fomos em busca de uma cama para deitar nosso cansaço. E depois me
disseram que os últimos só partiram cerca de uma hora da madrugada. E boa noite
a todos, até amanhã.
Sábado,
21 de setembro.
As
poucas horas de sono não foram, como de costume, impedimento para o despertar
com as primeiras luzes do dia, que nos trouxeram o chilreio inconsequente dos
pássaros e o matraquear insolente das maritacas em bando. À espera da hora para
as atividades do dia, restei-me na cama a ver o belíssimo filme de Jean
Cocteau, Orpheu, onde o poeta dedilha imagens inusitadas sobre o outro mundo,
que pode ser penetrado através dos espelhos, portas que são para aquele mundo;
esquisita e bela metáfora para o nosso caminho indelével pelo tempo que podemos
contemplar nos espelhos. Porém, sem me ater ao lado sinistro, estava eu do
outro lado do espelho, percorrendo um caminho inverso rumo aos meus dez anos,
quando cheguei em Campo Belo, com ainda todo o mundo criado na minha infância a
me suster. E por aquele espelho podia eu contemplar aquele mundo a ruir e sobre
as ruínas ver nascer um outro mundo, carregado de dúvidas e insubmissões.
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O padre Wilson celebrou a missa ajudado pelos padres José
Cláudio e Elione.
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Mas
às dez horas tínhamos novo compromisso. Descemos para o café onde já nos
reencontramos com diversos easistas (esta palavra foi criada pelo Seoldo ou
Marcos Rocha para referir-se a nós, ex-seminaristas da Escola Apostólica Santa
Odília, EASO, e também passo a adotá-la). Dirigimo-nos, em seguida, para a
Igreja da Santa Cruz, onde os novos padres crúzios fariam uma missa para o
grupo. Para isso vesti-me com o meu mundo dos dez anos, mas naquele mundo havia
uma transição, os padres ainda não estavam nos altares completamente de frente
para nós, o latim ainda não havia sido esquecido e um sentimento sisudo e
silencioso do sagrado era acolhido nas igrejas. Sem nenhum saudosismo, apenas
constatando a mudança, a criança percebeu que os novos padres não preservam
aquela aura sagrada em que ela fora criada e ensinada a respeitar. Muda o
mundo, mudam os indivíduos; as catedrais não precisam mais contar histórias nos
seus vitrais e nas suas paredes, substituídas pelo ferro bruto das ondas da
nova mídia. O padre de hoje veste-se como nós, nada o diferencia, seu poder
mítico está soterrado junto com o latim.
Durante
a missa chegaram os easistas de Juiz de Fora, e como o Padre Wilson, que
celebrava ajudado pelos padres José Cláudio e Elione, conclamara-nos a trocar
votos de paz, de repente a igreja se viu envolta em confusão de abraços e votos
que também serviram como efusiva recepção aos que chegaram. A alegria foi
enorme, envolvida pela música que o coral, que acompanhou a missa, entoava.
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Tupy entrevista o Padre Guilherme. |
Comungados
os que tinham fome, insaciados os que não puderam, a missa terminou e o Tupy
requisitou a presença, ali mesmo na capela, do Padre Guilherme para uma
entrevista. As perguntas já haviam sido anteriormente enviadas aos padres de
Belo Horizonte e suas respostas foram lidas, e depois acrescidas com
comentários do padre ali presente. Ficamos sabendo ou fomos relembrados da
história dos crúzios no Brasil: porque vieram, as dificuldades encontradas e a
superação de tudo. Mas essa entrevista será publicada posteriormente aqui neste
blog.
Finda
a entrevista fomos convidados a visitar as obras do convento, ali ao lado da
igreja, onde nos aguardava uma caipirinha e um sol de meio-dia que preocupou os
destelhados, assim como eu, que não têm a proteção natural dos cabelos, pois
era a primeira exposição ao sol primaveril nesta temporada. As obras estão
apenas nas fundações, mas o entusiasmo do Padre Wilson nos mostrava os
dormitórios, a cozinha e todas as dependências futuras do convento. E o Nonato,
que tem na barriga um relógio a vácuo, que dispara um alarme estrondoso quando
sua hora chega, já circulava nervoso pedindo o cumprimento da agenda sagrada do
almoço em atraso.
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Os novos padres crúzios também nos ofereceram um almoço |
Os
novos padres crúzios também nos ofereceram um almoço servido onde antes foram
nossos antigos dormitórios, espaço agora transformado em um salão de eventos do
colégio. Após o almoço o Padre Wilson nos exortou novamente, pois lá em Nova
União já tinha lançado a ideia, a participar no esforço da obra na campanha “Um
milhão de amigos" de colaboradores, apelo que não precisaria ser feito
para lembrar-nos que somos gratos àqueles antigos padres crúzios que nos sustentaram
por alguns anos e nos propiciaram os estudos gratuitos. As camisetas da
campanha foram rapidamente adquiridas pelos presentes.
Tarde
livre, a programação do encontro nos chamava para um jantar em uma churrascaria
nova, recentemente inaugurada. As nossas mesas unidas ocuparam toda a extensão
do local e as conversas animadas distraíam os aborrecimentos causados pelo
churrasco servido; digna de nota, apenas a muçarela, da qual ouvi elogios. Mas
nada é suficiente para causar-nos dissabores quando estamos reunidos; com bom
churrasco ou não, nossa festa está garantida. E a noite também foi se alongando
e retornamos para o hotel quase à meia-noite.
Domingo,
22 de setembro.
O
dia amanhecia com a promessa de um belo passeio a Santana do Jacaré, cidade onde
as turmas mais novas faziam piqueniques e onde os mais antigos passavam parte
de suas largas férias. Porém, como o Seoldo já nos antecedeu com uma crônica
deliciosa sobre a cidade, remeto-vos, aos que ainda não a conhecem, a ela, com
a promessa de boas gargalhadas (crônica publicada neste blog em 2 de agosto de
2013: Férias em Santana do Jacaré); e por aqui vou limitar-me ao nosso passeio.
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Antônio José Ferreira, o Santana, quando anunciava: "Agora
vamos passar por..." (já havia passado -- rs rs rs)
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Saímos
do hotel num ônibus que, se humilhava a jardineira lá de Nova União por seu
porte, não contagiava a todos com a mesma galhardice. Santana, não a cidade,
mas o Antônio José que lhe herdou o nome, foi intimado a se fazer de cicerone.
Ele bem que tentou, mas quando ele anunciava: "agora vamos passar
por...", invariavelmente estava atrasado: "Ah, já passou!". Até
que uma deu certo, quando ele anunciou que íamos passar por uma fazenda de
confinamento de gado que existia no lado esquerdo da estrada. Foi apressado e
com satisfação que o Otávio gritou: "O lado esquerdo é meu". Foi seu
pai quem nos contou que, para distraí-lo nas viagens, eles faziam apostas sobre
quem avistava mais bois, cada um com um lado da estrada.
E
chegamos às margens do Rio Jacaré, que tantas recordações deixaram nos
easistas. O Otávio, para consolar o pai, disse-lhe que contou oito bois no lado
direito da estrada, portanto, o placar deve ter ficado cerca de 299 a 8.
Abriu-se uma porta, a do ônibus também, para uma sessão de fotos com o rio
indiferente posando preguiçosamente ao fundo, mal sabendo que era o personagem
principal de toda a história. Ainda tivemos tempo de perceber que além do saber
cachaceral, o Lua entende também, quem diria, de água, pois nos deu uma aula
sobre a maneira de tirar a areia do rio para desassoreá-lo. E assim os nossos
encontros também nos enchem a cada dia de mais saber e cultura.
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Mãe de Toinzé, Margarida Barbosa Diniz: a graça, a simpatia
e a dignidade estampadas em seus cabelos brancos imaculados.
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Santana
do Jacaré é uma pequena cidade do tipo que o nosso cicerone nos mostrava:
"Vejam ali... Ah! Já passou!", mas, além do rio, conta com uma
família acolhedora que nos recebeu com prazer extremo, apesar do cansaço que
lhe levamos. A primeira acolhida foi da própria mãe do Toinzé: a graça, a
simpatia e a dignidade estampadas nos seus cabelos brancos imaculados. E, aos
poucos, toda a família foi surgindo, a Laura e sua mãe, outro filho, a esposa
Fátima, que por motivo de saúde não comparecera em Campo Belo, irmãos,
sobrinhos e papagaio.
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O Ibama levou os jacarés,
ficaram as miniaturas e o
nome da cidade.
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A
história registra que Santana do Jacaré teve dois jacarés, que o povo da cidade
tratava com as tripas de galinhas, pois das carnes os jacareenses é que se
fartavam, mas, mesmo assim, conta-se que um jacaré comeu a pata do outro, que
ficou manco. Os dois cascudos viviam satisfeitos secando a pele ao sol na beira
do rio até que, num belo dia daqueles em que as autoridades levantam com a
vontade férrea de fazer o bem prevalecer, o Ibama levou os judiados bichinhos
para seu abrigo aconchegante, onde, sem nenhum exagero, os pobres morreram três
dias depois, e, assim, Santana só não perdeu o jacaré do seu nome, mas eles
deixaram muitas lembranças espalhadas pelas paredes da cidade, jacarezinhos em
miniaturas, com hábitos noturnos.
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Mas, como acabam as boas histórias,
a mocinha (Ica) e o mocinho (Ázara)
mostraram a que vieram.
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Ninguém reclamou da demora da banda, o papo ali na praça seguia animado, mas a aflição
do Toinzé foi grande. Se a banda vem... A banda não vem... A banda vem, vamos
ver a banda; se não vem, é porque foi ligeirinha: "Olha a banda! Ih, passou!".
E porque todos estávamos mesmo à toa na praça, a banda passou e chegou; não só
a banda, o terno de congado também. A alegria se espalhou pela praça, e, muito
além da alegria, o baile dançante que o Antônio de Ázara protagonizou: se a Ica
não quer dançar, azar, pois há quem queira; do meio do congado arranjou uma
parceira atrevida e lá se foi a bailar; e quando o congado recomeçou sua
cantoria, enrolou-se no meio das meninas, de mãos dadas, cantando, dançando,
agachando, subindo novamente. Ufa!
Vamos
almoçar que o Nonato tá nervoso com a hora do despertador ultrapassada.
Lá na Pousada do Juca um espetinho pronto já
nos esperava saindo da brasa. O churrasquinho e a cerveja serviram como
antepasto para o almoço que em seguida foi servido. Além da cerveja, surpresa
das surpresas para aqueles meninos que não mediam distâncias para ir buscar
algumas frutas: um balaio cheio de laranjas descansava pachorrento abaixo da
barraquinha dos churrascos. E, mordomia
assim seminarista só poderia encontrar no céu, nem precisava descascar, era só
estender a mão e sair com a gordinha suculenta espremida na boca. São de
gentilezas assim que somos muito gratos à família do Santana.
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Numa decisão regada a cerveja e pinga da cabeça ou
na cabeça, foram definidos o local, Belém, e a coordenação
do VI Encontro: Nonato(4) e Chicão (5) na organização
em Belém; Tupy(2), na qualidade de nativo, assessora na
definição de roteiro turístico; Lua (1) e Shirley (3) buscam,
junto às agências de viagem, um pacote econômico.
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Todos fartos e sem
remorsos, foi hora de passar para a nossa reunião, onde seria decidido o lugar
do próximo encontro. À sugestão da cidade de Belém, colocada desde o encontro
anterior, foi contraposta, pelo Benone, um resort em Angra dos Reis, e o Ázara
sugeriu que fossemos um pouco mais longe, à Belém de Israel, à Terra Santa.
Levantou-se uma discussão pela preocupação com o aspecto financeiro que poderia
impedir a presença de alguns, por outro lado, falou-se também que deveríamos
nos ater aos lugares que tivessem uma ligação com os easistas, o que descartava
Angra dos Reis. Enfim, Belém do Pará foi aprovada quase que por unanimidade,
exceto talvez pelo Ázara que votou pela outra.
Tudo
resolvido, ainda faltava uma tarefa a executar: as fotografias de despedida à
beira do rio, ali mesmo ao fundo da pousada, que levavam também a esperança de
uma delas vencer o próximo concurso de fotos.
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Elas na foto da despedida à beira do rio Jacaré. |
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Eles na foto da despedida à beira do rio Jacaré. |
E
as despedidas começaram por aqueles que dali mesmo retornariam aos seus
lugares, atravessando o espelho de volta ao mundo real. Findas as despedidas e
os agradecimentos a todos os familiares do Santana por nos propiciarem tão
maravilhosa acolhida, voltamos ao ônibus que nos levaria de volta a Campo Belo.
Um pouco mais vazio, o ônibus não manifestava o mesmo entusiasmo que havia na
manhã, embora uns tenham puxado algumas músicas.
À
noite ainda nos encontramos com alguns easistas na praça em frente à matriz, e
depois fomos fazer uma pequena ceia. O Padre Guilherme nos acompanhou junto com
o casal Tupy em um fim de encontro leve, amigo e camarada.
Segunda-feira,
23 de setembro.
Descemos
para o café-da-manhã e encontramos ainda a turma de Belém, bandeirantes tardios
que desbravam este Brasil em busca de nosso ouro: nossa amizade. E que logo
partiram em direção ao Pará. Em seguida fomos nós, o último casal dos easistas
a deixar o Hotel Champagne, apagando as luzes do nosso V Encontro.
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O casal dos easistas que apagou a luz do V Encontro: Siovani e Rosimere. |
Resta-nos
agora decidir como chegar ao nosso VI Encontro, mas, parafraseando o Seoldo, o
melhor seria pegar uma carona na cauda da estrela que brilha solitária lá no
alto do céu da nossa bandeira, que se não é a estrela de Belém, que conduziu os
reis magos, é a estrela que nos conduzirá ao Pará, acima da linha do equador, e
que atraiu os padres crúzios ao Brasil.
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Um trajeto escrito nas estrelas: o mapa da terra e o mapa do céu - curiosa
coincidência (vide texto à direita)
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Há
uma curiosa coincidência que percebi há alguns anos. Quando eu viajava de
Miracema para Campo Belo, eu fazia a viagem em quatro etapas. Saía de Miracema
e ia a Leopoldina, onde almoçava e conheci o Seoldo, o Bessa e o Ázara; dali
seguia para Juiz de Fora, onde dormia; na manhã seguinte partia para Belo
Horizonte, onde, finalmente, pegava o ônibus para Campo Belo. Estas cinco
cidades, todas com a presença dos crúzios, formam num mapa as cinco estrelas do
Cruzeiro do Sul, Campo Belo lá no alto. Observei ainda que os padres crúzios ou
estavam dentro da região do cruzeiro ou nas extremidades do prolongamento do
braço da cruz: Rio de Janeiro, pelo lado esquerdo de Juiz de Fora; Belém, pelo
lado direito de Belo Horizonte. É por tudo isso que o Hamlet se espantava com
os mistérios dos céus.
Até
Belém do Pará.