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A família no aniversário de 3 anos da Laura |
ENTREVISTA COM
O 'MENOR' AINDA: EASISTA ANTÔNIO JOSÉ FERREIRA (SANTANA, TOINZÉ,
IRMÃO MAIS NOVO DE CAIM E ABEL).
1 - Toinzé Santana, como foi que você foi parar lá no Seminário Santa Odília em
Campo Belo? Foi mesmo influência do 'santo' Bessa quando este passava férias lá
em Santana do Jacaré com sua família? Um pequeno resumo cronológico das coisas.
Você continua admirando o ‘santo Bessa’ e rezando ainda, com fervor, para ele?
Ou foi sua irmã Maria que lhe deu alguns beliscões para ir rezar mais?
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Já nasci com isso na cabeça |
Resposta: Parece que eu já nasci com isso na
cabeça. Desde que eu me entendo por gente, pensava em ser padre. Na verdade, eu
queria mesmo era ser papa. Então, para isso, eu tinha que ser padre primeiro.
Lembro-me que eu tinha uns seis ou sete anos e ia muito para a fazenda da
Forquilha, de propriedade de meu tio Toinzinho e tia Ica (irmã de minha
mãe). Às vezes ficava por lá por uma
semana ou mais juntamente com os primos Chico (filho da tia Ica), José Aloísio
(filho da tia Marta, outra irmã de minha mãe) e o tio Fernando (irmão caçula de
minha mãe), pouco mais velho que nós, seus sobrinhos. À noite, a gente se
reunia em volta do fogão de lenha, principalmente nas épocas de frio, para nos
esquentarmos e tomar Toddy com leite quente, era uma delícia. Meu tio Toinzinho
era muito brincalhão e gozador. Ele gostava de tirar sarro de mim com a minha
vontade de ser padre. Então ele virava para mim e dizia: ”você sabe como é que
eles fazem a coroinha do padre (tonsura) que todo padre tem que usar?” Eu
respondia: “não”. E ele continuava: ” é assim, oh ... eles pegam uma latinha de
massa de tomate, tiram o fundo dela e colocam no cocuruto da cabeça do padre,
colocam pólvora dentro e riscam um fósforo; a pólvora pega fogo e queima o
cabelo dentro da latinha, por isso que fica redondinho daquele jeito” ...
Outra gozação que me faziam
quando já era um pouco mais velho, em torno de 8 a 10 anos, era a seguinte:
meus tios mais velhos e solteiros, filhos do meu avô Toniquinho Barbosa, que
acolhia o Antônio Bessa em família quando ele tirava férias, gostavam de
provocar-me dizendo que havia um segredo usado no seminário para manter os
seminaristas quietinhos, e não pensarem em namoradas. O tal segredo (será que
foi o Bessa que contou??) consistia em colocar salitre na comida ... aí os
seminaristas ficavam comportadinhos. Outros rapazes, para assustarem-me, diziam
que a primeira coisa que os padres faziam, assim que todo menino chegava ao
seminário, era mandar castrá-lo para que ele nunca mais saísse de lá ... durma
com um barulho desses!
Apesar disso, eu não mudei de
ideia e continuei firme no meu propósito. Quando terminei o curso primário, em
Santana do Jacaré, decidi ir para Campo Belo.
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Padre João Batista Verkaden |
Quem me influenciou para eu
escolher o Seminário Santa Odília, logicamente, foi o Bessa que estudava lá.
Mas não foi somente por isto. Naquela época, a paróquia da cidade estava aos
cuidados dos Crúzios, tendo como pároco o Padre João Batista Verkaden, e também
os seminaristas crúzios, às vezes, passavam as férias do meio de ano lá em
Santana, como aconteceu no ano de 1958, conforme Crônica do próprio Bessa
publicada aqui no Blog Clique aqui para acessar a crônica.
Certa vez, esses seminaristas
foram ao sítio onde eu morava buscar laranjas. E num dia à tarde, conversei por
um bom tempo com um daqueles seminaristas, sentado em um matacão de pedra perto
do campo de pelada atrás da igreja matriz. Tudo isso me ajudou a decidir pelo
seminário de Campo Belo, aonde cheguei pela primeira vez no final do ano de
1960, acompanhado do José Aloísio (Zé Sapo), que já estudava no Dom Cabral e me
mostrou o caminho. Lá me entrevistei com o Pe. Marino, na época Diretor do
Seminário, que me acolheu muito bem e combinamos a minha apresentação para o início
do ano seguinte. Para isso ele me passou algumas instruções, inclusive o
enxoval necessário e o número que minha mãe deveria colocar nas roupas para não
misturar com as de outros seminaristas.
Respondendo ainda sua pergunta:
sim, continuo admirando o Bessa, embora ainda não tenha pedido sua intercessão.
Quem sabe, seja o caso de fazermos isso. Pode ser que ele nos socorra de uma
forma milagrosa e aí poderemos ter pelo menos dois milagres comprovados que
possam servir para sua santificação.
Não, a Maria, minha irmã mais
nova, nem a primeira irmã, a Lúcia, precisaram dar-me beliscões para rezar
mais. Naquela época eu era muito rezador e morria de medo de ir para o inferno,
embora não deixasse nunca de cometer os meus pecados. Ainda bem que depois o
Pe. João me perdoava nas confissões, se bem que alguns pecados eu escondia, de
vergonha.
Por falar na irmã Lúcia, tenho
uma estória sobre ela. Quando ainda íamos a pé do sítio para a escola, em
Santana do Jacaré, fazíamos um percurso de 3 km e gastávamos aproximadamente
uma hora de caminhada, uma vez que as nossas pernas eram ainda muito curtinhas.
Num determinado dia, estávamos voltando da aula, com muita fome antes do
almoço. De repente, na saída da cidade para perto de nós um veículo, tipo baú,
daqueles muito usados naquela época para transporte de mercadorias, e o
motorista nos oferece uma carona. Aqui eu faço um pequeno parêntese para
explicar algo para facilitar o entendimento daquilo que aconteceu em seguida.
Entre nós meninos de roça havia muitas conversas assustadoras de lobisomem,
mula sem cabeça, fantasmas, etc.. Entre essas, existia uma sobre os tais
veículos com carroceria fechada, que dizia que dentro daquele baú existia um moedor grande para moer crianças que os motoristas pegavam nas estradas e a
carne delas era usada para fazer salame. Aí vocês podem imaginar o que rodou em
minha cabeça na mesma hora. Assim que o motorista parou e abriu a porta do
passageiro, convidando-nos para entrar, a Lúcia imediatamente foi pondo os pés
no estribo da porta.
Eu a puxei rapidamente para trás, recusando a carona e
dizendo que preferíamos ir a pé. O motorista não entendeu aquela recusa e
continuou insistindo, e, por fim, vendo que eu não iria mesmo, ele falou:
“então, deixa só a menina vir”, ao que, imediatamente, atalhei, segurando o
braço dela: “não, ela também não vai não”. O motorista desistiu e foi embora.
Nós seguimos a pé e a Lúcia foi lamentando o tempo todo a carona perdida.
2 - Lembro-me de
que você era um 'menor' calmo, de voz rouca, observador e que evitava confrontos
nas 'peladas' e nos jogos de botão e pingue-pongue (ou Ping-Pong), etc... Você
chegou a brigar mesmo e discutir firme com outros 'menores/maiores' por algum
maltrato ou por tentarem roubar aquele seu famoso BONÉ que o fazia parecer um
irmão da dupla Caim/Abel do Velho Testamento?
Resposta: não sei o porquê dessa
semelhança Caim/Abel (estou intrigado; espero que você me explique isso nos
comentários). Realmente eu era muito quietinho mesmo, mas era de medo. Eu era
muito medroso, aliás, ainda sou. Eu tinha muito medo de brigar, de apanhar.
Medo de assombração, lobisomem, mula sem cabeça. Eu era um jacu da roça, que
caiu no meio daqueles meninos da cidade, muitos de Belorzonte, Ridjanêro,
Belempará, Jusdifora.
Não sei como nem por qual motivo,
logo nos inícios de minha estada no seminário, numa daquelas peladas de toda
tarde eu me entestei com o Zé Aguinaldo, mas parece que ele me deu uns tabefes
e eu acabei afinando. Só sei que um dia ou dois depois daquilo, o Zé Sapo e o
Fernando, meu tio que também era aluno do Dom Cabral, ficaram sabendo do
acontecido e me procuraram. Aí, eles me disseram: “fala quem foi que te bateu
que nós vamos pegar e dar uma coça nele”. Então eu retruquei: “não foi nada não
... eu é que fiquei com dó dele e não quis bater muito nele”. Não sei se eu
falei aquilo com pena dele ou de medo ... vamos que ele apanhasse dos meus
parentes e depois me pegasse de novo sozinho no seminário e me desse outros
tapas... e a parentela dele (de Senhora de Oliveira) lá no seminário ... achei
melhor curtir meu couro calado.
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Autor muito lido no seminário |
Depois de uns três ou quatro
anos, acho que resolvi descontar no Zé Márcio, o Cebolinha. Isso já foi no
campo de treino (gramado). Também não lembro o motivo porque saímos “no tapa”.
Verdade que o Cebolinha era menor e mais franzino que eu, mas com medo de
apanhar novamente, que seria uma vergonha para mim, parti com disposição para
cima dele e lhe desferi um murro certeiro, que o atingiu bem num dos olhos. De
susto, ele parou e eu me arrependi na mesma hora, pois todo mundo correu para o
lado dele e logo o olho dele começou a ficar roxo, e assim ele ficou por mais
de uma semana, coitado. Acho que no mesmo dia pedi-lhe perdão e ele, muito
generosamente, perdoou-me de coração. Mas eu não podia olhar para o olho dele,
que eu ficava mortificado. Começaram a me chamar de Effendi, aquele personagem
dos livros de Karl May (autor muito lido no seminário), que era conhecido por
seu punho e mão de ferro, e eu ficava entre envaidecido e arrependido.
Por causa de meu boné, não me
lembro de ter brigado. Mas parece que você sabia ou andou pesquisando essas
estórias, porque sua pergunta, nesse sentido, foi muito direta e bem no alvo.
3 - Quais suas lembranças mais marcantes do
seminário e como você via e aceitava a rotina diária: dormir/rezar/comer/estudar/brincar?
Faltava-lhe alguma coisa? Quem foram seus dois vizinhos de dormitório? Qual foi
seu número? Você chegou a conversar baixinho com o travesseiro? Qual a sua
refeição favorita: aquela feita pela Dona Luca ou a da Dona Mariazinha? Você
também cantava o 'Coração Santo' quando subia a rampa para o dormitório ou para
a capela?
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As lembranças dos passeios - foto de 1962 |
Resposta: Quando eu fecho os
olhos e penso o que mais me marcou no seminário, veem-me as lembranças dos
passeios que de vez em quando fazíamos aos rios e cachoeiras próximos do
seminário, como o rio Jacaré e o rio da usina hidrelétrica de Candeias. Como eu
gostava das viagens nos caminhões, tipo pau de arara, e a chegada aos rios,
onde se nadava e pescava! As primeiras coisas que fazíamos era descer as
panelas com o almoço e os engradados de Lilabá (refrigerante à base de limão,
laranja e abacaxi), que eram colocados dentro d’água para refrigerar. Depois
íamos nadar e brincar na água até cansar. Na hora do almoço, fazíamos uma fila
para pegar o rango e o refrigerante. Parecia que não existia nada mais gostoso
que aquela refeição.
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Visita do Padre Provincial em 1963 |
Outra lembrança marcante que eu
tenho do seminário, já que você me qualificou de observador na pergunta
anterior, é a seguinte: no meu primeiro semestre no seminário houve um encontro
no Colégio Dom Cabral com vários padres da Ordem da Santa Cruz, com a presença
do Provincial da época no Brasil, o Pe. Arnaldo. Não sei bem o motivo desse
encontro, pois ainda me encontrava muito por fora de tudo que ia além de nossa
rotina diária, mas parece que tinha relação com a construção de uma nova ala no
prédio do colégio, especificamente para atender as necessidades do seminário,
que se encontrava em expansão com o aumento do número de seminaristas. Uma
noite, estávamos na sala de recreio, quando chegou o Pe. Jerônimo acompanhado
do Provincial. A entrada do Provincial chamou a atenção de todos na sala e,
logo após os cumprimentos, o Padre Jerônimo falou que o Padre Arnaldo iria fazer
uma mágica e todos ficaram mais atentos e curiosos. Então o Pe. Arnaldo começou
a solicitar alguns objetos pequenos de metal. Alguém entregou uma roldana de
cortina e ele examinou cuidadosamente a roldana, parece que medindo o tamanho.
Depois enfiou a mão direita com o objeto naquele bolso enorme de sua batina e
solicitou outro objeto. Algum dos padres presentes lhe estendeu um anel. Ele
pegou o anel, virou-o de um lado para outro, achando-o um pouco grande, mas o
enfiou dentro do bolso com a mão. Tirou a mão do bolso, fez um pouco de
suspense e tornou a enfiar a mão no bolso, retirando de lá uma sacola de pano
amarrada pela boca. Ele desfez as amarras e de dentro da sacola retirou uma
caixa de madeira, também amarrada. Abrindo-se a caixa, deparamos com uma nova
sacola de pano, também amarrada. Não me lembro quantas sacolas e caixinhas
foram abertas, em sequência, até que finalmente apareceu a última caixinha de
madeira, que quando aberta apresentou lá dentro a roldana de cortina e o anel.
Ele entregou o anel a seu dono e a roldana a um dos seminaristas e,
rapidamente, juntou todos os apetrechos da mágica e enfiou-os no bolso. Todos
ficaram admirados e curiosos e querendo saber como ele fizera aquilo. Como de
praxe, o mágico não contou seu segredo. Naquela noite, eu fui pra cama com
aquela mágica remoendo na minha cabeça e não dormi logo. Virava e revirava na
cama e a resposta não vinha. Foi quando me veio à memória que o Padre Jerônimo
dera uma pista dizendo que o truque estava nas amarras, aí então, lembrei-me de
um estalido que eu ouvira antes do Pe. Arnaldo tirar a mão do bolso e fazer
aquele suspense. Nesse momento matei a charada e consegui dormir. No dia
seguinte, assim que encontrei o Pe. Jerônimo fui logo dizendo: “padre, descobri
o segredo da mágica; o Provincial tem um canudo de madeira por onde ele passa
os objetos desde a abertura da primeira sacola até a última caixinha e tudo é
amarrado com elástico. Por isso deu aquele estalinho quando ele retirou o
canudo”. Ele me olhou e riu, mas não entregou a mão à palmatória. Depois desse
dia, os padres me viam com outros olhos e eu já não era mais tão jacu para
eles.
Da rotina diária, lembro-me das
horas de estudo noturnas, onde o padre responsável quase sempre era o Pe.Lucas, que continuamente fumava o seu charuto; de como a gente sempre dava um
jeito de ler um livro ou uma enciclopédia para passar o tempo.
Faltava-me alguma coisa? Eis aí
uma pergunta difícil de responder. Para um menino vindo da roça, acostumado no
isolamento, aquele ambiente animado e cheio de novidades era tudo que eu
queria. Então eu não pensava em falta, no entanto, apesar de tudo, eu sentia
uma angústia que eu não sabia exprimir e me deixava inquieto. Parecia uma
necessidade de realizar algo que até hoje sinto.
Lembro-me de dois vizinhos no
dormitório novo: o Ildeu e o Tião Rocha. No dormitório velho, não me lembro bem.
Meu número era 1(um). O portador desse número havia deixado o seminário pouco
tempo antes de eu chegar.
Conversar baixinho com o
travesseiro, não me alembro, mas chorar no travesseiro, devo ter chorado
algumas vezes.
Eu não sabia diferenciar a comida
de uma cozinheira da outra. Parece que havia uma diferença da comida que vinha
para nossa mesa e aquela que ia para a mesa dos padres. Em relação a nossa
comida, eu gostava quando serviam carne de porco, provavelmente pernil, que
vinha com uma gordurinha branca por cima. Eu lambia os beiços!
Não me lembro de cantar o
“Coração Santo” subindo a rampa. Isto deve ser do tempo mais antigo ao meu.
Lembro-me de subir a rampa depois das peladas ou dos treinos de futebol para o
banho, com todo mundo suado e uma catinga de “suvaco” danada. Era dose para
elefante!
4 - Depois da sua saída, que aconteceu com relação
a sua educação? Andou fazendo muitas farras? Namorou muito? Continuou rezando?
Como foi seu encontro com sua esposa Fátima? Ambos caçando borboletas no jardim
da praça?
Resposta: saí do seminário no
final de 1967, tendo já cursado o 2º Científico (hoje: 6ª série do 2º Ciclo).
Como era pensamento do Pe. Justino, o aluno deveria fazer o 3º Científico em
colégio próximo à universidade onde pretendia prestar vestibular para se
adequar melhor às características de cada vestibular. Todavia o Pe. Justino
tinha uma queda para a área agrícola e, naquela época, ele indicava aos alunos
interessados nessa área que se dirigissem a Viçosa, onde existia uma famosa
escola agrícola, a UREMG, hoje UFV.
Meio sem rumo na vida, decidi ir
para Viçosa, pois lá também tinha acabado de se formar em Engenharia Florestal
meu tio Sessé e, um outro primo, o Morelinho, lá ainda se encontrava fazendo o
mesmo curso. Então eu fiz o Colégio Universitário (COLUNI) e prestei vestibular
para Agronomia, completando esses estudos ao final de 1972.
Farras? Não, não tinha jeito para
isso. Quando eu estava no seminário, fiquei muito doutrinado em meu jeito de
agir, e, em ambiente fora do seminário, eu me sentia meio deslocado e acabava
agindo feito um “santinho”: sentia-me comprometido em rezar muito e não gostava
de falar, fazer ou pensar em “bobagens” (sacanagens, indecências). Então desde
as primeiras férias no seminário, fiquei marcado como aquele menino perto de
quem não se falava besteiras nem piadas indecentes, etc, e logo fui recebendo o
apelido de padre (até hoje alguns amigos ainda me tratam por esse apelido).
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As meninas de Santana, todas me viam como padre e pareciam
fugir de mim
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Quando deixei o seminário, a
minha vida ficou difícil. Eu me sentia desajustado. Por isso não conseguia
arranjar namoradas. As meninas de Santana, todas me viam como padre e pareciam
fugir de mim, pelo menos, essa era a minha impressão. Ainda rezava, mas já não
com a mesma frequência. A vontade era descambar para a gandaia, mas realmente
eu não levava jeito e, ainda, o medo do inferno me atormentava.
Para complicar a situação, logo
que saí tive que prestar o serviço militar, do qual pelejei para escapar, mas
não teve jeito. No final, foi bom porque me ajudou a tirar a indumentária de
seminarista. Assim, comecei o Tiro de Guerra em Campo Belo no início de 1969 e
depois consegui transferência para Viçosa, onde continuaria estudando e fazendo
o tiro. Foi difícil levar as duas tarefas adiante, mas como a gente tinha uma
boa base de estudos desde o “Dom Cabral”, consegui dar conta das duas coisas.
Como já disse, eu não conseguia
arranjar namoradas. Eu tinha medo de aproximar-me de uma moça e ser rejeitado.
Normalmente eu só conseguia aproximar-me das meninas nos famosos bailes e,
assim mesmo, tomando umas e outras doses de cerveja ou da “marvada”. Quase
sempre levava um “toco”, mas aí não ligava muito, pois já estava “meio alto”.
Como dizia o humorista: “passa a régua”.
Em 1970, quando o Brasil ganhou o
tricampeonato de futebol no México, todo mundo saiu à rua para comemorar. Era
período de aula e eu estava em Viçosa e, lá, a concentração foi na praça
principal, onde era costume as pessoas ficarem dando voltas. Era de noite e
todo mundo já estava num fogo só. De repente, eu olho de lado e vejo uma linda
garota. Ela olhou para mim e sorriu. Eu fiquei mais animado, sorri também e
dei-lhe o braço. Ela aceitou e continuamos dando voltas na praça. Resumindo:
continuamos juntos até por volta da meia noite quando fui deixá-la em casa.
Nessa altura, a brasa já tinha diminuído e eu não estava mais tão eufórico.
Mesmo assim, voltei todo animado para casa, pensando ... dessa vez eu “ me
aprumei”. Acontece que alguns dos meus colegas viram a cena e, nos dias
seguintes, como numa pescaria ficaram incentivando-me a continuar lutando para
trazer o peixe para o balaio. Mas o meu medo costumeiro voltara e eu não
conseguia mais falar com a menina. Tentava telefonar e só gaguejava. No final
das contas o peixe me escapou totalmente. A conversa foi parar no ouvido do EvaldoVilela, outro primo meu de Campo Belo, que depois se tornou professor e chegou
a reitor da UFV. Na ocasião, parece que ele viu o acontecido e como também não
colocava muita fé em mim, comentou numa roda de amigos: “Também uma menina
daquelas, pro Tonho, só de tri em tri”.
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Fátima e Antônio José, em 1971.
E assim perdemos o primeiro papa
brasileiro.
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Fátima e Antônio José, em 2015, 44 motivos para um brinde. |
Você me pergunta como encontrei a
Fátima e eu respondo: não sei, parece que foi ela que me encontrou primeiro.
Acho que foi em 1971. Era período de férias e eu estava em Santana. Havia um
baile marcado para o final de semana, não me lembro se era uma sexta ou um
sábado. No final da tarde, o meu tio Fernando, aquele mesmo que quisera bater
no Zé Aguinaldo lá no seminário e agora se tornara meu parceiro nas paqueras,
chegou pra mim e disse: “Padre cê viu quem chegou para o baile?” Eu respondi:
“não ... quem”? E ele: “as meninas de Lavras”.
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De vez em quando apareciam em Santana umas meninas
de Lavras e era um reboliço. |
De vez em quando apareciam em
Santana umas meninas de Lavras e era um reboliço entre os rapazes da cidade. O
Torresmo, esse era o apelido do tio Fernando, já havia paquerado umas duas em
ocasiões diferentes. Então, eu perguntei: “é aquela loira?” E ele: “não, é uma
morena”. Então falei: “ah, é aquela com quem você ficou da outra vez”? Ele
respondeu: “não, é a irmã dela” e eu retruquei: “mas ela é muito nova!” e ele:
“ela cresceu e encorpou ... tá um tiro”. Bom, pensei comigo, mas sem comentar
com ele: “se é a tal, deve ser aquela com quem eu dancei uma vez lá na casa do
Escrivão”. “Bem que ela não me enjeitou como essas meninas de Santana, mas era
muito novinha... vamos ver como ela vai estar agora”. Com esses pensamentos na
cabeça, já fui mais animado para o baile. Tomei umas e outras e parti cedo para
o clube para chegar antes do Torresmo e de outros espertinhos. Lá chegando,
dentro de pouco, o conjunto musical começou a tocar e a pista de dança foi enchendo-se
de pares dançantes. De repente, no meio das moças eu vejo a morena de Lavras.
Reparei que ela estava mesmo mais dotada fisicamente e resolvi arriscar-me.
Caminhei para o lado dela e a convidei para dançar, entre afoito e temeroso.
Ela aceitou numa boa e eu fiquei um pouco aliviado. Dançamos e conversamos por
algum tempo e quando a música parou, ela permaneceu do meu lado sem arredar-se.
Já fiquei mais animado. Final da história: ficamos juntos até o final do baile,
então eu perguntei se podia deixá-la em casa e, como ela estivesse de acordo, dirigimo-nos para a saída do clube, acotovelando-nos no meio das pessoas que
também saíam. Foi quando eu escutei de um rapaz que fazia pouco de mim
cochichando com outro: “olha só o mulherão que o Padre arrumou (naturalmente o
mulherão não era pelo seu tamanho, mas sim pelos seus atributos)”.
Aí eu pensei: “agora que eu não a solto
mais”. Mais tarde, com o passar dos
anos, fui percebendo que seus atributos não eram somente físicos, e que a Fátima era uma moça com valores humanos e morais que me fizeram, ao final,
esquecer-me de virar papa.
5 -
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Fátima, Flaviane, Sávio, Laura
e Lucas nos EUA,, em Orlando ,
out/2015 |
Você/Família andaram fazendo viagens no
exterior. Alguns comentários e observações. Muita coisa diferente? Mineiro
no exterior não pode ficar de cócoras, não é verdade? Você perguntou à Fatima qual a diferença
entre Nova Iorque e Santana do Jacaré?
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Em frente da Igreja de Madeleine, em Paris. |
Resposta: Não entendi bem o lance
de mineiro não poder ficar de cócoras, mas imagino que seja porque no exterior
ele não vai ter um cigarro de palha pra fazer nem vai encontrar facilmente o
“cumpadre” caipira pra bater um dedo de prosa, enquanto pita o seu “paiêro”.
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Fátima em frente da Louis
Vuitton
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Antônio José, em Orlando, foto de 1978 |
Até que não fizemos muitas
viagens para o exterior. Eu viajei uma vez a serviço do extinto IBC (Instituto
Brasileiro do Café) para a Jamaica com passagem por Miami e Orlando nos EUA,
junto com outro colega do IBC (comentários mais abaixo). Em 2011, viajei com a
Fátima para a Holanda, onde ela fez alguns cursos e treinamentos em design
floral. Na oportunidade fizemos um périplo por Dublin na Irlanda, Liverpool na
Inglaterra e Paris, no caminho de volta para o Brasil. As nossas passagens pela Holanda Irlanda e
Liverpool )
estão registradas em publicações no Blog dos
Encontristas, de forma que não pretendo fazer nesta entrevista maiores
comentários a esse respeito. Quem se interessar por mais detalhes pode acessar clicando aqui.
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Fátima na frente da Galeries Lafayette |
Quero acrescentar apenas que o Luiz Alfenas, um dos nossos editores, cobrou-me uma publicação da nossa passagem (minha e da Fátima) por
Paris. Decidi não fazer a postagem porque ficamos muito pouco tempo (três dias)
em Paris (Fotos) e praticamente não vimos nada de Paris. No pouco tempo que
ficamos por lá, a Fátima me arrastou para as Galeries Lafayette da Boulevard
Haussmann e outras lojas famosas da
Avenue des Champs-Élysées como a Louis Vuitton, Boutique Nespresso,
etc., onde ela passava horas e horas somente admirando as vitrines, porque o
dinheiro para compras, este mesmo, estava curto. Ainda bem que conseguimos
visitar o Arco do Triunfo, a Torre Eiffel e passeamos ao longo do Rio Senna e
atravessamos a ponte dos cadeados (Pont des Arts, cujos cadeados hoje são
proibidos), próximo ao museu do Louvre, onde não entramos. Ir a Paris e não
entrar no museu do Louvre nem na Catedral de Notre-
Dame é o mesmo que não ir a
Paris, por isso achei melhor não fazer a postagem específica da cidade
luminosa. Preferi deixar para outra ocasião, se houver.
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dações feitas pelos Sr. Ferreira e Swarça
no combate à broca do café. (clique para ver
os detalhes)
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Quanto à viagem à Jamaica, em
1978, foi uma viagem a trabalho, onde eu e o colega Luiz Carlos M. Swarça do
IBC de Londrina representamos o governo brasileiro em missão de apoio ao
Ministério de Agricultura da Jamaica após a introdução casual da broca-do-café
na ilha, acarretando sérios prejuízos à cafeicultura local. Passamos uma semana
visitando as regiões cafeeiras e conhecendo suas particularidades de produção
de café, como o especialíssimo Jamaica Blue Mountain Coffee, cultivado nas
regiões montanhosas de Blue Mountain, preparado e embalado nas indústrias do
Coffee Industry Board of Jamaica (80% da produção exportada para o Japão). Das
sementes deste café se prepara o também delicioso licor de café Tia Maria,
mundialmente reconhecido.
Já a Fátima viajou neste ano para
os Estados Unidos, em companhia de nossa filha Flaviane, seu esposo Sávio e as
crianças Laura e Lucas, por ocasião da visita do Papa Francisco ao país.
Fizeram um roteiro extenso durante 17 dias, cruzando os céus americanos de sul
a oeste e depois leste, passando por Miami, Los Angeles, Nova York, Filadélfia,
Orlando e retornando ao Brasil, novamente por Miami.
Fiz a pergunta à Fátima, que você
me sugeriu, e ela respondeu: “em Nova York a gente olha pra cima e só vê
arranha-céu e em Santana, a gente só vê céu”.
6 - Por fim, fale algo sobre sua filha
Camila, que sempre está alegre presente nos nossos Encontros... também
sobre outros filhos(as) , netos(as). E, também, sobre as atividades
da Fátima, que vive promovendo casamentos aí em Lavras.
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Camila e sua inseparável
companhia, a Safira. Ao fundo
a vó Gaída. |
Resposta: realmente a minha filha Camila gosta muito dos nossos
encontros, dos quais ela prefere participar de seu jeito característico: estar
presente, mas nem sempre participando de todos os acontecimentos. Ela se
satisfaz em encontrar e bater um papo com as amigas que ela conheceu nos
primeiros encontros como a Dita, a Nazaré, a Marina, esposa do Tupy, a Judith e outras; e, no resto do tempo, recolhida em seu canto
apreciando os seus cigarrinhos. Assim também como aqui em casa, onde ela
prefere ficar no seu quarto e nem sempre participa dos acontecimentos e festas
de família. É o seu jeito de ser que nós respeitamos e a gente apenas lamenta
que em muitas fotos de família ela não aparece porque não estava presente ao
acontecido.
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Paulo Henrique, Natália e Antônio
Henrique
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Flaviana, Sávio e as crianças,
Lucas (1) e Laura (6) |
Temos dois filhos casados: o médico Paulo Henrique, casado com a Natália, estudante de Odontologia, que
nos deram um netinho, o Antônio Henrique (9 anos), e que residem em Lavras; e a Flaviane, assistente social, que eu já
citei, casada com o engenheiro agrônomo Sávio; e
que moram em Ponta Grossa – PR, juntamente com nossos dois outros netinhos, a
Laura (6 anos) e o Lucas (1 aninho).
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Amanda e Junior |
Temos também o filho caçula Júnior (Antônio José), formado em Educação
Física, que trabalha na Aeronáutica em Pirassununga, e ainda não se casou, mas
está de namoro com a Amanda, engenheira de alimentos, que trabalha na empresa Jeito Caseiro de Lavras.
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Decoração da Fátima no Clube
Camuá, Lavras (Out 2015) |
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Decoração da Fátima no Clube
Camuá, Lavras (Out 2015) - detalhe |
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Design floral da Fátima |
Como você me
pergunta, a
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Foto de outra decoração da Fátima |
Fátima trabalha há uns 20 anos como design floral fazendo
decorações em eventos e festas. Ela é apaixonada pelo seu trabalho e é capaz de
passar noites e madrugadas nos fins de semana executando a sua arte. Como diz o
ditado: “uma imagem vale mais que mil palavras”. Dessa forma, prefiro
apresentar algumas fotos de seu trabalho artístico para vocês verem se eu não
tenho razão de estar gabando-me e todo orgulhoso de sua capacidade.
7 - Qual a sua visão do Brasil de amanhã?
Resposta: Excelente pergunta, todavia de difícil resposta e para
respondê-la corretamente eu precisaria escrever um livro de, pelo menos, umas
200 páginas. Todavia, vou tentar ser sucinto.
Desde o nosso tempo de seminário ouço dizer: o Brasil é o país do
futuro. E lá se vão mais de 50 anos e parece que esse futuro nunca chega. No
entanto, de fato o Brasil era e continua sendo o país do futuro e já
reconhecido mundialmente como uma potência global, senão vejamos:
a)
Posição do Brasil no panorama mundial: 5º maior país em extensão territorial;
5º em população; 7ª economia mundial (PIB-2014).
b)
O Brasil é um dos líderes mundiais na
produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o primeiro produtor e
exportador de café, açúcar, etanol de cana-de-açúcar e suco de laranja. Além
disso, lidera o ranking das vendas externas do complexo da soja (farelo, óleo e
grão) e tem o maior rebanho bovino comercial do mundo.
c)
Atualmente, o Brasil é 13º em reserva
e 12º em produção de petróleo no mundo. Levando em conta as estimativas
conservadoras, que apontam que o pré-sal possui reservas da ordem de pelo menos
60 bilhões de barris de petróleo, o país tem chances de entrar para a lista das
10 maiores potências petrolíferas até 2030, ultrapassando Estados Unidos e
Líbia.
d)
O Brasil tem uma participação importante no cenário
mundial de reservas minerais. O Brasil é possuidor das maiores reservas de
nióbio (98,2%), barita (53,3%) e grafita natural (50,7%) em relação ao resto do
mundo. O país se destaca também por suas reservas de tântalo (36,3%) e terras raras
(16,1%), ocupando a posição de segundo maior detentor destes bens minerais. Os
minérios de níquel, estanho e ferro também apresentaram participação
significativa de valores de reserva a nível mundial.
e)
O Brasil possui a maior reserva
mundial de água doce e tem o
maior potencial hídrico da Terra;
aproximadamente 13% de toda água doce do planeta encontra-se em seu território.
f)
Segunda maior reserva florestal do
mundo, atrás apenas da Rússia. No entanto o Brasil possui a maior cobertura de
florestas tropicais do mundo, especialmente concentrada na Região Amazônica.
Por esta razão, aliada ao fato de sua extensão territorial, diversidade
geográfica e climática, nosso país abriga uma imensa diversidade biológica, o
que faz dele o principal entre os países detentores de megadiversidade do
Planeta, possuindo entre 15% a 20% das 1,5 milhão de espécies descritas na
Terra. Possui a flora mais rica do mundo, em torno de 55 mil espécies de
plantas superiores (aproximadamente 22% do total mundial); 524 espécies de mamíferos,
1.677 de aves, 517 de anfíbios e 2.657 de peixes.
Vou parar por aqui com esses dados
estatísticos porque senão esta entrevista vai se alongar além de seus objetivos
estabelecidos e nem todo o mundo tem paciência e tempo para debruçar-se sobre
tantos números.
Então, vem outra pergunta: por que
com tanta riqueza e tamanho potencial o Brasil vive num drama que parece que
vai afundar de uma vez?
Realmente é difícil de entender e eu
já me fiz esta pergunta várias vezes. Eu sou otimista e esperançoso e confio
naquela frase: “o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro”. Mas no momento
estou um pouco temeroso. Penso que o futuro do Brasil depende do resultado dessa
briga de cachorros grandes que se está travando atualmente: de um lado um
governo progressista, comandado por uma mulher valente, corajosa e honesta, que
externamente peitou o governo americano na questão das espionagens e na criação
do grupo dos BRICS, mas internamente se encontra fragilizada pela falta de
apoio político e pela pesada campanha da mídia, e, do outro lado, uma oposição
conservadora aliada a grupos
Direitistas radicais (ambos apoiados
por grandes empresas americanas e outras multinacionais interessadas em
apropriar-se de nossas riquezas)
que não reconhecem a derrota nas
urnas e querem a todo custo destituí-la, mesmo que este custo seja implodir o
nosso país. Acho que esse confronto iniciou-se mais ou menos dois anos antes
das últimas eleições e culminou com a declaração da presidente durante a
campanha eleitoral ao manifestar a sua decisão de combater a corrupção,
desmontando pedra sobre pedra, doa a quem doer. Esta firme decisão contribuiu
para que se reunissem do outro lado todos aqueles com o “rabo preso” temerosos
das consequências desta firme determinação, se levada a termo. Isto a enfraqueceu
ainda mais politicamente, porque entre os de “rabo preso” existem grupos de
mídia, da oposição, do judiciário, do ministério público e do próprio governo e
aliados, e só Deus sabe o resultado final desse embate.
8- Lulu: Vai mais
uma pergunta para o Santana: você participou na organização de dois Encontros,
o que você recomendaria para aqueles que vão organizar os próximos? O que não
pode faltar para o sucesso de um Encontro?
Resposta: Penso que os organizadores
do próximo encontro, tendo à frente o Lulu e o Edgard, têm uma grande
experiência na organização de eventos desse tipo e acredito que o encontro em
Senhora de Oliveira será um grande sucesso, superando todos os anteriores. O
que eu posso recomendar é que depois de tudo programado, mais ou menos uma
semana antes do encontro, chequem tudo, para que não ocorram imprevistos de
última hora, como por exemplo, a banda não aparecer, faltar água durante as
viagens, entrar no cemitério para preencher o tempo enquanto a banda não vem,
etc..
9-
Siovani: O meio
acadêmico, ou boa parte dele, ainda tem sido um baluarte na sustentação do PT e
do governo Dilma. O que você tem a dizer-nos sobre o assunto?
Resposta: concordo com você neste ponto e
acrescento que isto se deve em grande parte ao grande esforço que o Lula fez em
seus dois períodos de governo para dar sustentação às universidades e
institutos federais de educação e a Dilma tem dado continuação, criando-se
nesses dois governos do PT várias novas universidades e escolas técnicas, como
também o Prouni e o Ciências sem fronteiras. Tudo isso, somado ao descalabro
que existia nas universidades anteriormente no governo FHC, era de esperar-se
que houvesse um apoio maior no meio acadêmico às políticas do governo Dilma,
todavia não é o que se observa e existem muitas resistências. Acho que isto se
deve à campanha pesada de desmoralização que a mídia faz contra o PT, Lula e
Dilma com interesses escusos. E olha que eu não sou petista de carteirinha,
apenas simpatizante porque me identifico com seus propósitos de justiça,
igualdade, patriotismo, democracia, liberdade, fraternidade e
constitucionalidade, apesar de lamentar alguns erros e fracassos.
Entrevistador: Seoldo
Revisão: Siovani
Edição: Lulu