Por Siovani
Foto oficial do VIII Encontro - clique nas fotos para ampliá-las. Ao abrir em outro link, elas ficarão ainda maiores |
Tivemos a falta de
cerimônia de tomar estas palavras que o Edgard escreveu, sem lhe pedir
permissão, para dizer-lhe que realmente a Santa não ficou com a chave, pois naqueles
dias que ali estivemos apossamo-nos dela com grande avidez, não por descortesia
com a Senhora da Oliveira, mas pelo amor, que também refletimos no espelho de
pura amizade, que nos foi dado por essa família da terrinha que nos recebeu. Sodiga,
acreditamos sem a menor possibilidade de dúvida, sentiu-se pela segunda vez
abençoado pela Santa ao ver os gestos incansáveis de seus filhos para cumularem
de carinho os meninos easistas.
Chegamos em Senhora de
Oliveira na quinta-feira, vinte e dois de setembro, para desfrutarmos um pouco
mais do que esperávamos seriam momentos de muita paz e alegria. Logo ao
chegarmos, um pouco confusos por não enxergarmos a Igreja Matriz, paramos no
posto de gasolina para obter as informações necessárias, e ao perguntarmos a um
solícito funcionário:
- Sabe nos informar
onde mora o Edgard...
E antes que
completássemos, ele já abreviou:
- Alfenas?
Cátia Resort |
Na
história do município, na primeira eleição para prefeito, foi eleito Sodiga,
após sua brava luta para conseguir a emancipação da cidade. Podemos apreender o
carinho e a gratidão que lhe dedicava o povo oliveirense por esta simples
poesia que circulou naquela ocasião:
A
chave desta cidade
Por
Sodiga vos foi entregue
Por
isto entregai-o à Prefeitura
É
os pobres que vos pede
Padre Luiz Miguel de Souza na frente da gruta da casa do Edgard |
Local onde repousam os restos
mortais de Monsenhor José Justiniano
Teixeira ao lado de seu memorial.
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À noite, as bandeiras vermelhas e azuis dos
dois candidatos enfrentam um combate
apaixonado sob os sons que também
disputam a primazia
|
Sexta-feira,
23 de setembro.de 2016
Após
mais um ano passado em preparações e ansiedade, enfim chegamos na Pousada Roda D´água
para o início do nosso VIII Encontro.
Em
um canto rústico, mesas alinhadas ao lado da dita roda d´água e de um pilão bem
preguiçoso, os easistas chegavam acompanhados de suas caras companheiras e,
desta vez, de diversos filhos que nos brindaram com suas presenças.
Pouco
a pouco ia confirmando-se a pesarosa ausência de alguns que sempre estiveram
presentes nos Encontros anteriores, mas também a surpresa de ver surgir algum
que não se fizera anunciar previamente, como o Olímpio, recebido com muita
alegria.
50
anos passados, rever nosso contemporâneo, o Canhão, vulgo José de Lourdes
Oliveira, foi uma emoção especial. O tempo lhe arranhou o corpo, mas não lhe conseguiu
tirar o bom humor. Depois do primeiro encontro, desaparecidos, os irmãos Ildeu
e Joaquim voltaram ao rebanho contribuindo mais um pouco pelas nossas lembranças.
Como cerimônia oficial de abertura do VIII Encontro, como previsto no programa, o Rafael, nosso dedicado coordenador, pediu uma pausa das bocas de todos para que fizéssemos a Oração de abertura. Um pouco depois, leu a mensagem que o Seoldo e a Judite nos enviaram, mas, para desfrutarmos um pouco mais da irreverência e graça do Seoldo, peço licença ao Rafael para transcrever também o texto do email:
Um arcanjo me enganou. Mandei isso para que o
Santana abrisse a boca lá no Encontro saudando a todos com poucas palavras...
mas parece, conforme últimas informações, que ele não vai. Peço-lhe, então, por
amor ao "Santo" Pe. Bessa, que leia bem alto estas mal traçadas
linhas saudando o pessoal aí durante o Encontro. Você mesmo decide a hora mais
oportuna. Um abração e uma boa viagem a Senhora de Oliveira. Cuidado com os
morros... lá só tem subidas!!!
Easista Seoldo”
E
o texto lido pelo Rafael:
“Easistas e
descendentes,
Saudações para
todos(as) – um abraço para cada um(a).
Judite e eu estamos
distantes de Senhora de Oliveira... Aliás, estamos aqui em cima enquanto vocês
estão aí embaixo da linha do equador e parece que quanto mais perto do céu mais
fresco é...
Que todos os ventos
soprem a favor de vocês aí... Que todos os mulungus sem fazerem sombras
balancem contentes com as presenças de vocês... E, finalmente, que todos os
sapos-bois, todos os sapos martelos, aliás, ferreiros, ou melhor, pererecas em
conjunto com as seriemas espalhadas aí pelos morros da estrada afinem no
batuque e ajudem a alegrar e a celebrar este VIII Encontro!!!...
Podem todos crer que os
Alfenas com sangue do Sodiga e da Sadita, nascidos em Ribeirão Podre, hoje
Senhora de Oliveira, tratá-los-ão com carinho e respeito.
Outra vez, abraços
sinceros e saudosos dos easistas Judite/Seoldo”.
Voltando
a nossas difíceis tarefas, além das conversas, as bocas também estiveram
ocupadas com o que a roça tem de mais saboroso, mas também perigoso, como o
torresmo, a mandioca, e, algo que para muitos era uma grande novidade: o
Galopé, um bicho híbrido com carne de galo e pé de porco. Os entendidos
reclamaram que o pé estava um pouco duro, mas para os desentendidos foi uma
festa. Só fiquei com pesar de que o esperado exemplar vivo do bicho, prometido
e juramentado, não apareceu para tirar nossas dúvidas.
A leitoa era só alegria em poder oferecer-se como noiva em tão seleto jantar. |
Mas agora, despida do seu véu, lá estava toda faceira com a pele bronzeada à pururuca. Foi apresentada a todos e logo levada para ser destrinchada. Quando nos lembramos novamente da apetitosa e fomos em busca de um pouco da tenra carne, quase nada mais havia além de desprezados ossos. Mistério absoluto: quem consumiu a pobre noivinha?
Talvez
a fome saciada, talvez o torpor ainda vigente das viagens, talvez a noite ávida
de sono, mas a turma resolveu voltar cedo para suas acomodações sem o
programado Momento para Performances.
Sábado,
24 de setembro.de 2016
Voltamos
para a pousada Roda D´água onde havia sido programada para as 9h30 uma
apresentação de um tema, ainda então não revelado, pelo Siovani, e outro pelo
Rosalino: Um Miranda
Mirando-se no Espelho ou a Síndrome da Acumulação Compulsiva.
Siovani mostra o `Poder do Mito": a essência última das religiões, a filosofia perene. |
Tomando
a palavra o Rosalino dissertou sobre a sua mania compulsiva de acumulação de
objetos, sem que haja um objetivo definido em possuí-los. Síndrome que quase
lhe destruiu o casamento e que causa a seus familiares aborrecimentos incontáveis
pela invasão dos espaços da casa, e que sua esposa “sonha em ter uma casa
limpinha, arrumadinha, sem nada”, mania que ele atribuiu a sua origem na roça,
onde a escassez de recursos levava à necessidade de guardar tudo. Mas com a
ressalva de ajudar a quem lhe solicite um dos objetos, portanto, o móvel da
ação é a acumulação e não a retenção egoísta.
A sala apinhada registra o interesse pelas apresentações e
debates.
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E,
ainda, a Rosimere falou emocionada sobre o mesmo problema que um irmão tem e
que causou muitos transtornos para os seus pais, e causa de perdas que o próprio
irmão sofreu por abandono de pessoas íntimas, amigos e familiares. O Ildeu
falou sobre sua função de acumulador e transmissor de conhecimentos como
engenheiro agrônomo, e que de tanto acumular, às vezes nem sabe para que serve
aquilo tudo.
O
Raimundo falou do lado bom da acumulação, pois muitas vezes o descarte causa
uma perda de informações importantes. E então apareceram as camisas
comemorativas do nosso VIII Encontro e foram distribuídas a todos os easistas
com a recomendação que todos as usassem durante a missa no dia seguinte. O mimo
nos fora feito pela Tatiane, filha caçula do Edgard, mostrando-se como um broto
natural daquela árvore que já nos havia circundado de carinho.
Zazá observa Matheus no colo do
avô, Alfredo, na noite anterior à
queda.
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Depois
de tanta falação, a fome nos levou para o Sítio Meia Dúzia, onde o Lulu e a
Maria José haviam preparado uma recepção que duraria até a madrugada. Primeiro
o almoço regado com churrasco, depois, requinte dos requintes, a Maria José
havia colocado toda a sua perícia para forrar uma mesa com doces dos mais
diversos tipos, dos quais as nossas restrições nos advertiam que não ousássemos
provar, pois seguramente pagaríamos caro em não poder conter a vontade - que
mal exemplo seria após a tal palestra sobre a eliminação do ego!
Eu era assim, tão novo, sem rugas e cãs. |
Um
símbolo do efêmero para os monges tibetanos tornou-se
em selo da amizade duradoura entre as mulheres. Alfredo
representou os homens., como embaixador easista.
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E assim nasceu o bosque easista: aqui se planta aqui se colhe.
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A interprete, Dita, e o autor,
Chicão.
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Voltei
buscando alegria mais uma vez
Cheguei
trazendo carinho para vocês
Estou
trocando sorriso aqui entre nós
E
vou lhes dar um pouquinho da minha voz.
Pois
esta fraternidade, gente querida,
Só
traz a felicidade pra nossa vida
Me
sinto bem amparado e feliz da vida
E
digo muito obrigado pela acolhida.
Quando
estou com vocês
Eu
me sinto criança
Nasce
em mim aquela esperança
De
um mundo bem melhor.
Quando
estou com vocês
Eu
me sinto criança
Nasce
em mim aquela esperança
De
um mundo bem melhor.
E
a tarde foi se encurtando com o sorteio das camisas, que sobraram, para as
mulheres e das capas de livros que foram oferecidas pela Rosa Helena, esposa do
Joaquim. E a noite fez-se estrelas.
E
desfez-se a luz!
Saudades da lamparina de
querosene,
|
E
o Lua fazia a piada deste Encontro: com o pato e o macarrão estava selado, o
próximo encontro seria feito apenas com as viúvas dos easistas, que então
passariam a ser conhecidas como as “Desunidas dos maridos”.
Os
patos e o macarrão chegaram. Delícia, mas a moderação já fazia sua exigência. E
a energia não deu mais o ar de sua graça; os músicos foram embora sem executar
seus instrumentos e nós também partimos para procurar uma boa noite de sono. Quando
partíamos, ainda recebíamos brindes diversos: a Rosa Helena ofereceu a todos
uma delicada peça de artesanato, uma latinha de leite decorada para lembrança
do VIII Encontro - Senhora de Oliveira, recheada de balas de mel; a Flávia,
nora do Lulu, ofertava-nos os saquinhos com os pés de moleque, pura meiguice; e,
ainda, um vasinho com um cacto ternamente oferecido pela Maria José, a quem
vimos desta vez, para nossa muita
alegria, ligeira a correr por todos os cantos cuidando do melhor para todos,
livre do mal que lhe afligia em passados Encontros.
Domingo,
25 de setembro.de 2016
Depois da missa, o Padre Luiz Miguel e os easistas
uniformizados na frente do altar da igreja matriz.
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Tupy nos representou brilhantemente. |
O Padre Luiz Miguel apresentou-nos aos demais
fiéis e disse que nos recebia com enorme prazer naquela solenidade litúrgica.
Após
a missa, o Rafael convocou-nos para uma reunião onde seria decidido o local do
próximo Encontro. A reunião foi realizada no salão do pavimento superior da
casa do Edgard, onde, em seguida, estávamos todos intimados a sofrer as agruras
de um churrasco de picanha, especialíssimo produto do Edgard.
A assembléia easista decidiu: próximo Encontro será em Juiz de Fora. |
Os presentes oraram pela recuperação dos cole-
gas enfermos e para a alma dos que já partiram.
|
O
Lulu solicitou a participação de mais colegas nos trabalhos do blog, e foram
indicados o Benoni, o Edgard e o Ildeu.
Tudo
esclarecido e concertado teve início o almoço: churrasco com churrasco, se
havia outros tantos pratos confessamos que não damos notícia, pois só queríamos
mesmo saber da carne, mas também havia um belo arranjo de frutas das quais nos
regalamos.
Disse-nos
o Edgard que aquele músico que tocou e cantou para nós, Paulo Coelho, amigo
desde a infância, fora convidado para participar do almoço, mas que ele levou o
violão e nos presenteou com sua voz. E a Dita finalmente pode cantar a La
Paloma com acompanhamento, e a poesia do Chicão pôde ser melhor apreciada!
Quero
fazer um aparte para referir-me na primeira pessoa ao que está acontecendo-me:
-
Chicão, desde que ouvi a Dita cantar seus versos, tenho um disco girando em
minha cabeça continuamente a repetir o refrão:
Quando
estou com vocês
Eu
me sinto criança
...
Ainda
bem que estes versos só me lembram momentos tão gostosos.
Ferragens retorcidas... o sítio irá
calar-se por alguns dias.
|
Todos
os nossos Encontros têm sabores distintos que os tornam difíceis de serem
comparados, mas neste sentimos um algo mais inusitado, um grande pesar por findarem
aqueles momentos onde as cadeias da amizade tanto se estreitam.
É
difícil achar expressões adequadas para expressar o enorme carinho que
transbordou pelo Lulu, pela Maria José, pelo Edgard, pela Cátia, pela Tatiane,
enfim, por todos os easistas. Obrigados mil pelos momentos deliciosos que
pudemos participar.